— O que você acha? — Anthony jogou a decisão para mim novamente. Dei um leve sorriso, sem me abalar. — Então, vou indo. Enquanto falava, devolvi as flores que segurava para ele. Anthony levantou a mão, mas, em vez de pegar o buquê, arrancou uma pétala e a levou ao nariz, como se estivesse avaliando o perfume. — Fala logo, o que você quer com meu pai, afinal? Franzi as sobrancelhas levemente. Será que ele mudou de ideia? Antes, quando mencionei que precisava do pai dele para avaliar algo, ele parecia achar que era algum tesouro. Agora, parecia ter percebido que meu interesse era outro. Já que estava ali, não havia mais motivos para esconder a verdade. Resolvi ser direta. Depois de ouvir tudo, Anthony assumiu uma expressão séria. — Então é melhor você desistir. Algo no tom dele me incomodou. — Por quê? — Se é por causa disso que você quer falar com meu pai, saiba que não vai adiantar. Ele não vai te dar nenhuma resposta. — Anthony parecia bastante seguro ao falar,
Como já imaginava, mal esse pensamento passou pela minha cabeça, meu celular começou a tocar. Que situação mais constrangedora.Anthony, que ainda estava por perto, soltou um sorriso cheio de sarcasmo.— Carolina, você realmente está precavida contra mim, né? Se não confia em mim, por que veio me procurar?Eu não tinha argumentos para me defender.Ele deu um passo para trás, fechando a expressão.— A partir de agora, finja que nunca me conheceu.Sem esperar resposta, virou as costas, subiu no carro e arrancou, deixando apenas o som do motor e a poeira no ar.O vento soprou contra meu corpo, bagunçando meus cabelos e levantando a barra do meu casaco.Que homem imprevisível. Dez minutos atrás, ele estava me confessando que queria me conquistar. Agora, por causa de uma ligação, mostrou toda sua irritação e foi embora sem olhar para trás. Melhor assim. Pelo menos não teria que me preocupar com ele insistindo ou me incomodando mais.Quando Anthony desapareceu ao longe, voltei minha atenção
Decidi que iria ao encontro. Talvez eu pudesse aproveitar esse almoço para arrancar alguma informação sobre o acidente dos meus pais. Convenci a mim mesma disso, olhei o relógio e percebi que ainda faltavam três horas para o horário marcado com Cátia. Decidi ir para a empresa para adiantar algumas coisas.— Bom dia, Carolina! — Edgar me cumprimentou com um sorriso estampado no rosto assim que me viu. — Bom dia, Sr. Edgar! — Respondi com um leve aceno de cabeça. — Carolina, você está com uma ótima aparência hoje. Está namorando? — Ele lançou a pergunta com um tom casual, como se fossemos velhos conhecidos. A imagem de momentos doces que tive com George passou pela minha mente, mas preferi não dar margem. Apenas curvei os lábios em um sorriso discreto. — Sr. Edgar, tudo bem? — Mantive a neutralidade, evitando qualquer abertura para conversa pessoal. Ele riu, sem insistir, e eu segui direto para o meu escritório. Era segunda-feira, dia de reunião do departamento. Durante o enc
Edgar desligou o telefone, soltou um suspiro e, ao me olhar novamente, abriu um sorriso radiante.— Sente-se, Carolina. — Disse, fazendo um gesto para que eu me acomodasse.Assim que me sentei, ele suspirou outra vez.— Está cada vez mais difícil contratar bons profissionais.Eu já havia ouvido parte da conversa dele ao telefone e tinha uma ideia do que se tratava.— Estamos com falta de pessoal técnico? — Perguntei, curiosa.— E como estamos! Ontem, um dos engenheiros-chefes da área técnica pediu demissão. Já estávamos com carência nessa área, e agora a situação só piorou. — Edgar balançou a cabeça, algo raro de se ver, já que ele sempre parecia tranquilo, sem aparentar qualquer preocupação.Desde que eu o conheci na empresa, ele era a personificação do bom humor e da despreocupação. Agora, pela primeira vez, ele parecia sentir o peso das responsabilidades.— O mercado de trabalho está polarizado. — Comentei, refletindo sobre a situação atual. — Não faltam profissionais com diplomas,
— Srta. Carolina, tenho flores para você. Por favor, assine aqui.O entregador estava segurando um enorme buquê de rosas brancas.Rosas brancas. As minhas flores favoritas. Quem me conhecia bem sabia disso.Minha primeira reação foi pensar em Sebastião. Ele sempre me dava rosas brancas no meu aniversário e, em outras ocasiões, optava por rosas vermelhas.Mas hoje não era meu aniversário. Por que ele me enviaria flores agora?Perdida em meus pensamentos, quase não percebi que o entregador estendia o buquê novamente, visivelmente apressado para seguir com suas entregas. Peguei as flores e assinei o recibo.— Quem mandou, foi o namorado? — Edgar apareceu de repente, como se tivesse surgido do nada.Antes que eu pudesse negar, um cartão preso ao buquê caiu, aparentemente sem motivo. Edgar, mais rápido que eu, abaixou-se para pegá-lo e o entregou.Ao abrir, li as palavras escritas à mão: [Mana, espero que tenha um dia maravilhoso.]“Mana.” Assim que vi essa palavra, senti um arrepio percor
Depois de enviar aquelas palavras, acrescentei mais: [Um rapaz mais jovem.]Fiquei olhando para a mensagem enviada, esperando George responder. Mas um segundo, dois, três... E nada. Nenhuma resposta.O que estava acontecendo? Será que ele ficou bravo? Não quis mais falar comigo?Meus dedos pairaram sobre o teclado do celular. Eu estava prestes a perguntar o que tinha acontecido, mas, ao digitar uma frase inteira, pensei melhor e apaguei.Se ele estava bravo por causa de um buquê de flores enviado por outra pessoa, então, em que ele era diferente de Sebastião?Quando ainda estávamos juntos, Sebastião nunca lidava bem com o fato de eu receber atenção de outros homens. Durante a faculdade, eu era frequentemente cortejada, e até no trabalho houve momentos em que colegas, desconhecendo nosso relacionamento, davam sinais de interesse.Sempre que isso acontecia, Sebastião ficava furioso. Ele não apenas confrontava quem quer que fosse, mas também colocava a culpa em mim, dizendo que eu “chamav
Cátia não havia mencionado que eles estariam no almoço.Se eu soubesse, certamente não teria vindo. Não era questão de medo ou receio de enfrentá-los, mas sim de evitar perder o apetite.— Carol, você chegou! Estávamos te esperando. — Disse Cátia, aproximando-se com um sorriso caloroso e me dando um leve abraço.A situação me deixou desconfortável, mas tentei manter a compostura.— Ah, tia Cátia, achei que seria só nós duas.— E era para ser só nós duas mesmo. — Respondeu ela, apontando com o queixo na direção de Sebastião e Lídia. — Mas acabei esbarrando com eles aqui.Esbarrando? Eu não era mais uma criança para acreditar nisso.No entanto, se eu saísse dali, além de deixar Cátia sem graça, pareceria que eu ainda estava presa ao passado. Resolvi ficar e jogar o mesmo jogo.— Que coincidência. — Comentei, com um sorriso irônico.— Fomos nós que atrapalhamos o encontro de vocês. — Disse Lídia, tentando parecer educada.“Se sabe que está atrapalhando, por que não foi embora?”, pensei. M
Então, não fiz nada. Apenas observei para ver como o garçom resolveria a situação.Mas nem foi preciso o garçom intervir. Sebastião pegou as duas taças de suco de abóbora com leite. Colocou uma na minha frente e, com a outra nas mãos, virou-se para Cátia:— Mãe, seu açúcar está alto. Pedi para trazerem um suco de leite com amendoim para você.Cátia abriu a boca para dizer algo, mas Sebastião já tinha colocado a segunda taça na frente de Lídia.Lídia lançou um sorriso tímido e doce para Sebastião, mas aquele sorriso carregava uma fragilidade que parecia prestes a se despedaçar. Era o tipo de expressão que mexia com qualquer um, até eu, que não gostava dela, admiti que fiquei desconcertada.Talvez Cátia tenha percebido o mesmo, pois, pela primeira vez, não soltou nenhuma de suas farpas.Em seguida, os pratos começaram a chegar, um após o outro. Todos eram coisas que eu adorava. E Cátia, como sempre, fazia questão de colocar comida no meu prato, como se eu estivesse com as mãos amarradas