Parecia que ele estava implicando com ela, mas não era nada grave. Talvez fosse só impressão, uma daquelas que aparecem quando a gente já está acostumado a esperar o pior. Esther suspirou, tentando afastar esses pensamentos enquanto entrava no carro logo em seguida, sentindo o clima pesado que parecia envolvê-los como uma nuvem carregada de tempestade. O veículo começou a se mover lentamente, e ela olhou pela janela, tentando ignorar o silêncio quase opressivo que dominava o ambiente.Marcelo segurava o tablet com uma expressão séria, os olhos fixos na tela, mas não havia qualquer emoção visível em seu rosto. Ele deslizava os dedos longos pela tela de forma mecânica, como se estivesse fazendo isso apenas para evitar qualquer interação entre eles. Sem sequer olhar para ela, disse com uma voz indiferente, que parecia mais fria do que o ar-condicionado do carro: — Já está ficando tarde. Vou te levar para casa.Esther sabia que ele estava certo. Já era noite quando saíram do hospital, e
— Sr. Marcelo, não se esqueceu de que hoje é o dia do seu divórcio com a Srta. Esther? — Gilberto falou, com um tom cauteloso, enquanto dava um passo atrás, evitando o olhar fixo de Marcelo. — É hora de ir ao cartório para formalizar o processo.Marcelo ficou em silêncio, a mandíbula contraída. Seus olhos se fixaram no calendário à sua frente, uma data destacada em vermelho gritava a realidade que ele tentava evitar. Naquele dia era o dia marcado para o término do prazo de três anos do seu casamento com Esther. Três anos que pareciam uma vida inteira e, ao mesmo tempo, um piscar de olhos.— Poxa. — Marcelo soltou um suspiro carregado, ajustando a gravata com um movimento brusco. Ele lançou um olhar frio para Gilberto, que, por um momento, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. — Foi a Esther quem te disse isso?A tensão na voz de Marcelo era evidente, e Gilberto engoliu seco, percebendo o desconforto crescente no ar. Algo ali parecia fora do lugar.— Sim, senhor. — Gilberto responde
Esther mordeu os lábios, confusa. Ela respirou fundo, tentando manter a calma antes de dizer:— Você sabe que eu pedi demissão, né? — Demissão? — Gilberto repetiu, com um sorriso simpático. — O Sr. Marcelo ainda não deu sua autorização, e, sabe, não tem ninguém para assumir o seu posto. Você precisa continuar vindo trabalhar, Srta. Esther.— Caramba. — Esther murmurou para si mesma, sentindo o peso da situação. Parecia que todas as suas tentativas de se afastar daquele lugar estavam sendo frustradas. — Poxa, que saco. Ela estava irritada consigo mesma por não ter planejado essa parte com mais cuidado. Se alguém estivesse pronto para assumir suas funções, ela poderia ter se afastado sem causar tanto alvoroço.Tomando uma decisão rápida, ela perguntou:— E se eu encontrar alguém para me substituir, aí eu posso finalmente me demitir?Gilberto hesitou um pouco, percebendo que ela não desistiria facilmente.— Teoricamente, sim. — Ele respondeu, tentando manter o tom neutro.— Certo, então
Esther abaixou os olhos para os papéis espalhados pela mesa e, com uma calma aparente, disse:— Enquanto eu estiver na empresa e o senhor precisar de um novo secretário, é minha responsabilidade encontrar alguém adequado para o cargo.Ela tentava manter a serenidade, mas sabia que Marcelo estava lendo suas intenções por trás daquela fachada tranquila. Será que ele estava percebendo que, na verdade, ela estava tentando fugir dele? Marcelo cruzou os braços, seus olhos estreitando-se em desconfiança, como se estivesse analisando cada palavra dela. Esther sentiu o desconforto crescer, mas continuou falando:— Não sabe quando o senhor vai estar disponível? Afinal, hoje é o dia do nosso divórcio, como combinamos. O senhor não vai mudar de ideia, vai?Marcelo ficou em silêncio, os lábios cerrados em uma linha fina, sem dar qualquer indicação de seus pensamentos. Esther levantou os olhos e o encarou, tentando manter sua postura firme.— Espero que o senhor cumpra sua palavra. Isso seria bom
Esther curvou os lábios em um sorriso frio, mas a amargura transparecia em seus olhos gélidos, que fixavam Marcelo com uma intensidade cortante. Ela tentava se convencer de que não era nada demais, repetindo para si mesma que também havia tirado proveito desse casamento. No entanto, a verdade é que ela estava profundamente ferida, sentindo-se apenas uma ferramenta nas mãos de Marcelo.O pensamento era sufocante, mas ela se forçava a manter a postura. “Algumas coisas podem ser ignoradas. Eu não preciso me apegar a elas, né?”, pensou ela, tentando afastar a dor Afinal, ela também tinha obtido benefícios. Mas, por mais que tentasse racionalizar, a sensação de humilhação a corroía por dentro.Marcelo, por sua vez, observava as reações dela, notando a tensão que endurecia sua expressão. Ele franziu a testa, incomodado pela frieza no olhar de Esther. Com um tom impessoal, quase clínico, ele perguntou:— Quando você descobriu?— Isso importa? — Esther respondeu, sem desviar o olhar, sua voz
Marcelo deu um tapa firme nas nádegas de Esther. A dor que percorreu seu corpo foi intensa, uma sensação ardente que parecia queimar sua pele.— Parece que você ainda não aprendeu a lição! — Disse Marcelo, a voz saindo cortante, com uma frieza que fazia gelar o ambiente.O tempo parecia se arrastar. Esther, ainda jovem e inexperiente, sentia que não conseguia mais suportar o que ele fazia.— Por favor... Para... Me deixa ir... — Implorou ela, com uma voz trêmula, quase como um sussurro implorante.Marcelo a observou com um olhar penetrante, vendo a mulher deitada sobre a mesa, como se fosse um brinquedo quebrado. O corpo dela, delicado e vulnerável, parecia não ter ossos. O cabelo desgrenhado caía em torno de seu rosto, que estava corado, enquanto pequenas gotas de suor brilhavam em sua testa. A camisa dela pendia frouxa ao redor da cintura, as meias já haviam sido arrancadas, e a saia estava arregaçada até as coxas.Ela chorava sem parar, os soluços sacudiam seu corpo, fazendo-a parec
Marcelo estava intrigado com esse tal de Enrico. Não conseguia se perguntar o que será que ele tinha de tão especial para que Esther o mantivesse em seus pensamentos por tanto tempo. Se aquele homem não fosse grande coisa, será que ela desistiria de vez e pararia com essa ideia de divórcio?...Esther teve um pesadelo terrível. No sonho, ela estava com as mãos e os pés acorrentados, presa dentro de uma gaiola que parecia encolher a cada segundo, transformando-a em um pássaro enjaulado. O medo se espalhava por todo seu corpo, sentindo-se sufocada pela escuridão ao redor. Não havia ninguém por perto, ninguém para ajudá-la, e quanto mais ela lutava, mais as correntes apertavam, machucando sua pele delicada. Ela gritava por socorro, mas sua voz não parecia alcançar ninguém.Acordou do pesadelo ofegante, o rosto coberto de suor frio. Ela se sentou na cama abruptamente, passando as mãos trêmulas pelo rosto. Precisava se acalmar, mas o medo ainda pairava no ar. Olhou ao redor, percebendo que
Ela não sabia o que Marcelo queria fazer, mas a ideia de ficar ali, esperando que algo ruim acontecesse, era insuportável. Ser tratada como um canário preso em uma gaiola não combinava com ela. Esther não aceitaria isso, nem agora, nem nunca.Marcelo a observava com atenção, percebendo cada detalhe da sua postura tensa. Esther estava visivelmente agitada, e o olhar cauteloso que lançava em sua direção revelava uma desconfiança que o incomodava profundamente. Franzindo a testa, ele tentou manter a voz calma, mas firme:— Esther, você precisa entender que, pelo menos no papel, você ainda é minha esposa. Como pode se comparar a um animal de estimação? Estar comigo é o mais natural.Esther se mantinha irredutível, os dedos finos apertando com força os lençóis. Ela levantou o olhar, encarando Marcelo, e a frieza em seus olhos era cortante.— Quando vamos ao cartório para oficializar o divórcio? — A pergunta saiu sem hesitação, direta, como se quisesse cortar qualquer laço remanescente entre