Assim que cheguei na porta do escritório do meu pai para participar da reunião minha mãe me esperava com as mãos na cintura. Ficou claro que esse não era o plano dela para mim.
- Mãe? - Perguntei para quebrar o silêncio.
- Filho. - Ela assoprou uma mecha de cabelo ruivo, fazendo-a parecer mais jovem. - Eu quero conversar com você.
Ela estendeu o braço e eu o peguei em silêncio, não havia como discutir com Alice e ganhar.
A música da festa foi ficando mais baixa enquanto caminhávamos para os jardins reais. Passamos por um portão de ferro que indicava o primeiro jardim, o Jardim do Sol, onde havia toda variedade de flores, plantas e até árvores de Solares.
Minha mãe caminhava olhando fixamente para frente e então se sentou na mureta da fonte.
- Quando você pretende ir embora? - ela perguntou.
- Hoje após a festa. - Vi a tristeza no seu rosto e depois um sorriso zombeteiro se formar nos cantos dos lábios. - Que foi?
- É que eu queria tirar uma foto de uma flor que fica no alto da campina, mas não tenho ninguém para me acompanhar. - disse fazendo um ar jovial e meigo. - Você conhece algum guerreiro jovem que consiga me ajudar?
Estava pego.
- Mas mãe... - Sabia que era inútil tentar convencer minha mãe. - Está bem, mas só mais um dia.
- É claro. - disse sarcasticamente - Só mais um.
Nos encaramos por um tempo e começamos a rir.
- Você ainda tem o poder de me fazer rir Eduardo. - comentou minha mãe, fazendo eu me sentir envergonhado. - Nunca se esqueça que além de sua Rainha, eu sou sua mãe em primeiro lugar.
- Eu sei mãe. - Ela caminhou até mim, me dando um beijo na testa.
- Vamos voltar para festa, precisamos ser vistos.
- Sim. - concordei me sentindo triste e cansado.
- Vamos fazer assim. - começou minha mãe estendendo seu braço. - Eu lido com os extravagantes e você com os caras de fardas. Pode ser?
Sorri.
- Pode ser.
...
Dormi pesado e acordei com minha mãe abrindo as cortinas.
- Levanta Eduardo, a flor que quero fotografar só abre uma vez no dia e é de manhã. - Ela passou pela minha cama puxando meu pé. - Levanta preguiça, pensei que guerreiros levantavam junto com o Sol.
- Por Lunari mãe, falta quase uma hora para o primeiro brilho do Sol.
- Os cavalos estão prontos e o café da manhã está aqui. - Esfreguei os olhos afastando o sono.
Havia uma bandeja com suco de limão, pão e ovos mexidos com tomates e queijo. - Eu mesma que fiz, me perdi um pouco na cozinha, mas está gostoso. - disse enfiando um bocado de ovos mexidos na boca.
- Mãe. Eu sei que a senhora está tentando me afastar para não falar com o pai e com Quentin.
- Inteligente como meu filho deve ser. - Amarrou o cabelo em um rabo de cavalo relaxado. - Agora coma e vamos, estou te esperando no estábulo real.
Saiu antes que eu pudesse dizer algo.
Comi em silêncio olhando para o quarto e me sentido deslocado.
Quase levei um susto quando os braços de Tori me agarraram pelas costas.
- Bom Dia Percy, se sente mais adulto agora? - disse mordendo o pedaço de pão que estava na minha mão. - O que vai fazer hoje?
- Bom Dia Tori. - Ela estava vestida com sua camisola de seda rosa, então tinha vindo pela passagem secreta. - Mamãe quer que eu vá com ela para a campina tirar fotos.
Tori entortou a boca, um gesto que fazia quando não gostava do que estava acontecendo, encarou minhas mãos e amarrou o cabelo em um coque alto.
- Então... Preparada para o que virá? - perguntei mudando de assunto.
- Não e você? - perguntou ela de volta.
- Não também, mas você vai se sair bem, eu te vi ontem deslizando pelo palácio cheia de sorrisos e graça.
- Meus pés estão doendo e minhas bochechas ficaram com câimbras. - disse apertando-as - Eu queria poder ser como você, viajando pelo mundo e sabendo sobre tudo.
- Tsss. - Bufei - Você não faz ideia do que eu faço.
- Me conta então? - Era isso o que na verdade ela queria saber.
- Por que no outro dia você chamou pelo Nick? - mudei de assunto.
Tori ficou tão vermelha quanto seu cabelo.
Eu sabia que ela tinha uma queda pelo Nick, mas ele havia me prometido de nunca ficaria com a minha irmã.
- Ai, está quente aqui. - ela disse e levantou em um salto. - Eu vou indo, pois tenho um monte de coisas para fazer, te espero no jantar e ainda me deve um dia inteiro.
Minha irmã saiu pela porta, sem se importar de estar apenas de camisola quase transparente, e eu fui ao banheiro, joguei uma água no corpo e vesti minha roupa de treinamento, amarrando meu cabelo em um rabo baixo, e prendendo minha faca serrilhada na cintura.
Desci pela janela para evitar falar com as pessoas que ainda estavam indo embora e então fui até o estábulo.
Minha mãe me esperava ao lado de dois garanhões prateados, ela estava usando uma bermuda caqui, botas de trilha, uma blusa larga branca, um chapéu de palha largo demais, óculos escuros e a câmera fotográfica pendura no pescoço.
- Que demora, hein!? - reclamou colocando as mãos na cintura. - O que aconteceu?
- Tori invadiu meu quarto e conversamos um pouco. - respondi me sentindo estranhamente animado. - Vamos?
Ela subiu no cavalo com graça e eu fiz o mesmo, ou pelo menos tentei.
Cavalgamos um bom tanto por um campo aberto e cheio de flores, depois deixamos os cavalos perto de uma lagoa e seguimos a pé.
- Então, você tem alguma garota ou garoto nesse coração? - perguntou minha mãe do nada, me fazendo ter um ataque de tosse. - Calma Eduardo. - disse batendo em minhas costas.
- Nossa mãe. - Pigarrei - A senhora é meio direta demais as vezes.
- Então...? - Insistiu.
Suspirei e contei até quatro.
- Não mãe, não tenho nada disso no meu coração.
- Então, o que te motiva a levantar todos os dias?
- Meu dever. - disse mais ríspido do que queria.
- Seu dever. - Ela estalou a língua alto. - Interessante.
- O que foi mãe? - Sabia que seria uma longa tarde.
- Nada, mas é que não consigo sentir seu coração nesse "dever". - Minha mãe fez aspas com os dedos - Eduardo, o que está se passando nessa sua cabeça vermelha?
- Nada mãe, e eu também não preciso de nada no meu coração, apenas preciso fazer o melhor para que minha irmã reine em paz.
Caminhamos em silêncio até o alto da campina onde havia uma infinidade ainda maior de flores e também borboletas.
Sentei debaixo de uma árvore enquanto minha mãe tirava fotos de tudo. Após alguns minutos ela se aproximou de mim tirou algumas fotos minhas e então se sentou ao meu lado.
- Meu filho, logo você será um rei e terá que fazer muitas escolhas difíceis. - Ela afagou meu cabelos - Eu só quero ter certeza de que seguirá seu coração e não se arrependerá de nada depois. Quero que seja feliz.
Eu não gostava daquele papo de coração.
- Mãe, eu sei o que você e o pai fizeram no passado. Sei que matou o rei Marcus e que exilou os filhos dele, deixando-os sem nada. - disse com firmeza - Sei que matou também o antigo rei de Vênus e talvez até você tenha mandado matar o seu ex-marido... Foi por causa disso de usar o coração que aconteceu a Lua Sangrenta. - Olhei para ela com uma raiva ardendo em meu peito e ela recuou como se eu a tivesse socado.
- Eu não posso me dar ao luxo de fazer escolhas que possam colocar em risco vidas inocentes, - continuei - ou pior, colocar em risco a vida de algum de vocês. Você tem noção de que o Vovô e a Vovó quase morreram?!
Ela olhou para o sol com lágrimas escorrendo pelo rosto e isso cortou meu coração.
- Me desculpa mãe. - Me aproximei para abraça-la, mas ela me impediu.
- Acho melhor voltarmos. Está ficando tarde.
Ela então se levantou e foi andando na frente.
Por mais que eu fixasse meus olhos no relógio o tempo corria do mesmo jeito lento e isso estava me dando nos nervos.Liguei meu tablet e vi uma mensagem de Nick."- Me ligue, é urgente."Peguei meu celular e estava cheio de chamadas perdidas de Nick.Suspirei encarando o relógio e retornei a ligação.- Percy? - disse Nick com a voz um tanto sonolenta. - Cara, são...- Duas horas da manhã, eu sei. Você me pediu para ligar. O que é tão urgente?- Ah. - exclamou colocando o celular no viva-voz. - Eu vou ter um irmãozinho!- Parabéns. - respondi me sentindo um pouco frustrado por não ser algo tão importante. - Mateus deve estar nas alturas.- Papai está todo atrapalhado, um bobo alegre.- Com quem você está falando? - perguntou uma voz feminina ao fundo - Volta pra cama...- Você não
Quando finalmente anoiteceu e eu fui para o jantar encontrei todos num clima muito estranho.Minha mãe estava sentada, encarando o seu prato e quase não comendo, meu irmão estava distraído e não parava de olhar para a minha mãe de canto de olho e meu pai parecia estar tentando ignorar a situação. Alguma coisa havia acontecido.Terminei de comer e esperei que minha mãe se levantasse, então todos foram saindo da sala. Eu segui Percy e o puxei pelo braço assim que os outros se afastaram.- O que aconteceu? - eu perguntei direta.Ele franziu a testa.- Do que está falando, Tori?- Você sabe do que eu estou falando. Da mamãe. O que aconteceu?- Nada. - ele respo
Sempre odiei pedir desculpas, por isso me esforçava ao máximo para não errar. Eu não dizia tudo que pensava e sorria sempre que havia alguma discórdia, pensava muitas vezes antes de dizer algo e procurava conhecer tudo o que podia sobre uma pessoa para não a ofender, mas, as vezes, simplesmente transbordava o que estava oculto dentro do meu coração e eu falava demais. Quentin me censurava a respeito disso, me dizendo que algum dia se eu não aprendesse a esvaziar o jarro das emoções, ele transbordaria e me afogaria.Coloquei a cabeça para dentro do quarto da minha mãe, e a encontrei vendo os álbuns de fotos. Seus olhos estavam mais brilhantes por causa das lágrimas e seu nariz parecia uma pimenta.- Mãe? - chamei em voz baixa para não assusta-la. - Posso entrar?Ela acenou que sim sem olhar para mim e eu andei meio vacilante até sentar de
Quando amanheceu no dia seguinte eu estava me sentindo cansada, mesmo que no dia anterior eu não tivesse feito nenhum exercício.Era a minha mente que estava cansada de tanto pensar. E eu quase não havia dormido.Fui na reunião com a minha mãe de novo, depois do café da manhã, e dessa vez, quando ela mandou todos embora, eu permaneci sentada.- Mãe, eu dei uma olhada nos pretendentes à primeiro ministro... - eu falei assim que ficamos sozinhas - Acho que há dois deles que serviriam bem para esse cargo.- E quais seriam? - ela quis saber.Entreguei os papéis para ela.- Thomas e Miguel. - respondi - São os melhores candidatos, na minha opinião.Ela encarou os papéis com os lábios apertados e eu tive medo de que ela discordasse de mim.- Acha que eles não são os certos? - perguntei.Ela sorriu para mim.
As batidas dos cascos dos cavalos no solo, somado com o barulho das lanças se chocando eram tão relaxantes que por algum tempo eu tinha me esquecido de todo o fardo de ser rei.Meu pai se preparava para enfrentar Quentin na luta de espadas, e eu sabia que meu pai tinha sido um guerreiro fenomenal em sua juventude, mas Quentin se mantinha em forma e era tão veloz quanto uma flecha.Eles se analisaram por um tempo até que Quentin fingiu mancar da perna esquerda, meu pai viu e atacou pela direita na tentativa de derruba-lo. Quentin fintou firmando a perna esquerda e dando uma estocada certeira no peito do meu pai.- Trapaceiro. - brincou meu pai - Isso não vale.- O intuito do treinamento é simular a batalha, fazer com que nossos reflexos e ações confundam o inimigo e nos dê a vitória.Meu pai aproveitou que meu mentor falava para dar um ataque frontal. Quentin bloqueou com a espada
Assim que saí do banho encontrei uma roupa um tanto peculiar sobre a minha cama. Sorri balançando a cabeça negativamente.Desci para o salão de festa, onde jantaríamos e fiquei muito surpreso com o que minha mãe e minha irmã haviam feito.Estandartes dos reinos estavam pendurados nas paredes, haviam escudos e armaduras colocados nos cantos. Velas e incensos aromatizavam o lugar, uma grande mesa tinha sido colocada no centro do salão e músicos tocavam canções antigas e alegres. Estava tudo incrível.Senti braços me puxarem por trás me envolvendo em um abraço.- Aí está o grande caçador! - brincou minha irmã me beijando no rosto.Ela usava um vestido rodado com espartilho simples e sem detalhes.Meus avós também estavam ali e também usavam roupas simples em cores marrons e cinzas.Desd
Meu irmão foi embora no dia que se seguiu à noite do jantar e depois disso o castelo pareceu ficar mais parado, como se as coisas desacelerassem. O tempo parecia não querer passar mais e isso estava me deixando irritada.Foi assim até que, depois de alguns dias, recebemos uma visita. Era uma moça chamada Xandra, que nos acompanharia em algumas viagens pelos nove reinos para "recrutar" pretendentes para o meu irmão.Xandra era bonita e parecia uma guerreira. Seus cabelos eram pretos e curtos, a pele era bronzeada e o corpo bem definido.Ela passou uma noite no castelo conosco, mas quase não falou comigo. Não parecia o tipo que falava muito ou que fazia muitos amigos.No dia seguinte fomos para a nossa primeira viagem, até o reino de Vênus, que era bem próximo à Solares.Ao chegarmos no reino, Xandra se separou de nós, indo encontrar Dionísia, a primeira
Mateus nos recebeu na entrada assim que chegamos, mas sua esposa não estava com ele.- Camille pede desculpas por não vir receber vocês, - ele disse - ela estava muito cansada.- Tudo bem. - minha mãe respondeu lhe dando um longo abraço. - Eu não esperava que ela estivesse acordada ainda, já está bem tarde.Mateus sorriu e me abraçou também, depois acenou com a cabeça para Xandra.- Você deve ser a senhorita Xandra... Muito prazer.- Majestade... - ela cumprimentou com uma reverência.- Fiquem à vontade. - ele disse - Devem estar cansadas.- Pode deixar que eu acompanho elas até os quartos, pai. - Nicholas se ofereceu.Ele então nos levou até o andar de cima, deixando cada uma em seu quarto, até que sobrou só nós dois.Assim que ficamos sozinhos Nicholas se aproximou mais de mim, quase