PardalNão foi nada fácil pra mim escutar aquelas parada que a Malu falou. Eu juro, senti como se uma faca estivesse penetrando meu coração. Doeu pra caralho. Só que, às vezes, nós precisa de um choque de realidade pra entender certas coisas.Eu ainda não tinha percebido que poderia perder minha mandada do capiroto, até ouvir aquelas porra. Sério, acho que nunca senti por nenhuma mina o que ela despertou em mim. Já comi várias, mas sempre foi pente e rala, só que, com a Malu, nunca consegui agir assim. Não sei explicar nem pra mim mesmo o que acontece, mas quando minha mina chega perto, o coração acelera e o caralho.Sim, pela primeira vez em tempos, eu chorei e, quando ela se saiu pro quarto da nossa cria, sentei na cama e chorei feito a porra de um garotinho e isso até me fez lembrar da época em que eu era exatamente isso, um garotinho indefeso, porém, isso me fez acordar e perceber que eu não posso mais me vitimizar. A Malu passou por muita coisa quando era mais nova e conseguiu se
MaluNão foi dessa forma que eu planejei contar ao meu marido que estava grávida, esperando um filho dele, mas diante da situação em que eu me encontrava, o meu desespero falou muito mais alto do que a minha razão, porque, naquele momento, mesmo eu tendo planejado tudo minuciosamente e lembrando o quão atencioso ele vinha sendo durante a última semana, eu jamais imaginei que o Pardal fosse reagir daquela forma.Ele nem mesmo queria me permitir explicar, deixou que o ódio falasse mais alto.— Que porra tu tá falando, Malu? — ele me pergunta, abaixando um pouco a arma.Nesse momento, até o Perigo está me encarando, tão surpreso quanto meu marido.— Estou grávida. Estou esperando um filho seu. — minha voz soa praticamente em um sussurro.— E quem garante que não é desse viadinho pau no cu aí ou de qualquer outro? Eu te vi beijando ele, caralho! Acha que sou idiota? — Pardal, pelo amor de qualquer coisa, se ouve! — suplico, tentando me aproximar dele, que me afasta bruscamente.— Não che
Malu— Finalmente você acordou. — meus olhos e minha cabeça estão pesados, mas consigo ouvir perfeitamente essa voz.— Onde estou? — pergunto meio grogue e com sede.— Na Rocinha, Malu. — a Maju aparece em minha frente e, olhando ao redor, vejo que estou em um postinho.— Como assim, na Rocinha? — passo a mão no rosto e sento na maca, totalmente confusa.— Demos um jeito de te tirar do morro ontem. — responde, sentando na brechinha ao meu lado.— Mas como? — franzo o cenho.— Tive ajuda do Grego e do Coringa.— Não tô entendendo nada, Maju. Eles dois são da mesma laia do Pardal, como aceitaram me ajudar? — constato o que havia pensado, mas permaneço incrédula de isso ter, de fato, acontecido.— Tu tá errada, Malu. Eles dois não são nada parecidos com o Pardal, que me dá nojo só em tocar no nome desse escroto de merda — ela faz careta, como se realmente estivesse com muita raiva — Apesar de serem bandidos, são completamente diferentes do que pensei e são capazes de qualquer coisa por m
PardalEu tava com o sangue e a mente fervendo com a invasão no morro, mas isso não era o bastante, porque pra ferrar ainda mais com meu psicológico, encontrei minha mulher nos braços de outro e ela ainda me diz que está grávida de mim. Como assim, caralho? Naquele momento, eu só queria que qualquer um me tirasse do sério ou me dissesse um ai que fosse, porque seria o suficiente pra eu descarregar meu ódio no filho da puta. Fui fazer os corre em relação ao sepultamento das pessoas que morreram e garantir, também, que todos os feridos tivessem um bom atendimento no postinho e ficassem bem.Quando acabei tudo, mandei que um dos meus soldados ficasse de guarda lá no barracão, não pela mandada, já que ela, provavelmente, estaria com medo de mim e não tentaria fugir. Pelo menos era o que eu pensava. Mas fiz isso por causa do Perigo, ele é bem treinado, assim como todos os que trabalham pra mim, então não teria dificuldade alguma em meter o pé e ainda levar minha mina.Depois de tudo já or
MaluQuando ouvi o soldado do Coringa dizendo que meu marido havia sido preso, por mais raiva, ódio e tantas outras coisas que eu estivesse sentindo dele, não me impediu de ver o meu mundo desabando naquele momento. Nunca desejei mal ao Pardal, até porque ele é o pai dos meus filhos, o que aconteceria dali em diante?— Como assim, levaram o Pardal? Passa essa fita direito aí. — Coringa pede ao soldado.— Tá passando no jornal, patrão. O assalto que eles foram fazer deu ruim e ele não conseguiu fugir a tempo. Olha isso. — mostra algo no visor do celular.Tento me aproximar deles para olhar e vejo meu marido sendo tirado do camburão de uma viatura. Ele está de cabeça baixa, mesmo estando mascarado, consigo reconhecê-lo. Está sendo levado para dentro da delegacia por um policial e os repórteres ao redor tentando arrancar alguma informação sobre o ocorrido.Pardal entra na delegacia e o perdemos de vista.— Eu preciso vê-lo. Preciso saber se ele tá bem. — sou tomada por uma onda de nervos
PardalQuando me colocaram naquele camburão, não pensei em mim, nem mesmo no que poderia acontecer comigo, ou na dor que estava sentindo na perna, devido à bala que, possivelmente, estava instalada e tava doendo pra caralho, mas, mesmo diante disso, eu só conseguia pensar em três pessoas: minha coroa, minha mandada e minha cria.Chegamos na delegacia e o pau no cu do policial veio com um risinho, como se estivesse cantando vitória, para me tirar dali, literalmente, me puxando e me fazendo arrastar a perna no chão do camburão. Naquele momento, tive certeza de que, caso a bala não tivesse penetrado minha pele, agora isso tinha acontecido.Sabia que o cu azul fez aquilo de propósito, então, mesmo com muita dor, reprimi o gemido, comprimindo meus lábios, não dando a ele o gostinho de me ver sofrendo, porque na merda eu já estava. Ele foi me arrastando e eu tentava desviar minha mente da dor e focar no ódio que eu tava começando a sentir pelos abutres que estavam ao redor da viatura e em t
Malu— Então, Laila, será que dessa vez vamos conseguir descobrir o sexo do meu bebê? — pergunto, logo após sentar na cadeira de frente para ela.Desde que o Pardal foi preso, passaram-se aproximadamente duas semanas, mas ainda assim, precisei insistir muito para que a Maju e o Coringa concordassem que eu retornasse ao meu trabalho no hospital. Como ambos estavam preocupados com o fato de o Grego também ter sido preso, digamos que isso me ajudou bastante na hora de convencê-los.Os dois estavam muito cansados mentalmente, tentando pensar em algo que pudesse contar para uma possível fuga do manda-chuva da facção e, consequentemente, do Pardal que, obviamente, não seria deixado para trás.A Maju vem tentando me convencer do contrário, afirmando que os namorados estão muito irritados com meu marido — se é que ainda posso chamá-lo assim —, então, a possibilidade de ele ser mantido preso, ainda que mínima, existia.Honestamente, eu não sei dizer se isso me amedronta ou consola. Porque, mes
MaluNossos olhares se encontram e meu coração salta outra vez ao notar o quanto ele permanece lindo, mesmo estando um pouco diferente com os cabelos cortados. Pardal me olha com as sobrancelhas arqueadas, como se não acreditasse que realmente está me vendo.— Malu? É tu mermo? — me olha de cima a baixo, mirando minha barriga por alguns segundos e juro que tentei evitar, mas acabo revirando os olhos.— Sim, sou eu. Em carne e osso. Posso sentar? — aponto para a cadeira.— Deve. — noto uma dose de entusiasmo em sua voz.Puxo a cadeira e sento. — Como você está? — resolvo quebrar o silêncio que havia se instalado entre nós, minutos atrás.— Fodido, mas bem. E tu e o nosso moleque? — Sente sua falta, ele não sabe onde você está e me pergunta todo dia quando poderá te ver. Pardal desvia o olhar do meu, mas não consigo decifrar o que se passa em sua mente.— Sinto falta dele também. Aliás, de vocês dois. — Não precisa mentir, Pardal. — Tô mentindo, não, pô. Sei que tu tem todas as raz