MayaEnquanto escolhíamos nossos pratos, Tyrone pediu duas taças de vinho branco que escolheu diretamente da carta. Eu demorei um pouco para me decidir o que comer. Desde que percebi que minha "carreira" como modelo fotográfico estava indo para frente e não era mais só um trabalho freelancer, estava pegando leve com os fast-food e optando por comer comidas mais leves e naturais.— E então? O que está achando de ser uma modelo requisitada agora? — perguntou ele enquanto olhava o cardápio.— Não vou mentir, estou adorando! É legal ser escolhida. Mas do que estou gostando mesmo é da parte em que os cachês estão ficando bem maiores.— Essa é a melhor parte para todo mundo, até para mim.— Como vai ser o ensaio?— Vamos fotografar à beira de uma belíssima piscina com bordas infinitas em um resort de luxo e na praia de Santa Monica.— Uau! É a primeira vez que venho a Los Angeles. Ou melhor, é a primeira vez que venho a Califórnia.— Você vai amar. Devia ficar mais uns dois ou três dias par
MayaUm vento gelado foi soprado da praia, fazendo meus pelos dos braços se arrepiarem de frio. Voltei para dentro da suíte e fechei as portas. Já era oito da noite e eu estava com fome, então resolvi pedir meu jantar e ir tomar um banho. Enquanto me despia no banheiro, meu celular tocou no quarto e eu fui atendê-lo, vestindo um robe curto cor-de-rosa. Para minha alegria era Victor quem ligava.— Olá, Sr. White — disse ao atender, sentando-me na cama sobre minha perna esquerda.— Olá, Srta. Valentine. Como foi o seu dia?— Foi bom e o seu?— Cansativo, mas produtivo. Estou com saudade.— Eu também.— Ansiosa para o ensaio de amanhã?— Mais ou menos. Estou mais ansiosa para saber quando vou te ver.— Em breve. Acabei de chegar a Miami, tenho uma reunião amanhã bem cedo.— Tudo bem — disse com pesar da saudade. — Eu mudei o visual do cabelo hoje.— Ah, é? Mande-me fotos. De preferência de corpo inteiro e sem roupas — brincou, fazendo-me rir.— Não, senhor. Verá somente quando nos encont
MayaO ensaio na praia se estendeu até seis da tarde e foi difícil lidar com o egocêntrico machista do Sean. Para minha sorte, a maioria das fotos foram solo e algumas poucas junto as outras garotas. Quando acabamos, eu estava faminta e desejando um banho. Havia areia até nos lugares que achava impossível entrar. Entrei no trailer parado no estacionamento para me trocar junto com as outras modelos, antes de voltar para o hotel. Esperei que todas elas se trocassem e fossem embora, para que eu tivesse um pouco de privacidade para fazer o mesmo sem pressa ou esbarrando em alguém. Depois de passar uma água no corpo dentro do minúsculo banheiro para tirar um pouco da areia grudada em mim, saí enrolada em uma tolha e peguei dentro da bolsa peças limpas de lingerie. A única porta do trailer se abriu e eu pensei ser umas das meninas voltando para pegar algo que tivesse esquecido, então continuei de costas prendendo meu sutiã.— Não precisa prender o que já vou tirar. — Escutei Sean dizer atrá
Maya— Quer falar sobre o que aconteceu? Sinto que algo não está certo.— Você realmente me conhece tão bem. — Fechei a porta. — Realmente aconteceu algo hoje, mas... por favor... só me deixe falar antes que comece a surtar.— Está me preocupando. — Senti tensão na sua voz.Respirei fundo buscando coragem para contar-lhe logo o que houve. Eu não conseguiria esconder isso por muito tempo.— Fui assediada por um homem, enquanto me trocava para vir embora.— O quê? Quem é o filho da mãe? — perguntou alto.— Não grite. E respondendo a sua pergunta, foi um dos modelos com quem tirei algumas fotos. Ele é um cretino pervertido que não sabe respeitar uma mulher, mas acho que ensinei isso a ele.— Era isso que eu tanto temia o tempo todo! — disse entredentes, tentando conter sua ira.— Desculpe-me, Victor. Não quero que fique nervoso. Estou bem. Ele falou umas coisas nojentas e depois me encurralou, mas aí eu soube me defender acertando-lhe uma boa joelhada entre as pernas, que o deixou no chã
MayaDepois de nos arrumar, fomos para o restaurante e tivemos um bom jantar, apesar de ele ter passado boa parte da noite sério e calado. Não sabia se estava forçando a barra com a decisão de sairmos após o episódio que me aconteceu, mas eu queria que aquele sentimento ruim fosse logo embora.— Quer dar uma volta na praia? — perguntei a ele quando saímos do restaurante.— É melhor voltarmos para o hotel.— Por favor. Vamos!— Está frio, Maya.— Será rapidinho, aí voltamos para o hotel.Ele respirou fundo e revirou os olhos para minha insistência.— Não tem que se forçar em fazer parecer que está tudo bem, só para me distrair da raiva que sinto pelo que houve.— Só queria dar uma volta na praia com você, Victor. O jantar foi uma tentativa de distração, mas a caminhada não. Só queria conversar, você ficou mudo boa parte do jantar.— Desculpe. Tudo bem, vamos lá.Ele pegou minha mão e atravessamos a rua. Tiramos nossos calçados e caminhamos para a areia, que já estava um pouco fria.— C
MayaFomos despertados às seis e meia na manhã seguinte pelo meu celular, que tocou estridente sobre o criado-mudo; e, pelo toque, já soube que devia ser Clarice ou minha avó quem ligava. Apenas as duas me ligariam assim tão cedo. Sentei-me na cama em um pulo assustada e peguei o aparelho.— Alô — atendi com a voz sonolenta.— Maya? Ainda estava dormindo? — perguntou Clarice surpresa.— Aqui ainda são seis horas.— Droga! — repreendeu-se resmungando. — Desculpe-me. Esqueci completamente de que na Califórnia são duas horas a menos, mas é que eu precisava muito falar com você.— O que houve? Minha mãe está bem? — perguntei preocupada.— Está sim. O problema é o seu pai.— O que ele fez agora?— Provocou um acidente dirigindo embriagado.— Ele o quê? — perguntei alto me levantando da cama e levando o lençol comigo, enrolando-o em meu corpo.— Calma, não se preocupe. Ninguém se machucou, mas ele foi preso e fichado. Teddy ainda estava com a carteira suspensa e aguardava audiência por dire
MayaParei diante da minúscula cela e ele a abriu. Meu pai dormia deitado no banco com o braço direito jogado sobre os olhos, os tapando da claridade. Caminhei até ele e o observei ressonar um pouco alto.— Pai! — chamei-o alto, mas ele não acordou. — Pai! — chamei novamente o cutucando no braço e finalmente ele acordou.— O quê? — perguntou abrindo seus olhos e se espantando ao me ver. — Maya? — perguntou um pouco confuso olhando-me com estranheza.— Oi, pai.— Mas o que você faz aqui? — perguntou sentando-se.— Vim tirá-lo daqui.— E quem foi que lhe disse que eu quero sair? — perguntou com certa arrogância.— Ninguém disse. Mas, infelizmente, você querendo ou não vim tirá-lo daqui.— Quem ligou para você? — perguntou rude e alto.— Não interessa quem me ligou! Mas entrei aqui para lhe dizer uma coisa... Estou farta dessa situação ridícula entre nós! — disse séria. — Está na hora de um ser o maduro e responsável nessa relação familiar, e esse alguém terá de ser eu, já que você parec
MayaMeu pai não me olhou ou disse qualquer coisa. Manteve-se encarando a foto como se eu não estivesse ali ou lhe dito nada. Ao perceber que, ainda assim, ele manteria erguida sua muralha construída com tijolinhos de orgulho ferido, soube que era hora de ir embora e dar um tempo para mim mesma daquele momento doloroso e frustrante. Peguei as chaves sobre o aparador perto da porta e fui embora sem me despedir da tia Jenna. A caminho da casa do Victor, senti um aperto no peito me sufocar e não consegui me conter, debulhei-me em lágrimas de desespero. Eu tive vontade de sair do carro e correr por quilômetros sem parar, bater em alguma coisa para aliviar a raiva, berrar até ficar sem voz e jogar tudo para o alto mais uma vez e fugir para longe. Mas o momento que vivia exigia de mim força e maturidade para lidar com todas as aprovações que estavam acontecendo e as que estavam por vir.Antes de descer do carro sequei minhas lágrimas. Não queria que Victor notasse que havia chorado. Quando