Edgar desligou o telefone, soltou um suspiro e, ao me olhar novamente, abriu um sorriso radiante.— Sente-se, Carolina. — Disse, fazendo um gesto para que eu me acomodasse.Assim que me sentei, ele suspirou outra vez.— Está cada vez mais difícil contratar bons profissionais.Eu já havia ouvido parte da conversa dele ao telefone e tinha uma ideia do que se tratava.— Estamos com falta de pessoal técnico? — Perguntei, curiosa.— E como estamos! Ontem, um dos engenheiros-chefes da área técnica pediu demissão. Já estávamos com carência nessa área, e agora a situação só piorou. — Edgar balançou a cabeça, algo raro de se ver, já que ele sempre parecia tranquilo, sem aparentar qualquer preocupação.Desde que eu o conheci na empresa, ele era a personificação do bom humor e da despreocupação. Agora, pela primeira vez, ele parecia sentir o peso das responsabilidades.— O mercado de trabalho está polarizado. — Comentei, refletindo sobre a situação atual. — Não faltam profissionais com diplomas,
— Srta. Carolina, tenho flores para você. Por favor, assine aqui.O entregador estava segurando um enorme buquê de rosas brancas.Rosas brancas. As minhas flores favoritas. Quem me conhecia bem sabia disso.Minha primeira reação foi pensar em Sebastião. Ele sempre me dava rosas brancas no meu aniversário e, em outras ocasiões, optava por rosas vermelhas.Mas hoje não era meu aniversário. Por que ele me enviaria flores agora?Perdida em meus pensamentos, quase não percebi que o entregador estendia o buquê novamente, visivelmente apressado para seguir com suas entregas. Peguei as flores e assinei o recibo.— Quem mandou, foi o namorado? — Edgar apareceu de repente, como se tivesse surgido do nada.Antes que eu pudesse negar, um cartão preso ao buquê caiu, aparentemente sem motivo. Edgar, mais rápido que eu, abaixou-se para pegá-lo e o entregou.Ao abrir, li as palavras escritas à mão: [Mana, espero que tenha um dia maravilhoso.]“Mana.” Assim que vi essa palavra, senti um arrepio percor
Depois de enviar aquelas palavras, acrescentei mais: [Um rapaz mais jovem.]Fiquei olhando para a mensagem enviada, esperando George responder. Mas um segundo, dois, três... E nada. Nenhuma resposta.O que estava acontecendo? Será que ele ficou bravo? Não quis mais falar comigo?Meus dedos pairaram sobre o teclado do celular. Eu estava prestes a perguntar o que tinha acontecido, mas, ao digitar uma frase inteira, pensei melhor e apaguei.Se ele estava bravo por causa de um buquê de flores enviado por outra pessoa, então, em que ele era diferente de Sebastião?Quando ainda estávamos juntos, Sebastião nunca lidava bem com o fato de eu receber atenção de outros homens. Durante a faculdade, eu era frequentemente cortejada, e até no trabalho houve momentos em que colegas, desconhecendo nosso relacionamento, davam sinais de interesse.Sempre que isso acontecia, Sebastião ficava furioso. Ele não apenas confrontava quem quer que fosse, mas também colocava a culpa em mim, dizendo que eu “chamav
Cátia não havia mencionado que eles estariam no almoço.Se eu soubesse, certamente não teria vindo. Não era questão de medo ou receio de enfrentá-los, mas sim de evitar perder o apetite.— Carol, você chegou! Estávamos te esperando. — Disse Cátia, aproximando-se com um sorriso caloroso e me dando um leve abraço.A situação me deixou desconfortável, mas tentei manter a compostura.— Ah, tia Cátia, achei que seria só nós duas.— E era para ser só nós duas mesmo. — Respondeu ela, apontando com o queixo na direção de Sebastião e Lídia. — Mas acabei esbarrando com eles aqui.Esbarrando? Eu não era mais uma criança para acreditar nisso.No entanto, se eu saísse dali, além de deixar Cátia sem graça, pareceria que eu ainda estava presa ao passado. Resolvi ficar e jogar o mesmo jogo.— Que coincidência. — Comentei, com um sorriso irônico.— Fomos nós que atrapalhamos o encontro de vocês. — Disse Lídia, tentando parecer educada.“Se sabe que está atrapalhando, por que não foi embora?”, pensei. M
Então, não fiz nada. Apenas observei para ver como o garçom resolveria a situação.Mas nem foi preciso o garçom intervir. Sebastião pegou as duas taças de suco de abóbora com leite. Colocou uma na minha frente e, com a outra nas mãos, virou-se para Cátia:— Mãe, seu açúcar está alto. Pedi para trazerem um suco de leite com amendoim para você.Cátia abriu a boca para dizer algo, mas Sebastião já tinha colocado a segunda taça na frente de Lídia.Lídia lançou um sorriso tímido e doce para Sebastião, mas aquele sorriso carregava uma fragilidade que parecia prestes a se despedaçar. Era o tipo de expressão que mexia com qualquer um, até eu, que não gostava dela, admiti que fiquei desconcertada.Talvez Cátia tenha percebido o mesmo, pois, pela primeira vez, não soltou nenhuma de suas farpas.Em seguida, os pratos começaram a chegar, um após o outro. Todos eram coisas que eu adorava. E Cátia, como sempre, fazia questão de colocar comida no meu prato, como se eu estivesse com as mãos amarradas
George e Edgar? Grande chefe? Sobrenome Junqueira?Em um instante, minha mente foi inundada por uma enxurrada de pensamentos.Eu já suspeitava de algo antes e até tentei sondá-los separadamente, mas ambos negaram. Agora, sendo pega de surpresa, quero ver como eles vão se explicar.— George! — Chamei em voz alta.George e Edgar, que estavam andando, pararam e olharam para trás, em minha direção.Naquele momento, eu estava meio agachada ao lado do tanque de peixes. Eles pareciam não ter me notado logo de primeira. Edgar até cutucou George e murmurou:— Quem será que está te chamando? Achei a voz meio...Ele não terminou a frase, porque George já vinha em minha direção com passos largos.— Isso aqui é perigoso. — Disse ele, estendendo a mão. Achei que ele fosse me puxar, então levantei a minha para que ele me ajudasse.Mas, antes que eu percebesse, ele esticou o braço e, com um movimento rápido, me ergueu como se eu não pesasse nada e me afastou do tanque.— Não era pra você estar almoçan
O tom de Sebastião era claramente irritado.— Tião, eu entendi o recado. Sua mãe não gosta de mim, e não importa o que eu faça, ela nunca vai gostar. Me desculpa por te colocar nessa situação. — Disse Lídia, com um tom de voz tão submisso que me incomodou profundamente.Ela não tinha feito nada de errado. Se havia algo de errado, era o fato de ela amar demais e acabar se submetendo a tanta humilhação por causa disso.— Eu aguento o que for, porque isso é problema meu. Mas você não precisa se martirizar assim. — Replicou Sebastião, claramente mais irritado.— Tião, o que você quer dizer com isso? Não estou entendendo. — Respondeu Lídia, ainda mais frágil, como se quisesse despertar a compaixão dele.Eu não sabia se aquele comportamento era genuíno ou uma estratégia, mas ela parecia ainda mais delicada na frente dele.— O que está rolando com o Augusto? — Perguntou Sebastião, mudando abruptamente o rumo da conversa.O nome mencionado me deixou imediatamente alerta. Era claro que Sebastiã
— Com licença, podem abrir espaço, por favor? — Disse de forma casual enquanto me aproximava.Sebastião permaneceu imóvel, seus olhos fixos em mim. Lídia hesitou por um instante, mas acabou dando um passo para o lado, abrindo caminho em silêncio.Ao passar por eles, percebi que Lídia segurava o braço de Sebastião com força, como se temesse que ele pudesse ser levado por mim naquele momento.— Carol, venha, vamos continuar comendo. — Disse Cátia, assim que entrei na sala, com seu jeito caloroso de sempre.Sentei-me à mesa e, fingindo ingenuidade, perguntei:— Tia, por que estamos só nós duas aqui?— Desde o início éramos só nós, mas tem gente que insiste em se meter onde não é chamada. — Respondeu Cátia, sem esconder seu desprezo por Lídia e, indiretamente, por seu próprio filho.Dei um sorriso de canto.— Tia, desse jeito você vai acabar brigando com o Sebastião.Não era que eu estivesse tentando bancar a pacificadora, mas João e Cátia sempre haviam sido tão bons para mim que, no fundo