Assim que Tori caiu no sono eu voltei para meu quarto encontrando minha mãe cochilando em minha cama. Ela estava mais magra e sua expressão mais majestosa do que nunca.
Minha mãe era uma rainha amada por toda Solares e reinos aliados, e eu conhecia toda sua história e as guerras que só uma verdadeira rainha podia passar.
- Vai ficar parado como uma estátua ou vai abraçar sua velha mãe? - brincou ela, abrindo seus olhos verdes penetrantes.
Caminhei até ao lado da cama abraçando-a.
- Eduardo, meu filho pode me apertar mais forte, não vou quebrar. - cochichou em meu ouvido.
Ri apertando-a mais forte. O cheiro de calor e de maçã invadiram meu nariz trazendo lembranças e lágrimas.
- Eu sei meu filho. - confortou alisando meus cabelos. - Não tem sido fácil para você e nunca vai ser, mas você vai conseguir.
Minha mãe parecia saber de tudo sem precisar perguntar nada, mesmo fazendo mais de um ano que não falava com ela, um pouco por raiva e um pouco por causa do treinamento, não havia diferença nenhuma.
Ela afastou meu rosto para me olhar nos olhos.
- Você é praticamente um homem, tem até uma penugem no queixo. - Deslizou sua mão magra e com calos pelo meu rosto. - Estou muito orgulhosa de você.
- É meu dever. - respondi tentando engolir o choro, só minha mãe para me fazer voltar a ser uma garotinho chorão. - Eu preciso...
- De um bom banho e descanso. - completou, deixando claro que eu não tinha escolha. - Amanhã será um grande dia e com muitas surpresas.
Ela me deu um beijo na testa e saiu.
...
Tentei dormir, mas as preocupações não deixaram, então resolvi fazer alguns exercícios de flexão, depois meditei um pouco e por fim rezei a Lunari.
Passei a tarde toda no meu quarto esperando minha comitiva e quando chegaram eu me arrumei apressadamente. Vesti um terno azul escuro com uma camiseta prateada e um sapato um tanto brilhante. Coloquei a espada cerimonial na cintura e pendurei as medalhas do lado direito. Eu tinha recebido duas condecorações por resgate e salvamento, uma por destreza e sacrifício, duas por serviço e liderança, uma por fibra moral e altruísmo e um por batalha e ato heroico. Não me orgulhava de nenhuma delas e nem sentia que as merecia.
Quentin Spencer, o General de Brigada e Contra Almirante Pedroso e os irmãos Águarasa estavam no quarto reservado para eles, se preparando.
Olhei para o meu reflexo desejando que aquele dia acabasse o mais rápido possível.
...
O salão estava lotado e algumas pessoas nem notaram minha presença, mas minha irmã era o próprio Sol, com todas as pessoas orbitando a sua volta. Ela estava maravilhosa, tão bela quanto uma rainha tinha que ser, deslizando e sorrindo para os convidados que se acotovelavam para ter um sorriso e um aceno.
Vi alguns Almirantes de Esquadras de Netuno conversarem com Brigadeiros de Urano. Algumas estrelas de cinema de Vênus trocarem beijos e fotos. Passei pela família real de Marte e de Júpiter. Um dos professores de Mercúrio me reconheceu me saudando com força e me apresentado para alguns representantes de Saturno. Fiz meu melhor para acompanhar seu linguajar erudito e técnico.
- Você não é muito popular por aqui. - brincou Cheira-Cravo ao se aproximar, trajando seu uniforme militar. - Já sua irmã é um deleite para os olhos.
- Isso é irrelevante. - cortei mal-humorado. - Como estão Graves e Tobias?
- Você os conhece bem. Estão se divertindo tirando fotos e gravando, como ordenou vossa alteza.
- Certo. - respondi, ignorando o sarcasmo. - Não vai conversar com seus irmãos de armas?
- Eu vou comer alguma coisa que já estou com fome. - Saiu me deixando sozinho.
Puxei assunto com algumas pessoas e desviei de outras, como a minha irmã, Nicholas e meu pai.
Quando chegou a hora da valsa cerimonial meu pai se levantou da grande mesa, pegou minha irmã pela mão e a levou para o centro do salão, e minha mãe fez o mesmo comigo.
Dançamos dando voltas e voltas, e eu meio que deixei minha mãe conduzir, pois ela dançava muito melhor que eu.
Depois disso vieram os presentes. O arauto deu um passo à frente enquanto eu e minha irmã estávamos sentados em dois tronos forrados de veludo vermelho.
- Do reino de Mercúrio vossas Altezas recebem esses relógios-celulares chamados de techclock.
Eu olhei para caixa aonde havia um relógio prateado circular com pulseira em couro com as inicias E.P e para o outro relógio oval dourado cravejado de rubis escrito Victoria.
Os convidados aplaudiam e saudavam os representantes de cada reino e seus presentes.
- De Vênus. - gritou o arauto. - A princesa Victoria recebe um baú com joias e o príncipe Eduardo recebe um barril do melhor vinho de todo o reino.
Mais aplausos e risos. Isso começava a me entediar.
- De Marte. - gritou o arauto novamente. - A princesa Victória recebe um vestido cravejado de diamantes, e o príncipe Eduardo recebe um terno a prova de balas e a honraria de ser membro dos Gládios.
As palmas ficaram mais fortes e um sorriso se formou em meus lábios.
- De Júpiter vossas Altezas recebem o bolo que será servido essa noite, e para a princesa Victória uma estátua feita de chocolate e folheada com ouro comestível.
Alguns murmúrios surgiram entre as palmas.
- De Saturno a princesa Victoria recebe um corcel branco.
Minha irmã olhou para mim nervosa, e eu simplesmente sorri.
O arauto estava se sentindo desconfortável e olhava para meus pais com frequência. Caminhei até ele dispensando-o das apresentações.
- Acho que alguns reinos esqueceram meus presentes, mas está tudo bem. - disse sorrindo e gracejando. - Vamos continuar...
Sorri para Victoria que se juntou a mim no centro do salão.
- Do reino de Urano. - falei em voz alta. - Minha linda irmã recebe uma pérola negra do tamanho da minha cabeça. - brinquei, fazendo todos rirem. - E eu recebi a medalha "Ases das Estrelas".
Victoria seguiu a deixa, tomando a frente.
- Do reino de Netuno, eu recebi uma lancha chamada 'Donzela Ruiva' e o meu irmão um sabre naval.
- De Solares, - falei firme e forte. - minha irmã recebe uma tiara dourada com raios solares e um... - Olhei em volta da caixa, achando um vaso com girassóis. - Um lindo buquê de girassóis. - brinquei novamente, fazendo todos os convidados gargalharem por algum tempo.
Minha irmã pegou as flores e as cheirou delicadamente, como uma princesa.
- De Lunaris nós ganhamos...
Lula correu até mim sussurrando em meus ouvidos. Olhei para meu pai rapidamente.
- De Lunaris nós ganhamos... - repeti - Uma chuva de fogos que está sendo preparada. Enquanto isso todos estão livres para beber vinhos e se deliciar com o bolo.
Me afastei da minha irmã antes que ela perguntasse algo e encontrei os irmãos Águarasa em um canto com Cheira-Cravo, Quentin, meu pai e meu tio-avô Lucas.
- Cadê o presente? - perguntei.
Arraia me mostrou um embrulho empapado de sangue.
- Por Lunari! - exclamei - Eu preciso que vocês preparem os melhores fogos em quinze minutos.
- Sim senhor. - Saíram pela lateral passando por músicos e outros artistas.
- É melhor irmos para um lugar mais reservado. - disse meu pai enquanto Cheira-Cravo pegava o presente sangrento. - E filho, boa sacada.
- Meu mentor sempre diz, nada melhor que um sorriso para se livrar de alguns prejuízos.
Meu pai deu alguns tapinhas nas costas de Quentin que sorria de orelha a orelha.
Dei uma última olhada na minha irmã, que conversava com Nicholas, e segui o grupo para o escritório do meu pai.
Era manhã do outro dia, depois do meu aniversário, e eu estava com muito calor e um pouco tensa, então aproveitei que minha mãe não estava, e eu não tinha nada para fazer pela manhã, e fui nadar um pouco na piscina do castelo.A água era um ótimo relaxante e me fazia esquecer um pouco dos problemas que me aguardavam a partir daquele dia.Mergulhei fundo e fiquei lá, o quanto meu fôlego aguentava, então voltei à superfície.- Oi. - Uma voz falou, me pegando de surpresa.- O que está fazendo aqui Nicholas?! - perguntei, brava por ele ter me assustado. - Achei que já tivesse ido embora.- Estou indo agora. - ele respondeu com um sorriso, sem nem se importar com a minha raiva.Saí da piscina e só então percebi que havia sido um erro.Eu estava só de biquíni e ele estava perto demais de mim.
Assim que cheguei na porta do escritório do meu pai para participar da reunião minha mãe me esperava com as mãos na cintura. Ficou claro que esse não era o plano dela para mim.- Mãe? - Perguntei para quebrar o silêncio.- Filho. - Ela assoprou uma mecha de cabelo ruivo, fazendo-a parecer mais jovem. - Eu quero conversar com você.Ela estendeu o braço e eu o peguei em silêncio, não havia como discutir com Alice e ganhar.A música da festa foi ficando mais baixa enquanto caminhávamos para os jardins reais. Passamos por um portão de ferro que indicava o primeiro jardim, o Jardim do Sol, onde havia toda variedade de flores, plantas e até árvores de Solares.Minha mãe caminhava olhando fixamente para frente e então se sentou na mureta da fonte.- Quando você pretende ir embora? - ela perguntou.- Hoje ap&o
Por mais que eu fixasse meus olhos no relógio o tempo corria do mesmo jeito lento e isso estava me dando nos nervos.Liguei meu tablet e vi uma mensagem de Nick."- Me ligue, é urgente."Peguei meu celular e estava cheio de chamadas perdidas de Nick.Suspirei encarando o relógio e retornei a ligação.- Percy? - disse Nick com a voz um tanto sonolenta. - Cara, são...- Duas horas da manhã, eu sei. Você me pediu para ligar. O que é tão urgente?- Ah. - exclamou colocando o celular no viva-voz. - Eu vou ter um irmãozinho!- Parabéns. - respondi me sentindo um pouco frustrado por não ser algo tão importante. - Mateus deve estar nas alturas.- Papai está todo atrapalhado, um bobo alegre.- Com quem você está falando? - perguntou uma voz feminina ao fundo - Volta pra cama...- Você não
Quando finalmente anoiteceu e eu fui para o jantar encontrei todos num clima muito estranho.Minha mãe estava sentada, encarando o seu prato e quase não comendo, meu irmão estava distraído e não parava de olhar para a minha mãe de canto de olho e meu pai parecia estar tentando ignorar a situação. Alguma coisa havia acontecido.Terminei de comer e esperei que minha mãe se levantasse, então todos foram saindo da sala. Eu segui Percy e o puxei pelo braço assim que os outros se afastaram.- O que aconteceu? - eu perguntei direta.Ele franziu a testa.- Do que está falando, Tori?- Você sabe do que eu estou falando. Da mamãe. O que aconteceu?- Nada. - ele respo
Sempre odiei pedir desculpas, por isso me esforçava ao máximo para não errar. Eu não dizia tudo que pensava e sorria sempre que havia alguma discórdia, pensava muitas vezes antes de dizer algo e procurava conhecer tudo o que podia sobre uma pessoa para não a ofender, mas, as vezes, simplesmente transbordava o que estava oculto dentro do meu coração e eu falava demais. Quentin me censurava a respeito disso, me dizendo que algum dia se eu não aprendesse a esvaziar o jarro das emoções, ele transbordaria e me afogaria.Coloquei a cabeça para dentro do quarto da minha mãe, e a encontrei vendo os álbuns de fotos. Seus olhos estavam mais brilhantes por causa das lágrimas e seu nariz parecia uma pimenta.- Mãe? - chamei em voz baixa para não assusta-la. - Posso entrar?Ela acenou que sim sem olhar para mim e eu andei meio vacilante até sentar de
Quando amanheceu no dia seguinte eu estava me sentindo cansada, mesmo que no dia anterior eu não tivesse feito nenhum exercício.Era a minha mente que estava cansada de tanto pensar. E eu quase não havia dormido.Fui na reunião com a minha mãe de novo, depois do café da manhã, e dessa vez, quando ela mandou todos embora, eu permaneci sentada.- Mãe, eu dei uma olhada nos pretendentes à primeiro ministro... - eu falei assim que ficamos sozinhas - Acho que há dois deles que serviriam bem para esse cargo.- E quais seriam? - ela quis saber.Entreguei os papéis para ela.- Thomas e Miguel. - respondi - São os melhores candidatos, na minha opinião.Ela encarou os papéis com os lábios apertados e eu tive medo de que ela discordasse de mim.- Acha que eles não são os certos? - perguntei.Ela sorriu para mim.
As batidas dos cascos dos cavalos no solo, somado com o barulho das lanças se chocando eram tão relaxantes que por algum tempo eu tinha me esquecido de todo o fardo de ser rei.Meu pai se preparava para enfrentar Quentin na luta de espadas, e eu sabia que meu pai tinha sido um guerreiro fenomenal em sua juventude, mas Quentin se mantinha em forma e era tão veloz quanto uma flecha.Eles se analisaram por um tempo até que Quentin fingiu mancar da perna esquerda, meu pai viu e atacou pela direita na tentativa de derruba-lo. Quentin fintou firmando a perna esquerda e dando uma estocada certeira no peito do meu pai.- Trapaceiro. - brincou meu pai - Isso não vale.- O intuito do treinamento é simular a batalha, fazer com que nossos reflexos e ações confundam o inimigo e nos dê a vitória.Meu pai aproveitou que meu mentor falava para dar um ataque frontal. Quentin bloqueou com a espada
Assim que saí do banho encontrei uma roupa um tanto peculiar sobre a minha cama. Sorri balançando a cabeça negativamente.Desci para o salão de festa, onde jantaríamos e fiquei muito surpreso com o que minha mãe e minha irmã haviam feito.Estandartes dos reinos estavam pendurados nas paredes, haviam escudos e armaduras colocados nos cantos. Velas e incensos aromatizavam o lugar, uma grande mesa tinha sido colocada no centro do salão e músicos tocavam canções antigas e alegres. Estava tudo incrível.Senti braços me puxarem por trás me envolvendo em um abraço.- Aí está o grande caçador! - brincou minha irmã me beijando no rosto.Ela usava um vestido rodado com espartilho simples e sem detalhes.Meus avós também estavam ali e também usavam roupas simples em cores marrons e cinzas.Desd