George me olhava, e eu podia sentir sua tensão. Era evidente que ele estava nervoso. No fundo, era engraçado. Homens que amam de verdade raramente são generosos quando o assunto é ciúmes, e George não era exceção. Vendo aquele lado dele tão raro, tão diferente do seu habitual autocontrole, não consegui evitar um sorriso discreto. Mas, só para provocar, mantive a expressão séria enquanto parava bem na frente dele, sem dizer uma palavra. George abriu a boca, como se quisesse falar algo, mas parecia estar lutando internamente para decidir se devia ou não dizer. Ele, que sempre foi direto e objetivo, agora estava ali, hesitante, como uma criança que fez algo errado e não sabe como se explicar. Não aguentei. A cena era tão engraçada que acabei soltando uma risada. Minha reação o deixou ainda mais confuso. — Carina… — Ele disse, sem entender nada. Peguei o café que ele tinha preparado para mim e, ficando na ponta dos pés, dei um beijo rápido em sua bochecha. — Obrigada. — D
Entendi o que ele quis dizer. — Chefe, tem alguma coisa planejada? Precisa que eu viaje? Edgar confirmou com um aceno. — Quero que você fique fora por dois dias. Eu tinha acabado de encerrar a reunião matinal e não havia ouvido nada sobre novos projetos externos. Provavelmente era uma decisão de última hora de Edgar. — Para onde? Fazer o quê? — Perguntei, querendo detalhes. — Isso… Decido mais tarde. A resposta me deixou perplexa. Já que ele não podia dizer mais nada naquele momento, não insisti. Apenas me concentrei em organizar e finalizar tudo que estava em minhas mãos. Só consegui respirar às 10h30. Peguei minha caneca e fui até a copa. Assim que me aproximei da porta, ouvi duas meninas conversando e rindo enquanto tomavam chá. — O novo George fica cada vez mais lindo. Hoje, com aquela calça cargo, parece que as coxas dele têm um metro e oitenta! — Exagerada! Você tá caidinha pelo George. E eu lembro que antes você era fã do chefe Edgar, não era? — Pois é, ac
George soltou um som baixo, quase um suspiro. Eu sabia que aquilo não era dor. Era sensibilidade. Um arrepio. E, por um breve instante, minha mente foi longe, imaginando cenas que nem deveriam passar pela minha cabeça. Definitivamente, eu estava ficando cada vez mais atrevida. E, sem dúvida, cada vez melhor em provocar. Depois da pequena provocação, endireitei o corpo, dei um gole no café como se nada tivesse acontecido e me virei, saindo do escritório com toda tranquilidade. George parecia completamente desnorteado com o que eu havia acabado de fazer. Ficou paralisado, sem reação. Voltei para o meu escritório e, assim que coloquei a xícara de café sobre a mesa, levei as mãos ao rosto. E comecei a rir. Não sabia exatamente por que estava rindo. Só sentia vontade de rir. E muito. Era aquele tipo de riso genuíno, que vinha lá do fundo, de quem estava realmente feliz. Talvez fosse a felicidade de ter aprontado. Algo como a alegria de uma criança que faz uma travessura e sent
— É mesmo, a marca era enorme. Dá pra ver que a namorada do George deve ser muito boa de beijo. — Ou talvez seja o George que é bom de cama, né? Deixou a namorada tão empolgada que... Não pude evitar um sorriso discreto. Essas duas garotas realmente sabiam de tudo, não é? — Vocês repararam mesmo em cada detalhe, hein? — Comentei, rindo sem graça. — Foi o George que quis que a gente visse. Ele tava com o colarinho meio aberto. A gente olhou porque era impossível não olhar. — Explicou uma delas, cutucando a outra. — Não é verdade? — Totalmente. E não foi só a gente. Praticamente todas as mulheres da empresa viram, até a tia da limpeza. — O George é super discreto normalmente. Quando entra na empresa, mal sai da sala. Hoje, ele tava diferente... Parecia até que tava desfilando pelos departamentos. — Pois é, será que ele fez isso de propósito? — Não duvido. — Respondeu a outra, pensativa. — Talvez ele só queria deixar claro que não tá disponível. — Exato! Não é “talvez”.
Achei que ia dar com a cara na porta. Parecia que o nome do João ainda tinha peso, especialmente com o Felipe. Respirei fundo antes de entrar. Assim que cruzei a porta, meu olhar foi direto para um senhor de cabelos brancos que estava no meio da sala praticando capoeira. Era Felipe? Eu tinha pesquisado sobre ele. Menos de sessenta anos, mais ou menos da mesma idade do João. Nas fotos, ele parecia jovem e cheio de energia. Mas o homem à minha frente parecia ser de outra geração, como se fosse uma década mais velho que João. Mesmo tendo estudado tudo sobre Felipe, por um momento eu não conseguia associar as informações que tinha ao homem que estava diante de mim, movendo-se com tanta precisão e força. Por um instante, tive a sensação de estar no lugar errado. — Garotinha, diga logo o que quer comigo. — Felipe não parou seus movimentos, continuava fluindo com a capoeira, golpe após golpe, de forma coordenada e precisa. Aquela frase não deixou dúvidas: ele era Felipe. Quanto
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm