- Bom Dia! - minha mãe falou animadamente.
Esfreguei os olhos, tentando acordar.
Que droga! - pensei. Era o meu aniversário.
Eu estava fazendo dezoito anos e havia muita expectativa sobre esse dia.
Diferente da minha mãe, eu felizmente não seria coroada aos dezoito, mas isso não tornava o dia menos importante. A partir daquela data eu estava apta para herdar o trono caso algo acontecesse à minha mãe, e não precisaria de um regente.
Era estranho pensar nisso, mas eu entendia que o reino precisava estar preparado para tudo.
Se dependesse de mim minha mãe reinaria para sempre, pois ela era uma rainha excelente e uma mãe incrível.
Me sentei na cama, ainda me sentindo sonolenta.
- Feliz aniversário meu amor. - ela falou carinhosamente, me puxando para um abraço.
- Obrigada mãe. - eu resmunguei com a voz rouca de sono.
Ela então estendeu uma bela caixa de presente para mim.
- Espero que goste.
Fiquei curiosa para saber o que ela havia comprado para mim daquela vez.
Era uma caixa grande e minha mãe costumava ser um pouco exagerada nos presentes às vezes. Eu não a culpava pois era realmente difícil saber o que dar para alguém que não precisava de nada, era preciso um pouco de criatividade.
Uma vez ela me deu um cavalo, com uma carruagem de princesa rosa e dourada, um cocheiro e bancos almofadados. Eu tinha cinco anos e era apaixonada por cavalos.
Algumas vezes até me deixaram montar nele, acompanhada de minha mãe, é claro.
Desfiz o nó da caixa de presente e tirei a tampa. O que vi lá dentro me deixou realmente surpresa, pois era um look completo. Um vestido, brincos, um colar, uma tiara e um par de sapatos. Tudo combinando perfeitamente. Mas não era só isso. Aquela roupa e acessórios eram de um desenho meu!
Às vezes eu gostava de desenhar vestidos, mas quase sempre eu jogava os desenhos no lixo logo depois. Aquele era um dos mais bonitos que eu já havia desenhado e estava ali, na minha mão, e eu poderia vesti-lo!
- Mãe... Isso é... Incrível!
- Você gostou? - ela perguntou - Eu achei um desenho dele um dia desses e achei que você ia gostar de se vestir com ele.
- Eu amei! - respondi animada, dando um forte abraço nela.
Aquilo me fez levantar da cama e eu fui direto para o banheiro com a caixa ainda na mão.
Lavei meu rosto, ajeitei o cabelo e então coloquei o vestido.
Ele era simplesmente perfeito.
Um belo vestido de seda azul royal, um pouco decotado demais para uma princesa, mas lindo.- Ficou perfeito em você. - minha mãe comentou.
Eu sorri, completamente satisfeita com o meu presente.
Me olhei no espelho, me admirando, e aos poucos meu sorriso foi se desmanchando.- O que foi? - minha mãe perguntou preocupada, se aproximando mais de mim - Está preocupada com a noite de hoje?
- Estou um pouco. - respondi sinceramente - As pessoas esperam tanto de mim... O que me consola é saber que tenho alguém para dividir esse dia.
Minha mãe soltou um suspiro e sorriu.
- É, seu irmão chegou ontem à noite. - ela falou.
- Eu sei. Ele veio me dar um oi. Percy está tão... diferente.
Meu irmão já não era mais o mesmo de dois anos atrás. Estava mais alto, mais forte, mais bronzeado, e até mais bonito, mas também parecia mais sério.
- Sim... - minha mãe suspirou mais uma vez - Acho que é melhor você tirar esse vestido e nós descermos para o café da manhã.
Assenti em concordância e fui para o closet. Coloquei um vestido mais simples e arrumei meu cabelo, então nós duas descemos juntas para a sala de jantar.
Naquela noite faríamos a festa principal e finalmente acabaria toda aquela agitação e comemoração, mas também acabaria a minha mordomia.
Eu não sabia o motivo pelo qual nunca havia gostado muito do meu aniversário, mas aquele aniversário era pior, pois marcava uma nova fase da minha vida. Meu treinamento se tornaria mais intenso e eu teria que fazer viagens políticas, fazer discursos, participar de reuniões e tudo o mais. Eu finalmente teria a chance de pôr em prática tudo o que eu havia aprendido nos últimos anos, mas eu não estava muito ansiosa para isso, pois tinha um pouco de medo de decepcionar a todos, afinal a minha vida se tornaria cada vez mais pública e as pessoas poderiam não gostar de quem eu era.
...
A noite chegou e eu estava pronta, usando meu vestido azul, minhas joias de prata e minha tiara cheia de diamantes, me sentindo feliz por poder usar uma coisa que eu mesma havia desenhado, mas também me sentido um pouco chique demais.
O salão estava todo decorado com coisas de ouro, flores brancas, girassóis, uma pequena fonte de chocolate e mesas com comidas que pareciam deliciosas, mas que quase não pareciam de verdade, de tão bonitas que eram. Alguns convidados já haviam chegado e eu fui para cumprimenta-los, mesmo não querendo muito.
Nos meus últimos aniversários minha mãe optara por uma comemoração simples, só entre a família, mas daquela vez eu teria que suportar uma festa um tanto luxuosa demais, além das comemorações que estavam acontecendo em todo o reino durante toda aquela semana.
Continuei a cumprimentar e a conversar com os convidados com o melhor sorriso que eu podia fazer, e foi então que eu vi ele. O príncipe Nicholas.
Nicholas era filho do primo de minha mãe, Mateus, e havia sido o melhor amigo do meu irmão há dois anos, quando Percy passava mais tempo em Solares.
Ele se aproximou de mim com um sorriso brincalhão, assim que as outras pessoas se afastaram.
- Eu me trouxe de presente pra você. - ele falou - Quer desembrulhar agora ou mais tarde?
Revirei os olhos e sorri.
Nicholas não passava de um galanteador barato e mulherengo, mas era divertido estar perto dele.
- Você é tão engraçadinho. - respondi - Se me der licença, eu preciso falar com os meus convidados.
- E eu não sou seu convidado? - ele perguntou.
Ignorei ele, pois vi meu irmão entrando. Infelizmente não pude ir até ele, pois fui interrompida por mais convidados querendo me parabenizar.
Todos os reis, duques, duquesas e pessoas importantes estavam chegando de todos os cantos. Alguns eram dos nove reinos e uns poucos eram de reinos mais distantes, nos quais eu nunca pus os pés antes, mas que eu teria que visitar em breve.
Só fui ter algum sossego quando começaram as apresentações circenses, como era de costume acontecer nas festas de Solares, mas ainda não pude conversar com Percy, nem com a minha família.
Aquela noite seria longa e agitada, eu já sabia disso, e era meu dever fazer aquilo que esperavam de mim: sorrir, acenar e cumprimentar.
Depois de muita encenação veio a dança e depois os presentes.
Meu irmão ganhou menos presentes do que eu, o que fez as pessoas começarem a sussurrar coisas, mas ele compensou isso com muito bom humor, fazendo piada de tudo, o que me fez lembrar de como ele costumava ser e me fez pensar que talvez ele não tivesse mudado tanto assim.
Tentei acompanha-lo para mostrar a todos que nós dois não tínhamos nenhum ressentimento um para com o outro, calando a boca dos fofoqueiros que adoravam inventar histórias sobre nossa família e relacionamento.
O que achei estranho foi quando chegou a vez de mostrar os presentes de Lunaris. Meu irmão falou que seriam fogos de artifícios e então saiu apressado, mas eu sabia que alguma coisa estava errada, só não sabia dizer o que.
Assim que Tori caiu no sono eu voltei para meu quarto encontrando minha mãe cochilando em minha cama. Ela estava mais magra e sua expressão mais majestosa do que nunca.Minha mãe era uma rainha amada por toda Solares e reinos aliados, e eu conhecia toda sua história e as guerras que só uma verdadeira rainha podia passar.- Vai ficar parado como uma estátua ou vai abraçar sua velha mãe? - brincou ela, abrindo seus olhos verdes penetrantes.Caminhei até ao lado da cama abraçando-a.- Eduardo, meu filho pode me apertar mais forte, não vou quebrar. - cochichou em meu ouvido.Ri apertando-a mais forte. O cheiro de calor e de maçã invadiram meu nariz trazendo lembranças e lágrimas.- Eu sei meu filho. - confortou alisando meus cabelos. - Não tem sido fácil para você e nunca vai ser, mas você vai conseguir.Minha
Era manhã do outro dia, depois do meu aniversário, e eu estava com muito calor e um pouco tensa, então aproveitei que minha mãe não estava, e eu não tinha nada para fazer pela manhã, e fui nadar um pouco na piscina do castelo.A água era um ótimo relaxante e me fazia esquecer um pouco dos problemas que me aguardavam a partir daquele dia.Mergulhei fundo e fiquei lá, o quanto meu fôlego aguentava, então voltei à superfície.- Oi. - Uma voz falou, me pegando de surpresa.- O que está fazendo aqui Nicholas?! - perguntei, brava por ele ter me assustado. - Achei que já tivesse ido embora.- Estou indo agora. - ele respondeu com um sorriso, sem nem se importar com a minha raiva.Saí da piscina e só então percebi que havia sido um erro.Eu estava só de biquíni e ele estava perto demais de mim.
Assim que cheguei na porta do escritório do meu pai para participar da reunião minha mãe me esperava com as mãos na cintura. Ficou claro que esse não era o plano dela para mim.- Mãe? - Perguntei para quebrar o silêncio.- Filho. - Ela assoprou uma mecha de cabelo ruivo, fazendo-a parecer mais jovem. - Eu quero conversar com você.Ela estendeu o braço e eu o peguei em silêncio, não havia como discutir com Alice e ganhar.A música da festa foi ficando mais baixa enquanto caminhávamos para os jardins reais. Passamos por um portão de ferro que indicava o primeiro jardim, o Jardim do Sol, onde havia toda variedade de flores, plantas e até árvores de Solares.Minha mãe caminhava olhando fixamente para frente e então se sentou na mureta da fonte.- Quando você pretende ir embora? - ela perguntou.- Hoje ap&o
Por mais que eu fixasse meus olhos no relógio o tempo corria do mesmo jeito lento e isso estava me dando nos nervos.Liguei meu tablet e vi uma mensagem de Nick."- Me ligue, é urgente."Peguei meu celular e estava cheio de chamadas perdidas de Nick.Suspirei encarando o relógio e retornei a ligação.- Percy? - disse Nick com a voz um tanto sonolenta. - Cara, são...- Duas horas da manhã, eu sei. Você me pediu para ligar. O que é tão urgente?- Ah. - exclamou colocando o celular no viva-voz. - Eu vou ter um irmãozinho!- Parabéns. - respondi me sentindo um pouco frustrado por não ser algo tão importante. - Mateus deve estar nas alturas.- Papai está todo atrapalhado, um bobo alegre.- Com quem você está falando? - perguntou uma voz feminina ao fundo - Volta pra cama...- Você não
Quando finalmente anoiteceu e eu fui para o jantar encontrei todos num clima muito estranho.Minha mãe estava sentada, encarando o seu prato e quase não comendo, meu irmão estava distraído e não parava de olhar para a minha mãe de canto de olho e meu pai parecia estar tentando ignorar a situação. Alguma coisa havia acontecido.Terminei de comer e esperei que minha mãe se levantasse, então todos foram saindo da sala. Eu segui Percy e o puxei pelo braço assim que os outros se afastaram.- O que aconteceu? - eu perguntei direta.Ele franziu a testa.- Do que está falando, Tori?- Você sabe do que eu estou falando. Da mamãe. O que aconteceu?- Nada. - ele respo
Sempre odiei pedir desculpas, por isso me esforçava ao máximo para não errar. Eu não dizia tudo que pensava e sorria sempre que havia alguma discórdia, pensava muitas vezes antes de dizer algo e procurava conhecer tudo o que podia sobre uma pessoa para não a ofender, mas, as vezes, simplesmente transbordava o que estava oculto dentro do meu coração e eu falava demais. Quentin me censurava a respeito disso, me dizendo que algum dia se eu não aprendesse a esvaziar o jarro das emoções, ele transbordaria e me afogaria.Coloquei a cabeça para dentro do quarto da minha mãe, e a encontrei vendo os álbuns de fotos. Seus olhos estavam mais brilhantes por causa das lágrimas e seu nariz parecia uma pimenta.- Mãe? - chamei em voz baixa para não assusta-la. - Posso entrar?Ela acenou que sim sem olhar para mim e eu andei meio vacilante até sentar de
Quando amanheceu no dia seguinte eu estava me sentindo cansada, mesmo que no dia anterior eu não tivesse feito nenhum exercício.Era a minha mente que estava cansada de tanto pensar. E eu quase não havia dormido.Fui na reunião com a minha mãe de novo, depois do café da manhã, e dessa vez, quando ela mandou todos embora, eu permaneci sentada.- Mãe, eu dei uma olhada nos pretendentes à primeiro ministro... - eu falei assim que ficamos sozinhas - Acho que há dois deles que serviriam bem para esse cargo.- E quais seriam? - ela quis saber.Entreguei os papéis para ela.- Thomas e Miguel. - respondi - São os melhores candidatos, na minha opinião.Ela encarou os papéis com os lábios apertados e eu tive medo de que ela discordasse de mim.- Acha que eles não são os certos? - perguntei.Ela sorriu para mim.
As batidas dos cascos dos cavalos no solo, somado com o barulho das lanças se chocando eram tão relaxantes que por algum tempo eu tinha me esquecido de todo o fardo de ser rei.Meu pai se preparava para enfrentar Quentin na luta de espadas, e eu sabia que meu pai tinha sido um guerreiro fenomenal em sua juventude, mas Quentin se mantinha em forma e era tão veloz quanto uma flecha.Eles se analisaram por um tempo até que Quentin fingiu mancar da perna esquerda, meu pai viu e atacou pela direita na tentativa de derruba-lo. Quentin fintou firmando a perna esquerda e dando uma estocada certeira no peito do meu pai.- Trapaceiro. - brincou meu pai - Isso não vale.- O intuito do treinamento é simular a batalha, fazer com que nossos reflexos e ações confundam o inimigo e nos dê a vitória.Meu pai aproveitou que meu mentor falava para dar um ataque frontal. Quentin bloqueou com a espada