Bernardo Fonseca
Eu não pensei que fosse tão fácil convencer Marcela Andrade há assinar um contrato. Não planejava cobrá-la com os gastos do hospital particular, pagaria sem problema algum, afinal, um dos meus funcionários deixou-a machucada. Ela nem sequer agradeceu e ainda me agrediu. O contrato foi feito às pressas e entregue pra mim no hospital. Usá-la como uma das minhas modelos plus size foi a desculpa perfeita para meus planos reais. Queria estar na sua frente quando ela recebesse a cópia do contrato, mas isso não era possível e muito menos sensato da minha parte.
Ser pobre não deveria ser tão ruim assim, ela tinha um trabalho e pelo seu tamanho, com certeza, comia bem e muito. Nunca gostei de mulher acima do peso, elas dão gastos de mais. Vê-la sem seu uniforme habitual seria um tanto cômico, as modelos plus size eram lindas apesar do peso, e o seu caso era diferente porque ela era uma sem graça.
Foi perda de tempo tentar convencê-la a denunciar Anselmo pelo que ele fez, por alguma razão desconhecida ela não quis. Caralho! Que mulher teimosa da porra! Fiquei bem irritado e acabamos discutindo, só paramos quando fomos interrompidos pela enfermeira. Não foi bacana o que a gorda fez, talvez quisesse me irritar propositalmente, a enfermeira pensou que eu tinha causado tudo aquilo, entretanto, não era verdade, a culpa não era minha. Após o médico adentrar o leito estávamos todos ainda com a tensão do ocorrido minutos antes. Ele a examinou e receitou alguns medicamentos e disse que ela precisava repousar no mínimo por sete dias porque não foi apenas seu rosto que ficou machucado, ela também machucou um pouco os quadris. Dá pra acreditar? A gordura não amorteceu a queda dela! Sabe o que ela fez? Começou a discutir com o doutor porque não queria ficar sem trabalhar.
Confesso que pensei em prendê-la em uma camisa de força e jogá-la em uma casa de repouso, mas por sorte, no final de tudo ela cedeu ficar de repouso. O tempo que me ausentei trouxe-me grandes surpresas. Eu não conhecia nada daquela mulher que antes achei que fosse somente uma submissa sem cérebro, no entanto, para minha surpresa ela tinha personalidade e deixou claro que não toleraria falta de respeito. A coitadinha acreditava que poderia me enfrentar sempre que quisesse, ela estava bem enganada, Bernardo Fonseca era predador e não presa.
Quando cheguei em casa não encontrei Caleb, estranhei porque eram quase dez da noite. Troquei de roupa depois de tomar um banho bem merecido. Resolvi não esperar pelo meu irmão, ele era adulto, mas, mesmo assim, me preocupava porque ele era só um garoto, talvez nunca deixasse de enxergá-lo desse jeito.
Adentrei à cozinha faminto, caminhei em direção à geladeira. Eram quase oito anos que a nossa cozinheira era a mesma. Ela era a melhor de todas, por essa razão sempre deixamos ela sair mais cedo. Tudo que ela preparava era uma delícia e conhecia bem nossos gostos. Coloquei no micro-ondas o que encontrei dentro da geladeira. Após jantar sozinho, resolvi sair para caminhar ao redor da casa. Eu levava quase meia hora para dar a volta completa. Desde muito cedo gostei de me exercitar, tínhamos nossa própria academia, mas o único que realmente usava era eu porque meu irmão nunca gostou de exercícios.
Depois de caminhar até cansar, adentrei indo para meu quarto. Sem dúvidas precisava tirar o cheiro de suor do meu corpo. Então, tomei uma ducha rápida e escovei os dentes, em seguida me joguei na cama. Costumava dormir sem roupas em dias calorentos. Liguei o ar-condicionado e deixei o sono chegar.
No dia seguinte depois de dormir bastante e ter feito minha higiene matinal, resolvi sair do quarto para tomar o café da manhã. Escolhi um moletom flanelado, o blusão de mangas longas com capuz fechado e bolsos frontais de cor preta, combinou perfeitamente com minha calça jeans da mesma cor.
— Onde passou a noite? — questionei, adentrando à cozinha. Caleb assustou-se e cuspiu o suco que tomava.
— Desde quando preciso te dar satisfações, papai? — ironizou. Aproximei-me dele e lhe dei um peteleco.
— Me respeita, garoto! — disse puxando uma das cadeiras vazias e sentei.
— Já posso te devolver para Portugal? — brincou, arqueando as sobrancelhas.
— Quem seria você, sem seu irmão mais velho? Nada! Sabe por quê? Porque tô sempre cuidando de você!
— Não vai trabalhar hoje? — perguntou, mudando o rumo da conversa.
— Vou visitar nossa mãe. — respondi, colocando o café preto na minha xícara. — Estou com saudades dela.
— Bernardo, por que insiste? Ela não se importa conosco! — senti rancor em suas palavras.
Meu irmão deixou de visitar a nossa mãe quando tinha vinte e três anos. Queria tanto que ele fosse vê-la junto comigo, mas toda vez que tocava no assunto acabávamos brigando, por isso nunca mais convidei-o.
— Ela está doente, Caleb. — falei, pegando uma fatia de pão. — Mesmo que ela não valorize nossa presença, deveríamos sempre vê-la juntos. Não estou dizendo pra você ir junto comigo hoje. Não me olhe assim, jamais irei obrigá-lo!
— Tanto faz! — disse ele, de um jeito rude e continuou. — Não tenho mãe, ela morreu junto com o nosso pai!
Sempre ficava triste ao vê-lo falando daquele jeito. Ele simplesmente levantou-se e saiu da cozinha sem sequer terminar seu café da manhã. Meu amor pela nossa mãe superava qualquer barreira que pudesse existir entre nós.
Após tomar o café da manhã sozinho fui em direção a garagem e peguei um dos carros. Tínhamos onze carros e uma motocicleta que comprei há quatro anos, costumava usá-la de vez em quando. Liguei o som do carro e tentei afastar dos meus pensamentos qualquer negatividade. Sabia que não seria um encontro fácil porque nossos encontros eram sempre desgastantes.
Depois de alguns minutos estacionei em uma das vagas e adentrei a clínica onde ela estava internada. Cumprimentei algumas pessoas durante o trajeto até enfim ter minha liberação para visitá-la.
— Pode entrar senhor Fonseca. — disse a enfermeira abrindo a porta do quarto dela.
Minha mãe estava em pé olhando pela janela do quarto, não percebeu minha presença enquanto me aproximava dela.
— Mãe! — chamei sua atenção. Ela me olhou de um jeito vazio, era como se ela não estivesse ali. Aqueles olhos em um tom azul-escuro eram tão profundos, ela continuava bela, mesmo com os seus cinquenta e nove anos. Seus cabelos loiros acima dos ombros misturavam-se aos fios grisalhos, dando um charme e tanto, embora ela não soubesse algumas vezes quem um dia foi, ainda tinha sua postura ereta de mulher de classe.
— Trouxe meus remédios? — questionou, às vezes ela me confundia com um dos enfermeiros.
— Sou eu, mãe, seu filho, Bernardo. — afirmei, segurando sua mão delicada.
— Filho? Eu tenho um filho? — indagou, parecendo confusa.
— Tem dois garotões agora, não somos mais criança. — disse um pouco emocionado. Senti tantas saudades dela, mas pelo visto ela continuava do mesmo jeito.
— E meu marido, onde está? — perguntou, parecendo procurá-lo pelo quarto.
— Está no trabalho. — respondi, com um nó na garganta. Sempre que ela não recordava do passado, costumava mentir. Não queria que ela forçasse a se lembrar do que havia acontecido na nossa família. Quando ela lembrava do assassinato surtava e falava que não acreditava que um dos sócios do meu pai estivesse envolvido.
— Eu tenho dois filhos e um marido, estou tão feliz. — falou sorrindo e me abraçando em seguida. — Meu garotinho, como você cresceu...
Como era bom estar nos braços dela outra vez. Apeguei-me na esperança dela lembrar ao menos por um minuto quem eu realmente era.
— Eu te amo, mãe! — afirmei, apertando forte seu corpo franzino.
Ela e o meu irmão eram tudo que eu mais amava no mundo inteiro. O resto da nossa família distanciou-se de nós e também não fazia questão alguma em manter contato com eles. Mas não conseguia esquecer que por minha culpa, mudei para sempre o destino de duas pessoas, parecia injusto minha alegria, sabendo do que eu tinha feito e o quão monstro havia sido.
Marcela AndradeQuais são as chances do homem que você gosta, estar te tratando como uma rainha? Poucas claro! Rafael nos últimos quatro dias depois do que aconteceu comigo decidiu ser meu companheiro de todas as noites. Que companheiro maravilhoso! Passávamos horas coladinhos no meu sofá de dois lugares, assistindo filmes. Naquele momento estávamos bebendo cerveja enquanto conversávamos assuntos aleatórios. Deixei de tomar as porcarias que o médico receitou, não me fez muito bem, então cortei.Nunca antes estivemos tão próximos daquele jeito, precisou algo ruim acontecer para o melhor vir. Eu não queria saber de nada além de aproveitar sua companhia. Talvez fosse o momento de dar uma investida, tentei deixar de lado o nervosismo e olhei nos seus l
Bernardo FonsecaNa noite anterior mal consegui dormir porque Marcela Andrade roncava como um motor de carro do século passado. Levantei algumas vezes durante a madrugada, até filmei o jeito estranho que ela estava dormindo no sofá de dois lugares. Acredita que seu pijama era uma fantasia de panda? Infantil, eu sei! Fiquei surpreso ao descobrir que ela era advogada. O que mais eu não sabia sobre ela? Apesar do seu apartamento ser minúsculo tudo era bem organizado. O cheiro dela ficou pela cama inteira e posso afirmar que não era nada mau.Passar a tarde e a noite do dia anterior com ela foi uma verdadeira guerra. Brigamos por comida e também pelo controle da tv. Ela não queria dividir nada comigo, nadinha! Mas como um bom lutador insisti até conseguir tudo que queria.
Marcela AndradeDe todas as tragédias que poderiam me acontecer, aquela sem dúvida, era uma delas, que sequer pensei que pudesse acontecer. Inventei uma desculpa para ficar longe daquele escroto e ele acabou com os meus planos. Odiava a forma como ele me atiçava sem ao menos dizer qualquer palavra. Odiava a maneira com a qual tentava me manipular. Odiava o simples fato dele existir e ser tão presente de um jeito cruel na minha vida.Bernardo Fonseca chamava atenção em qualquer lugar, no supermercado não foi diferente. Não queria sua companhia, no entanto, caminhávamos juntos pelos corredores. Por que ele tinha que se intrometer? Eu não tinha chamado ele para o supermercado! Apenas queria ficar sozinha e por alguns minutos, esquecer tudo de ruim que estava acontecendo comigo, entret
Bernado FonsecaNão sei em que momento fui parar no terraço daquele condomínio, mas aconteceu. Os olhos tristes de Marcela não saiam da minha cabeça. Eu era como aquelas duas que estavam conosco no elevador, entretanto, dez vezes pior. Não foi divertido ter presenciado toda aquela situação, não intervi porque pensei que a qualquer momento a mulher feroz que havia dentro dela fosse surgir, no entanto, ela não fez nada, simplesmente nada! Chorar e se trancar no banheiro não era a solução. Me senti tão envergonhado, por ter feito coisas piores com ela. Foram tantas brincadeiras e piadinhas de mau gosto, apenas para minha diversão.— Até mesmo o diabo sabe a hora certa de se redimir. — murmurei, sabendo exatamente o que deveria ser
Marcela AndradeEra finalzinho de tarde e eu resolvi trocar mensagens com Talita, falávamos sobre Rafael e do quanto ele havia me magoado. Por que não contei nada do asqueroso que se enfiou no meu apartamento? Não contei porque ela sempre foi boca aberta, no caso, não sabia guardar segredo. Eu não me surpreenderia dela aparecer no meu apartamento, apenas para ter certeza que era realmente ele. Certas coisas eram melhor guardar as sete chaves e se possível jogar fora as chaves!Bernardo Fonseca não cansava de me importunar e novamente aprontou uma das suas. Do que estou falando? O dito cujo transitava de maneira descarada na minha frente, apenas de toalha de banho, isso mesmo de toalha de banho! Dificilmente conseguiria ignorar um homem como ele caminhando pelo meu apartamento tão à vontad
Bernado FonsecaNão pensei que uma simples ida a cozinha se tornasse em um momento cômico. As luzes apagaram assim que me aproximei de Marcela, que estava de costas para mim guardando alguma coisa no armário aéreo de três portas. Permaneci no mesmo lugar e em silêncio, nem eu mesmo sei porque não falei nada. Escutei ela resmungar depois de bater em algum lugar, uma atrapalhada, eu sei! Mas ela me pegou de surpresa, quer dizer, desprevenido, não esperava que ela fosse me tocar do jeito que tocou. Cheguei a conclusão de que a minha carência era tamanha que me fez sentir tesão por ela, uma segunda vez, e no mesmo dia! Me senti um adolescente virgem que ficou excitado com alguns toques não propositais. Porra! Eu quase gozei precocemente nas calças! Tudo parou no momento que a luz voltou e ela se deu conta do que havia f
Marcela AndradeTalita falou tantas bobagens apenas para me fazer sorrir, naquela manhã estava de mau-humor, não era pra menos, mal havia dormido a noite por não conseguir esquecer o constrangimento de ter tocado as partes íntimas de Bernardo Fonseca. Quando cheguei para trabalhar na copa aquele desgraçado já havia ligado para que eu levasse seu café, me recusei de todas as maneiras possíveis até convencer alguém levar no meu lugar. Não queria vê-lo depois da noite anterior, pelo menos ele teve a decência de sair do meu apartamento e não voltar mais.— Meu Deus! O senhor Fonseca, está vindo para cá! — minha amiga ficou pálida. — Preciso ir, desculpe!Fiquei boq
Bernardo FonsecaUma semana evitando qualquer contato com Marcela Andrade, deveria ter sido o suficiente para tirá-la dos meus pensamentos e desejos reprimidos, entretanto, não foi. Era sábado às nove e quinze da manhã, estava bastante ansioso em encontrá-la com a desculpa do nosso contrato confesso, mas o que queria de fato nem eu mesmo sabia, apenas sentia uma necessidade de vê-la o quanto antes. Quando as portas do elevador abriram-se no seu andar, senti algo estranho no estômago que nunca havia sentido antes, sequer saí do elevador e a encontrei, porém, ela não estava sozinha.— Senhor Fonseca! — disse ela surpresa, olhando para o magricela que estava com o braço entrelaçado ao seu.Ela tinha um