Nos dias seguintes, eu continuei dormindo com a Benedita. George, sendo o tipo de homem que conseguia me abraçar sem perder o controle, eu sabia que ele aguentaria essa situação. Mas ficava pensando: quando voltássemos para casa, como ele iria lidar com isso? Afinal, Benedita iria morar com a gente, e dividir o mesmo teto não seria tão simples. Passamos quatro dias na casa da Benedita. Isso foi algo que eu não esperava. Achei que, por conta da saúde dela, George estaria ansioso para levá-la logo para a cirurgia, mas ele parecia não ter pressa. Em vez disso, ele nos levou para pescar durante o dia e, à noite, preparava os pratos mais deliciosos para nós. Eu e Benedita só precisávamos aproveitar, como se fôssemos princesas vivendo em um verdadeiro paraíso. Era uma vida tão tranquila e perfeita que, se ficássemos mais alguns dias ali, eu não teria vontade de ir embora. — George, quando ficarmos velhos, vamos viver aqui. Acho que, morando nesse lugar, eu consigo chegar aos cento e
Pelo jeito, Benedita sabia exatamente a gravidade da sua condição. Também entendia que, se a cirurgia desse certo, seria como renascer. Mas, se não desse, tudo o que estava vivendo agora não passaria de uma lembrança. — Você ainda vai ter muito tempo para viver assim, pode confiar. — Disse, encostando minha testa na dela e tentando tranquilizá-la. — Carolina, meu irmão é muito bom em fingir que é forte, mas ele é teimoso e às vezes não sabe como se expressar. Não fica brava com ele, tá? — Benedita comentou de repente, com um tom tão sincero que me pegou desprevenida. Achei que ela queria falar da cirurgia e já estava pensando em como confortá-la, mas, antes que eu pudesse dizer algo, ela continuou: — Eu sei que você está dando uma lição nele esses dias. Acertei, né? Fiquei sem graça com a pergunta e dei um leve toque no braço dela. — Benê, de onde você tira essas ideias? Para de inventar coisas. — Carolina, não me trata como criança. Eu já li um monte de romances, sei mui
— Deita direito, vou escutar seu coração! — Gilberto disse enquanto tirava o estetoscópio do pescoço. Nós todos observávamos a cena em silêncio, tensos. George, que sempre tinha um semblante inabalável, estava claramente rígido, como se estivesse segurando a respiração. Era apenas um exame, não uma cirurgia, mas, mesmo assim, dava para sentir o nervosismo dele. Mais uma vez, percebi o quanto George prezava por Benedita. Sem pensar, segurei sua mão. Ele me olhou de lado, e eu apenas assenti levemente, tentando tranquilizá-lo. Benedita, no entanto, parecia paralisada. Ela apenas olhava fixamente para Gilberto, como se estivesse hipnotizada. Luana percebeu a situação e se aproximou, inclinando-se ligeiramente: — Deita direitinho e deixa o Dr. Gilberto ouvir seus batimentos. Não dói nada. Benedita já tinha falado com Luana antes e parecia ter criado uma simpatia imediata por ela. Foi só então que Benedita piscou os olhos e, obediente, se deitou na cama. Eu percebi clarament
— Carolina! — Benedita ficou alerta imediatamente. — O que você disse? Você também gosta daquele médico? Isso não pode! Você só pode gostar do meu irmão. Ela já não estava mais preocupada com a própria pulsação descontrolada. Em vez disso, me olhava com um ar extremamente sério e nervoso. Eu segurei o riso, mas fingi uma expressão de total resignação: — Mas o Dr. Gilberto é bonito demais! Quando vi ele pela primeira vez, pensei: isso não é um médico, é um deus que desceu à Terra. — Não pode! — Benedita segurou meu braço. — Ele pode até ser bonito, mas, olhando bem, ele nem chega aos pés do meu irmão. Meu irmão é muito mais charmoso, muito mais homem. E, o mais importante, meu irmão é uma pessoa verdadeira, diferente desse médico. Eu a olhei, confusa: — O Dr. Gilberto não é verdadeiro? Como você sabe disso? Benedita fez um biquinho emburrado e começou a balançar meu braço: — Carolina, você não pode gostar de outro homem além do meu irmão. Você é do meu irmão, só dele!
Benedita não queria de jeito nenhum que George ficasse com ela. Mas, ao mesmo tempo, eu também não tinha coragem de deixá-la sozinha. A única solução foi pedir ajuda a Luana, que, por sorte, estava de plantão naquela noite. — Carolina, eu estou de plantão, trabalhando, e você quer que eu cuide da Benedita? Isso é abuso de amizade! — Luana brincou, fingindo estar ofendida. — Não é bem cuidar dela. — Expliquei, fazendo uma voz manhosa. — Ela vai passar a maior parte da noite dormindo. Só queria que, se você tiver um tempinho, desse uma olhada nela, pra ver se está tudo bem. Só isso! Luana bufou, cruzando os braços: — Olha só... Tantos anos de amizade, e, comparando com o que você faz por Benedita, eu não sou nada. — Não fica com inveja! — Brinquei, levantando o polegar em sua direção. — No meu coração, você é insubstituível. Nem o George chega perto! — Eu não sou o George. Não precisa me enganar com essas palavras bonitas. — Luana retrucou, pegando a minha mão e analisando o
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm