— Com licença, podem abrir espaço, por favor? — Disse de forma casual enquanto me aproximava.Sebastião permaneceu imóvel, seus olhos fixos em mim. Lídia hesitou por um instante, mas acabou dando um passo para o lado, abrindo caminho em silêncio.Ao passar por eles, percebi que Lídia segurava o braço de Sebastião com força, como se temesse que ele pudesse ser levado por mim naquele momento.— Carol, venha, vamos continuar comendo. — Disse Cátia, assim que entrei na sala, com seu jeito caloroso de sempre.Sentei-me à mesa e, fingindo ingenuidade, perguntei:— Tia, por que estamos só nós duas aqui?— Desde o início éramos só nós, mas tem gente que insiste em se meter onde não é chamada. — Respondeu Cátia, sem esconder seu desprezo por Lídia e, indiretamente, por seu próprio filho.Dei um sorriso de canto.— Tia, desse jeito você vai acabar brigando com o Sebastião.Não era que eu estivesse tentando bancar a pacificadora, mas João e Cátia sempre haviam sido tão bons para mim que, no fundo
Eu era uma péssima filha. Sabia que meus pais haviam morrido em um acidente de carro, mas nunca procurei saber os detalhes.O rosto de Cátia mudou levemente. Segurando meu pulso, ela disse:— Carol, já não falamos que era melhor esquecer isso? Já passou.— Tia, eu não sou mais uma criança. Eu consigo lidar com a verdade. Por favor, me conte. — Pedi, apertando sua mão.As mãos de Cátia tremiam ligeiramente.— Carol, por que você quer abrir essa ferida? Já passou...Fiquei em silêncio por alguns segundos antes de responder:— Porque eles eram meus pais, tia. Eles eram as únicas pessoas no mundo que eu tinha.Meus pais foram órfãos que cresceram em um orfanato. E, quando os perdi, também me tornei órfã.Talvez minhas palavras a tenham tocado, pois, após um momento de hesitação, ela finalmente disse:— Quando eu e o João chegamos ao local do acidente, sua mãe já não respirava. Seu pai ainda estava vivo, mas muito fraco. Ele segurou a mão do João e só conseguiu dizer o seu nome...Cátia par
Cátia colocou o garfo na mesa e virou-se para mim, com um olhar carregado de lembranças. — Sim, na época eles já estavam prestes a assinar o contrato. Provavelmente era aquele contrato que eu tinha encontrado no caderno do meu pai. — Foi por causa do acidente de carro que não assinaram? — Perguntei, com a voz trêmula. Cátia assentiu com a cabeça, confirmando. Minha respiração ficou presa no peito. Era como se uma onda gigante estivesse se formando dentro de mim, prestes a explodir. Nesse momento, ouvi Cátia suspirar profundamente. — Aquele contrato era o primeiro negócio de parceria entre seu pai e seu tio. O quê? Aquele contrato já incluía o João desde o início? Não era nada do que eu imaginava? — Seu pai e seu tio fizeram de tudo para conseguir trabalhar com o Felipe, o dono do Grupo Furtado. Eles saíram para pescar com ele, correram de carro juntos... Até pular de paraquedas porque ele insistiu. — Disse Cátia, balançando a cabeça em descrença. — O Felipe vinha de u
Tão acessível desse jeito, ele realmente não parecia meu chefe, mas sim um amigo.Dei um sorriso de volta, meus olhos fixos em Edgar, mas perguntei a George:— Você e ele parecem ter muito assunto. É a primeira vez que vejo alguém, depois de uma entrevista, sair para jantar com o chefe.Falei isso porque Pedro havia investigado e descoberto que a pessoa por trás de Edgar tinha o sobrenome Junqueira. Minha desconfiança começou a crescer novamente.— O Presidente Lopes me convidou para jantar para me conhecer melhor. Afinal de contas... — George fez uma pausa. — Um salário anual de três milhões não é pouca coisa.Fiquei chocada. Três milhões por ano?Jamais imaginei que George fosse tão valioso assim.— O quê? Acha que eu não valho tudo isso? — Ele foi direto.Puxei de leve o canto da boca.— Não é isso. — Depois perguntei. — Então, quanto você ganhava na empresa anterior?— Trinta mil por mês. — A resposta de George quase me fez engasgar. Edgar havia multiplicado seu salário por dez.—
Pronto, agora estou ferrada. Esqueci completamente disso. Mas não havia motivo para me sentir culpada, então neguei diretamente:— Não houve assédio, foi uma calúnia.— Hum?Os olhos de George se fixaram nos meus. Aqueles olhos exigiam que eu explicasse com mais detalhes.Contei sobre o incidente com Augusto, como fui tompada por acidente a ele e depois acusada injustamente. Para finalizar, acrescentei:— Um pirralho daquele, todo convencido? Nem faz meu tipo.— E qual é o seu tipo? — Perguntou George, direto como sempre. — Homens mais velhos? Ou prefere os maduros e seguros?Olhei para ele, sério como estava, e a vontade de provocá-lo subiu à tona. Inclinei-me um pouco mais na direção dele, diminuindo o espaço entre nós:— Gosto de cara como você... rústico e durão.Assim que terminei, vi o pomo de adão dele se mover. Mais uma vez, tinha conseguido mexer com ele.Na sequência, me afastei, mas a voz baixa de George me alcançou:— Como você sabe que eu sou duro?Por alguns segundos, fi
Observei o rosto de George, vermelho de constrangimento, enquanto gotas de suor brilhavam na ponta do nariz. Não consegui evitar um sorriso que escapou pelos meus lábios.Ele virou o rosto para o lado, fugindo do meu olhar. Decidi não continuar o provocando. Resolvi dirigir em silêncio, concentrando-me na estrada.Um único comentário sobre "duro" foi capaz de nos deixar em um silêncio constrangedor por vários minutos.Pensando no que ele havia acabado de dizer, “tempo juntos”, quebrei o silêncio, dizendo:— E então, para onde você planeja me levar?— Você está livre esta tarde? — Perguntou ele, sem rodeios.— Estou! — A resposta saiu tão rápido que até eu fiquei surpresa, parecendo ansiosa demais.Um pequeno sorriso curvou os lábios dele:— Vou te levar a um lugar.Dessa vez, preferi ser mais discreta e não responder.— Vou ligar o GPS e você segue as instruções. — George disse, como se minha resposta já fosse um "sim" implícito.Seguindo sua navegação, ele e eu chegámos a um subúrbio
Eu nunca soube que ainda podia rir como uma criança, que com mais de vinte anos ainda poderia experimentar a sensação de ser levantada e girada no ar como quando era pequena.Mas, após a alegria de rodopiar, o mundo ao meu redor começou a girar junto, e eu fiquei tão tonta que mal conseguia me equilibrar. Sem outra escolha, me aninhei quietinha no peito de George.Foi nesse momento que uma ideia me passou pela cabeça, “Poderia isso ser mais um dos planos dele?”— Quando você era pequena, adorava girar assim. — Sussurrou ele, bem próximo ao meu ouvido.George e eu nos conhecemos quando eu ainda era muito jovem, jovem demais para guardar qualquer lembrança. No entanto, agora que ele mencionava, algo em mim queria explorar mais.— E o que mais eu gostava de fazer quando era pequena? — Você gostava de ser erguida bem alto. E de andar no meu pescoço como se eu fosse o seu cavalo.Meu rosto imediatamente ficou quente com a descrição. Para esconder minha vergonha, respondi de forma brincalh
Ele deixou que eu mexesse no rosto dele enquanto continuava:— Sabe o que você disse naquela época?— Não sei, aposto que você está inventando tudo isso. — Rebati, fingindo desconfiança. Não podia admitir que realmente tivesse feito tantas coisas embaraçosas.George sorriu de leve, como se eu estivesse apenas confirmando tudo, e continuou:— Você dizia que era "carimbar". Que quando me dava um beijo, era como se estivesse me marcando, e que eu já era seu. Prometeu que, quando crescesse, ia se casar comigo. Disse que eu não poderia me casar com mais ninguém além de você.Enquanto falava, ele inclinou a cabeça em minha direção:— Carina, eu cumpri sua ordem. Esperei por você todo esse tempo. Já passei dos trinta e nunca namorei outra pessoa, nunca gostei de mais ninguém. Nem sequer segurei a mão de outra garota. Fiquei quietinho, do jeito que você queria, esperando por você. Agora, você tem que assumir essa responsabilidade.A voz dele soava quase como um lamento, cheia de uma doçura mis