MayaQuando cheguei em casa, já passava das nove da noite. Estava tudo em silêncio, escuro e calmo. Subi a escada depressa e entrei no quarto. Maya estava sentada sozinha na varanda. Ao me aproximar, ela olhou-me por cima do ombro. Então, vi que chorava.— O que aconteceu? — perguntei preocupado indo até ela.— Você chegou! — Levantou-se rapidamente e veio ao meu encontro, abraçando-me apertado.— Por favor... Fale o que está havendo? — Maya choramingava baixinho com o rosto enterrado em meu peito. Aquilo estava deixando-me angustiado. — Amor... Maya... Diga o que houve! — falei duro e alto.Ela afastou-se e me olhou com os olhos cheios de tristeza.— Desculpe-me — sussurrou. Lágrimas não paravam de banhar seu rosto.— Pelo quê? Querida... estou preocupado.— Não conseguimos. — Havia tanta dor em sua voz baixa.— Do que você... — interrompi-me, ao entender do que ela falava. Maya se referia a inseminação. — Eu sinto muito, amor. — Puxei-a para um abraço apertado.— Eu quem sinto muito
MayaAcordei e virei-me para o lado, mas não encontrei Victor. Espreguicei-me e levantei vestindo meu robe, antes de descer. Ao chegar à sala de estar, escutei barulhos vindos da cozinha. Sorri. Era sempre bom ter Victor em casa e receber seus cuidados. Não havia como não amar aquele homem. Pode não ter sido o cara perfeito no nosso começo, mas ele aprendeu a ser ao menos perfeito para mim.Caminhei até a cozinha e, ao me aproximar, logo senti o cheiro maravilhoso de ovos e bacon. Ao entrar, olhei em direção ao fogão e assustei-me paralisando. Não era Victor quem estava ali, era uma figura de cabelos raspados, alto, que vestia o seu robe. A figura preparava o café da manhã com calma, cantarolando em assobios. Olhei para a minha esquerda e à mesa estava Victor sentado com a cabeça caída para o lado, desacordado. Gritei com desespero. O sangue escorria da sua nuca melando o pescoço e encharcando a gola da camiseta de malha.— Veja só, você acordou — disse o homem.Sua voz era bastante f
MayaDesci a escada correndo e segui para a cozinha. Ao chegar lá, encontrei Victor caído no chão ao lado da cadeira onde estava. Corri até ele e ajoelhei-me ao seu lado. Chequei seus sinais vitais e eles estavam ainda mais fracos.— Amor... Por favor... Não morra!Olhei em direção a porta ao ver uma movimentação e vi Theo se levantar do gramado com dificuldade.— Theo! — gritei por ele, que olhou para dentro de casa em minha direção e veio até nós. — Temos que levá-lo para o hospital agora. Onde estão os outros?— Creio que mortos ou feridos. Vou chamar a emergência, é melhor.Assenti.— Chame a polícia também — pedi.Não demorou cinco minutos e os bombeiros, juntamente com a polícia, chegaram.— A senhora está bem? — perguntou um dos socorristas.— Sim. Mas meu marido não.— Vamos cuidar dele agora. Nos dê espaço, por favor.Assenti e me levantei afastando-me.— Maya! — gritou Caleb ao entrar na cozinha, correndo em minha direção.Abracei-o apertado e chorei ainda mais.— O que acon
Maya— Oi. Como você está? — Sentei-me ao seu lado na recepção, em frente a ala cirúrgica.— Ele ainda está na cirurgia. — Fungou e secou as lágrimas. — Ele é a melhor coisa que me aconteceu na vida, Maya. Ele é o único no mundo, além de você, é claro, que me amou como eu sou. Que me ama aceitando todo meu passado. Ele me apresentou a família dele, como: “A mulher da sua vida”. Não posso perdê-lo.— Você não vai. — Acariciei seus cabelos.— Olha. — Estendeu-me sua mão esquerda. — Ele me pediu em casamento há dois dias.— É lindo, Penny. Vocês ainda serão muito felizes juntos, irão construir uma história de amor juntos. Não perca a fé.Ela me abraçou e chorou ainda mais. Depois de alguns minutos, os médicos apareceram e disseram que a cirurgia havia sido um sucesso e que estava tudo bem. Logo ele seria levado ao quarto e ela poderia ir vê-lo.Mais calma, levei-a para comer alguma coisa. Sentadas na lanchonete do hospital, comemos com pouca conversa. Logo anoiteceu, e depois de visitar
MayaVinte dias depois do ocorrido, tudo parecia estar normal. Não falávamos mais do assunto e Victor já havia voltado a trabalhar. Sasha estava empolgada com o novo trabalho. Ela tinha um sorriso que ia de orelha a orelha no rosto.Victor falava de uma nova inseminação, mas eu coloquei meus dois pés no freio. Certa noite, sonhei com minha mãe. No sonho, nós estávamos em uma casa no campo, admirando uma bela plantação de girassóis. Então ela se virava para mim e dizia: “Vá com calma, querida. A vida ainda tem muitas surpresas para você. Estou cuidando para que tudo aconteça no momento exato que tiver de acontecer”. Aquilo foi real demais. Eu acordei na manhã seguinte e percebi que se não deu certo na primeira vez em que tentamos, era porque simplesmente não era para acontecer e ponto. Victor entendeu. Ele disse que, talvez, o certo fosse esperarmos passar o momento de loucura que andava minha vida com os estudos, para podermos envolver pessoas inocentes em nossa história. Eu concordei
MayaAo chegar, Victor estava preparando nosso jantar. Beijei seu rosto e subi para o nosso quarto. Entrei e fui logo para o banheiro acompanhada dos testes. Sentada no sanitário, fiz xixi em ambas as canetas. Deixei que elas agissem no seu tempo e enquanto isso fui tomar meu banho. Ao sair do boxe, depois de uns vinte minutos, aproximei-me da bancada da pia e peguei um dos testes digitais nas mãos. Ele estava positivo. Rapidamente peguei o outro e olhei seu resultado. Também era positivo. Comecei a rir alto e chorar ao mesmo tempo. Apoiei minha mão na barriga e olhei para ela. Enfim estava grávida. A porta do banheiro foi aberta e Victor entrou.— O que houve? Está tudo bem? — perguntou com preocupação.Olhei para ele e sorri abertamente, lhe entregando o teste. Ele o pegou de minhas mãos e olhou-o incrédulo.— Amor... Isso... Isso quer dizer... — interrompeu-se e olhou para mim com os olhos marejados.Assenti em meio às lágrimas.— Vamos ter um bebê. Ou talvez dois ou três.Victor g
VictorEstávamos os três sentados no tapete da sala de estar, desenhando. Maya ainda não havia chegado do hospital e a babá já havia ido embora, passavam um pouco mais das sete da noite.— Uau! Ficou lindo, querida.— E o meu, papai? — perguntou Louise, mostrando o carro que pintava.— Está incrível. Tenho duas artistas em casa.— A mamãe vai passar a noite no hospital de novo? — perguntou Mary.— Não, amor. Ela já deve estar quase chegando.— Estou com fome — disse Louise.— Podemos pedir pizza? — perguntou Mary.— Vamos esperar a mamãe chegar. Okay?— Okay — disseram juntas e voltaram a desenhar.A porta da frente foi aberta e depois fechada.— Papai, o que está desenhando? — perguntou Mary.— Um cavalo.— Parece um cachorro atropelado — falou Louise e as duas riram alto.— Olá! — cumprimentou Maya ao entrar na sala.— Mamãe! — As duas gritaram e correram de encontro a ela.— Oi, minhas meninas.Ela abaixou-se à frente delas e as abraçou, enchendo-as de beijos. As meninas riam e diz
MayaAcordei às quatro da manhã e, mais uma vez, assisti ao dia amanhecer. Era essa minha rotina há cinco anos. Levantei-me quando o celular despertou às sete e meia da manhã. Tomei meu banho, arrumei-me e desci para o andar de baixo. Na cozinha, liguei a cafeteira e quebrei os ovos na tigela, adicionando temperos e preparei a omelete, enquanto as torradas ficavam prontas.Olhei a hora no relógio de pulso e vi que já passavam das oito e meia. A qualquer momento, Mary e Louise desceriam a escada correndo, animadas para o Quatro de Julho na casa do avô. A campainha tocou e eu já sabia quem era. Caminhei até a porta da frente e abri-a.— Bom dia! — desejou Caleb sorridente, estendendo-me uma caixa de cupcakes.— Bom dia. Entre.Dei-lhe passagem e ele entrou.— Acabei de passar um café e fazer omeletes. Vem.Segui para a cozinha e ele me acompanhou. Caleb sentou-se à ilha e colocou a caixa com os bolinhos sobre ela. Servi uma caneca de café e lhe entreguei.— Como está a Maria Fé?— Você