— Sentem-se aqui, no lugar principal. — Edgar nos indicou com um gesto para que eu e George tomássemos nossos assentos.De jeito nenhum ele parecia o grande chefe da empresa. Por isso eu tinha certeza: se não fosse pela identidade oculta de George, Edgar jamais estaria tão solícito.— Sr. Edgar. — Chamei, com um tom que misturava curiosidade e provocação. — O senhor é o chefe, nós somos os funcionários. Essa... Gentileza toda não está um pouco fora de lugar?Edgar parou por um instante, como se fosse pego de surpresa, mas logo lançou um olhar rápido para George e sorriu: — Não tem nada de fora de lugar. Somos todos colegas, uma grande família, não é?Eu ri de canto, com um toque de ironia: — Mas o senhor continua sendo o chefe. Esse tratamento nos deixa meio desconfortáveis.— Sr. Edgar, não precisa exagerar na formalidade, senão esse jantar vai acabar nos deixando tensos. — George comentou, com sua voz habitual, calma e firme.Edgar balançou as mãos no ar, como quem tenta afastar
Ai! Com esse grito, vi Edgar virar a cabeça para o lado, cobrindo os olhos com a mão. George, por sua vez, endireitou a postura e comentou com sua calma habitual: — Sr. Edgar, o senhor já viveu tanto tempo e nunca viu ninguém namorar? Edgar abaixou a mão e respondeu: — Ver eu já vi, mas é a primeira vez que vejo alguém namorar desse jeito tão... Criativo. Ele então virou o olhar para mim e, com um sorriso malicioso, acrescentou: — Gerente Carolina, não é à toa que você é do marketing. Sempre inovando em estratégias, hein? — Você não cansa de ficar aí em pé? Porque os outros cansam. — George cortou seco, encerrando qualquer tentativa de piada de Edgar. Edgar deu um tapa na própria testa, como se só então se lembrasse de algo importante: — Olha só como vocês me deixaram tão surpreso que eu esqueci o principal. Deixei o convidado esperando! Ele então se inclinou para o lado, abrindo espaço e dizendo com um tom exageradamente reverente: — Pode entrar, chefe. Chefe?
— Não. — Respondi eu.— Na verdade, eu também acho que ele não tem cara de grande chefe. Agora, se for comparar físico e presença, onde é que ele chega perto de mim? — Edgar disse, estufando o peito e empinando o quadril, claramente se achando. — Ouvi dizer que a empresa só foi criada porque ele investiu dinheiro. É verdade? — Perguntei, voltando ao assunto. — Claro! Ele é o verdadeiro acionista majoritário. Quanto a mim... — Edgar deu uma risada irônica, com aquele jeito descontraído de sempre. — Olha pra mim: tenho essa pose toda, todo mundo me chama de "chefe Edgar", mas, no fundo, sou só um funcionário de luxo. Igual você e o George. — Então por que ele mesmo não administra a empresa? — Continuei, minha curiosidade ainda aguçada. — Tá brincando, né? — Edgar respondeu com uma risada debochada. — Ele é rico, Carolina. Tem várias empresas no nome dele. Você acha que alguém assim tem tempo pra cuidar de tudo pessoalmente? Lancei um olhar para a porta da sala, pensando no tal
O jantar foi tranquilo, porque Alden não exibia nenhuma postura de chefe autoritário. George, por sua vez, mal falava. Além de me servir alguns pedaços de comida e perguntar ocasionalmente se eu queria água, ele manteve um silêncio absoluto, com ares de superioridade, como se ele fosse o verdadeiro dono da empresa. Quando a refeição terminou, Alden saiu discretamente em seu Maybach. Edgar tinha bebido e chamou um motorista de aplicativo. Enquanto aguardava, ele passou o braço em volta do ombro de George: — E aí, George? O que achou? Gostou do encontro de hoje? George afastou o braço dele com um gesto brusco: — Você está bêbado. — Não estou, não. Sei que você tem medo de que eu fale demais. Relaxe, eu tenho meus limites. — Edgar respondeu, levantando novamente a mão para dar um tapa no ombro de George. Dessa vez, George segurou o pulso dele com firmeza: — Sr. Edgar, eu detesto que toquem no meu ombro. Aliás, é melhor você evitar fazer isso com qualquer pessoa. Existe u
Por um instante, parecia que cada célula do meu corpo tinha sido ativada por algum botão invisível. Uma vontade incontrolável começou a crescer dentro de mim, algo que eu não sabia nem como descrever... Essa sensação me deixava constrangida, como se eu não fosse uma mulher de respeito. Quando estava com Sebastião, nunca senti algo assim. Nem mesmo quando chegamos a tirar a roupa. Tudo o que eu sentia era nervosismo, mas jamais essa necessidade intensa e quase desesperada de agora. Parecia que, desde que comecei a ficar com George, eu tinha mudado. Fiquei mais ousada, mais selvagem, menos contida... Sem conseguir me segurar, fui direto procurar os lábios dele. Mas George desviou. Segurei seu pescoço, puxando-o para mais perto, e murmurei ofegante: — George... Minha voz saiu trêmula, quase como um choro contido. Nunca tinha ouvido minha própria voz soar assim antes. Aquilo me surpreendeu, mas eu não conseguia me controlar. A vontade que pulsava dentro de mim era tão forte que
George não perguntou nada, mas parou imediatamente.Eu, porém, continuei:— Não foi nada, George. Vamos subir.Na escuridão, eu abaixei a cabeça. Naquele momento, minha mente foi invadida pela imagem da pessoa que vi ao lado do carro.Eu imaginei que ele não saberia que eu estava morando aqui, afinal, este lugar está prestes a ser demolido. Mas, para minha surpresa, ele sabia, e ainda assim veio.No entanto, eu me perguntei: de que adianta ele aparecer agora?George subia as escadas com passos largos, pulando dois degraus de cada vez.— Abra a porta. — Disse George, com a voz levemente ofegante.Eu peguei a chave e abri a porta. Assim que entramos, George me colocou sobre o armário de sapatos e ficou me encarando.Na escuridão, os olhos de George pareciam o oceano à noite, profundos e misteriosos, como se pudessem me engolir a qualquer momento.Eu engoli em seco e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele já havia me beijado.— Carina, agora é com você. Faça o que quiser. — Disse Ge
Embora eu soubesse que ele estava certo e que o erro era meu, por que eu chorava como se tivesse sido injustiçada?George voltou, deu meia-volta e me viu chorando descontroladamente. Sem dizer nada, ele me envolveu em seus braços novamente.— Foi culpa minha. Falei de um jeito pesado. Eu... prometo que não vou dizer essas coisas de novo.Quanto mais ele dizia isso, mais o meu coração se apertava. Levantei a mão e comecei a bater nele, uma, duas vezes.— Não foi culpa sua! Por que você está dizendo isso? Foi minha culpa, está tudo errado comigo!— Não, minha Carina nunca está errada. Eu é que... fui tomado por pensamentos ruins, me deixei levar pela insatisfação e disse besteiras. — George, como sempre, assumiu toda a culpa.Isso só me fazia sentir ainda pior. Continuei batendo nele, mas os tapas estavam cada vez mais fracos. Por fim, comecei a chorar ainda mais alto e, num ímpeto, mordi ele.— Ai, isso dói. — Essa é a primeira vez que George diz que está sentindo dor.Soltei a mordida
— Benedita pode fazer a cirurgia! Pode ser nos próximos dias! — A voz animada de Luana ecoou pelo viva voz do celular.George imediatamente voltou seu olhar para mim, e eu assenti para confirmar a boa notícia.— Conseguiram o doador? — George perguntou.Luana pareceu surpresa por um instante, mas logo voltou ao seu tom brincalhão:— A essa hora, Sr. George, ainda está na casa da minha Carina?Ela estava provocando, mas aquele não era o momento. Interrompi rapidamente:— Pare com isso, fale sério.Luana soltou uma risada antes de explicar:— Não encontramos um novo doador, mas os familiares do doador anterior mudaram de ideia e decidiram autorizar.— E o que o Prof. Gilberto disse? — George continuou a perguntar, sério.— Ele disse que os resultados dos exames de Benedita estão ótimos. Se não houver nenhuma complicação, como gripe ou infecção, a cirurgia pode ser feita em até três dias. — Era evidente que Luana já havia discutido tudo com Gilberto antes de nos ligar.George parecia aliv