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Victória - Capítulo 3 - A Grande Festa

- Bom Dia! - minha mãe falou animadamente.

Esfreguei os olhos, tentando acordar.

Que droga! - pensei. Era o meu aniversário.

Eu estava fazendo dezoito anos e havia muita expectativa sobre esse dia.

Diferente da minha mãe, eu felizmente não seria coroada aos dezoito, mas isso não tornava o dia menos importante. A partir daquela data eu estava apta para herdar o trono caso algo acontecesse à minha mãe, e não precisaria de um regente.

Era estranho pensar nisso, mas eu entendia que o reino precisava estar preparado para tudo.

Se dependesse de mim minha mãe reinaria para sempre, pois ela era uma rainha excelente e uma mãe incrível.

Me sentei na cama, ainda me sentindo sonolenta.

- Feliz aniversário meu amor. - ela falou carinhosamente, me puxando para um abraço.

- Obrigada mãe. - eu resmunguei com a voz rouca de sono.

Ela então estendeu uma bela caixa de presente para mim.

- Espero que goste. 

Fiquei curiosa para saber o que ela havia comprado para mim daquela vez.

Era uma caixa grande e minha mãe costumava ser um pouco exagerada nos presentes às vezes. Eu não a culpava pois era realmente difícil saber o que dar para alguém que não precisava de nada, era preciso um pouco de criatividade.

Uma vez ela me deu um cavalo, com uma carruagem de princesa rosa e dourada, um cocheiro e bancos almofadados. Eu tinha cinco anos e era apaixonada por cavalos.

Algumas vezes até me deixaram montar nele, acompanhada de minha mãe, é claro.

Desfiz o nó da caixa de presente e tirei a tampa. O que vi lá dentro me deixou realmente surpresa, pois era um look completo. Um vestido, brincos, um colar, uma tiara e um par de sapatos. Tudo combinando perfeitamente. Mas não era só isso. Aquela roupa e acessórios eram de um desenho meu!

Às vezes eu gostava de desenhar vestidos, mas quase sempre eu jogava os desenhos no lixo logo depois. Aquele era um dos mais bonitos que eu já havia desenhado e estava ali, na minha mão, e eu poderia vesti-lo!

- Mãe... Isso é... Incrível!

- Você gostou? - ela perguntou - Eu achei um desenho dele um dia desses e achei que você ia gostar de se vestir com ele.

- Eu amei! - respondi animada, dando um forte abraço nela.

Aquilo me fez levantar da cama e eu fui direto para o banheiro com a caixa ainda na mão.

Lavei meu rosto, ajeitei o cabelo e então coloquei o vestido.

Ele era simplesmente perfeito.

Um belo vestido de seda azul royal, um pouco decotado demais para uma princesa, mas lindo.

- Ficou perfeito em você. - minha mãe comentou.

Eu sorri, completamente satisfeita com o meu presente.

Me olhei no espelho, me admirando, e aos poucos meu sorriso foi se desmanchando.

- O que foi? - minha mãe perguntou preocupada, se aproximando mais de mim - Está preocupada com a noite de hoje?

- Estou um pouco. - respondi sinceramente - As pessoas esperam tanto de mim... O que me consola é saber que tenho alguém para dividir esse dia.

Minha mãe soltou um suspiro e sorriu.

- É, seu irmão chegou ontem à noite. - ela falou.

- Eu sei. Ele veio me dar um oi. Percy está tão... diferente.

Meu irmão já não era mais o mesmo de dois anos atrás. Estava mais alto, mais forte, mais bronzeado, e até mais bonito, mas também parecia mais sério.

- Sim... - minha mãe suspirou mais uma vez - Acho que é melhor você tirar esse vestido e nós descermos para o café da manhã.

Assenti em concordância e fui para o closet. Coloquei um vestido mais simples e arrumei meu cabelo, então nós duas descemos juntas para a sala de jantar.

Naquela noite faríamos a festa principal e finalmente acabaria toda aquela agitação e comemoração, mas também acabaria a minha mordomia.

Eu não sabia o motivo pelo qual nunca havia gostado muito do meu aniversário, mas aquele aniversário era pior, pois marcava uma nova fase da minha vida. Meu treinamento se tornaria mais intenso e eu teria que fazer viagens políticas, fazer discursos, participar de reuniões e tudo o mais. Eu finalmente teria a chance de pôr em prática tudo o que eu havia aprendido nos últimos anos, mas eu não estava muito ansiosa para isso, pois tinha um pouco de medo de decepcionar a todos, afinal a minha vida se tornaria cada vez mais pública e as pessoas poderiam não gostar de quem eu era.

...

A noite chegou e eu estava pronta, usando meu vestido azul, minhas joias de prata e minha tiara cheia de diamantes, me sentindo feliz por poder usar uma coisa que eu mesma havia desenhado, mas também me sentido um pouco chique demais.

O salão estava todo decorado com coisas de ouro, flores brancas, girassóis, uma pequena fonte de chocolate e mesas com comidas que pareciam deliciosas, mas que quase não pareciam de verdade, de tão bonitas que eram. Alguns convidados já haviam chegado e eu fui para cumprimenta-los, mesmo não querendo muito.

Nos meus últimos aniversários minha mãe optara por uma comemoração simples, só entre a família, mas daquela vez eu teria que suportar uma festa um tanto luxuosa demais, além das comemorações que estavam acontecendo em todo o reino durante toda aquela semana.

Continuei a cumprimentar e a conversar com os convidados com o melhor sorriso que eu podia fazer, e foi então que eu vi ele. O príncipe Nicholas.

Nicholas era filho do primo de minha mãe, Mateus, e havia sido o melhor amigo do meu irmão há dois anos, quando Percy passava mais tempo em Solares.

Ele se aproximou de mim com um sorriso brincalhão, assim que as outras pessoas se afastaram.

- Eu me trouxe de presente pra você. - ele falou - Quer desembrulhar agora ou mais tarde?

Revirei os olhos e sorri.

Nicholas não passava de um galanteador barato e mulherengo, mas era divertido estar perto dele.

- Você é tão engraçadinho. - respondi - Se me der licença, eu preciso falar com os meus convidados.

- E eu não sou seu convidado? - ele perguntou.

Ignorei ele, pois vi meu irmão entrando. Infelizmente não pude ir até ele, pois fui interrompida por mais convidados querendo me parabenizar.

Todos os reis, duques, duquesas e pessoas importantes estavam chegando de todos os cantos. Alguns eram dos nove reinos e uns poucos eram de reinos mais distantes, nos quais eu nunca pus os pés antes, mas que eu teria que visitar em breve.

Só fui ter algum sossego quando começaram as apresentações circenses, como era de costume acontecer nas festas de Solares, mas ainda não pude conversar com Percy, nem com a minha família.

Aquela noite seria longa e agitada, eu já sabia disso, e era meu dever fazer aquilo que esperavam de mim: sorrir, acenar e cumprimentar.

Depois de muita encenação veio a dança e depois os presentes.

Meu irmão ganhou menos presentes do que eu, o que fez as pessoas começarem a sussurrar coisas, mas ele compensou isso com muito bom humor, fazendo piada de tudo, o que me fez lembrar de como ele costumava ser e me fez pensar que talvez ele não tivesse mudado tanto assim.

Tentei acompanha-lo para mostrar a todos que nós dois não tínhamos nenhum ressentimento um para com o outro, calando a boca dos fofoqueiros que adoravam inventar histórias sobre nossa família e relacionamento.

O que achei estranho foi quando chegou a vez de mostrar os presentes de Lunaris. Meu irmão falou que seriam fogos de artifícios e então saiu apressado, mas eu sabia que alguma coisa estava errada, só não sabia dizer o que.

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