— O que foi?— George!Falámos ao mesmo tempo.— Você disse que ia embora hoje. Pra onde você vai? — Perguntei, ofegante, enquanto corria de volta até ele.A preocupação em meu rosto fez com que a expressão séria dele se suavizasse. Ele sorriu levemente.— Está com medo de eu fugir?Seu tom brincalhão fez minhas bochechas corarem. Cruzei os braços, fingindo irritação.— George, fala sério. Pra onde você vai?— Não vou mais.— Como assim? — Perguntei, confusa.— Eu ia embora, porque o trabalho aqui já terminou e não tinha nada que me prendesse. Mas agora é diferente.Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. Então, inclinou-se ligeiramente, os olhos fixos no meu.— Agora tenho uma namorada.Uma onda de calor percorreu meu corpo, como se cada célula estivesse sendo eletrificada. Dei um passo para trás, incapaz de lidar com o peso daquela declaração.Mas, antes que pudesse me afastar mais, senti sua mão envolver meu pulso. Num movimento firme, ele me puxou contra seu co
Ao lembrar de como ele já tinha me acusado injustamente antes, aproveitei a oportunidade para me vingar:— Augusto, solta minha mão. Ou vou te acusar de assédio.Ele riu, sem o menor sinal de preocupação:— Pode acusar. Quero ver você ter coragem.Ele não tinha medo mesmo.Sem paciência para lidar com alguém tão descarado, tentei puxar minha mão de volta, mas ele continuou segurando. Com um sorriso cínico, ainda provocou:— Mana, faz tempo que não nos vemos. Você está cada vez mais... Linda.— Vai pro inferno! — Retruquei, puxando minha mão novamente.Mas ele não só não soltou, como ainda se aproximou mais, apertando minha mão com mais força.— E seu temperamento também está cada vez pior.A expressão “cara de pau” parecia ter sido inventada especialmente para ele.De repente, alguém o chamou do outro lado do corredor:— Augusto! Deixa de enrolação e vem logo.Pelo jeito, ele realmente tinha algo urgente para fazer, afinal, ele havia entrado correndo no hospital. Mas, ao que parecia,
Minhas pálpebras pesaram. Era como se algo em mim soubesse que aquilo não ia terminar bem. Mas, mesmo sabendo que havia perigo, não tinha escolha. Era como enfrentar um tigre sabendo que ele estava esperando no topo da montanha.Mas eu não era tola. Não ia me jogar na boca do leão sem segurança. Antes de sair, enviei uma mensagem para Pedro:[Pedro, estou indo me encontrar com o Anthony. Fica de olho em mim.]Pedro não respondeu. Provavelmente estava treinando.Pedro estava se preparando para um campeonato de sinuca e, além de treinar jogadas, tinha uma rotina intensa de exercícios físicos. Dormir até tarde não fazia parte da vida dele.Sabia que ele veria a mensagem assim que pudesse. E, até lá, eu precisava me garantir.Respirei fundo, pisei no acelerador e segui direto para a Casa Serenidade.Quando cheguei, vi a imponente Land Rover de Anthony estacionada na entrada do local. Ele estava do lado de fora, praticando capoeira.Não sabia se era um treino de verdade ou apenas uma pose p
Anthony deu um passo em minha direção. Instintivamente, recuei, mas ele apenas sorriu.— Seja minha namorada.Fiquei paralisada por um instante, mas logo deixei escapar um sorriso irônico.— Não acha que é muito cedo para fazer piadas desse tipo? E você sabe que...— Não é piada. — Ele me interrompeu. — Só a minha namorada teria permissão para conhecer meu pai.Suas palavras me deixaram completamente travada. Era como se ele estivesse usando essa condição para me pressionar. Então era isso. Aquele pressentimento ruim que eu tive não era à toa.— Carolina, talvez você não saiba, mas meu pai é um homem muito desconfiado. Ele nunca confiou em ninguém, e agora, com a posição que ocupa, isso só piorou. Há muitas pessoas tentando se aproximar dele por interesse, e ele não quer perder tempo com gente que não seja da família. Por isso, ele não recebe ninguém fora do círculo íntimo.Anthony explicou com um tom sério, mas eu sabia que aquilo não passava de uma desculpa conveniente.— Além disso.
— O que você acha? — Anthony jogou a decisão para mim novamente. Dei um leve sorriso, sem me abalar. — Então, vou indo. Enquanto falava, devolvi as flores que segurava para ele. Anthony levantou a mão, mas, em vez de pegar o buquê, arrancou uma pétala e a levou ao nariz, como se estivesse avaliando o perfume. — Fala logo, o que você quer com meu pai, afinal? Franzi as sobrancelhas levemente. Será que ele mudou de ideia? Antes, quando mencionei que precisava do pai dele para avaliar algo, ele parecia achar que era algum tesouro. Agora, parecia ter percebido que meu interesse era outro. Já que estava ali, não havia mais motivos para esconder a verdade. Resolvi ser direta. Depois de ouvir tudo, Anthony assumiu uma expressão séria. — Então é melhor você desistir. Algo no tom dele me incomodou. — Por quê? — Se é por causa disso que você quer falar com meu pai, saiba que não vai adiantar. Ele não vai te dar nenhuma resposta. — Anthony parecia bastante seguro ao falar,
Como já imaginava, mal esse pensamento passou pela minha cabeça, meu celular começou a tocar. Que situação mais constrangedora.Anthony, que ainda estava por perto, soltou um sorriso cheio de sarcasmo.— Carolina, você realmente está precavida contra mim, né? Se não confia em mim, por que veio me procurar?Eu não tinha argumentos para me defender.Ele deu um passo para trás, fechando a expressão.— A partir de agora, finja que nunca me conheceu.Sem esperar resposta, virou as costas, subiu no carro e arrancou, deixando apenas o som do motor e a poeira no ar.O vento soprou contra meu corpo, bagunçando meus cabelos e levantando a barra do meu casaco.Que homem imprevisível. Dez minutos atrás, ele estava me confessando que queria me conquistar. Agora, por causa de uma ligação, mostrou toda sua irritação e foi embora sem olhar para trás. Melhor assim. Pelo menos não teria que me preocupar com ele insistindo ou me incomodando mais.Quando Anthony desapareceu ao longe, voltei minha atenção
Decidi que iria ao encontro. Talvez eu pudesse aproveitar esse almoço para arrancar alguma informação sobre o acidente dos meus pais. Convenci a mim mesma disso, olhei o relógio e percebi que ainda faltavam três horas para o horário marcado com Cátia. Decidi ir para a empresa para adiantar algumas coisas.— Bom dia, Carolina! — Edgar me cumprimentou com um sorriso estampado no rosto assim que me viu. — Bom dia, Sr. Edgar! — Respondi com um leve aceno de cabeça. — Carolina, você está com uma ótima aparência hoje. Está namorando? — Ele lançou a pergunta com um tom casual, como se fossemos velhos conhecidos. A imagem de momentos doces que tive com George passou pela minha mente, mas preferi não dar margem. Apenas curvei os lábios em um sorriso discreto. — Sr. Edgar, tudo bem? — Mantive a neutralidade, evitando qualquer abertura para conversa pessoal. Ele riu, sem insistir, e eu segui direto para o meu escritório. Era segunda-feira, dia de reunião do departamento. Durante o enc
Edgar desligou o telefone, soltou um suspiro e, ao me olhar novamente, abriu um sorriso radiante.— Sente-se, Carolina. — Disse, fazendo um gesto para que eu me acomodasse.Assim que me sentei, ele suspirou outra vez.— Está cada vez mais difícil contratar bons profissionais.Eu já havia ouvido parte da conversa dele ao telefone e tinha uma ideia do que se tratava.— Estamos com falta de pessoal técnico? — Perguntei, curiosa.— E como estamos! Ontem, um dos engenheiros-chefes da área técnica pediu demissão. Já estávamos com carência nessa área, e agora a situação só piorou. — Edgar balançou a cabeça, algo raro de se ver, já que ele sempre parecia tranquilo, sem aparentar qualquer preocupação.Desde que eu o conheci na empresa, ele era a personificação do bom humor e da despreocupação. Agora, pela primeira vez, ele parecia sentir o peso das responsabilidades.— O mercado de trabalho está polarizado. — Comentei, refletindo sobre a situação atual. — Não faltam profissionais com diplomas,