RUBY PORTMANAcordei com uma luz forte batendo diretamente no meu rosto. A cortina ainda estava aberta, o que me irritou brevemente. Eu sabia que deveria tê-la fechado corretamente antes de dormir, mas o cansaço de ontem à noite havia me vencido. Esfreguei os olhos, tentando afastar a sensação de enjoo que ainda estava presente. Quando virei o rosto para olhar o relógio na cabeceira, percebi que faltavam poucos minutos para uma da tarde. Era oficial: havia dormido mais do que pretendia. Pelo menos, não estava com enxaqueca, o que já era uma vitória, considerando a quantidade de álcool que consumi na noite anterior.Suspirei, sabendo que não podia ficar ali jogada para sempre. Decidi que estava na hora de levantar e tentar recuperar algum senso de normalidade. Tomei um banho gelado para espantar o resto da sonolência e o leve enjoo que ainda me rondava. Deixei que a água fria caísse sobre mim, clareando a minha mente aos poucos, até que me senti um pouco mais desperta e menos carregada
RUBY PORTMANEnquanto bebia mais um gole do suco de laranja fresco, senti Sophia me observando com aquela expressão que sempre denunciava que ela estava prestes a fazer uma pergunta difícil. Ela inclinou-se um pouco na cadeira, os olhos fixos em mim, e finalmente, lançou a questão.— E você, Ruby? Chegou a conversar com Johnny sobre o Harry?Eu dei de ombros, tentando disfarçar o desconforto que ainda sentia ao tocar nesse assunto, mas já não conseguia mais ignorá-lo.— Para ser honesta, nem tive tempo. As coisas foram tão rápidas ontem… Entre a boate, a confusão e tudo mais, não consegui encaixar isso. E, além do mais, não sei como abordar o assunto sem parecer que estou arrumando desculpas — respondi, mexendo distraidamente no copo de suco que estava à minha frente.Sophia arqueou uma sobrancelha.— Mas você vai ter que falar sobre isso eventualmente. Não dá para deixar o Johnny no escuro, principalmente agora que o Harry está de volta e está, claramente, se reaproximando, ainda mai
RUBY PORTMANA recepção da empresa estava um caos absoluto. Assim que passei pela porta de vidro, fui recebida por uma cena de completo pandemônio. Funcionários corriam de um lado para o outro, carregados de pilhas de papelada, com expressões de urgência gravadas nos seus rostos. O telefone da recepção tocava insistentemente, abafando ainda mais o som de chamadas vindas de outros setores. Alguns clientes, sentados desconfortavelmente nas cadeiras de espera, trocavam olhares impacientes, cruzando e descruzando as pernas em um claro sinal de irritação.Aproximei-me do recepcionista, um jovem do novo turno que mal parecia ter 20 anos, e questionei a razão de todo aquele tumulto. Ele apenas me olhou de relance, a testa franzida e o telefone grudado ao ouvido, enquanto murmurava algo em um tom ansioso. Antes que pudesse repetir a pergunta, outro toque estridente ecoou, interrompendo qualquer tentativa de resposta. O garoto, com um aceno rápido de cabeça, apontou para o lado de fora do corr
RUBY PORTMAN— Muito bem, como já mencionado na proposta, este projeto de rebranding é crucial para a Radcliffe's e foi cuidadosamente planejado para destacar os principais valores da marca. Fizemos esboços preliminares que gostaríamos de apresentar — começou Danile. — Nosso objetivo foi capturar a essência da Radcliffe’s, que é a combinação de inovação e elegância — afirmou, apontando para um design minimalista que trazia uma nova paleta de cores. — A proposta inclui embalagens que trazem um toque contemporâneo, mas sem perder o caráter sofisticado que caracteriza a marca.Eu observava a tela enquanto ela passava pelos primeiros esboços de design. Eram boas ideias, algumas promissoras, mas o que me deixou desconcertada foi a rapidez com que haviam sido produzidas. O e-mail de Harry havia chegado há poucos dias. O time de design certamente estava em uma corrida frenética para impressionar.Harry cruzou os braços, a mandíbula contraída de forma quase imperceptível enquanto assistia à a
RUBY RADCLIFFE Um sorriso que não alcançava os seus olhos apareceu nos seus lábios. A inclinação sutil da sua cabeça fez-me sentir como se eu estivesse sendo estudada, dissecada. — Interessante como você ainda se apega a promessas que já perderam o valor — respondeu com a voz baixa, afiada como lâmina. — E mais interessante ainda é ver você defendendo essa empresa que mal consegue manter a fachada, uma espelunca para alguém que tem pais influentes. Nem um café decente ou uma recepção digna ao cliente… Patético, nem se digna a ser melhor ou pelo menos, fingir. As palavras dele eram como veneno, infiltrando-se sob a minha pele e me fazendo querer responder à altura. Mas segurei firme, não permitindo que ele visse o impacto que causava. — Pode ir embora, Harry. Você não é bem-vindo aqui. Não volte. Mas ele deu um passo à frente, eliminando a distância entre nós de uma forma que me deixou sem ar. O cheiro familiar do seu perfume amadeirado era tão discreto quanto sempre fora, mas ag
RUBY PORTMANDesliguei o tablet e o deixei de lado, pousando-o sobre o sofá. Peguei a minha taça de vinho branco, girando o líquido suavemente antes de levar a taça aos lábios. Três anos. Três longos anos haviam se passado desde o desaparecimento de Harry e da sua família. Eu estava prestes a completar 30 anos, uma nova década de vida se aproximando, mas minha mente ainda insistia em voltar ao que aconteceu, ou ao que deixou de acontecer. Três anos de ausência, de silêncio, de especulações e de um vazio que, por mais que eu tentasse, nunca conseguia preencher completamente.Durante esse tempo, eu havia tentado de tudo para esquecer, para seguir em frente. Queria sentir raiva de Harry, nutrir um ressentimento profundo por ele, por ter me deixado sem respostas, sem um adeus. Queria odiá-lo, desejar que ele pagasse por tudo de ruim que significou na minha vida. No entanto, a cada semana, sem falhar, eu pegava-me lendo tabloides, procurando por qualquer sinal, qualquer notícia que dissess
RUBY PORTMANDespedindo-me de Johnny com um aceno rápido, deixei-o na cozinha e me dirigi à porta. Ele estava ocupado com algo, talvez preparando um jantar, ou procurando alguma bebida, como de costume, não questionou a minha saída repentina. Eu sabia que assim que eu chegasse não o encontraria mais, já que nos víamos apenas aos finais de semana, e, muito raramente nos dias úteis, já que eu trabalhava mais do que devia, ele também. E a nossa relação funcionava assim, ninguém se aborrecia com ninguém e tínhamos cada um o seu espaço, embora eu sempre soube que ele quer algo, além disso, já que ultimamente o tema casamento não tem saído da sua boca.Saí do apartamento e entrei no elevador, pressionando o botão para o piso térreo. Enquanto descia, a minha mente vagava, como sempre fazia nessas horas. As paredes do elevador refletiam uma versão minha que parecia diferente da jovem que havia começado a trabalhar na Radcliffe’s tantos anos atrás. Havia uma maturidade que o tempo e as experiê
RUBY PORTMANSophia estava na cozinha, movimentando-se com a familiaridade de quem já considerava meu apartamento quase uma extensão de sua própria casa. O cheiro do café fresco e do pão torrado enchia o ar, criando uma atmosfera aconchegante que contrastava com o som constante das teclas do meu laptop enquanto eu trabalhava no relatório do trabalho. Tinha um prazo apertado para entregar, e a manhã parecia ser o único momento em que eu conseguia encontrar um pouco de paz para me concentrar.Enquanto eu digitava, Sophia começou a puxar assunto, algo que ela sempre fazia para quebrar o silêncio, especialmente quando percebia que eu estava mergulhada demais em meus pensamentos. Ela mexia na frigideira, preparando algo que eu ainda não conseguia identificar, mas que certamente seria delicioso, como sempre.— E então, Ruby? — Começou, sem olhar para mim. — Como vai seu relacionamento com o Johnny? Ainda não tivemos a chance de conversar sobre ele direito.Suspirei, interrompendo a escrita