MayaAquele lugar era diferente de tudo que imaginei que seria ou de onde já estivemos em Seattle. Era grande, escuro e envolvente. Acho que as luzes e a música era o que trabalhava para provocar sensações estranhas em nossos corpos, como uma leve excitação.As pessoas pareciam não ligar, ou sequer enxergar meus seios de fora. Para elas era tudo natural. E depois, posso dizer que eu era a mulher mais coberta ali. Era uma casa de dominação exclusiva para homens dominantes.Victor tirou a guia do bolso interno do paletó e a prendeu em minha coleira. Ele saiu andando à frente, puxando-me. Eu o seguia sempre dois passos logo atrás dele, observando a minha volta atentamente. Havia de tudo ali. Desde mulheres nuas, a mulheres fantasiadas dos mais exóticos animais. Alguns homens submissos usavam com roupas feitas de látex, que as cobriam da cabeça aos pés, deixando somente as narinas, olhos, bocas e genitálias descobertos. Tudo aquilo era muito estranho e novo para mim. Quando eu achava que
MayaEle juntou meus cabelos nas mãos e os prendeu em um coque feito de qualquer jeito no alto da cabeça. Ele caminhou até as prateleiras à minha frente e voltou com um vidro de cor âmbar e um chicote de montaria, colocando-o sob a mesinha redonda de apoio ao meu lado esquerdo, antes de se aproximar com o vidro. Primeiro ele espalhou por minhas costas um óleo de aroma amendoado, que se aqueceu levemente quando esparramado sobre a superfície de minha pele. Com leveza, ele massageou meus ombros e beijou minha nuca deixando-me arrepiada.— Aprecio que seja uma mulher de coragem, mas me aborrece que você seja tão imprudente e desobediente, às vezes. Sabe o porquê será castigada, não é? Sabe que merece isso — falou ao meu ouvido.Respirei fundo e cheia de tensão. Victor mordeu meu ombro com certa força e se afastou apanhando o chicote ao lado. Ele deslizou por minhas costas a ponta de couro com tachinhas, até minha bunda. Sem aviso prévio, acertou-me uma chicotada forte em minhas nádegas,
MayaVoltamos para casa na tarde do dia seguinte. A semana fluiu normal, tudo conforme a rotina de cada um. Na quinta-feira, Victor chegou em casa avisando que iríamos na segunda-feira para a consulta no Canadá, em Toronto, com o cardiologista. Partimos para lá logo pela manhã. Caleb havia ido conosco, não ficaríamos muito, mas Victor não estava confiante de deixá-lo só.Victor foi submetido a centenas de exames. O médico disse que meu marido estava com a saúde estável. Quanto ao problema coronário, não se tinha muito o que fazer, não havia cura. Infelizmente, pela idade, Victor não era um candidato apto ao transplante de coração. Foi um banho de água fria. Ouvir aquilo foi horrível. Ele aconselhou Victor a viver bem sua vida, da forma mais saudável e sem esforços físicos exagerados, já que a qualquer momento seu quadro de saúde poderia agravar e lhe causar um infarto fatal.Voltamos para casa na quarta-feira pela manhã. Victor se trancou em seu escritório. Ele disse que precisava res
MayaEmbarcamos no dia seguinte logo pela manhã. Estava tão ansiosa, que não consegui conter o café da manhã em meu estômago.— Ainda nem está grávida e já está enjoando — brincou Victor, segurando meus cabelos enquanto eu vomitava os ovos mexidos com bacon que comi pela manhã antes de pegarmos o voo.A consulta estava marcada para as dez e nós estávamos alguns minutinhos atrasados. Depois de me recuperar e me recompor, seguimos para a clínica de mãos dadas. Lá encontramos alguns especialistas que me explicaram meticulosamente como tudo aconteceria. Eles perguntaram centenas de vezes se estava certa sobre a fertilização e em todas elas precisei certificá-los de que sim. Eles colheram meu sangue e a ginecologista me chamou para uma conversa em particular, somente eu e ela. Entramos em sua sala e sentamos uma de frente para outra na pequena salinha de estar ao canto do seu consultório.— Acho muito bonito a ligação entre você e Victor White. É visível a parceria e o amor de vocês. Isso
MayaChegamos à clínica meia hora antes da hora marcada. Depois de me preparar, entrei em uma sala acompanhada pelo Victor e logo a médica entrou nos desejando um bom-dia com entusiasmo.— Deite-se, por favor, e firma os pés aqui. — Mostrou-me onde.Deitei e fiz o que foi instruído. Estava tão nervosa que minhas mãos e pés suavam frio. Minha garganta estava seca e minha respiração ofegante. Victor posicionou-se ao meu lado e segurou minha mão direita com firmeza. A médica sentou-se aos meus pés e puxou uma mesinha em sua direção, com algumas coisas sobre ela.— Relaxe, querida. Será rápido — disse a ginecologista.Relaxei o máximo que pude fechando os olhos e respirei fundo. Senti um pequenino incômodo, como aquele que sentimos quando estamos fazendo a prevenção.— Prontinho — disse a médica colocando algo sobre a bandeja de alumínio e levantando-se em seguida.— É só isso? — perguntei.— É sim. Agora fique aqui por quinze minutos e depois pode ir para casa seguir com sua vida e rotin
MayaNo dia seguinte, a médica mandou uma mensagem com o endereço do hospital, nome do médico e horário da consulta. Saí de casa dizendo que iria à faculdade, mas pedi a Brice que me levasse até o hospital. Implorei a ele e o fiz prometer em nome da Penny, que ele não diria nada ao Victor. Desci do carro e entrei no hospital. Segui para o sétimo andar e me identifiquei na recepção. Logo o médico surgiu na sala de espera e chamou por meu nome.— É um prazer conhecê-la. Recebi sentenças de recomendação da Dra. Gilbert.— O prazer é meu. Obrigada por me atender, sem eu ao menos ter um horário marcado. — Sorri com simpatia.— Gilbert foi minha orientadora na faculdade. Não há nada que eu não faça por ela.Ele pediu que eu me trocasse e deitasse na maca. Assim eu fiz. Ele introduziu a cânula em mim e iniciou o ultrassom. Meu coração batia acelerado e eu tinha medo do que estava por vir. O médico estava sério e encarava a tela em completo silêncio. Ele finalizou sem dizer nada e retirou a c
MayaQuando cheguei em casa, já passava das nove da noite. Estava tudo em silêncio, escuro e calmo. Subi a escada depressa e entrei no quarto. Maya estava sentada sozinha na varanda. Ao me aproximar, ela olhou-me por cima do ombro. Então, vi que chorava.— O que aconteceu? — perguntei preocupado indo até ela.— Você chegou! — Levantou-se rapidamente e veio ao meu encontro, abraçando-me apertado.— Por favor... Fale o que está havendo? — Maya choramingava baixinho com o rosto enterrado em meu peito. Aquilo estava deixando-me angustiado. — Amor... Maya... Diga o que houve! — falei duro e alto.Ela afastou-se e me olhou com os olhos cheios de tristeza.— Desculpe-me — sussurrou. Lágrimas não paravam de banhar seu rosto.— Pelo quê? Querida... estou preocupado.— Não conseguimos. — Havia tanta dor em sua voz baixa.— Do que você... — interrompi-me, ao entender do que ela falava. Maya se referia a inseminação. — Eu sinto muito, amor. — Puxei-a para um abraço apertado.— Eu quem sinto muito
MayaAcordei e virei-me para o lado, mas não encontrei Victor. Espreguicei-me e levantei vestindo meu robe, antes de descer. Ao chegar à sala de estar, escutei barulhos vindos da cozinha. Sorri. Era sempre bom ter Victor em casa e receber seus cuidados. Não havia como não amar aquele homem. Pode não ter sido o cara perfeito no nosso começo, mas ele aprendeu a ser ao menos perfeito para mim.Caminhei até a cozinha e, ao me aproximar, logo senti o cheiro maravilhoso de ovos e bacon. Ao entrar, olhei em direção ao fogão e assustei-me paralisando. Não era Victor quem estava ali, era uma figura de cabelos raspados, alto, que vestia o seu robe. A figura preparava o café da manhã com calma, cantarolando em assobios. Olhei para a minha esquerda e à mesa estava Victor sentado com a cabeça caída para o lado, desacordado. Gritei com desespero. O sangue escorria da sua nuca melando o pescoço e encharcando a gola da camiseta de malha.— Veja só, você acordou — disse o homem.Sua voz era bastante f