Edgar realmente queria me convidar para jantar, e antes, quando eu estava tirando sangue, George sussurrou em meu ouvido.Naquele momento, achei que ele só queria me distrair, jogando qualquer conversa fora. Mas, pelo visto, ele falava sério.— É o chefe Edgar? — George perguntou, direto como sempre.— Uhum. — Respondi, encarando-o. — George, foi você que pediu para ele me convidar, não foi?Ele era o chefe do Edgar, e uma simples palavra sua bastaria para que Edgar obedecesse sem pestanejar.George franziu levemente o cenho.— Não.Sorri com sarcasmo. Ele só podia estar negando para não admitir que estava por trás disso.— Ele me avisou antes. — George acrescentou, como se quisesse esclarecer.Era mesmo verdade? Eu não fazia questão de descobrir. Se alguém queria me pagar um jantar, por que não aceitar? Dei de ombros e perguntei:— Eu disse que sim. Você vai?— Uhum. — Mais uma vez, o mesmo “uhum”. Se alguém fizesse uma estatística do vocabulário dele, essa seria, sem dúvida, a palav
Eu e o George não tínhamos nada, só ficava incomodada com a mentira dele. No entanto, eu não podia contar isso para Benedita. Ela tinha o coração frágil, era sensível demais e podia acabar remoendo coisas sem necessidade.— Claro que não. — Respondi a ela com um sorriso. — Você não vê como eu e o seu irmão estamos bem?Benedita me encarou de um jeito que me deixou desconcertada. Seus olhos brilhavam com uma pureza tão genuína que parecia que, se eu os encarasse por muito tempo, acabaria manchando algo tão limpo.Coloquei a mão na frente do rosto dela, como se quisesse me proteger daquele olhar.— É sério, não tem nada. Não acredita? Depois você interroga o seu irmão.— Carolina... — Benedita abraçou meu braço e encostou a cabeça no meu ombro. — Se meu irmão fizer alguma coisa errada, bate nele, briga com ele, mas não deixa ele, tá?Ela falava num tom tão baixinho e doce, quase como um pedido. Eu sorri e esfreguei levemente minha cabeça contra a dela, num gesto de carinho.— Tá bom. Eu
Vinicius parou de repente, me olhando com certa surpresa, como se não esperasse ouvir aquilo.Eu percebi que tinha sido impulsiva demais e tratei de me explicar depressa:— Não foi isso que eu quis dizer, eu só...— Tudo bem! — Ele me interrompeu.— Antes do acidente, ela era muito animada, adorava fazer amizades... Tenho certeza de que, se pudesse te ver, ela ficaria feliz com a visita. — Ele falou olhando para o chão, quase como se estivesse conversando consigo mesmo. Aquele tom baixo, misturado ao peso em sua voz, me deixou com o coração apertado.— Carolina, vem comigo. — E voltou a caminhar.Eu segui seus passos, observando suas costas largas e eretas. De repente, aquele porte parecia mais pesado, como se ele carregasse um fardo invisível, mas insuportável.Vinicius me levou até uma ala de reabilitação. O local lembrava as suítes VIPs do hospital: moderno, confortável e, obviamente, caro. Era evidente que a família da mulher que estava ali tinha boas condições financeiras.Parado
Vinicius se levantou e caminhou em direção à janela. Eu não fazia ideia do que ele pretendia, então, hesitante, me aproximei um pouco mais da pessoa deitada na cama. De perto, percebi algo que me deixou surpresa: além de ser incrivelmente bonita, ela se parecia muito comigo. Se meus pais ainda estivessem vivos, eu com certeza perguntaria a eles se, por acaso, tinham tido outra filha. Enquanto pensava nisso, olhei para a plaquinha na cabeceira da cama: Ivone Antunes, vinte e oito anos. Fitei a mulher no leito e, em pensamento, a cumprimentei: — Oi, Ivone. Eu sou Carolina! — Pode voltar agora. — Disse Vinicius, interrompendo meus devaneios. Ele falava ao telefone, chamando a enfermeira. Pouco depois, a enfermeira retornou, e eu o acompanhei para fora do quarto. Vinicius permaneceu calado, e eu também não disse nada. Caminhamos por um tempo em silêncio, até que ele, finalmente, quebrou o silêncio: — O médico disse que não tem mais chance de recuperação. A família dela já
— Trouxe o café, pode entrar. George carregava todas as frutas e me chamou com um tom despreocupado. Ele não perguntou nada, mas eu sabia que ele provavelmente tinha visto tudo. Ainda assim, meu peito estava apertado demais para explicar qualquer coisa naquele momento. Apenas o segui para dentro do quarto. — Carolina, o café chegou! Eu nem tomei ainda, estava esperando você! — Benedita exclamou, animada. George já estava na cozinha, guardando as frutas. Eu o observei por um instante antes de me aproximar de Benedita. — Carolina, já deixei tudo pronto, só falta você dividir o café. — Disse ela, apontando para a pequena mesa onde havia várias xícaras. Eu, completamente sem cabeça para tomar café, respondi: — Não precisa dividir. Bebe tudo, é todo seu. — Mesmo? — Os olhos dela brilharam enquanto um sorriso se abria em seu rosto. — Mas eu não tenho esse estômago todo, viu! Mesmo dizendo isso, Benedita começou a servir o café. Enquanto fazia isso, continuou falando: —
— Não, não faz isso. — Benedita empurrou minha cabeça de volta para o ombro de George. — Carolina, fica assim, encostadinha no meu irmão. Eu adoro ver vocês desse jeito, tão apaixonados. Os olhos claros de Benedita brilharam enquanto nos observava. — Eu estava pensando em esperar mais alguns dias para dizer isso, mas, já que o assunto surgiu, vou falar logo. — Não começa a pensar besteira, nem a falar bobagem. — Interrompi, com um pressentimento incômodo do que ela estava prestes a dizer. George, no entanto, apenas respondeu com calma: — Deixa ela falar. Ela sorriu para ele. — Sabia que você era meu irmão de verdade. Você sempre me entende. Depois disso, voltou-se para mim com um olhar firme. — Carolina, ouve o que eu tenho para dizer. Ela deu uma risadinha, como se quisesse aliviar a tensão, mas logo pigarreou e apertou nossas mãos com força. — Pronto, vou começar. Tanto eu quanto George permanecemos em silêncio, mas era evidente que estávamos apreensivos. Noss
Eu fiquei surpresa por George ter concordado, mas sua resposta só fez meu coração doer ainda mais. Ele claramente não queria, não aceitava, mas escolheu respeitar a vontade de Benedita. Benedita, talvez com medo de que George mudasse de ideia, tirou o celular do bolso e começou a preencher o cadastro para doação de órgãos ali mesmo, com uma seriedade que me fez perceber algo: havia uma energia enorme em torno dela. Uma força positiva, grata, que irradiava de cada gesto seu. — George, vamos nos cadastrar também. — Sugeri, sem pensar muito. Ele me olhou surpreso, e até Benedita parou de preencher o formulário para me encarar. — Carolina... — Vamos fazer isso. — Insisti. George respirou fundo e, para minha surpresa, concordou. — Tudo bem. Ele pegou o celular para começar o cadastro. — Mano, Carolina, vocês... — Benedita parecia emocionada, mas também inquieta. Quando algo era decisão nossa, fazíamos sem hesitar. Mas, quando se tratava de outras pessoas tomando as mesma
— Sentem-se aqui, no lugar principal. — Edgar nos indicou com um gesto para que eu e George tomássemos nossos assentos.De jeito nenhum ele parecia o grande chefe da empresa. Por isso eu tinha certeza: se não fosse pela identidade oculta de George, Edgar jamais estaria tão solícito.— Sr. Edgar. — Chamei, com um tom que misturava curiosidade e provocação. — O senhor é o chefe, nós somos os funcionários. Essa... Gentileza toda não está um pouco fora de lugar?Edgar parou por um instante, como se fosse pego de surpresa, mas logo lançou um olhar rápido para George e sorriu: — Não tem nada de fora de lugar. Somos todos colegas, uma grande família, não é?Eu ri de canto, com um toque de ironia: — Mas o senhor continua sendo o chefe. Esse tratamento nos deixa meio desconfortáveis.— Sr. Edgar, não precisa exagerar na formalidade, senão esse jantar vai acabar nos deixando tensos. — George comentou, com sua voz habitual, calma e firme.Edgar balançou as mãos no ar, como quem tenta afastar