Então, não fiz nada. Apenas observei para ver como o garçom resolveria a situação.Mas nem foi preciso o garçom intervir. Sebastião pegou as duas taças de suco de abóbora com leite. Colocou uma na minha frente e, com a outra nas mãos, virou-se para Cátia:— Mãe, seu açúcar está alto. Pedi para trazerem um suco de leite com amendoim para você.Cátia abriu a boca para dizer algo, mas Sebastião já tinha colocado a segunda taça na frente de Lídia.Lídia lançou um sorriso tímido e doce para Sebastião, mas aquele sorriso carregava uma fragilidade que parecia prestes a se despedaçar. Era o tipo de expressão que mexia com qualquer um, até eu, que não gostava dela, admiti que fiquei desconcertada.Talvez Cátia tenha percebido o mesmo, pois, pela primeira vez, não soltou nenhuma de suas farpas.Em seguida, os pratos começaram a chegar, um após o outro. Todos eram coisas que eu adorava. E Cátia, como sempre, fazia questão de colocar comida no meu prato, como se eu estivesse com as mãos amarradas
George e Edgar? Grande chefe? Sobrenome Junqueira?Em um instante, minha mente foi inundada por uma enxurrada de pensamentos.Eu já suspeitava de algo antes e até tentei sondá-los separadamente, mas ambos negaram. Agora, sendo pega de surpresa, quero ver como eles vão se explicar.— George! — Chamei em voz alta.George e Edgar, que estavam andando, pararam e olharam para trás, em minha direção.Naquele momento, eu estava meio agachada ao lado do tanque de peixes. Eles pareciam não ter me notado logo de primeira. Edgar até cutucou George e murmurou:— Quem será que está te chamando? Achei a voz meio...Ele não terminou a frase, porque George já vinha em minha direção com passos largos.— Isso aqui é perigoso. — Disse ele, estendendo a mão. Achei que ele fosse me puxar, então levantei a minha para que ele me ajudasse.Mas, antes que eu percebesse, ele esticou o braço e, com um movimento rápido, me ergueu como se eu não pesasse nada e me afastou do tanque.— Não era pra você estar almoçan
O tom de Sebastião era claramente irritado.— Tião, eu entendi o recado. Sua mãe não gosta de mim, e não importa o que eu faça, ela nunca vai gostar. Me desculpa por te colocar nessa situação. — Disse Lídia, com um tom de voz tão submisso que me incomodou profundamente.Ela não tinha feito nada de errado. Se havia algo de errado, era o fato de ela amar demais e acabar se submetendo a tanta humilhação por causa disso.— Eu aguento o que for, porque isso é problema meu. Mas você não precisa se martirizar assim. — Replicou Sebastião, claramente mais irritado.— Tião, o que você quer dizer com isso? Não estou entendendo. — Respondeu Lídia, ainda mais frágil, como se quisesse despertar a compaixão dele.Eu não sabia se aquele comportamento era genuíno ou uma estratégia, mas ela parecia ainda mais delicada na frente dele.— O que está rolando com o Augusto? — Perguntou Sebastião, mudando abruptamente o rumo da conversa.O nome mencionado me deixou imediatamente alerta. Era claro que Sebastiã
— Com licença, podem abrir espaço, por favor? — Disse de forma casual enquanto me aproximava.Sebastião permaneceu imóvel, seus olhos fixos em mim. Lídia hesitou por um instante, mas acabou dando um passo para o lado, abrindo caminho em silêncio.Ao passar por eles, percebi que Lídia segurava o braço de Sebastião com força, como se temesse que ele pudesse ser levado por mim naquele momento.— Carol, venha, vamos continuar comendo. — Disse Cátia, assim que entrei na sala, com seu jeito caloroso de sempre.Sentei-me à mesa e, fingindo ingenuidade, perguntei:— Tia, por que estamos só nós duas aqui?— Desde o início éramos só nós, mas tem gente que insiste em se meter onde não é chamada. — Respondeu Cátia, sem esconder seu desprezo por Lídia e, indiretamente, por seu próprio filho.Dei um sorriso de canto.— Tia, desse jeito você vai acabar brigando com o Sebastião.Não era que eu estivesse tentando bancar a pacificadora, mas João e Cátia sempre haviam sido tão bons para mim que, no fundo
Eu era uma péssima filha. Sabia que meus pais haviam morrido em um acidente de carro, mas nunca procurei saber os detalhes.O rosto de Cátia mudou levemente. Segurando meu pulso, ela disse:— Carol, já não falamos que era melhor esquecer isso? Já passou.— Tia, eu não sou mais uma criança. Eu consigo lidar com a verdade. Por favor, me conte. — Pedi, apertando sua mão.As mãos de Cátia tremiam ligeiramente.— Carol, por que você quer abrir essa ferida? Já passou...Fiquei em silêncio por alguns segundos antes de responder:— Porque eles eram meus pais, tia. Eles eram as únicas pessoas no mundo que eu tinha.Meus pais foram órfãos que cresceram em um orfanato. E, quando os perdi, também me tornei órfã.Talvez minhas palavras a tenham tocado, pois, após um momento de hesitação, ela finalmente disse:— Quando eu e o João chegamos ao local do acidente, sua mãe já não respirava. Seu pai ainda estava vivo, mas muito fraco. Ele segurou a mão do João e só conseguiu dizer o seu nome...Cátia par
Cátia colocou o garfo na mesa e virou-se para mim, com um olhar carregado de lembranças. — Sim, na época eles já estavam prestes a assinar o contrato. Provavelmente era aquele contrato que eu tinha encontrado no caderno do meu pai. — Foi por causa do acidente de carro que não assinaram? — Perguntei, com a voz trêmula. Cátia assentiu com a cabeça, confirmando. Minha respiração ficou presa no peito. Era como se uma onda gigante estivesse se formando dentro de mim, prestes a explodir. Nesse momento, ouvi Cátia suspirar profundamente. — Aquele contrato era o primeiro negócio de parceria entre seu pai e seu tio. O quê? Aquele contrato já incluía o João desde o início? Não era nada do que eu imaginava? — Seu pai e seu tio fizeram de tudo para conseguir trabalhar com o Felipe, o dono do Grupo Furtado. Eles saíram para pescar com ele, correram de carro juntos... Até pular de paraquedas porque ele insistiu. — Disse Cátia, balançando a cabeça em descrença. — O Felipe vinha de u
Tão acessível desse jeito, ele realmente não parecia meu chefe, mas sim um amigo.Dei um sorriso de volta, meus olhos fixos em Edgar, mas perguntei a George:— Você e ele parecem ter muito assunto. É a primeira vez que vejo alguém, depois de uma entrevista, sair para jantar com o chefe.Falei isso porque Pedro havia investigado e descoberto que a pessoa por trás de Edgar tinha o sobrenome Junqueira. Minha desconfiança começou a crescer novamente.— O Presidente Lopes me convidou para jantar para me conhecer melhor. Afinal de contas... — George fez uma pausa. — Um salário anual de três milhões não é pouca coisa.Fiquei chocada. Três milhões por ano?Jamais imaginei que George fosse tão valioso assim.— O quê? Acha que eu não valho tudo isso? — Ele foi direto.Puxei de leve o canto da boca.— Não é isso. — Depois perguntei. — Então, quanto você ganhava na empresa anterior?— Trinta mil por mês. — A resposta de George quase me fez engasgar. Edgar havia multiplicado seu salário por dez.—
Pronto, agora estou ferrada. Esqueci completamente disso. Mas não havia motivo para me sentir culpada, então neguei diretamente:— Não houve assédio, foi uma calúnia.— Hum?Os olhos de George se fixaram nos meus. Aqueles olhos exigiam que eu explicasse com mais detalhes.Contei sobre o incidente com Augusto, como fui tompada por acidente a ele e depois acusada injustamente. Para finalizar, acrescentei:— Um pirralho daquele, todo convencido? Nem faz meu tipo.— E qual é o seu tipo? — Perguntou George, direto como sempre. — Homens mais velhos? Ou prefere os maduros e seguros?Olhei para ele, sério como estava, e a vontade de provocá-lo subiu à tona. Inclinei-me um pouco mais na direção dele, diminuindo o espaço entre nós:— Gosto de cara como você... rústico e durão.Assim que terminei, vi o pomo de adão dele se mover. Mais uma vez, tinha conseguido mexer com ele.Na sequência, me afastei, mas a voz baixa de George me alcançou:— Como você sabe que eu sou duro?Por alguns segundos, fi