Joaquim sentiu uma pontada de culpa ao lembrar das palavras duras que havia dito a Natacha, rebaixando ela. A dor de sua consciência era intensa. Suas mãos agarravam com força o volante, mas ele não conseguia ligar o carro. Em silêncio, ele estava em agonia, tentando reconciliar seus sentimentos contraditórios. O interior do carro parecia pequeno e sufocante, como se os próprios sentimentos de culpa e desejo estivessem prendendo ele. De repente, ele se inclinou para frente, puxando Natacha para seus braços, acariciando suavemente seus cabelos enquanto murmurava:- Natacha, me desculpe, me desculpe…O cheiro familiar de seu perfume e a suavidade de seus cabelos trouxeram uma sensação de nostalgia e arrependimento que o atingiu com força.Natacha, com a voz trêmula e lágrimas nos olhos, respondeu:- Você não tem nada pelo que se desculpar. Eu pedi o divórcio. Foi minha escolha. E agora, por causa do meu pai, estou pedindo sua ajuda novamente. Talvez eu queira demais. Não consigo te ver
Natacha finalmente sorriu, um sorriso frágil que parecia carregar todo o peso do mundo, e disse:- Obrigada.Joaquim suspirou, se sentindo controlado por aquela mulher, suas emoções em turbilhão. O sorriso de Natacha, mesmo breve, iluminava seu rosto cansado, trazendo um brilho efêmero de esperança. No entanto, aquele mesmo sorriso também o perturbava, deixando ele vulnerável e confuso.Quando chegaram em casa, Joaquim pediu para ela ir jantar enquanto ele se dirigia ao banheiro para um banho frio. A água gelada caindo sobre sua pele parecia uma tentativa desesperada de acalmar os desejos que o atormentavam e reorganizar seus pensamentos confusos. Cada gota era como um golpe, uma tentativa de afastar a tensão crescente e desaparecer com a névoa que envolvia sua mente.Mal saiu do banho, o telefone começou a tocar insistentemente. Ele atendeu, ouvindo a voz aflita de Xavier:- Sr. Joaquim, temos um problema. A notícia da aquisição do Grupo Gonçalves chegou ao conselho. Os acionistas est
Natacha não entendia por que Joaquim precisava caluniar seu pai de maneira tão cruel. Em sua memória, o pai sempre fora um homem bondoso e dedicado, trabalhando arduamente todos os dias para sustentar a família. Se lembrava das noites em que ele chegava em casa exausto, mas ainda assim, com um sorriso no rosto e um abraço caloroso para ela. Por que Joaquim ousava acusá-lo de algo tão horrível? A raiva pulsava em seu peito como um tambor ruidoso, e seus olhos se encheram de lágrimas, como um céu prestes a desabar em tempestade. Ela as enxugou rapidamente, se sentindo decepcionada. Pensava que, após uma conversa sincera, Joaquim percebia seus sentimentos. Contudo, ele continuava a ser o mesmo homem arrogante e egoísta de sempre, um enigma frio e inalcançável.O tempo passou, mas Natacha não sabia ao certo quanto, quando ouviu uma voz familiar e cortante, rasgando o silêncio como uma lâmina afiada:- Você pretende ficar aqui até quando? Se adoecer, vai acabar me dando mais trabalho.Nata
Rodrigo ficou com o rosto pálido de raiva, as veias em seu pescoço pulsando visivelmente. Ele sentia seu sangue ferver, mas pela sobrevivência do Grupo Gonçalves, ele teve que se controlar. Cerrando os dentes, falou em um tom baixo, quase rosnando:- Natacha me disse que você quer discutir a aquisição do Grupo Gonçalves hoje. Se eu não concordar, você vai respeitar minha decisão?A sala de reunião parecia encolher em volta deles, cada palavra ressoando nas paredes de vidro. O ar estava tenso, quase sufocante. Rodrigo podia sentir o suor escorrendo pelas costas, apesar do ar-condicionado. Ele encarou Joaquim com olhos estreitos, tentando ler qualquer sinal de fraqueza no rosto do adversário.Joaquim olhou para ele com um olhar profundo, seus olhos brilhando com uma mistura de determinação e desafio. Ele se inclinou levemente para frente, apoiando os cotovelos na mesa, e respondeu com uma voz calma e controlada:- Há algo que quero esclarecer primeiro. Se eu disser, tenho certeza de que
Rodrigo, em um momento de intensa emoção, argumentou, sua voz emocionada pela sinceridade:- Natacha é minha filha, eu a amo demais para usar ela! Sim, cometi erros no passado, mas minha intenção sempre foi salvar vidas, não as destruir. Eu não sou um homem sem cuidado!O som da risada irônica de Joaquim ecoou pelo escritório, cortando o ar com sua frieza. Seus olhos, frios como o gelo, refletiam a descrença.- Se realmente estivesse arrependido, já teria se entregado. No entanto, você escolheu encobrir seus crimes e viver impune, não é?Rodrigo se sentiu esmagado pela acusação. Incapaz de se conter, desabou em lágrimas, cobrindo o rosto com as mãos trêmulas. As lágrimas corriam livremente, carregando anos de remorso e culpa.- Sim, eu escondi meus erros. Você está certo! Mas eu me arrependo profundamente. Não tenho uma noite de sono tranquila há anos. Joaquim ficou impassível, seu olhar implacável. Comparado ao sofrimento de Murilo, ele acreditava que Rodrigo merecia cada tormento.
Natacha abaixou a cabeça, uma mistura de vergonha e confusão em seu coração. Não sabia ao certo o que significava para Joaquim, mas ficou agradecida por tudo que ele fez pelo Grupo Gonçalves e por ela. Os sentimentos conflitantes que guardava por Joaquim a deixavam em um estado de incerteza constante.Ao perceber que a situação estava resolvida, Dolores ficou eufórica. Pela primeira vez, tratou Natacha com carinho, reconhecendo que a criação da neta não foi em vão. Afinal, o Grupo Gonçalves agora tinha Joaquim como um grande aliado, e isso era um trunfo considerável.- Natacha, querida, você precisa tratar bem o seu marido. Volte aqui para aprender algumas receitas comigo, seja mais cuidadosa. Homens gostam disso. - Disse Dolores, com um sorriso calculado, suas intenções claras como a luz do dia.Natacha franziu a testa, se sentindo desconfortável com a repentina mudança de atitude da avó. - Vovó, eu e Joaquim já nos divorciamos. - Respondeu, com a voz firme.Mesmo que não tivessem se
Portanto, Natacha pegou delicadamente a taça de vinho das mãos de Dolores, colocou ela de lado e disse com firmeza: - Vovó, ele disse que não bebe. Além disso, o vinho não é algo bom.Se sentindo um tanto desmoralizada e contrariada, Dolores deu a ela um olhar de reprovação. Joaquim, no entanto, soltou uma leve risada e, com um tom cheio de ternura e uma expressão de carinho nos olhos, disse a Natacha: - Eu vou seguir o que você diz.Aquela atitude era como a de um marido que acatava docilmente as ordens da esposa. O rosto de Natacha ficou intensamente ruborizado de vergonha e confusão, sem entender o que passava pela cabeça de Joaquim para falar com ela de maneira tão íntima diante de seu pai e avó.Depois de finalmente terminarem a refeição na casa da família Gonçalves, Dolores insistiu, quase de maneira imperiosa, para que Joaquim ficasse para tomar um chá.- Não, eu tenho outros compromissos. Vou levar a Natacha e já vamos nos despedir. - Joaquim recusou educadamente, segurando
Natacha ficou em silêncio, seus olhos abaixados enquanto murmurava: - Mas o bebê de Rafaela... Você não me culpa mais por isso? - Sua voz estava carregada de dúvida e esperança, como se a resposta de Joaquim fosse determinar o curso de suas vidas. Ela olhava para baixo, evitando o olhar dele, seus dedos entrelaçados em um gesto nervoso.Ela queria desesperadamente saber se, ao perdoá-la, ele aceitaria seu filho. Joaquim, no entanto, não respondeu imediatamente. Ele não confirmou nem negou, deixando Natacha presa em um limbo de incerteza. Seus olhos, geralmente tão firmes e decididos, estavam agora distantes, como se lutasse internamente com a decisão de contar ou não a verdade. A verdade que Natacha ainda não sabia era que o bebê de Rafaela nunca chegou a passar pela cirurgia. Quando Joaquim entrou na sala, o médico estava prestes a começar, mas ele interrompeu o procedimento e tirou Rafaela de lá. Agora, Felipe estava do lado dele, garantindo que Paulo jamais soubesse a verdade.