— Tio... — Minha voz saiu trêmula, quase num sussurro, de tão surpresa que eu estava.— Carol. — João se esforçou para sorrir ao me chamar.— Seu cabelo... — Estendi a mão, querendo tocar seus cabelos.Ele parou por um instante, sem entender. — O que tem meu cabelo? Tá bagunçado?Naquele momento, as lágrimas simplesmente começaram a cair dos meus olhos.Ao me ver chorar, ele ficou ainda mais surpreso. — O que foi? Por que tá chorando? Foi sua tia que disse alguma coisa? Não liga pra ela, você sabe como ela adora falar besteira.João ainda não parecia ter notado que seu cabelo estava praticamente todo branco. Há poucos dias eu o tinha visto, e ele ainda estava com os cabelos negros. Agora, embora não fosse completamente branco, uns oitenta por cento dos fios tinham perdido a cor. Era como se ele tivesse envelhecido anos em uma única noite.Fiquei sem palavras, especialmente porque ele ainda nem tinha percebido.Aproximei-me e o abracei, enquanto as lágrimas desciam em silêncio pelo me
Sim, todos envelheciam, mas ver alguém envelhecer de um dia para o outro doeu de uma maneira especial.Mesmo assim, João foi preparar o café para mim. Quando o bebi, o sabor estava amargo, talvez mais do que deveria.— Leve esses grãos para casa, assim você pode fazer o café do jeito que gosta. — Disse ele, embrulhando os grãos restantes para mim.Ele me tratava como uma filha de verdade, e agora, em meio ao carinho que me dava, eu percebia também uma certa tristeza. Não poderia recusar seu presente, ou acabaria machucando-o ainda mais.— Certo, quando acabar, volto para pedir mais. — Brinquei, tentando aliviar o clima.— Isso mesmo! Tudo o que você quiser, é só pedir. Para mim, você é minha filha, sabia? — João respondeu, falando do fundo do coração.Assenti com firmeza, sentindo meu coração aquecer. — Para mim, o senhor também é como um pai.Quando eu estava na escola, era ele quem geralmente comparecia às reuniões de pais e mestres. Às vezes, Cátia queria ir, mas João dizia que, po
Eu havia feito de tudo para conseguir andar no carro do João, mas não imaginava que seria tão fácil assim.No entanto, para encontrar o endereço que eu queria, ainda precisaria me esforçar mais.— Saulo, você pode encostar o carro? Estou me sentindo mal, minha barriga está doendo, acho que vou vomitar. — Disse, fazendo um esforço para parecer desconfortável quando avistei a farmácia.— Claro, claro. — Saulo olhou para mim pelo retrovisor e rapidamente aceitou o pedido.Quando o carro parou, ele me observou, claramente preocupado.— Srta. Carolina, o que foi que aconteceu? Quer que eu te leve para o hospital?— Acho que foi o café que o tio João fez hoje, estou com dor no estômago. — Falei, mencionando o nome do João, sabendo que isso faria Saulo me dar mais atenção. Segurei meu estômago e continuei:— Saulo, você pode comprar um Omeprazol para mim? Só uma cápsula já vai resolver.Saulo assentiu várias vezes, mas ainda parecia apreensivo.— Que tal irmos ao hospital, então?Fiquei quie
Assim, tomei a decisão ousada de inserir as três últimas cifras das datas de nascimento deles. No entanto, pensei que isso seria muito fácil de adivinhar. Lembrando que o Sr. João e a Sra. Cátia parecem ser mais favoráveis ao Sebastião, decidi colocar primeiro a data de nascimento dele e, em seguida, a de Miguel.Na hora de digitar o último número, senti minha pressão subir, e meu coração parecia bater na garganta. Nesse momento, Saulo estava a apenas uns dez metros de mim; eu já nem ousava olhar para ele, mantendo meu foco fixo na tela.À medida que o cinza na tela clareava, percebi que a senha estava correta. E então, ali na tela da rota restrita, apareceu o nome "Casa Serenidade". Eu sabia exatamente do que se tratava — uma das três casas de repouso que eu investigava.Era exatamente isso que eu buscava! Soltei um longo suspiro e rapidamente movi minha mão para fechar o histórico de pesquisa. Foi nesse exato momento que Saulo abriu a porta do carro.Ele fixou o olhar na minha mão e,
Sr. João e Sra. Cátia têm sido tão bons para mim que apenas pensar em desconfiar deles me traz um peso na consciência.Mas agora até mesmo Luana tem essa ideia ...Eu me sentia como se estivesse caindo de uma altura de dez mil metros, com um pânico indescritível no coração.“Eu preciso investigar!”Quanto mais suspeitas surgem, mais sinto a necessidade de buscar respostas. Faço isso pelo meu pai e para provar a inocência de Sr. João.Luana, entendendo meu sentimento, não falou muito, apenas disse:— Não importa o que aconteça, eu estou com você.Essas palavras me fazem perceber que talvez ela já tenha suas próprias respostas. Mas enquanto não descobrir toda a verdade, não vou desistir.Assim que saí da emergência, fui direto para a rua e chamei um táxi. Para minha surpresa, Saulo ainda estava lá, com uma sacola de remédios na mão, falando ao telefone enquanto andava.— Bem, ela tocou na tela do carro. Diz que é para ouvir música ...O que ouvi fez meu corpo gelar por completo, mesmo so
O silêncio entre nós se prolongava, pesado e opressivo, tornando-se quase insuportável. Eu estava prestes a puxar algum assunto para encerrar a ligação quando a voz trêmula de Cátia cortou o ar, quase em um sussurro engasgado: — Foi aquela mulher que fez João ficar assim, e por isso, eu nunca a aceitarei.As palavras saíram com uma fúria contida que eu nunca imaginei que a Sra. Cátia pudesse expressar. Senti um calafrio percorrer minha espinha, e por um momento fiquei sem reação, sem conseguir dizer nada.— Carol. — Ela continuou, sua voz mais baixa, mas ainda carregada de ressentimento — se puder, venha ver João com mais frequência. Só você consegue trazer um pouco de paz ao coração dele.O peso daquelas palavras me deixou sobrecarregada, mas, mesmo assim, eu acabei concordando. Assim que a chamada terminou, fiquei ali, sentada no carro, encostada no banco, sentindo uma pressão sufocante que parecia me paralisar.Quando cheguei em casa, me joguei no sofá, encolhida, tentando ligar os
— Não sei. — George respondeu de forma seca, com aqueles duas palavras simples e diretas.Eu ri e, meio desafiadora, perguntei:— Não sabe? Então por que veio bater na porta?George, sem perder tempo, guardou os legumes que cortara e os colocou no prato, prontos para usar.— A senhora lá de baixo me disse que você tinha voltado.Eu fiquei sem saber o que dizer, apenas olhei para ele em silêncio.Bebi um gole do café e fiquei observando o homem cozinhar, o jeito que ele se movia na cozinha com tanta naturalidade. Mas, de repente, ele se virou e me encarou. — Está desconfiada de alguma coisa? — Ele perguntou, a voz grave, com um toque de curiosidade.Eu sorri de leve.— Desconfiando... de que você está me seguindo.Ele franziu a testa, claramente surpreso.— Hum? — Ele franziu levemente a testa.— Estou brincando. Sei que você não tem tempo para isso. — Disse, e então voltei para a sala, me sentando lá para tomar meu café.Depois de alguns goles, coloquei a xícara de lado e peguei o cel
Dizem que as mulheres adoram se arrumar para aqueles de quem gostam, e naquele momento, eu já tinha certeza de que me importava com George.Depois de lavar as mãos, saí do banheiro, e, no instante seguinte, George veio até mim, querendo me ajudar.Fiz um esforço para me mostrar forte, me afastando ligeiramente.— Estou bem. — Eu falei, tentando esconder a fraqueza na minha voz.Ele não insistiu, e, em vez disso, me seguiu até a mesa. Quando vi a refeição à minha frente, percebi que, além dos pratos principais que ele mencionara antes, havia também dois acompanhamentos leves e uma bandeja de frutas. A comida estava com uma aparência tão apetitosamente simples que já me dava água na boca.— George, sua irmã deve ser muito feliz. — Disse, como forma de agradecimento por todo o esforço que ele colocou na comida.George permaneceu em silêncio, e então, me veio à mente a lembrança de que a irmã dele tinha problemas de coração. De repente, um pensamento ousado surgiu na minha cabeça.— George