Maya— Sente-se, pai — pedi e sentei-me no sofá maior à sua frente, enquanto ele se acomodou em uma das poltronas.— Como você está? — perguntou esfregando as mãos uma na outra com agonia.— Bem. E você?— Estou bem. — Fez uma breve pausa encarando os próprios pés, como se buscasse palavras ou algum ponto de onde continuar com o diálogo. — Queria... Queria ter ligado para você há alguns dias, mas... não tenho o seu novo número. — Olhou-me novamente.— Por que não pediu a Clarice ou a tia Jenna?— Você foi embora com raiva de mim. E, como não me passou o seu número, imaginei que não quisesse que eu o tivesse. Por isso não pedi a elas.— Desculpe. Quando estive aqui, nem me toquei sobre isso. Mas o que queria me dizer quando quis ligar?— Eu fui à reunião do AA na segunda. Entrei no ônibus e fui até lá sozinho. Não contei a ninguém que estava indo, apenas fui.Sorri com imensa alegria e orgulho da sua atitude.— Você gostou? Conte-me como foi.— Achei estranho, mas gostei. — Sorriu frac
MayaA caminho do hospital paramos em uma cafeteria. Desci com o meu pai e compramos uma vitamina sem açúcar, cafés e alguns donuts para viagem. Quando chegamos lá, senti o meu estômago embrulhar e revirar de nervoso. As portas do elevador se abriram e caminhamos sem pressa até o quarto. O meu pai bateu de leve na porta e entrou na frente.— Trouxe alguém comigo — anunciou ele.— Oi, mãe.— Maya! Graças a Deus! — disse com alívio, apoiando a mão espalmada no seu peito.Corri de encontro a ela e abracei-a. Os seus finos braços me apertaram com tanta força, que quase chegaram a me sufocar. Senti o meu ombro umedecer percebendo que ela chorava.— Por favor... não chore — pedi tentando conter a minha emoção.— Então nunca mais nos preocupe desse jeito! — Soltou-me.— Me perdoe, mamãe. Perdoe-me por fugir daqui quando estava em coma. Perdoe-me por não voltar quando acordou, eu sei que o meu lugar é aqui cuidando de você, mas fui egoísta e não quis ver isso. — As lágrimas escorreram em abu
MayaNoberto assumiu a direção e dirigiu em silêncio para o restaurante. Quando chegamos, logo que entrei, avistei Victor sentado exatamente à mesma mesa onde jantamos juntos pela primeira vez. A noite estava mais fria do que aquele dia, mas ainda assim agradável. Caminhei até ele, que, quando me viu aproximar, levantou-se e puxou a cadeira à frente para mim.— Como foi a sua tarde?— Foi ótima. E a sua? — perguntei acariciando o seu rosto.— Foi entediante sem você.Beijei-o com carinho e saudade. Ele retribuiu com lentidão segurando a minha cintura com as suas duas mãos. Separei os nossos lábios e beijei o seu pescoço, fazendo-o se arrepiar de leve. Sorri para ele e sentei-me. Victor chamou o garçom e pediu um vinho tinto italiano. Depois que as nossas taças foram servidas, o garçom se retirou e começamos a conversar. Contei a ele sobre a minha tarde com os meus pais e a respeito da conversa com a minha mãe.— Que tal mudarmos um pouquinho de assunto? Acho que devemos falar sobre o
MayaNunca havíamos conversado sobre filhos. Afinal, nunca nem mesmo havíamos falado de casamento antes. Mas confesso que a sua resposta direta me deixou com uma pequena tristeza no peito. Casar e ter filhos sempre foram meus planos para o futuro. Agora, um deles eu teria de abrir mão e não seria o de me casar com Victor. Espero que o desejo avassalador de ter filhos não me atinja depois que nos casarmos. Se isso acontecer, será bastante difícil para mim. — Tudo bem.Aconcheguei-me novamente nos seus braços e permanecemos em silêncio até que ele adormeceu. Vagarosamente, levantei-me da cama e vesti a sua camisa, que estava jogada no chão. Caminhei até a poltrona perto das portas, que levavam para a varanda, e peguei o meu celular dentro da bolsa. Já passavam das duas da manhã e havia uma mensagem do meu pai.Desculpe-me, filha.Sei que a chateei.Não medi as palavras que usei.Não foi minha intenção magoá-la.Papai09:12 p.m.Está tudo bem.Nos vemos amanhã.Boa noite.Maya 02:33 a.
MayaLá estava Victor outra vez colocando um guarda-costas atrás de mim o tempo todo. Os homens que queriam me matar estavam presos em Chicago e não iriam sair de lá tão cedo, ou talvez nunca mais. Quanto ao Higor, honestamente, eu não estava preocupada de que ele fizesse algo comigo e sim com a Grace por dinheiro.Corri até as minhas pernas se cansarem e o meu pulmão queimar pela falta de ar, mas minha intenção de cansar o segurança falhou. Ele parecia ter um ótimo preparo físico para aquilo. Talvez Victor tenha pensado até mesmo nisso quando o contratou. Voltamos para casa caminhando um ao lado do outro em completo silêncio. Quando entrei em casa, fui direto até a sala de jantar e encontrei Victor fazendo o seu desjejum com o laptop ligado sobre a mesa, no canto esquerdo à sua frente.— Bom dia — desejou ele, dirigindo-me o olhar que estava fixo na tela do laptop. — Ah! Vejo que já conheceu o Elliot.— Então ele será meu novo segurança? — questionei-o com insatisfação, sentando-me à
MayaO dia passou e como planejado, fomos ver a minha mãe depois do almoço e voltamos para casa às quatro horas, onde não fizemos nada juntos até as sete. Somente ficamos largados na cama do quarto assistindo TV, trocando beijos e carícias. Momentos como aquele eram raríssimos e eu os aproveitava ao máximo.— Já está pronta? — perguntou ele do quarto.— Quase. Vou calçar as sandálias! — gritei para ele do closet.Terminei de arrumar e descemos. Quando ele abriu a porta da casa, estacionado à frente, estava o seu Alfieri cinza-chumbo.— É você quem vai dirigir? — perguntei.— É sim. Mas Noberto e Elliot nos seguirão à paisana. Não quero chamar a atenção.— Ah, mas claro! Até mesmo porque uma Maserati não chamaria a atenção nem um pouco no subúrbio — ironizei.— Entra no carro, Srta. Valentine — falou sério e deu-me um leve tapinha na bunda.Ri baixo e entrei assim que ele abriu a porta. Logo Victor assumiu a direção e fomos para casa da tia Jenna com Noberto e Elliot nos seguindo a pou
MayaEle aproximou-se e beijou o meu rosto abraçando-me pelo ombro.— Vamos até lá fora — sussurrou nos meus ouvidos.Fomos até a varanda dos fundos.— O que houve lá dentro? — perguntou parando à minha frente e segurando o meu rosto entre as suas mãos.— Ainda é muito difícil para o meu pai aceitar a gente.— E isso magoa você.— Eu só queria entender por que as pessoas não conseguem ver o nosso amor. Por que, Victor? Por que é tão difícil elas enxergarem a nossa paixão e compreender que seremos felizes, mesmo que você tenha quase o triplo da minha idade?— Acho que ninguém além de nós, será capaz disso.Acariciou as minhas bochechas com os seus polegares e aproximou-se mais. Ergui a minha cabeça para olhá-lo e fechei os meus olhos quando ele tocou a sua testa na minha, roçando a ponta dos nossos narizes um no outro.— Não vejo a hora de chamá-la de esposa... De colocar uma bela aliança neste dedinho delicado. — Segurou a minha mão esquerda junto ao seu peito e acariciou delicadament
Maya— O jantar está servido — anunciou a minha avó ao entrar na sala e eu agradeci mentalmente. Estava com medo de onde aquela situação iria parar.Depois do jantar, todos foram embora e eu ajudei a minha mãe a se preparar para dormir antes de ir também.— Me prometa uma coisa — pediu ela.— Claro. O quê?— Que, quando se casar, usará o meu vestido de noiva.— Quando eu me casar... usarei o seu vestido de noiva com o maior prazer, mãe — prometi olhando-a nos olhos.Ela sorriu feliz e emocionada. Eu a abracei e me despedi antes de deixar ela e o meu pai a sós.Victor e eu fomos embora e tivemos uma noite deliciosa, assim como o restante do nosso final de semana que passamos grudados um no outro. Depois que ele se foi na segunda logo pela manhã, resolvi ir até o trabalho da Grace e convidá-la para almoçar comigo. Fizemos tudo do modo que era antes. Comemos, depois saímos para tomar um sorvete no caminhãozinho estacionado na praça e, por último, deixei-a de volta no trabalho.No caminho