— Sua demissão não tem validade. — Miguel disse com uma autoridade que transparecia sua posição de poder.Eu sabia que ele tinha esse direito, e mesmo que não tivesse, poderia facilmente fazer João intervir e invalidar a decisão de Sebastião. Mas eu não queria isso.Então, respondi, tentando cortá-lo:— Sebastião já concordou.Afinal, neste momento, Sebastião era o verdadeiro chefe do Grupo Martins, e Miguel ainda não era.Do outro lado da linha, Miguel ficou em silêncio por alguns segundos antes de perguntar:— Onde você está?Desde que me mudei, apenas Luana e George sabiam onde eu estava. Mas eu não podia garantir que Miguel não fosse capaz de adivinhar. Ele sempre esteve atento a mim, lembrando até do número do celular que eu raramente usava. Talvez ele conseguisse descobrir, mas não pretendia facilitar as coisas.— Miguel, o parque de diversões foi meu projeto nos últimos dois anos. Agora, o que falta, eu confio que você vai finalizar. — Respondi, tentando mudar de assunto.— Caro
No fundo, eu não queria que o parque de diversões tivesse qualquer falha. Esse projeto, que carregava o amor do meu pai, precisava ser concluído com perfeição. Por isso, acabei aceitando ajudar.Porém, agora eu não era mais uma participante oficial, mas uma espécie de consultora informal... E gratuita.Não me importava. O importante era que o parque fosse concluído da melhor forma possível. Além disso, eu não tinha nada para fazer no momento. Ficar parada não ajudava em nada.Fui até o hotel no fim da tarde. Quando saí de casa, a porta do apartamento em frente estava trancada. Saber que um homem moraria ali me incomodava, me deixava inquieta.De repente, tive uma ideia: por que não alugar o apartamento para mim mesma?Vi que havia um número de telefone da proprietária na porta. Peguei o celular e liguei na mesma hora. Quando expliquei o que queria, a proprietária hesitou:— Bem... Eu já recebi o depósito do novo inquilino. Não posso simplesmente cancelar assim...— Devolva o depósito e
Era verdade. A pessoa que havia dado esse apelido a Sebastião já tinha sido expulsa do círculo dele há muito tempo, e Sebastião fez questão de garantir que ele não conseguisse mais se manter em Cidade A.Sebastião era extremamente rancoroso. Ainda bem que ele não tinha tanto poder, porque quem o contrariasse certamente não teria mais paz. Se ele vivesse numa época antiga, seria um daqueles ministros traiçoeiros ao lado de um imperador.Lídia ficou ainda mais pálida. Ela sabia que, ao falar assim de Sebastião, eu estava também insultando-a indiretamente. Com o rosto corado de raiva, ela replicou:— Carolina, como você pode falar assim dele? Afinal, ele foi um homem que você amou. Terminar um relacionamento sem denegrir o outro é o mínimo de decência. E eu não esperava que você fosse tão baixa.— Decência? — Sorri, irônica. — Isso é algo que se oferece a quem merece, Lídia. Você era casada e beijava o amigo do seu marido, depois, grávida do seu falecido marido, começou a se envolver com
Lídia ficou sem palavras depois do que eu disse. Ela estava ali, parada, completamente constrangida. Mas, no fim das contas, foi ela quem procurou por isso.— Lídia, se você não tem mais nada a dizer, é melhor ir para casa. Você está grávida, e se algo der errado, pode ser perigoso. — O que eu disse não era uma provocação, era um conselho sincero.Se ela queria tanto ter esse filho, tinha que tomar mais cuidado, não ficar andando por aí, indo até lugares perigosos como um parque de diversões. A não ser que, no fundo, ela não quisesse mesmo essa criança.Esse pensamento me passou pela cabeça e me causou um calafrio. Olhei para o rosto de Lídia, mas ela ainda estava pálida e envergonhada pelo que eu havia dito. Não consegui perceber mais nada.Já havia dito tudo o que precisava, descarregado a raiva que estava guardada. Então, me virei para ir embora.— Você realmente não ama mais o Tião? Não quer mais ficar com ele? — Lídia perguntou, sua voz ecoando atrás de mim.Eu sorri, sem nem me d
Apesar disso, George sempre foi muito bom comigo. E, com sua personalidade rígida de militar, eu duvidava que ele tratasse Ana de forma diferente.Pensei nisso por um tempo e, depois de cerca de vinte minutos, resolvi ir ao quarto dele.Ele havia pedido para eu esperar dez minutos, provavelmente porque queria tomar banho e se trocar.Como eu imaginava, quando ele abriu a porta, seu cabelo ainda estava molhado. Ele vestia uma roupa larga e usava chinelos do hotel.— Entre. — Ele disse de maneira breve.Logo de cara, vi que o notebook dele estava aberto. Sem perder tempo, fui direto ao ponto:— Qual é o problema agora?— Está no documento que deixei na mesa. Pode abrir e ler. — George respondeu enquanto a chaleira apitava, indicando que o chá estava pronto.Sentei e abri o notebook. Pela personalidade dele, imaginei que a área de trabalho seria impecável, mas me enganei. Estava cheia de documentos.Ainda bem que eu não tive medo de coisas organizadas demais, senão teria ficado tonta com
Assim que falei, fiquei imediatamente constrangida. Me senti um pouco ridícula por ser tão direta, e imaginei que George também ficaria sem jeito.Mas, para minha surpresa, ele não se afastou de imediato. Levou quase meio minuto até ele responder, com um simples:— Hum.Como assim, ele tão tranquilo?Levantei os olhos para encará-lo, e foi só então que ele se endireitou, dizendo em seguida:— Você tem problema de visão. Eu já tinha dito onde estava o arquivo e você ainda não achou. Como eu ia te ajudar sem me aproximar?A explicação dele fazia sentido. Parecia que o problema era mesmo meu, com meus pensamentos nada inocentes.George caminhou naturalmente até a outra cadeira, sentou e pegou o tablet, concentrando-se em algo. Eu o observei furtivamente mais algumas vezes antes de pegar minha xícara e beber um pouco do chá, tentando me acalmar e focar de novo no trabalho.No documento que ele havia marcado, havia alguns pequenos erros, mas nada grave.Ele poderia muito bem ter resolvido i
Assim que disse isso, senti George apertar ainda mais minha mão. Ele piscou algumas vezes, e algo em seus olhos brilhou por um breve instante antes de desaparecer. Então, ele me soltou.Me afastei rapidamente, esfregando a mão que ele havia apertado com força.— Corrigi todos os erros que você marcou no arquivo. Quer dar uma olhada agora?George não se moveu. Continuava deitado na poltrona, de olhos fechados.— Não precisa. Vai descansar.— Ah... Boa noite. — Respondi, me virando para sair.— Carina. — A voz dele me chamou de repente.Eu congelei. Ele me chamou de quê?Carina era meu apelido de infância. Só meus pais me chamavam assim, e depois que eles se foram, apenas Luana usava esse nome de vez em quando.Mas eu tinha certeza do que ouvi. George me chamou de Carina.Virei-me, surpresa, e o encarei.— Você me chamou de quê?— Nada. — Ele continuava de olhos fechados. — Só... Fecha bem a porta pra mim.Fiquei parada por alguns segundos, tentando entender, mas depois fui embora, fecha
Quando acordei de manhã, ainda estava pensando no sonho.Era a segunda vez que George aparecia nos meus sonhos, e eu não conseguia deixar de me perguntar se já o conhecia de algum lugar.Não era só por causa do sonho. Da última vez, sonhei com um menino que tinha uma pinta nas costas, e, coincidentemente, George também tinha. Além disso, ontem ele me chamou de Carina. Eu ouvi claramente, e não achava que tivesse me enganado.Enquanto minha mente vagava por esses pensamentos, Ana me puxou de volta à realidade com uma pergunta:— Carolina, por que você voltou para o quarto para dormir?Era raro Ana acordar antes do despertador, ainda mais com tanto sono.Eu sabia exatamente o que ela estava insinuando e a fitei com um olhar de reprovação.— Voltar para dormir? Do que você está falando?Ana riu com malícia. — Achei que você e o George...— Que besteira é essa? — A interrompi. — Sua cabeça não tem nada de sério, né?— Ué, dois adultos, solteiros, o que tem de errado? — Ana deu de ombros.