MayaO ensaio na praia se estendeu até seis da tarde e foi difícil lidar com o egocêntrico machista do Sean. Para minha sorte, a maioria das fotos foram solo e algumas poucas junto as outras garotas. Quando acabamos, eu estava faminta e desejando um banho. Havia areia até nos lugares que achava impossível entrar. Entrei no trailer parado no estacionamento para me trocar junto com as outras modelos, antes de voltar para o hotel. Esperei que todas elas se trocassem e fossem embora, para que eu tivesse um pouco de privacidade para fazer o mesmo sem pressa ou esbarrando em alguém. Depois de passar uma água no corpo dentro do minúsculo banheiro para tirar um pouco da areia grudada em mim, saí enrolada em uma tolha e peguei dentro da bolsa peças limpas de lingerie. A única porta do trailer se abriu e eu pensei ser umas das meninas voltando para pegar algo que tivesse esquecido, então continuei de costas prendendo meu sutiã.— Não precisa prender o que já vou tirar. — Escutei Sean dizer atrá
Maya— Quer falar sobre o que aconteceu? Sinto que algo não está certo.— Você realmente me conhece tão bem. — Fechei a porta. — Realmente aconteceu algo hoje, mas... por favor... só me deixe falar antes que comece a surtar.— Está me preocupando. — Senti tensão na sua voz.Respirei fundo buscando coragem para contar-lhe logo o que houve. Eu não conseguiria esconder isso por muito tempo.— Fui assediada por um homem, enquanto me trocava para vir embora.— O quê? Quem é o filho da mãe? — perguntou alto.— Não grite. E respondendo a sua pergunta, foi um dos modelos com quem tirei algumas fotos. Ele é um cretino pervertido que não sabe respeitar uma mulher, mas acho que ensinei isso a ele.— Era isso que eu tanto temia o tempo todo! — disse entredentes, tentando conter sua ira.— Desculpe-me, Victor. Não quero que fique nervoso. Estou bem. Ele falou umas coisas nojentas e depois me encurralou, mas aí eu soube me defender acertando-lhe uma boa joelhada entre as pernas, que o deixou no chã
MayaDepois de nos arrumar, fomos para o restaurante e tivemos um bom jantar, apesar de ele ter passado boa parte da noite sério e calado. Não sabia se estava forçando a barra com a decisão de sairmos após o episódio que me aconteceu, mas eu queria que aquele sentimento ruim fosse logo embora.— Quer dar uma volta na praia? — perguntei a ele quando saímos do restaurante.— É melhor voltarmos para o hotel.— Por favor. Vamos!— Está frio, Maya.— Será rapidinho, aí voltamos para o hotel.Ele respirou fundo e revirou os olhos para minha insistência.— Não tem que se forçar em fazer parecer que está tudo bem, só para me distrair da raiva que sinto pelo que houve.— Só queria dar uma volta na praia com você, Victor. O jantar foi uma tentativa de distração, mas a caminhada não. Só queria conversar, você ficou mudo boa parte do jantar.— Desculpe. Tudo bem, vamos lá.Ele pegou minha mão e atravessamos a rua. Tiramos nossos calçados e caminhamos para a areia, que já estava um pouco fria.— C
MayaFomos despertados às seis e meia na manhã seguinte pelo meu celular, que tocou estridente sobre o criado-mudo; e, pelo toque, já soube que devia ser Clarice ou minha avó quem ligava. Apenas as duas me ligariam assim tão cedo. Sentei-me na cama em um pulo assustada e peguei o aparelho.— Alô — atendi com a voz sonolenta.— Maya? Ainda estava dormindo? — perguntou Clarice surpresa.— Aqui ainda são seis horas.— Droga! — repreendeu-se resmungando. — Desculpe-me. Esqueci completamente de que na Califórnia são duas horas a menos, mas é que eu precisava muito falar com você.— O que houve? Minha mãe está bem? — perguntei preocupada.— Está sim. O problema é o seu pai.— O que ele fez agora?— Provocou um acidente dirigindo embriagado.— Ele o quê? — perguntei alto me levantando da cama e levando o lençol comigo, enrolando-o em meu corpo.— Calma, não se preocupe. Ninguém se machucou, mas ele foi preso e fichado. Teddy ainda estava com a carteira suspensa e aguardava audiência por dire
MayaParei diante da minúscula cela e ele a abriu. Meu pai dormia deitado no banco com o braço direito jogado sobre os olhos, os tapando da claridade. Caminhei até ele e o observei ressonar um pouco alto.— Pai! — chamei-o alto, mas ele não acordou. — Pai! — chamei novamente o cutucando no braço e finalmente ele acordou.— O quê? — perguntou abrindo seus olhos e se espantando ao me ver. — Maya? — perguntou um pouco confuso olhando-me com estranheza.— Oi, pai.— Mas o que você faz aqui? — perguntou sentando-se.— Vim tirá-lo daqui.— E quem foi que lhe disse que eu quero sair? — perguntou com certa arrogância.— Ninguém disse. Mas, infelizmente, você querendo ou não vim tirá-lo daqui.— Quem ligou para você? — perguntou rude e alto.— Não interessa quem me ligou! Mas entrei aqui para lhe dizer uma coisa... Estou farta dessa situação ridícula entre nós! — disse séria. — Está na hora de um ser o maduro e responsável nessa relação familiar, e esse alguém terá de ser eu, já que você parec
MayaMeu pai não me olhou ou disse qualquer coisa. Manteve-se encarando a foto como se eu não estivesse ali ou lhe dito nada. Ao perceber que, ainda assim, ele manteria erguida sua muralha construída com tijolinhos de orgulho ferido, soube que era hora de ir embora e dar um tempo para mim mesma daquele momento doloroso e frustrante. Peguei as chaves sobre o aparador perto da porta e fui embora sem me despedir da tia Jenna. A caminho da casa do Victor, senti um aperto no peito me sufocar e não consegui me conter, debulhei-me em lágrimas de desespero. Eu tive vontade de sair do carro e correr por quilômetros sem parar, bater em alguma coisa para aliviar a raiva, berrar até ficar sem voz e jogar tudo para o alto mais uma vez e fugir para longe. Mas o momento que vivia exigia de mim força e maturidade para lidar com todas as aprovações que estavam acontecendo e as que estavam por vir.Antes de descer do carro sequei minhas lágrimas. Não queria que Victor notasse que havia chorado. Quando
MayaSeu elevador chegou e ela partiu depois de nos despedirmos com um rápido abraço. Voltei para o quarto e fiquei um pouco mais até começar o cair da noite. A caminho para a casa do Victor, pensei em ir até Grace, mas tive medo de encontrar Higor por lá, então desisti. Porém, mais alguns metros à frente, um aperto em meu peito falou mais alto e, quando menos percebi, já estava parando à frente do seu prédio. Ao entrar, cumprimentei o porteiro noturno e subi direto para o apartamento sem precisar ser anunciada. Quando cheguei a seu andar, meu estômago se encheu com um friozinho de ansiedade. Diante da porta, toquei a campainha e logo ouvi passos se aproximar, mas a porta não foi aberta. Eu sabia que ela estava do outro lado observando quem chamava pelo olho mágico, podia sentir sua presença próxima ali.— Grace... Por favor. Deixe-me entrar, eu vim até aqui apenas para te ver e saber como você está.— É melhor ir embora — falou com a voz baixa.— Você sabe que eu não vou embora. Se l
MayaEla se levantou e eu fiz o mesmo. Nós nos abraçamos e choramos juntas até que nos acalmássemos de novo.— Ele esteve aqui na semana passada — falou ainda abraçada a mim e soltou-me. — Ele veio me pedir desculpas assumindo que errou e dizendo me amar, mas eu não acreditei. Aí ele insistiu tentando me convencer, até que revelou o que queria. Ele precisava de dinheiro. Muito dinheiro. Disse que estava com problemas financeiros. Contou que suas contas estavam bloqueadas a mando da justiça e culpou você mais uma vez. Também disse que seu negócio em Dallas estava à beira da falência e a única pessoa que poderia ajudá-lo era eu. Foi aí que eu percebi o porquê de se aproximar e pedir desculpas. Era apenas interesse. Eu neguei e mandei-o ir embora, mas ele se negou. Então, eu me revoltei e falei demais.— O que disse?— A verdade. Disse que finalmente estava conseguindo ver seu jogo sujo de manipulação e que ele apenas me usou para foragir por um tempo. Ele se irritou e tentou me intimida