Bernardo Fonseca
Por que escolhi subir pelo elevador de serviço? Porque eu não queria ser incomodado por ninguém! Quando vi o elevador de serviço disponível apressei os passos e adentrei. Era pra ser um trajeto rápido, no entanto, não foi, e a companhia também não era das melhores. Marcela Andrade escolheu o pior momento para me enfrentar. Eu não esperava qualquer discussão com aquela mulher, mas ela me fez perder a razão.
Ela era alguém que costumava aborrecer propositalmente pra passar o tempo, porque nem todos os dias conseguia tempo para transar no escritório por exemplo, então a gorda me divertia. O incidente no elevador era algo que não esqueceria tão cedo. Chorei na frente daquela mulher e ela achou que fosse de raiva, mas não era, nem eu mesmo sei porque fiquei daquele jeito. Não queria qualquer boato sobre o que tinha acontecido naquele elevador, entretanto, tinha uma plateia e tanto nos esperando do lado de fora.
A fofoca do acontecido não demorou chegar nos ouvidos do meu irmão. Caleb adentrou meu escritório visivelmente alterado.
— Porra! Que história é essa que tu e a moça da copa estavam fodendo no elevador? Foi pra isso que quis vir trabalhar hoje?
Caleb era Maria vai com as outras, qualquer conversinha ele acreditava ser verdade.
— Fodendo, Marcela Andrade? — questionei rindo. — Sério que você acreditou nesse absurdo?
— Não mente pra mim, Bernardo! Eu te conheço muito bem para saber que é capaz disso. Você nunca dispensou as rapidinhas no horário de trabalho!
— Cabeção, eu sempre gostei de mulher gostosa, não de botijão! — disse lhe dando um peteleco. — Não acredite em tudo que ouve, seu idiota!
— Mas todos estão comentando...
— Sossega irmãozinho que a gorda e eu não fizemos nada.
— Para de chamar a moça de gorda. — revirei os olhos.
O defeito incurável do meu irmão era defender todos. Quem ele achava que era? Um justiceiro?
— Por quê? Tá pensando em comer a peso-pesado é? Cuidado, hein! Ela vai te quebrar no meio, seu magricela! — debochei
— Já vi que você nunca vai amadurecer. — disse ele, negando com a cabeça.
— Dá logo o fora daqui porque preciso trabalhar, Maria vai com as outras.
— Beleza! — bufou bravo.
Caleb conseguia trazer um pouco daquele Bernardo do passado de volta, um alguém cheio de vida que adorava zombar do seu irmãozinho caçula.
Tinha tanta papelada precisando ser revisada e assinada sobre a minha escrivaninha. Eu não tinha ninguém para me ajudar, todas as secretarias que contratei eram incompetentes por isso não permaneceram no cargo.
Caminhei em direção à escrivaninha, sentando em seguida na poltrona de couro de cor preta. Iniciei o trabalho lendo e relendo alguns documentos e assinando outros. O tempo parecia não passar nunca, acabei desistindo.
— Amanhã termino. — murmurei, me espreguiçando na poltrona.
Olhei para meu relógio de pulso, os ponteiros marcavam quatro da tarde, normalmente o fim do expediente era às cinco, nunca gostei de prolongar o tempo trabalhando. Não vi razão alguma de continuar preso naquele escritório. Puxei minha gravata e enfiei ela no bolso da calça. Levantei da poltrona indo em direção à saída.
Todos que me viram no trajeto até o elevador cumprimentaram-me formalmente. O edifício era de dez andares, meu escritório era no último andar, vizinho ao de Caleb. Certinho como ele sempre foi, com certeza, não iria embora junto comigo, por isso nem me dei o trabalho de passar na sua sala.
Adentrei o elevador de executivo porque não cometeria o erro de voltar a entrar no de serviço outra vez. Foi bem tranquila a descida, ignorei qualquer pessoa que tentou puxar conversa. Não éramos uma daquelas empresas com frescura, meus funcionários tinham total liberdade de pegar qualquer elevador que quisessem, no entanto, separava os de menos importância de nos, para isso disponibilizei o elevador de serviço para eles.
Assim que saí do elevador ouvi muita gritaria. Onde eles pensavam que estavam? Na casa deles? Caminhei até eles decidido a pôr fim naquela agitação. Mal sabia eu que a coisa era séria.
— O que aconteceu? — perguntei, passando pelo meio das pessoas aglomeradas perto da porta de saída principal.
— Senhor Fonseca, Anselmo Santos desrespeitou uma das funcionárias da copa, ela para se defender o empurrou e o pior aconteceu.
Anselmo era do setor financeiro, nunca antes havia feito algo sequer semelhante. Era Marcela Andrade desacordada no chão e o seu rosto estava bem machucado, com certeza, o infeliz espancou ela.
— Alguém já chamou ajuda? Onde está o infeliz que fez isso com ela?
A justiça brasileira sempre foi falha, mas nesse caso sem dúvidas faria de tudo para ele pagar pelo que fez.
— Ele saiu senhor, chamamos ajuda médica. — um dos funcionários respondeu. Me questionei onde estavam os seguranças para impedir uma barbaridade daquelas. Não trabalhavam de graça e deveriam ter impedido que aquela agressão acontecesse.
— Caso ele coloque os pés aqui dentro de novo, chamem a polícia!
Toda aquela situação me fez ter uma lembrança de quando era adolescente...
Eu tinha quinze anos e estava na diretoria por brigar em sala de aula com uma das alunas. Seu nome era Bianca, um ano mais nova que eu, ela era o diabo disfarçado de anjo, ela havia pela quarta vez colado as páginas do meu caderno com cola. Surtei indo pra cima dela, completamente cego de ódio, derrubei sua cadeira e a empurrei fazendo ela cair de bunda no chão.
Normalmente chamam os pais em casos assim, mas eu era a exceção porque fazia quase dois anos que tinham assassinado meu pai. Minha mãe mal cuidava dela mesma e vivia dopada de remédios. O responsável pela educação do meu irmão e de mim era o nosso avô paterno, pelo menos era assim que ele pensava. A verdade era que Caleb repetia quase tudo de errado que eu costumava fazer, nunca quis ser um exemplo ruim para meu irmão, mas ele era um garoto bobo que repetia tudo que fazia. Nosso avô achava que nos educava, porém, o verdadeiro aprendizado do certo e errado dependia das minhas escolhas e foi assim durante muito tempo.
— Em mulher não se bate, Bernardo. — disse ele, antes mesmo de atravessar à porta. Meu avô tinha seus cinquenta e sete anos e ainda era bem apresentável, um senhor estiloso e bem sério.
— Vovô, ela colou as páginas do meu caderno, precisei me defender! Empurrei ela de leve, ela caiu no chão sozinha!
Ele não engoliu minha explicação e passei uma semana inteira de castigo além de ter levado uma surra, supostamente para virar homem, assim disse meu avô enquanto me espancava sem dó.
Desde aquela época nunca mais toquei em uma mulher se não fosse para lhe dar prazer. Não demorou muito para a ajuda chegar e socorrer Marcela Andrade que continua desmaiada no chão. Senti pena dela por isso resolvi ir junto com ela para o hospital. Queria ter certeza que ela não tinha quebrado nenhum um osso, portanto, não hesitei em acompanhá-la. Ela ficaria bem, certo? Ela era gorda, com certeza, toda aquela gordura tivesse amortecido a queda.
Dentro da ambulância ela tocou meu joelho, pensei que talvez pudesse estar acordando, no entanto, foi apenas um reflexo do seu corpo. Minha volta sem dúvidas ficou marcada, e não do jeito que pensei que aconteceria.
Marcela AndradeAcordei sentindo dores pelo corpo inteiro, não pensei que perderia a consciência. Quanto tempo fiquei desacordada? Com dificuldade sentei na cama. Olhei para o soro do meu lado direito e fiquei incomodada, conseguia sentir a agulha enfiada no meu braço. Eu estava realmente em um hospital? Quer dizer, nunca antes havia estado em um leito sozinha e tão elegante como aquele. Os atendimentos pelo sus nunca foram dos melhores, com certeza, era um hospital caro e eu não tinha dinheiro para pagar.— Merda! Preciso dá o fora desse lugar. — resmunguei, bastante preocupada. Mesmo sentindo muita dor levantei da cama e puxei o soro, tirando-o do gancho de suporte. Caminhei descalça pelo piso frio indo em direção à porta, faltava muito pouco para minha fuga desesperad
Bernardo FonsecaEu não pensei que fosse tão fácil convencer Marcela Andrade há assinar um contrato. Não planejava cobrá-la com os gastos do hospital particular, pagaria sem problema algum, afinal, um dos meus funcionários deixou-a machucada. Ela nem sequer agradeceu e ainda me agrediu. O contrato foi feito às pressas e entregue pra mim no hospital. Usá-la como uma das minhas modelos plus size foi a desculpa perfeita para meus planos reais. Queria estar na sua frente quando ela recebesse a cópia do contrato, mas isso não era possível e muito menos sensato da minha parte.Ser pobre não deveria ser tão ruim assim, ela tinha um trabalho e pelo seu tamanho, com certeza, comia bem e muito. Nunca gostei de mulher acima do peso, elas dão gastos de mais.
Marcela AndradeQuais são as chances do homem que você gosta, estar te tratando como uma rainha? Poucas claro! Rafael nos últimos quatro dias depois do que aconteceu comigo decidiu ser meu companheiro de todas as noites. Que companheiro maravilhoso! Passávamos horas coladinhos no meu sofá de dois lugares, assistindo filmes. Naquele momento estávamos bebendo cerveja enquanto conversávamos assuntos aleatórios. Deixei de tomar as porcarias que o médico receitou, não me fez muito bem, então cortei.Nunca antes estivemos tão próximos daquele jeito, precisou algo ruim acontecer para o melhor vir. Eu não queria saber de nada além de aproveitar sua companhia. Talvez fosse o momento de dar uma investida, tentei deixar de lado o nervosismo e olhei nos seus l
Bernardo FonsecaNa noite anterior mal consegui dormir porque Marcela Andrade roncava como um motor de carro do século passado. Levantei algumas vezes durante a madrugada, até filmei o jeito estranho que ela estava dormindo no sofá de dois lugares. Acredita que seu pijama era uma fantasia de panda? Infantil, eu sei! Fiquei surpreso ao descobrir que ela era advogada. O que mais eu não sabia sobre ela? Apesar do seu apartamento ser minúsculo tudo era bem organizado. O cheiro dela ficou pela cama inteira e posso afirmar que não era nada mau.Passar a tarde e a noite do dia anterior com ela foi uma verdadeira guerra. Brigamos por comida e também pelo controle da tv. Ela não queria dividir nada comigo, nadinha! Mas como um bom lutador insisti até conseguir tudo que queria.
Marcela AndradeDe todas as tragédias que poderiam me acontecer, aquela sem dúvida, era uma delas, que sequer pensei que pudesse acontecer. Inventei uma desculpa para ficar longe daquele escroto e ele acabou com os meus planos. Odiava a forma como ele me atiçava sem ao menos dizer qualquer palavra. Odiava a maneira com a qual tentava me manipular. Odiava o simples fato dele existir e ser tão presente de um jeito cruel na minha vida.Bernardo Fonseca chamava atenção em qualquer lugar, no supermercado não foi diferente. Não queria sua companhia, no entanto, caminhávamos juntos pelos corredores. Por que ele tinha que se intrometer? Eu não tinha chamado ele para o supermercado! Apenas queria ficar sozinha e por alguns minutos, esquecer tudo de ruim que estava acontecendo comigo, entret
Bernado FonsecaNão sei em que momento fui parar no terraço daquele condomínio, mas aconteceu. Os olhos tristes de Marcela não saiam da minha cabeça. Eu era como aquelas duas que estavam conosco no elevador, entretanto, dez vezes pior. Não foi divertido ter presenciado toda aquela situação, não intervi porque pensei que a qualquer momento a mulher feroz que havia dentro dela fosse surgir, no entanto, ela não fez nada, simplesmente nada! Chorar e se trancar no banheiro não era a solução. Me senti tão envergonhado, por ter feito coisas piores com ela. Foram tantas brincadeiras e piadinhas de mau gosto, apenas para minha diversão.— Até mesmo o diabo sabe a hora certa de se redimir. — murmurei, sabendo exatamente o que deveria ser
Marcela AndradeEra finalzinho de tarde e eu resolvi trocar mensagens com Talita, falávamos sobre Rafael e do quanto ele havia me magoado. Por que não contei nada do asqueroso que se enfiou no meu apartamento? Não contei porque ela sempre foi boca aberta, no caso, não sabia guardar segredo. Eu não me surpreenderia dela aparecer no meu apartamento, apenas para ter certeza que era realmente ele. Certas coisas eram melhor guardar as sete chaves e se possível jogar fora as chaves!Bernardo Fonseca não cansava de me importunar e novamente aprontou uma das suas. Do que estou falando? O dito cujo transitava de maneira descarada na minha frente, apenas de toalha de banho, isso mesmo de toalha de banho! Dificilmente conseguiria ignorar um homem como ele caminhando pelo meu apartamento tão à vontad
Bernado FonsecaNão pensei que uma simples ida a cozinha se tornasse em um momento cômico. As luzes apagaram assim que me aproximei de Marcela, que estava de costas para mim guardando alguma coisa no armário aéreo de três portas. Permaneci no mesmo lugar e em silêncio, nem eu mesmo sei porque não falei nada. Escutei ela resmungar depois de bater em algum lugar, uma atrapalhada, eu sei! Mas ela me pegou de surpresa, quer dizer, desprevenido, não esperava que ela fosse me tocar do jeito que tocou. Cheguei a conclusão de que a minha carência era tamanha que me fez sentir tesão por ela, uma segunda vez, e no mesmo dia! Me senti um adolescente virgem que ficou excitado com alguns toques não propositais. Porra! Eu quase gozei precocemente nas calças! Tudo parou no momento que a luz voltou e ela se deu conta do que havia f