George foi rápido e segurou o copo de suco antes que ele caísse. Antes que eu pudesse me virar, uma voz mais do que familiar soou ao meu lado: — Carol, você tá ficando boa nisso, hein? Depois me ensina umas técnicas. Luana, finalmente, tinha visto a mensagem que eu mandei. Dei um tapa leve nela: — Não sabe que assustar as pessoas pode matá-las de susto? — Matar você eu não pago, né, George? — Retrucou Luana, rindo e envolvendo George na brincadeira. Essa mulher, na frente do Gilberto, era uma ovelhinha dócil, mas com os outros se tornava uma verdadeira força da natureza, sempre segura e cheia de atitude. Como ela conseguiria se segurar na frente do Gilberto? — E o seu namorado? — Perguntei, olhando para o lugar onde Gilberto estava antes. Ele já não estava mais lá. — Foi embora. — Respondeu Luana, sentando-se ao meu lado. Depois, virou-se para George e soltou. — George, você come duas porções sozinho, enquanto a Carol não come nada? Assim você não cuida bem da sua namor
Luana manteve o rosto frio e sério: — Eu já te avisei. Se você continuar me procurando, isso será considerado assédio. Vou chamar a polícia. — Dra. Luana, eu não estou te assediando! Eu só gosto de você… Quero te conquistar… — Respondeu o homem, com a voz cheia de falsa paixão. Ao ouvir aquelas palavras, lembrei imediatamente do sujeito que mandava flores anônimas para Luana como forma de agradecimento. — Dra. Luana, eu juro, foi amor à primeira vista! — Disse ele, levantando uma das mãos como se estivesse fazendo um juramento solene. — Pena que, no caso dela, foi ódio à primeira vista. — Retruquei, entrando na conversa e me posicionando ao lado de Luana. George também se levantou. Sua postura era clara: ele estava pronto para agir, caso fosse necessário. O homem então me olhou, contrariado: — E você quem é? Estou falando com a Dra. Luana. Não se intrometa, tá bom? Se eu tivesse comido um pouco mais, provavelmente teria vomitado de nojo ao ouvir aquele tom. — E você
Luana não me respondeu imediatamente. Em vez disso, olhou para a janela, onde George estava do lado de fora. — Quanto tempo ele vai levar? Do lado de fora, o homem já estava praticamente de joelhos diante de George. Ele mantinha uma das mãos no bolso da calça, enquanto a luz suave da manhã iluminava seu corpo, criando um brilho quase surreal em torno dele. Eu não conseguia desviar o olhar. Havia algo nele que me fazia sentir um orgulho e uma satisfação inexplicáveis. Uma voz interior sussurrou: “Carolina, esse é o seu homem.” Minha história com George começou por puro acaso, quase como um desvio do destino. No início, era só para passar o tempo, uma forma de distrair a mente após o término com Sebastião. Mas, agora, percebia que tinha encontrado um verdadeiro tesouro. Ele não era apenas bonito de se admirar, mas também incrivelmente prático e confiável. — Tô te perguntando. — Insistiu Luana, dando um leve empurrão no meu ombro para me trazer de volta à realidade. Pisquei al
— Se você tivesse agido assim antes, Sebastião não teria fugido. — Soltou Luana, do nada, como se tivesse perdido o juízo.Falar de ex na frente do atual? Isso era pedir para tudo desandar. Mas eu sabia que Luana não faria isso para me prejudicar. Ela não era burra. Olhei para ela e vi que me lançou uma piscadela.Entendi mais ou menos o recado. Aquilo era uma provocação, uma espécie de teste para George. Afinal, qual homem não se incomodaria ao ouvir sobre o ex da namorada? Luana queria medir a reação dele.Corajosa, essa Luana. Não tinha medo de assustar George e fazer ele sair correndo.Disfarçadamente, olhei para George. Seu rosto não mostrava nenhuma mudança. Ele nem respondeu.Luana, no entanto, insistiu:— George, você não acha?— Carina só faz charme comigo. — Respondeu ele, com um sorriso leve.Foi como se o ar ao nosso redor tivesse ganhado um toque doce e açucarado. Que resposta perfeita, meu Deus.Luana estalou a língua, zombando.— George, você parece tão engenheiro, mas n
Edgar realmente queria me convidar para jantar, e antes, quando eu estava tirando sangue, George sussurrou em meu ouvido.Naquele momento, achei que ele só queria me distrair, jogando qualquer conversa fora. Mas, pelo visto, ele falava sério.— É o chefe Edgar? — George perguntou, direto como sempre.— Uhum. — Respondi, encarando-o. — George, foi você que pediu para ele me convidar, não foi?Ele era o chefe do Edgar, e uma simples palavra sua bastaria para que Edgar obedecesse sem pestanejar.George franziu levemente o cenho.— Não.Sorri com sarcasmo. Ele só podia estar negando para não admitir que estava por trás disso.— Ele me avisou antes. — George acrescentou, como se quisesse esclarecer.Era mesmo verdade? Eu não fazia questão de descobrir. Se alguém queria me pagar um jantar, por que não aceitar? Dei de ombros e perguntei:— Eu disse que sim. Você vai?— Uhum. — Mais uma vez, o mesmo “uhum”. Se alguém fizesse uma estatística do vocabulário dele, essa seria, sem dúvida, a palav
Eu e o George não tínhamos nada, só ficava incomodada com a mentira dele. No entanto, eu não podia contar isso para Benedita. Ela tinha o coração frágil, era sensível demais e podia acabar remoendo coisas sem necessidade.— Claro que não. — Respondi a ela com um sorriso. — Você não vê como eu e o seu irmão estamos bem?Benedita me encarou de um jeito que me deixou desconcertada. Seus olhos brilhavam com uma pureza tão genuína que parecia que, se eu os encarasse por muito tempo, acabaria manchando algo tão limpo.Coloquei a mão na frente do rosto dela, como se quisesse me proteger daquele olhar.— É sério, não tem nada. Não acredita? Depois você interroga o seu irmão.— Carolina... — Benedita abraçou meu braço e encostou a cabeça no meu ombro. — Se meu irmão fizer alguma coisa errada, bate nele, briga com ele, mas não deixa ele, tá?Ela falava num tom tão baixinho e doce, quase como um pedido. Eu sorri e esfreguei levemente minha cabeça contra a dela, num gesto de carinho.— Tá bom. Eu
Vinicius parou de repente, me olhando com certa surpresa, como se não esperasse ouvir aquilo.Eu percebi que tinha sido impulsiva demais e tratei de me explicar depressa:— Não foi isso que eu quis dizer, eu só...— Tudo bem! — Ele me interrompeu.— Antes do acidente, ela era muito animada, adorava fazer amizades... Tenho certeza de que, se pudesse te ver, ela ficaria feliz com a visita. — Ele falou olhando para o chão, quase como se estivesse conversando consigo mesmo. Aquele tom baixo, misturado ao peso em sua voz, me deixou com o coração apertado.— Carolina, vem comigo. — E voltou a caminhar.Eu segui seus passos, observando suas costas largas e eretas. De repente, aquele porte parecia mais pesado, como se ele carregasse um fardo invisível, mas insuportável.Vinicius me levou até uma ala de reabilitação. O local lembrava as suítes VIPs do hospital: moderno, confortável e, obviamente, caro. Era evidente que a família da mulher que estava ali tinha boas condições financeiras.Parado
Vinicius se levantou e caminhou em direção à janela. Eu não fazia ideia do que ele pretendia, então, hesitante, me aproximei um pouco mais da pessoa deitada na cama. De perto, percebi algo que me deixou surpresa: além de ser incrivelmente bonita, ela se parecia muito comigo. Se meus pais ainda estivessem vivos, eu com certeza perguntaria a eles se, por acaso, tinham tido outra filha. Enquanto pensava nisso, olhei para a plaquinha na cabeceira da cama: Ivone Antunes, vinte e oito anos. Fitei a mulher no leito e, em pensamento, a cumprimentei: — Oi, Ivone. Eu sou Carolina! — Pode voltar agora. — Disse Vinicius, interrompendo meus devaneios. Ele falava ao telefone, chamando a enfermeira. Pouco depois, a enfermeira retornou, e eu o acompanhei para fora do quarto. Vinicius permaneceu calado, e eu também não disse nada. Caminhamos por um tempo em silêncio, até que ele, finalmente, quebrou o silêncio: — O médico disse que não tem mais chance de recuperação. A família dela já