— Daqui a alguns dias é o aniversário do seu tio. Você vai vir, não vai?As palavras de Cátia me deixaram levemente surpresa, e só então me lembrei de que realmente o aniversário do João estava próximo.Mas, mesmo que ela não tivesse mencionado, eu não teria esquecido. Eu sempre colocava lembretes para os aniversários de todos na família Martins.Morando na casa deles, eu sempre me esforçava para agradar a todos. Não que eu me sentisse uma intrusa, mas sempre agi com cautela, com medo de que, se algo saísse errado, eles pudessem ter uma má impressão de mim.Minha breve distração fez com que eu não respondesse imediatamente, e Cátia continuou:— Carol, você sabe que sempre te tratamos como nossa filha. Todos os anos recebemos seus presentes e felicitações nos nossos aniversários. Se você não vier este ano, seu tio vai ficar muito triste.Na verdade, eu não estava com vontade de ir, mas já havia providenciado um presente.No entanto, com Cátia me pressionando dessa forma, ficou difícil r
— Sério? Quem seria? Seus pais se foram há tantos anos, Carol. Os amigos antigos deles já devem ter esquecido completamente. Ninguém nunca mais falou neles, quanto mais ir ao cemitério para prestar homenagem. — As palavras de Cátia me acertaram como um soco no estômago.A verdade era dura, mas inevitável: depois que meu pais partiram, poucos realmente se lembravam. A frieza do mundo não era só um ditado.Quando Cátia falou isso com tanta naturalidade, eu senti uma angústia crescer dentro de mim. Antes, essa realidade não me incomodava tanto, mas agora, dita de forma tão direta, causava um incômodo profundo.— Quem sabe não foi um engano? — Ela sugeriu, tentando aliviar a situação.Olhei para a lápide que tinha fotos e os nomes dos meus pais gravados. Como alguém confundiria isso? Era uma desculpa tão esfarrapada que parecia até uma conversa com uma criança.— Talvez... — Murmurei, concordando só para não prolongar o assunto. Se eu não fosse junto com Cátia, ela provavelmente continuari
Ao entardecer, no café.Eu já estava na segunda xícara de café quando meu "encontro" finalmente apareceu.O homem, pelo menos, não era barrigudo nem careca, como eu temia. Usava uma camisa azul-clara impecavelmente limpa, e sua aparência correspondia ao que estava no perfil. Pelo menos, eu não tinha sido enganada pela foto.Mas seu atraso já havia diminuído consideravelmente a boa impressão que eu poderia ter. Ainda bem que meu objetivo nem era realmente começar um relacionamento, só queria pagar alguém para se passar por meu namorado e me ajudar a lidar com Sebastião.— Desculpe pelo atraso. — Ele se desculpou com educação.— Sem problemas. Mas vou ser direta: não estou aqui para um encontro. Na verdade, quero contratar um namorado. — Fui logo ao ponto.Ele ficou visivelmente surpreso.— Contratar um namorado?— Isso mesmo. Não estou interessada em um relacionamento de verdade, mas, no momento, preciso desesperadamente de alguém para fingir ser meu namorado. — Expliquei, dando todos o
— Não muitas vezes. Geralmente, eu uso os encontros para realmente tentar encontrar alguém com quem eu tenha afinidade. — Ele falou com tanta seriedade que me deu vontade de rir.Afinidade? Eu sabia bem o que ele estava buscando. Ele queria alguém que estivesse no mesmo "negócio" que ele, alguém com quem pudesse maximizar os lucros, só podia ser isso.Diziam que estava difícil arranjar emprego hoje em dia, mas quem sabia usar a cabeça sempre encontrava uma maneira de ganhar dinheiro sem precisar investir muito.— Então, senhorita, já decidiu? Quer me alugar como namorado ou prefere tentar algo mais sério? — Ele voltou a perguntar.Eu apertei os lábios, sem responder. Ele bebeu um gole de café de forma elegante e continuou:— Normalmente, as mulheres inteligentes escolhem namorar comigo. Assim, não precisam pagar, e se não der certo, terminamos e pronto.— Se todo mundo fizer isso, você não sai no prejuízo? — Perguntei, mexendo o café com a colher.— Não é todo mundo que tem essa oportu
Nenhuma resposta. Meu coração estava acelerado, e meu corpo inteiro se arrepiou.Mas eu não podia me mostrar fraca. Respirei fundo e, dessa vez, gritei:— Quem diabos está aí?— Sou eu! — Uma voz respondeu, seguida de passos mais decididos e uma explicação. — O seu encontro do café mais cedo.Era ele? Não podia acreditar. Nós nos encontramos uma vez, e agora ele estava me seguindo? Isso era ainda mais assustador.O corredor estava escuro, e eu só conseguia ver vagamente o que estava a poucos metros de mim graças à luz fraca que entrava pela janela.Ele ainda estava subindo as escadas, e eu não conseguia vê-lo claramente.Apertei ainda mais a chave do carro na minha mão, pronta para usá-la como arma.— Por que você está me seguindo? — Perguntei, tentando manter a voz firme.— Não me entenda mal. Eu só queria garantir que você chegasse em casa em segurança. Afinal, é perigoso para uma mulher andar sozinha tão tarde assim. — Ele disse, aparecendo finalmente no meu campo de visão.Aquela d
Ele já tinha vindo me procurar várias vezes, mas dessa vez apareceu direto na porta da minha casa.— O que você quer agora?— Eu aceitei. — Ele disse, e por um segundo eu não entendi o que ele queria dizer. Aceitou o quê?— Eu aceitei namorar com você. Ser seu namorado provisório. — George esclareceu.Lembrando que ele tinha recusado minha proposta antes, fiquei surpresa.— Por que você mudou de ideia?— Se eu não mudasse, você ia continuar saindo com aqueles caras estranhos e correndo o risco de ser perseguida de novo? — George respondeu, com um tom meio impaciente no começo, mas terminando com uma voz firme e protetora.Olhei para ele, vendo sua expressão contrariada enquanto a luz fraca do corredor iluminava seu rosto. De repente, achei aquela situação engraçada.— E se isso te incomodar? Se fizer algo contra a sua vontade, você não vai ficar infeliz? — Perguntei, provocando.George pareceu perceber o tom de brincadeira na minha voz, e deu um passo à frente. Instintivamente, recuei,
Virei para olhar George. Ele me encarava com uma expressão séria, e o silêncio entre nós começou a ficar estranho. Estávamos sozinhos no apartamento, e a tensão no ar era quase palpável.Era bizarro. Já tínhamos dividido o quarto de hotel antes, e nada disso acontecia. Mas agora, nesse apartamento espaçoso de dois quartos, parecia que o espaço entre nós era mínimo, quase sufocante.George me olhou por mais alguns segundos e então falou:— Acho que é melhor eu dormir no sofá.— Seu quarto deve ser reservado só para o seu verdadeiro namorado. Eu... Vou ficar no sofá. — Disse ele, fazendo com que eu me sentisse um pouco culpada.Mas eu sabia que ele estava jogando comigo. George queria mais do que ser meu namorado temporário, ele estava tentando me pressionar para aceitar algo mais sério.— Faça o que quiser. — Respondi rapidamente, me esquivando da situação, e fui para o quarto dos meus pais.Deitei na cama, mas o sono não vinha. Ainda estava um pouco abalada pelo incidente no corredor.
Eu não sabia por que queria chorar, mas sentia uma angústia apertar meu peito, como se fosse uma esponja encharcada de água, pesada e difícil de espremer.Talvez fosse porque, nesta casa sem meus pais, onde eu estava sempre sozinha e esquecida, alguém finalmente se importou comigo de novo.Ou talvez fosse porque George, de alguma forma, me entendia. Ele parecia saber que, mesmo tendo saído do parque de diversões, meu coração ainda estava ligado àquele lugar.Fiquei olhando para o bilhete por um bom tempo, e, quando o tirei do espelho e saí do banheiro, vi que George havia deixado o café da manhã na mesinha da cozinha. Havia um sanduíche, ovos fritos e leite.Naquele instante, pressionei o bilhete contra o peito e as lágrimas começaram a cair.George tinha preparado o café da manhã para mim. Aquele gesto, aquele cuidado, tocou meu coração de uma maneira que eu não podia ignorar. Depois de comer, enviei a ele uma mensagem simples: [Obrigada.]Era só um "obrigada", mas eu não podia simpl