Algumas semanas atrás...HARRY RADCLIFFEA vinda para Nova Iorque havia sido inevitável. A cidade, com toda a sua magnitude e brutalidade, chamava-me de volta. Não importava o quanto eu tentasse afastar-me, era como se as sombras da Radcliffe's e tudo o que estava ligado àquele nome me puxassem de volta ao centro de tudo. Eu sabia, no fundo, que voltar era uma questão de tempo, mas os três anos que passei longe foram essenciais. A Irlanda havia me oferecido um refúgio, algo que eu nunca tive antes. A calma e a contenção daquele lugar contrastavam com o caos interno que eu carregava todos os dias. E, por um breve momento, achei que poderia acostumar-me com aquilo.Mas a mensagem de Herodes mudou tudo. Quando vi o nome dele aparecer na tela, uma sensação de antecipação fria correu pela minha espinha. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele teria uma resposta. Ele havia prometido, afinal, que não descansaria até encontrar o responsável. E agora, de alguma forma distorcida, ele cumpria
HARRY RADCLIFFEAssim que pisei fora do jato, mesmo com o cansaço martelando nas minhas têmporas e o corpo pedindo descanso, a minha primeira ordem ao motorista foi clara: ir direto ao restaurante onde Herodes havia marcado de encontrar-me. Eu não estava pronto para esse reencontro. Tudo o que queria era me afastar dessa realidade, jantar em silêncio, talvez tomar um diazepam e arrastar-me para uma cama, onde o sono, ainda que fragmentado, me envolvesse por algumas horas. Mas eu sabia que a conversa com Herodes não podia esperar.Ainda não havia decidido se ficaria em Nova Iorque ou se voltaria para o país europeu. A tranquilidade da vida fora do caos americano era tentadora. Porém, voltar significava, de certa forma, enfrentar tudo o que deixei inacabado, inclusive a própria dúvida sobre o futuro da minha família. Steffan, Rosie, e até Luna, apesar da aparente frieza, estavam presos às minhas decisões. Eu era o elo que os mantinha unidos, o responsável por conduzi-los para onde fosse
RUBY PORTMANAo chegar em casa, sentia cada músculo do meu corpo implorando por descanso. O dia havia sido mais cansativo do que o normal, e a única coisa que eu queria naquele momento era jogar a minha bolsa sobre a cama, livrar-me das roupas do trabalho e simplesmente apagar por horas. Nem jantar me parecia mais uma ideia atraente. A minha mente estava repleta de pensamentos desconexos, todos girando em torno de Harry, Milena, Johnny, e o caos que a minha vida parecia se transformar sem eu ter controle sobre isso.Merda.Antes mesmo de abrir a porta do apartamento, o meu celular vibrou no bolso. Suspirei ao ver o nome de Johnny na tela. Apesar de ele ser sempre atencioso, eu ainda me sentia estranha com a noção mais clara da distância que sempre havia crescido entre nós, algo que nem a simpatia dele conseguia corrigir no momento.— Oi, amor, como você está? — A voz de Johnny soava mais leve do que eu esperava, carregando uma energia que eu, sinceramente, não tinha naquele momento.—
RUBY PORTMANEntrei no box e liguei o chuveiro, o banho gelado era a única coisa que me mantinha desperta enquanto tentava organizar os meus pensamentos. A água fria me ajudava a clarear a mente, ainda que brevemente, mas a sensação de que o dia havia sido um completo desastre continuava a pesar sobre mim. Eu sabia que precisava encarar mais uma noite com Johnny, e a ideia de explicar o que estava acontecendo com Harry apenas adicionava mais um nível de estresse à equação.Saí do banho e encarei o vestido de cetim que havia escolhido. Ele era de um verde-esmeralda profundo, com um caimento perfeito que destacava as minhas curvas de forma sutil. As alças finas cruzavam nas costas, revelando parte da minha pele, enquanto a barra do vestido caía graciosamente até o meio das minhas panturrilhas. Eu adorava aquele vestido, mas, naquela noite, parecia quase um desperdício usá-lo. Peguei um par de saltos baixos — não tinha energia para lidar com saltos altos — e vesti tudo rapidamente. Meus
RUBY PORTMANEu abri a porta do meu apartamento com a cabeça ainda girando, o enjoo subindo e descendo em ondas no meu estômago. O álcool não ajudava, mas o que me deixava realmente nauseada era a confusão de sentimentos que me invadia. Não sabia exatamente o que odiava mais: o fato de ter aceitado a carona de Harry por questão de segurança, ou a babaquice de Johnny, que me colocou nessa situação.Fechei a porta com cuidado, tentando não fazer nenhum barulho para não acordar Sophia, que provavelmente já estava dormindo há horas. Os meus pensamentos estavam embaralhados, misturados com a raiva e a exaustão, e tudo o que eu queria era entender como a noite tinha se tornado esse desastre completo.Eu ainda estava inteiramente zangada com Johnny. Ele não podia ter me deixado ir para casa sozinha. Isso enfurecia-me. A ideia de que, se não fosse Harry — o homem que eu vinha tentando evitar, o nome que eu queria enterrar definitivamente no meu passado — eu poderia ter passado por uma situaçã
RUBY PORTMANAcordei com uma luz forte batendo diretamente no meu rosto. A cortina ainda estava aberta, o que me irritou brevemente. Eu sabia que deveria tê-la fechado corretamente antes de dormir, mas o cansaço de ontem à noite havia me vencido. Esfreguei os olhos, tentando afastar a sensação de enjoo que ainda estava presente. Quando virei o rosto para olhar o relógio na cabeceira, percebi que faltavam poucos minutos para uma da tarde. Era oficial: havia dormido mais do que pretendia. Pelo menos, não estava com enxaqueca, o que já era uma vitória, considerando a quantidade de álcool que consumi na noite anterior.Suspirei, sabendo que não podia ficar ali jogada para sempre. Decidi que estava na hora de levantar e tentar recuperar algum senso de normalidade. Tomei um banho gelado para espantar o resto da sonolência e o leve enjoo que ainda me rondava. Deixei que a água fria caísse sobre mim, clareando a minha mente aos poucos, até que me senti um pouco mais desperta e menos carregada
RUBY PORTMANEnquanto bebia mais um gole do suco de laranja fresco, senti Sophia me observando com aquela expressão que sempre denunciava que ela estava prestes a fazer uma pergunta difícil. Ela inclinou-se um pouco na cadeira, os olhos fixos em mim, e finalmente, lançou a questão.— E você, Ruby? Chegou a conversar com Johnny sobre o Harry?Eu dei de ombros, tentando disfarçar o desconforto que ainda sentia ao tocar nesse assunto, mas já não conseguia mais ignorá-lo.— Para ser honesta, nem tive tempo. As coisas foram tão rápidas ontem… Entre a boate, a confusão e tudo mais, não consegui encaixar isso. E, além do mais, não sei como abordar o assunto sem parecer que estou arrumando desculpas — respondi, mexendo distraidamente no copo de suco que estava à minha frente.Sophia arqueou uma sobrancelha.— Mas você vai ter que falar sobre isso eventualmente. Não dá para deixar o Johnny no escuro, principalmente agora que o Harry está de volta e está, claramente, se reaproximando, ainda mai
RUBY PORTMANA recepção da empresa estava um caos absoluto. Assim que passei pela porta de vidro, fui recebida por uma cena de completo pandemônio. Funcionários corriam de um lado para o outro, carregados de pilhas de papelada, com expressões de urgência gravadas nos seus rostos. O telefone da recepção tocava insistentemente, abafando ainda mais o som de chamadas vindas de outros setores. Alguns clientes, sentados desconfortavelmente nas cadeiras de espera, trocavam olhares impacientes, cruzando e descruzando as pernas em um claro sinal de irritação.Aproximei-me do recepcionista, um jovem do novo turno que mal parecia ter 20 anos, e questionei a razão de todo aquele tumulto. Ele apenas me olhou de relance, a testa franzida e o telefone grudado ao ouvido, enquanto murmurava algo em um tom ansioso. Antes que pudesse repetir a pergunta, outro toque estridente ecoou, interrompendo qualquer tentativa de resposta. O garoto, com um aceno rápido de cabeça, apontou para o lado de fora do corr