Apesar disso, George sempre foi muito bom comigo. E, com sua personalidade rígida de militar, eu duvidava que ele tratasse Ana de forma diferente.Pensei nisso por um tempo e, depois de cerca de vinte minutos, resolvi ir ao quarto dele.Ele havia pedido para eu esperar dez minutos, provavelmente porque queria tomar banho e se trocar.Como eu imaginava, quando ele abriu a porta, seu cabelo ainda estava molhado. Ele vestia uma roupa larga e usava chinelos do hotel.— Entre. — Ele disse de maneira breve.Logo de cara, vi que o notebook dele estava aberto. Sem perder tempo, fui direto ao ponto:— Qual é o problema agora?— Está no documento que deixei na mesa. Pode abrir e ler. — George respondeu enquanto a chaleira apitava, indicando que o chá estava pronto.Sentei e abri o notebook. Pela personalidade dele, imaginei que a área de trabalho seria impecável, mas me enganei. Estava cheia de documentos.Ainda bem que eu não tive medo de coisas organizadas demais, senão teria ficado tonta com
Assim que falei, fiquei imediatamente constrangida. Me senti um pouco ridícula por ser tão direta, e imaginei que George também ficaria sem jeito.Mas, para minha surpresa, ele não se afastou de imediato. Levou quase meio minuto até ele responder, com um simples:— Hum.Como assim, ele tão tranquilo?Levantei os olhos para encará-lo, e foi só então que ele se endireitou, dizendo em seguida:— Você tem problema de visão. Eu já tinha dito onde estava o arquivo e você ainda não achou. Como eu ia te ajudar sem me aproximar?A explicação dele fazia sentido. Parecia que o problema era mesmo meu, com meus pensamentos nada inocentes.George caminhou naturalmente até a outra cadeira, sentou e pegou o tablet, concentrando-se em algo. Eu o observei furtivamente mais algumas vezes antes de pegar minha xícara e beber um pouco do chá, tentando me acalmar e focar de novo no trabalho.No documento que ele havia marcado, havia alguns pequenos erros, mas nada grave.Ele poderia muito bem ter resolvido i
Assim que disse isso, senti George apertar ainda mais minha mão. Ele piscou algumas vezes, e algo em seus olhos brilhou por um breve instante antes de desaparecer. Então, ele me soltou.Me afastei rapidamente, esfregando a mão que ele havia apertado com força.— Corrigi todos os erros que você marcou no arquivo. Quer dar uma olhada agora?George não se moveu. Continuava deitado na poltrona, de olhos fechados.— Não precisa. Vai descansar.— Ah... Boa noite. — Respondi, me virando para sair.— Carina. — A voz dele me chamou de repente.Eu congelei. Ele me chamou de quê?Carina era meu apelido de infância. Só meus pais me chamavam assim, e depois que eles se foram, apenas Luana usava esse nome de vez em quando.Mas eu tinha certeza do que ouvi. George me chamou de Carina.Virei-me, surpresa, e o encarei.— Você me chamou de quê?— Nada. — Ele continuava de olhos fechados. — Só... Fecha bem a porta pra mim.Fiquei parada por alguns segundos, tentando entender, mas depois fui embora, fecha
Quando acordei de manhã, ainda estava pensando no sonho.Era a segunda vez que George aparecia nos meus sonhos, e eu não conseguia deixar de me perguntar se já o conhecia de algum lugar.Não era só por causa do sonho. Da última vez, sonhei com um menino que tinha uma pinta nas costas, e, coincidentemente, George também tinha. Além disso, ontem ele me chamou de Carina. Eu ouvi claramente, e não achava que tivesse me enganado.Enquanto minha mente vagava por esses pensamentos, Ana me puxou de volta à realidade com uma pergunta:— Carolina, por que você voltou para o quarto para dormir?Era raro Ana acordar antes do despertador, ainda mais com tanto sono.Eu sabia exatamente o que ela estava insinuando e a fitei com um olhar de reprovação.— Voltar para dormir? Do que você está falando?Ana riu com malícia. — Achei que você e o George...— Que besteira é essa? — A interrompi. — Sua cabeça não tem nada de sério, né?— Ué, dois adultos, solteiros, o que tem de errado? — Ana deu de ombros.
— Quem paga é o George! — Ana respondeu, olhando diretamente para ele. — Né, George?Eu tinha certeza de que George iria acabar com a conversa ali mesmo. Mas, para minha surpresa, ele disse calmamente:— Se ela quiser, pode ser.Senti uma pontada no braço. Ana estava me apertando com força, e piscava para mim sem parar. Ela claramente estava percebendo algo no ar.Esse George... Ele queria mais confusão? Parecia que estava se divertindo com tudo isso.Antes que Ana pudesse me arrastar ainda mais para essa situação, eu sorri de leve e respondi:— Não preciso de dinheiro. Não vou.— Mana...George olhou para mim, em silêncio.Enquanto tomávamos café, meu celular tocou. Era a proprietária do apartamento em frente ao meu, onde eu estava negociando para alugar. Achei que ela finalmente tivesse resolvido o problema, então atendi.— Dona...— Carolina, me desculpe incomodar você tão cedo. — A voz da senhora era gentil.— Não se preocupe, pode falar. — Respondi, tomando um gole de leite.— Ent
Eu estava mesmo constrangida, mas, de certa forma, foi bom ele ter escutado.George pegou o celular que havia esquecido na mesa e foi embora. Ana soltou um suspiro:— Pronto, agora deu ruim.Eu não liguei. Para mim, não fazia diferença se George estava irritado ou se havia entendido errado. Nunca pensei em ter algo sério com ele. Nossa relação era casual, algo passageiro, e eu não estava em busca de um novo relacionamento. Não é que eu tivesse desistido do amor por causa de uma decepção, mas, neste momento, simplesmente não estava com disposição para isso.Depois do café, me preparei para levar Ana ao trabalho e, em seguida, ir para uma entrevista.Eu havia enviado meu currículo no dia anterior e, surpreendentemente, já recebi o convite para uma entrevista naquela manhã. A rapidez me pegou de surpresa, mas, por outro lado, quanto mais cedo eu começasse a trabalhar, melhor.No entanto, ao chegar ao estacionamento, vi o carro de Miguel. Ele parou o carro, desceu e abriu a porta de trás.
Fiquei realmente surpresa com isso.— Tia, eu já me desliguei da empresa. Além disso, já mandei meu currículo e tenho uma entrevista hoje.— O quê? Tão rápido? — Cátia parecia genuinamente espantada.— Tia, na verdade, desde o dia em que o Sebastião e eu decidimos não oficializar o casamento, eu já tinha decidido que deixaria a empresa. — Olhei para ela, sem qualquer hesitação.— Não me sinto confortável em continuar trabalhando na mesma empresa que ele, e creio que ele também não ficaria à vontade. Mesmo se o Sebastião não tivesse pedido minha demissão, eu sairia logo após o fim do projeto do parque. — Expliquei calmamente.Cátia balançou a cabeça em negativa.— Não precisa ser assim, Carol. Se você se sente desconfortável, pode ir para outro departamento ou até para uma filial. O importante é se manter longe dele.— Tia, eu sei que a senhora só está preocupada comigo, mas eu realmente quero explorar outras oportunidades. — Continuei firme na minha decisão.Os olhos de Cátia começaram
Depois de tudo o que foi dito, Cátia, mesmo que ainda tivesse outros pensamentos, não insistiu mais.Ela apenas assentiu com a cabeça:— Carol, no meu coração, você já é como uma filha.Se ela realmente me visse como uma filha, não teria surgido essa ideia de me juntar com Miguel. Claro, também era possível que essa ideia tivesse vindo dele, afinal, ele já havia declarado seus sentimentos por mim.— Então, quando Miguel e Sebastião tiverem um tempo, podemos fazer um pequeno ritual. Assim, eu oficializo vocês como meus padrinhos. — Falei, notando o brilho nos olhos de Cátia. Era evidente que ela não queria me ver apenas como uma filha adotiva. Mas, depois de tantos anos de convivência, eu sabia o quanto ela era boa para mim, e não queria alimentar suspeitas sem necessidade.— Está bem. — Cátia concordou.Eu a levei de volta para casa, e, no caminho, acabamos encontrando Sebastião. Ele usava um boné de beisebol e um uniforme esportivo, bem diferente do poderoso empresário que costumava