José abriu os olhos e suspirou.— Tem tanto medo de mim?Carolina abaixou a cabeça e se encolheu em direção à janela.— Estamos no avião, quer sair? — José percebeu que já começava a gostar de provocar Carolina.Carolina olhou para José encolhidamente e depois deu uma olhadela rápida para Afonso e Sofia.Afonso estava sentado ao lado de Sofia, lançando a Carolina um olhar ressentido.Carolina respirou fundo, limpou a garganta e perguntou:— Sr. José, ainda deseja reservar um quarto para a Srta. Sofia?— Não me importo. — José murmurou, fechando os olhos novamente para descansar.Carolina não se atreveu a dizer mais nada, a presença de José estava carregada de tensão.O voo de Cidade A para Cidade S durava pouco mais de três horas. Carolina não fechou os olhos em nenhum momento, se mantendo no canto com cuidado e olhando José de esguelha. O homem era realmente bonito.Tanto a aparência quanto o físico, e a própria aura que emanava.Ele nem precisava falar. Só o fato de estar ali, descan
— José, eu ouvi dizer que Lídia e Pedro chegaram com antecedência em Cidade S. André comentou que o assistente deles mandou um presente no valor de três milhões. Eu sei que você não quer perder este projeto para o Pedro, afinal... — Sofia suspirou, com uma expressão de preocupação por José. — Carolinha, o que você preparou de presente para o presidente Pereira?Sofia queria ver Carolina passar vergonha. Se o presente dela tivesse menos valor e elegância que o de Pedro e Lídia, seria alvo de risadas com certeza.— Caranguejo... caranguejo-da-china. — Respondeu Carolina em tom baixinho.— O quê? — Sofia sabia que Carolina provavelmente escolheria algo simples e não muito caro, mas ao ouvir “caranguejo-da-china” achou que tinha entendido errado.— Caranguejo-da-china... — Carolina repetiu.Sofia ficou muda por um instante antes de cobrir a boca e rir alto.— Carolina, você está falando sério?Depois de rir de Carolina, Sofia se virou para José.— José, caranguejo-da-china? Que tipo de pre
Sofia estava visivelmente incomodada, com os dedos bem apertados.— Dessa vez viemos às pressas e não preparei um verdadeiro presente. As caranguejeiras que Carolina enviou antecipadamente foram recebidas pela mãe do Sr. André? Ela gostou? — José perguntou calmamente, com aquele ar frio e distante de sempre.Assim que ouviu José a chamar, Carolina ficou completamente sem jeito e se aproximou, um tanto desconcertada:— Presidente Pereira, há quanto tempo não o vejo.André parou por um instante, e o sorriso em seu rosto foi aos poucos se transformando em uma expressão de surpresa:— Carolina?Carolina esboçou um sorriso tímido.Sofia também ficou perplexa. Carolina conhecia o André?— Conhece a Carolina?— A Carolina também é minha colega de universidade, uma prodigiosa aluna do curso de Finanças. Ela entrou como a primeira colocada, e eu, como presidente do conselho estudantil, fiz questão de receber ela pessoalmente. — Explicou André, visivelmente satisfeito com o encontro. — E realmen
— Eu e o Sr. André também tivemos uma conexão imediata. Fico feliz em pegar uma carona com você. — José disse sorrindo, abrindo ele mesmo a porta do passageiro da frente para André.— ... — André ficou preplexo, pensando como José já parecia estar tomando conta da situação.Carolina lançou um olhar furtivo a José. Era apenas impressão sua, ou ele parecia sorrir como uma raposa astuta?André, ainda atordoado com o gesto de José ao abrir a porta, automaticamente entrou no banco do passageiro. Em seguida, José fechou a porta e abriu a porta de trás, indicando com o olhar que Carolina entraria.Com uma expressão de perplexidade evidente, Carolina olhou para seu chefe, que quase parecia o anfitrião da situação. Quando José lhe lançou outro olhar indicando para que entrasse, agora mais firme, ela sentiu uma ponta de ameaça e, sem opção, subiu no carro, se encolhendo automaticamente no canto do assento.Sofia ficou aflita, querendo dizer algo, mas José já havia entrado e fechado a porta, sem
Sofia se sentou ao lado de Carolina, segurando sua mão com carinho. — André, não precisa perguntar mais. Carolina levou muito a sério a reforma na prisão, e depois que saiu, tem trabalhado com empenho, mudando sua vida e se esforçando muito. Só de olhar, já dá uma sensação de pena.André ficou chocado, sem saber nada sobre o tempo que Carolina passou presa.Carolina apertou os dedos e retirou sua mão de forma discreta, sem dizer nada.O que Sofia disse era verdade, ela não sabia como explicar.— Carolina, agora que saiu, deve se esforçar. Se deseja algo, deve o conquistar com suas próprias habilidades e trabalho, e não mais como antes. Nada cai do céu. Você já desfrutou de vinte anos de uma vida confortável sem esforço, mas essa fase sempre cobra seu preço. — Sofia suspirou, em um tom de “estou dizendo isso para o seu bem.” — Aqui não há estranhos, estamos todos entre amigos. Eu realmente gosto de você.Carolina ficou em silêncio, sem dizer nada.André, segurando seu copo de bebida, ol
Carolina estava parada no mesmo lugar, preocupada, enquanto ligava, ansiosa, para Afonso.— Afonso, o Sr. José bebeu demais. A Srta. Sofia e o secretário o levaram de carro. Eu comprei um remédio para ressaca, agora estou indo de táxi. Pode vir me encontrar?— Carolina, não estou no hotel. O Sr. José me pediu para resolver algo na Cidade L e só voltarei amanhã de manhã. — Disse Afonso, preocupado. — Pegue um táxi e vá direto para lá.Carolina tentou chamar um táxi, mas a rua estava praticamente vazia. Desesperada, ela começou a correr na direção do hotel. Depois de correr por uns cinco minutos, finalmente conseguiu parar um táxi à beira da estrada.— Por favor, me leve para o hotel H. Pode ir o mais rápido que conseguir?O motorista, que parecia entender a urgência, pisou no acelerador sem hesitar.Ao chegar, Carolina pagou rapidamente e correu para o elevador do hotel.— Olá, senhora, você é uma de nossas hóspedes? Precisamos verificar sua identidade. Pode mostrar seu documento na rec
Ao sair do hotel, Afonso entregou a ela os dois cartões do quarto e disse o número.Ao abrir a porta, Carolina encontrou a suíte vazia; não havia ninguém.Carolina, preocupada, ligou para José, mas ele não atendeu.Sofia provavelmente tinha reservado outro quarto.— Afonso, não encontro o Sr. José. Ele não está no quarto, acho que Sofia reservou outro. O que faço? — Carolina se agachou no chão, a voz quase em pranto.— Já verifiquei, Sofia está no 80269. Vá logo para lá. — Afonso também parecia aflito, ele já imaginava que algo assim poderia acontecer.O jeito que Sofia olhava para o Sr. José era como se quisesse o devorar vivo.Se Carolina chegasse tarde, seu chefe com certeza estaria em apuros.Carolina se levantou e correu para fora.— Toc, toc, toc! — Ela bateu ansiosa na porta.Mas Sofia não abriu.Carolina, quase chorando, sabia que chorar não resolveria. Precisava insistir.— Toc, toc, toc!Provavelmente irritada com as batidas, Sofia finalmente abriu a porta.Ela estava envolta
Por que estragar a vida pessoal do chefe?Com os olhos marejados, Carolina saiu, caminhando mecanicamente em direção ao seu quarto.O que ela estava sentindo?Por que ela estava tão triste?Seis anos atrás, quando Luana apareceu no hotel com Pedro para a flagrar, quando Pedro não acreditou nela, ela parecia não ter se sentido tão mal.Aquele sentimento de insegurança, desamparo, medo, tudo aquilo havia sido rapidamente suprimido.No momento em que Sofia desvendou seus sentimentos, ao dizer que ela gostava de José, Carolina se desesperou.Ela tinha medo de que alguém descobrisse o que ela sentia.Especialmente José.Ela não podia deixar que José soubesse...O fato de gostar de José era, para ela, como o manchar.— Carolina, não deixe que você se torne uma piada de novo...Piada? Ela era uma piada.Só porque José era diferente dos outros, ela se permitiu ter esses sentimentos.Que nojo... Carolina sentia nojo de si mesma.Ela deveria se olhar no espelho.Ver se realmente estava à altura.