MayaVinte dias depois do ocorrido, tudo parecia estar normal. Não falávamos mais do assunto e Victor já havia voltado a trabalhar. Sasha estava empolgada com o novo trabalho. Ela tinha um sorriso que ia de orelha a orelha no rosto.Victor falava de uma nova inseminação, mas eu coloquei meus dois pés no freio. Certa noite, sonhei com minha mãe. No sonho, nós estávamos em uma casa no campo, admirando uma bela plantação de girassóis. Então ela se virava para mim e dizia: “Vá com calma, querida. A vida ainda tem muitas surpresas para você. Estou cuidando para que tudo aconteça no momento exato que tiver de acontecer”. Aquilo foi real demais. Eu acordei na manhã seguinte e percebi que se não deu certo na primeira vez em que tentamos, era porque simplesmente não era para acontecer e ponto. Victor entendeu. Ele disse que, talvez, o certo fosse esperarmos passar o momento de loucura que andava minha vida com os estudos, para podermos envolver pessoas inocentes em nossa história. Eu concordei
MayaAo chegar, Victor estava preparando nosso jantar. Beijei seu rosto e subi para o nosso quarto. Entrei e fui logo para o banheiro acompanhada dos testes. Sentada no sanitário, fiz xixi em ambas as canetas. Deixei que elas agissem no seu tempo e enquanto isso fui tomar meu banho. Ao sair do boxe, depois de uns vinte minutos, aproximei-me da bancada da pia e peguei um dos testes digitais nas mãos. Ele estava positivo. Rapidamente peguei o outro e olhei seu resultado. Também era positivo. Comecei a rir alto e chorar ao mesmo tempo. Apoiei minha mão na barriga e olhei para ela. Enfim estava grávida. A porta do banheiro foi aberta e Victor entrou.— O que houve? Está tudo bem? — perguntou com preocupação.Olhei para ele e sorri abertamente, lhe entregando o teste. Ele o pegou de minhas mãos e olhou-o incrédulo.— Amor... Isso... Isso quer dizer... — interrompeu-se e olhou para mim com os olhos marejados.Assenti em meio às lágrimas.— Vamos ter um bebê. Ou talvez dois ou três.Victor g
VictorEstávamos os três sentados no tapete da sala de estar, desenhando. Maya ainda não havia chegado do hospital e a babá já havia ido embora, passavam um pouco mais das sete da noite.— Uau! Ficou lindo, querida.— E o meu, papai? — perguntou Louise, mostrando o carro que pintava.— Está incrível. Tenho duas artistas em casa.— A mamãe vai passar a noite no hospital de novo? — perguntou Mary.— Não, amor. Ela já deve estar quase chegando.— Estou com fome — disse Louise.— Podemos pedir pizza? — perguntou Mary.— Vamos esperar a mamãe chegar. Okay?— Okay — disseram juntas e voltaram a desenhar.A porta da frente foi aberta e depois fechada.— Papai, o que está desenhando? — perguntou Mary.— Um cavalo.— Parece um cachorro atropelado — falou Louise e as duas riram alto.— Olá! — cumprimentou Maya ao entrar na sala.— Mamãe! — As duas gritaram e correram de encontro a ela.— Oi, minhas meninas.Ela abaixou-se à frente delas e as abraçou, enchendo-as de beijos. As meninas riam e diz
MayaAcordei às quatro da manhã e, mais uma vez, assisti ao dia amanhecer. Era essa minha rotina há cinco anos. Levantei-me quando o celular despertou às sete e meia da manhã. Tomei meu banho, arrumei-me e desci para o andar de baixo. Na cozinha, liguei a cafeteira e quebrei os ovos na tigela, adicionando temperos e preparei a omelete, enquanto as torradas ficavam prontas.Olhei a hora no relógio de pulso e vi que já passavam das oito e meia. A qualquer momento, Mary e Louise desceriam a escada correndo, animadas para o Quatro de Julho na casa do avô. A campainha tocou e eu já sabia quem era. Caminhei até a porta da frente e abri-a.— Bom dia! — desejou Caleb sorridente, estendendo-me uma caixa de cupcakes.— Bom dia. Entre.Dei-lhe passagem e ele entrou.— Acabei de passar um café e fazer omeletes. Vem.Segui para a cozinha e ele me acompanhou. Caleb sentou-se à ilha e colocou a caixa com os bolinhos sobre ela. Servi uma caneca de café e lhe entreguei.— Como está a Maria Fé?— Você
MayaVictor partiu levando com ele meu coração que tanto o amava incondicionalmente. Ainda era nova, tinha apenas trinta e cinco anos, mas sabia que jamais encontraria alguém como ele, e talvez eu nem quisesse ter outro alguém algum dia. Eu sentia que viveria em luto para o resto da minha vida. Mas fazia meu maior esforço para ficar bem e seguir adiante, afinal, tinha duas crianças para criar sozinha.Sabíamos que um dia isso aconteceria e sempre falávamos disso. Victor havia me feito jurar de joelhos para ele, que não deixaria minha vida parar ou morrer quando ele partisse. Mas estava sendo difícil. Muito difícil. Eu tentava a todo custo e instante cumprir minha promessa e iria.As meninas trocaram as flores do túmulo e deixaram desenhos para o pai. Depois elas seguraram uma na mão da outra e vieram correndo em minha direção, abraçando-me pela cintura.— A gente te ama, mamãe — disse Louise.— Eu também amo muito vocês, minhas meninas.— Não fica triste, mãe. Se você ficar assim, o p
23 de dezembroA neve caia sem parar a mais de quatro horas. Chegar em casa foi bem difícil. Além do trânsito congestionado, havia muito gelo na pista e pessoas bêbadas dirigindo, é claro. Faltavam dois dias para o Natal. Até mesmo eu estaria bêbada se não estivesse fazendo plantões de vinte e quatro horas na residência e criando duas filhas, as quais às vezes eu desejava que tivessem um botão de desligar. Eu sei. Eu sei! Você com certeza disse: que coisa horrível de pensar sobre as suas filhas, Maya! É horrível, eu sei que é. Me sinto culpada por isso, acredite. Mas é inevitável.Eu amo as minhas filhas mais do que a mim mesma. Mas se você me perguntar se amo a maternidade na totalidade, a resposta é não. Mas a amo em partes. A depressão pós-parto foi terrível, quase acabou comigo! Não ter leite suficiente para amamentar as minhas filhas, foi pior ainda. Isso gerou em mim uma ferida no coração que nunca se fecha. Toda vez que Mary fica doente, me culpo. Sempre acho que a culpa da sua
Ao passar pela porta do banheiro, comecei a me despir enquanto a banheiro se enchia. Eu preparei a água, ajustei a temperatura, acendi algumas velas aromáticas e entrei, deitando-me.Respirei fundo de olhos fechados e relaxei o corpo. Senti a presença de Victor e abri as pálpebras, olhando na sua direção. Ele sorriu abertamente para mim. Na mão direita tinha uma garrafa de vinho, já aberta. Na esquerda, duas taças.Ele puxou o banquinho de dentro do box e colocou-o ao lado da banheira, sentando-se nele. Serviu as duas taças e entregou-me uma delas, colocando a garrafa no chão. Nós brindamos e eu dei um gole saboreando o vinho perfeito.Quando os meus olhos voltaram para ele, Victor me encarava com um olhar sugestivo e malicioso. Os lábios eram marcados por um pequeno sorriso. Ele não precisava dizer nada ou me tocar. Somente a sua face me excitava repentinamente.Sem tirar os olhos de mim, ele tomou um gole do seu vinho. Meu sorriso para ele mudou. Tornou-se mais atrevido, algo que di
No andar de baixo, segui direto para o escritório. As portas duplas estavam abertas e as luzes, acessas. Atrás da mesa de mogno, estava ele, escrevendo algo em um papel.— O que está fazendo? — Aproximei-me.— Uma pequena alteração.— Em quê? — escorei-me à beirada da mesa, ao seu lado.— No meu testamento.Cruzei os braços à frente e bufei.Eu odiava que ele mexesse nisso. Só servia para me lembrar que em algum momento nós teríamos um fim e isso é péssimo!Ele colocou os papéis dentro de uma pasta e fechou-a.— Precisava fazer isso no meio da noite.— Precisava.Levantou-se, ficando de pé diante de mim.— Sabe que eu sempre acordo quando você deixa a cama.Ele passou as mãos pelos meus cabelos, jogando-os de trás dos ombros.— Eu só acordei e não parava de pensar no testamento.— Não quero falar disso — falei firmemente, desviando o meu olhar dele.Ele assentiu e puxou-me para um abraço apertado e caloroso.— Volte para cama.— Só se você vier comigo.— Não me desobedeça, Maya. — O s