Ela olhou para a tela e viu um nome que não via há meses: a gerente do clube noturno onde costumava trabalhar, uma mulher que, apesar de tudo, sempre foi uma figura quase materna em sua vida. O coração de Nicole acelerou um pouco, mas ela respondeu com um sorriso, feliz em poder compartilhar as boas novas.— Oi, mãe! — Disse Nicole, sua voz cheia de uma felicidade genuína enquanto usava o termo “mãe” para se referir à gerente do clube, que sempre a tratou com carinho. — Estou muito bem agora! — Continuou ela, o sorriso na voz quase evidente. — Meu filho está saudável, moro numa casa grande e tenho ajuda para cuidar dele. Até a mãe do pai dele gosta muito de mim. Tenho certeza de que tudo vai melhorar daqui pra frente.Nicole quase conseguia ver o rosto da gerente do outro lado da linha, talvez sorrindo com orgulho pela trajetória de sua “filha” em direção a uma vida melhor. Mas, ao invés da resposta calorosa que esperava, ouviu um tom urgente, algo que fez seu sorriso vacilar.— Nicole
Sofia observava Nicole com um olhar crítico e penetrante. Era como se estivesse analisando cada detalhe da mulher à sua frente, comparando as duas, como se Nicole fosse uma peça de arte em avaliação. Sofia sempre teve uma aura de nobreza natural, algo que irradiava de sua postura, de suas roupas cuidadosamente escolhidas e do brilho de suas joias. Enquanto Nicole nasceu com uma beleza estonteante, mas que acabava seguindo por caminhos sombrios. Enquanto passava um batom escarlate, Sofia lançou um olhar pelo espelho, observando Nicole como se ela fosse uma intrusa em seu mundo perfeito. Um leve sorriso curvou seus lábios antes de perguntar com um tom de voz repleto de desprezo:— O que você quer de mim, Nicole? Nicole estava à beira de um colapso, os olhos arregalados e o corpo tremendo, como se a qualquer momento pudesse desmoronar. — Por favor, Sofia, me ajuda. — Nicole suplicou, a voz trêmula e carregada de pânico. — A polícia está me procurando, e só você pode me tirar dessa!O
Nicole notou a mudança no olhar de Sofia, tão diferente da afeição que mostrou quando se conheceram. Havia uma frieza agora, algo quase calculista, que fez o estômago de Nicole revirar. — Você me usou! — Gritou Nicole, a voz embargada pela mistura de raiva e desespero que queimava em seu peito. — Você fez de propósito, me manipulou para fazer o que você queria, e depois lavou as mãos. A cruel aqui é você.Sofia a olhava com uma expressão neutra, como se estivesse observando um espetáculo previsível. Desde o início, Sofia havia se aproximado dela com intenções claras, comprando roupas de bebê, murmurando palavras doces que plantavam a semente do que ela desejava. Tudo fazia parte de um plano meticuloso para se livrar de qualquer ameaça, e Nicole, ingênua e desesperada, caiu direitinho.— Você é uma ótima atriz! — Nicole continuou, agora completamente tomada pela raiva. Suas mãos tremiam enquanto apontava um dedo acusador na direção de Sofia. — Fingiu gostar de mim, se preocupou comigo,
Mesmo no momento de sua morte, Nicole ainda estava presa a suas obsessões. Seus pensamentos giravam em torno do mesmo desejo desesperado. Ela acreditava que, ao ter um filho, garantiria seu lugar na família Mendes. Ser mãe de um herdeiro lhe daria poder e segurança, algo que sempre ansiou.Mas tudo não passou de um sonho vazio. A realidade era fria, dura, e se recusava a se curvar às suas vontades. Após suas últimas palavras, Nicole deu seu último suspiro, mas seus olhos permaneceram abertos, cheios de arrependimento. Ela morreu sem paz, com o corpo rígido e os lábios ainda tremendo num pedido de clemência que nunca foi ouvido.Quando os policiais desceram, Nicole já estava morta. O corpo dela estava caído e sem vida. Eles isolaram a área com fitas de segurança, o ambiente tingido de uma quietude mórbida que contrastava com o caos de momentos antes.Sofia foi amparada pelos policiais enquanto descia. Seus cabelos, geralmente bem arrumados, estavam em desalinho. O rosto, antes impecável
O assassino de Caio estava morto. Agora, não havia mais necessidade de continuar investigando ou buscando provas. Finalmente, tudo estava acabado. — Srta. Sofia, terminamos de registrar seu depoimento. Vá cuidar desse ferimento. — Aconselhou o policial, com um olhar de simpatia, notando a palidez de Sofia e o tremor leve de suas mãos.— Sofia, você é boa demais, sério. Está ferida e ainda insistiu em vir à delegacia antes de ir ao hospital. — Iara acrescentou rapidamente, com um tom carinho.Sofia, com os olhos avermelhados e o rosto pálido, apenas suspirou.— Não fale mais disso. Já terminei aqui. Vamos ao hospital. — Disse ela, a voz fraca e ligeiramente trêmula. Iara ajudou Sofia a caminhar, segurando-a firmemente pelo braço. Ela estava visivelmente exausta, cada passo parecia mais difícil que o anterior, mas se mantinha firme.No caminho, elas cruzaram com Esther, que vinha na direção oposta. O olhar de Esther imediatamente se fixou nas mãos feridas de Sofia e nas manchas de sang
— Gilberto, leve ela imediatamente ao hospital! — Ordenou Marcelo, sua voz firme e autoritária, sem espaço para questionamentos.— Sim, Sr. Marcelo. — Respondeu Gilberto prontamente, já se aproximando de Sofia para ajudá-la. Sofia, no entanto, manteve o olhar fixo em Marcelo, a esperança cintilando em seus olhos marejados. — Você não vai comigo? — Perguntou ela, a voz cheia de expectativa e uma pitada de vulnerabilidade.— Ainda tenho algumas coisas para resolver aqui. Assim que terminar, vou te ver. — Marcelo respondeu, apesar da leve hesitação.Ao ouvir isso, Sofia sentiu um alívio sutil percorrer seu corpo. — Tudo bem, então vou esperar por você no hospital. — Disse ela, enquanto um leve sorriso brotava em seus lábios, escondendo a dor que latejava em suas mãos feridas.Antes de sair, Sofia lançou um último olhar para Esther. Foi um olhar cheio de significado, uma mistura de desafio e triunfo.Esther, por sua vez, manteve o silêncio. Ela sabia que, desde sempre, Marcelo se importa
— Se você já resolveu a questão do seu tio, é melhor não deixar o trabalho acumular. — A voz de Marcelo soou firme, sem espaço para contestação.Esther, ainda absorvendo o peso de tudo o que havia acontecido, sentiu um aperto no peito. Como se não bastasse a montanha-russa de emoções, a realidade prática do trabalho batia à porta. Ela sabia que, por mais que sua vida estivesse desmoronando em tantas frentes, o trabalho era algo que precisava continuar. E, por mais difícil que fosse admitir, ela não poderia se dar ao luxo de perder aquele salário, principalmente agora, com tantas incertezas no horizonte.Depois de uma breve hesitação, onde a ideia de largar tudo e ir embora passou pela sua cabeça, ela optou pelo que sabia fazer de melhor. Seguir em frente, pelo menos por mais um tempo.— Sim, Sr. Marcelo. — Respondeu ela, com uma formalidade que soava quase fria, uma tentativa desesperada de criar uma distância entre eles.Marcelo pareceu satisfeito com a resposta, seu olhar breve, mas
Marcelo franziu a testa, a expressão severa enquanto uma sombra de desconfiança passava por seus olhos.— Disseram que a situação durou mais de dez minutos. Dez minutos e ninguém apareceu? E no fim, aquela mulher caiu sozinha? — Ele perguntou, a voz baixa e fria como uma lâmina afiada.— No quarto, só estavam Sofia e Nicole. Achei que era apenas uma conversa, nada demais. Não pensei tanto sobre isso. Quanto aos seguranças, Sofia dispensou ele naquele dia. — Iara quase sussurrou, evitando o olhar de Marcelo, sentindo-se minúscula sob o peso da sua desaprovação. Ela era assistente de Sofia, mas no momento crucial, sua atuação foi praticamente nula.Marcelo não parecia satisfeito com a resposta, sua frustração evidente em cada linha de sua postura tensa. — Quem chamou a polícia? — Ele estreitou os olhos, continuando o interrogatório. — Eles chegaram rápido demais.A rapidez da resposta policial não fazia sentido, e isso não passava despercebido por Marcelo. Parecia que o alerta havia sid