Assim que enviei a mensagem, o telefone de Pedro tocou quase instantaneamente.— O que foi? Está tentando te seduzir? — Pedro era direto, como sempre.Eu ri imediatamente. — Eu até queria que ele tentasse, mas nunca nem vi a cara dele, como é que ele ia fazer isso?— Nunca viu a cara dele? Então você me pediu para investigar só por curiosidade? — Pedro parecia surpreso. — Você acha que eu não tenho nada melhor pra fazer?Ele tinha acabado de postar que ia participar de um campeonato de sinuca; devia estar cheio de coisas pra resolver. Percebi que talvez tivesse sido um pouco impulsiva. — Olha, se você estiver ocupado, esquece. Era só curiosidade, não é nada urgente.— Ah, tá me provocando, é? — Pedro fingiu irritação.Ri de novo. — Não, sério, é só curiosidade. Se puder, ótimo; se não der, sem problemas.— Claro que eu posso. Pra todo mundo eu não tenho tempo, mas pra você, sempre. Vou ver isso pra você. — Pedro concordou.Mas ele não desligou logo em seguida. Eu sabia que ele queri
Onde mais eu poderia buscar as lembranças deles?— Carolina. — Na entrada do corredor, alguém me chamou.Era a dona do apartamento da frente. Ela certamente veio por causa da notícia da demolição.— Carolina, vão demolir aqui. Que pena, né? — A dona soltou um suspiro raro de melancolia.Eu não sabia o que dizer, apenas fiquei ali com uma expressão entristecida. Ela continuou:— Acabei de gastar um dinheirão para reformar o imóvel. Mal aluguei faz um mês, e agora já tenho que pedir pro inquilino sair. Que prejuízo!— Carolina, tentei ligar para o rapaz que alugou o apartamento, mas ele não atendeu. Se você encontrá-lo hoje, peça pra ele me retornar e avise que vai ter que se preparar para a mudança. É melhor ele já ir ajeitando as coisas. — Ela me pediu com uma pontinha de preocupação.— Pode deixar. — Respondi.— Muito obrigada, Carolina. — A dona foi bem educada, mas logo começou a fofocar. — Você já conheceu o rapaz que aluga meu apartamento, né? Ele é um gato, né?Eu ri de leve e di
Grupo Furtado, Felipe Furtado.Fosse o nome da empresa ou a assinatura com aquele ar inconfundível de Felipe, eu os conhecia bem demais. Afinal, esse grupo era o maior parceiro de negócios do Grupo Martins, e a amizade entre João e Felipe era de longa data.Mas por que meu pai teria um contrato com o Grupo Furtado de dez anos atrás? Pelo que eu sabia, naquela época ele não trabalhava para o Grupo Martins. Então, o que ele fazia com esse contrato?Olhei novamente o documento. Tratava-se de um acordo para desenvolvimento de energia renovável, algo que agora já estava sob o Grupo Martins, uma operação madura e lucrativa. Tecnicamente, o contrato deveria ser parte do Grupo Martins, mas o estranho era que não havia assinatura de João ali.Coloquei o contrato de lado e abri o caderno de anotações do meu pai. Era um diário de trabalho, com planos e alguns símbolos químicos que eu não conseguia entender. Fui folheando até a última página, onde li cinco palavras: [Que o acordo seja próspero.] E
Mas eu precisava entender a morte do meu pai.Depois de pensar bastante, decidi procurar Miguel. Só precisava de um bom motivo para isso.Enquanto ponderava, recebi uma ligação de Cátia. Ela já começou o telefone furiosa:— Esse moleque do Sebastião está tentando matar a mim e ao seu tio de raiva! Se ele realmente se envolver com aquela mulher, juro que nós dois morremos de desgosto.Não fiquei surpresa com a reação dela, então tentei acalmá-la:— Tia, não fiquem tão nervosos. Em questões de casamento, nem sempre os pais têm a última palavra.— Não temos mesmo, senão ele não teria chegado tão longe com você. Mas se ele acha que vai colocar uma viúva dentro da nossa casa, ele está sonhando! — Afirmou Cátia com convicção.No fundo, eu estava cheia de amargura e também não sabia como consolá-la. Na verdade, nem queria. Sebastião e Lídia me traíram, por que eu deveria defendê-los? Não era santa para sair perdoando assim.Eu já estava sendo até boazinha demais em não esfregar a verdade na c
— Tio... — Minha voz saiu trêmula, quase num sussurro, de tão surpresa que eu estava.— Carol. — João se esforçou para sorrir ao me chamar.— Seu cabelo... — Estendi a mão, querendo tocar seus cabelos.Ele parou por um instante, sem entender. — O que tem meu cabelo? Tá bagunçado?Naquele momento, as lágrimas simplesmente começaram a cair dos meus olhos.Ao me ver chorar, ele ficou ainda mais surpreso. — O que foi? Por que tá chorando? Foi sua tia que disse alguma coisa? Não liga pra ela, você sabe como ela adora falar besteira.João ainda não parecia ter notado que seu cabelo estava praticamente todo branco. Há poucos dias eu o tinha visto, e ele ainda estava com os cabelos negros. Agora, embora não fosse completamente branco, uns oitenta por cento dos fios tinham perdido a cor. Era como se ele tivesse envelhecido anos em uma única noite.Fiquei sem palavras, especialmente porque ele ainda nem tinha percebido.Aproximei-me e o abracei, enquanto as lágrimas desciam em silêncio pelo me
Sim, todos envelheciam, mas ver alguém envelhecer de um dia para o outro doeu de uma maneira especial.Mesmo assim, João foi preparar o café para mim. Quando o bebi, o sabor estava amargo, talvez mais do que deveria.— Leve esses grãos para casa, assim você pode fazer o café do jeito que gosta. — Disse ele, embrulhando os grãos restantes para mim.Ele me tratava como uma filha de verdade, e agora, em meio ao carinho que me dava, eu percebia também uma certa tristeza. Não poderia recusar seu presente, ou acabaria machucando-o ainda mais.— Certo, quando acabar, volto para pedir mais. — Brinquei, tentando aliviar o clima.— Isso mesmo! Tudo o que você quiser, é só pedir. Para mim, você é minha filha, sabia? — João respondeu, falando do fundo do coração.Assenti com firmeza, sentindo meu coração aquecer. — Para mim, o senhor também é como um pai.Quando eu estava na escola, era ele quem geralmente comparecia às reuniões de pais e mestres. Às vezes, Cátia queria ir, mas João dizia que, po
Eu havia feito de tudo para conseguir andar no carro do João, mas não imaginava que seria tão fácil assim.No entanto, para encontrar o endereço que eu queria, ainda precisaria me esforçar mais.— Saulo, você pode encostar o carro? Estou me sentindo mal, minha barriga está doendo, acho que vou vomitar. — Disse, fazendo um esforço para parecer desconfortável quando avistei a farmácia.— Claro, claro. — Saulo olhou para mim pelo retrovisor e rapidamente aceitou o pedido.Quando o carro parou, ele me observou, claramente preocupado.— Srta. Carolina, o que foi que aconteceu? Quer que eu te leve para o hospital?— Acho que foi o café que o tio João fez hoje, estou com dor no estômago. — Falei, mencionando o nome do João, sabendo que isso faria Saulo me dar mais atenção. Segurei meu estômago e continuei:— Saulo, você pode comprar um Omeprazol para mim? Só uma cápsula já vai resolver.Saulo assentiu várias vezes, mas ainda parecia apreensivo.— Que tal irmos ao hospital, então?Fiquei quie
Assim, tomei a decisão ousada de inserir as três últimas cifras das datas de nascimento deles. No entanto, pensei que isso seria muito fácil de adivinhar. Lembrando que o Sr. João e a Sra. Cátia parecem ser mais favoráveis ao Sebastião, decidi colocar primeiro a data de nascimento dele e, em seguida, a de Miguel.Na hora de digitar o último número, senti minha pressão subir, e meu coração parecia bater na garganta. Nesse momento, Saulo estava a apenas uns dez metros de mim; eu já nem ousava olhar para ele, mantendo meu foco fixo na tela.À medida que o cinza na tela clareava, percebi que a senha estava correta. E então, ali na tela da rota restrita, apareceu o nome "Casa Serenidade". Eu sabia exatamente do que se tratava — uma das três casas de repouso que eu investigava.Era exatamente isso que eu buscava! Soltei um longo suspiro e rapidamente movi minha mão para fechar o histórico de pesquisa. Foi nesse exato momento que Saulo abriu a porta do carro.Ele fixou o olhar na minha mão e,