PardalQuando me colocaram naquele camburão, não pensei em mim, nem mesmo no que poderia acontecer comigo, ou na dor que estava sentindo na perna, devido à bala que, possivelmente, estava instalada e tava doendo pra caralho, mas, mesmo diante disso, eu só conseguia pensar em três pessoas: minha coroa, minha mandada e minha cria.Chegamos na delegacia e o pau no cu do policial veio com um risinho, como se estivesse cantando vitória, para me tirar dali, literalmente, me puxando e me fazendo arrastar a perna no chão do camburão. Naquele momento, tive certeza de que, caso a bala não tivesse penetrado minha pele, agora isso tinha acontecido.Sabia que o cu azul fez aquilo de propósito, então, mesmo com muita dor, reprimi o gemido, comprimindo meus lábios, não dando a ele o gostinho de me ver sofrendo, porque na merda eu já estava. Ele foi me arrastando e eu tentava desviar minha mente da dor e focar no ódio que eu tava começando a sentir pelos abutres que estavam ao redor da viatura e em t
Malu— Então, Laila, será que dessa vez vamos conseguir descobrir o sexo do meu bebê? — pergunto, logo após sentar na cadeira de frente para ela.Desde que o Pardal foi preso, passaram-se aproximadamente duas semanas, mas ainda assim, precisei insistir muito para que a Maju e o Coringa concordassem que eu retornasse ao meu trabalho no hospital. Como ambos estavam preocupados com o fato de o Grego também ter sido preso, digamos que isso me ajudou bastante na hora de convencê-los.Os dois estavam muito cansados mentalmente, tentando pensar em algo que pudesse contar para uma possível fuga do manda-chuva da facção e, consequentemente, do Pardal que, obviamente, não seria deixado para trás.A Maju vem tentando me convencer do contrário, afirmando que os namorados estão muito irritados com meu marido — se é que ainda posso chamá-lo assim —, então, a possibilidade de ele ser mantido preso, ainda que mínima, existia.Honestamente, eu não sei dizer se isso me amedronta ou consola. Porque, mes
MaluNossos olhares se encontram e meu coração salta outra vez ao notar o quanto ele permanece lindo, mesmo estando um pouco diferente com os cabelos cortados. Pardal me olha com as sobrancelhas arqueadas, como se não acreditasse que realmente está me vendo.— Malu? É tu mermo? — me olha de cima a baixo, mirando minha barriga por alguns segundos e juro que tentei evitar, mas acabo revirando os olhos.— Sim, sou eu. Em carne e osso. Posso sentar? — aponto para a cadeira.— Deve. — noto uma dose de entusiasmo em sua voz.Puxo a cadeira e sento. — Como você está? — resolvo quebrar o silêncio que havia se instalado entre nós, minutos atrás.— Fodido, mas bem. E tu e o nosso moleque? — Sente sua falta, ele não sabe onde você está e me pergunta todo dia quando poderá te ver. Pardal desvia o olhar do meu, mas não consigo decifrar o que se passa em sua mente.— Sinto falta dele também. Aliás, de vocês dois. — Não precisa mentir, Pardal. — Tô mentindo, não, pô. Sei que tu tem todas as raz
PardalOs dias estavam passando e eu ficava cada vez mais ansioso e sem esperança de que nós pudesse sair daquele inferno. Todo santo dia eu perguntava ao Grego se tinha alguma novidade ou se ele sabia se havia alguém por trás da nossa prisão, mas a resposta era sempre a mesma: relaxa o cu, que eu tô cuidando de tudo. Se a intenção desse filho da puta era me acalmar, tava era me deixando mais irritado e puto. Toda noite, antes de dormir, eu fazia um risquinho na parede com um prego fino que encontrei em uma das vezes em que nos liberaram pra tomar sol, jogar uma partidinha de futebol, coisas desse tipo. Esse risquinho significava a quantidade de dias que eu já estava no xilindró, esperando que algum milagre acontecesse para nos tirar dali.Milagre... Essa palavra tem tantos significados e eu já nem sei se acredito que realmente existe mermo.Noite passada, antes de nós ir dormir, os pau no cu dos guardinha avisou que seria dia de visita na manhã seguinte. Honestamente, se eles tinham
MaluPermaneci na Rocinha nas últimas semanas, mesmo a Maju não estando em casa, porque, pelo que entendi, ela teve a ideia louca de se infiltrar na penitenciária. Desde que ela me contou isso, o tempo todo fui contra, na verdade, não só eu, o próprio Grego e o Coringa também, e nada tirava da minha mente o quanto isso era arriscado, porém, aquela garota não estava nem aí, acredito que seria capaz de qualquer coisa pelos namorados.Mas eu tinha absoluta certeza de que, se ela pudesse fazer a cabeça dos meninos para deixar o Pardal preso, ela nem pensaria duas vezes e, honestamente, pelo jeito que vi eles quase espumando quando souberam o que aconteceu comigo e que, por pouco, não fui morta pelo meu marido, não seria nenhuma novidade para mim que eles realmente o deixassem apodrecer na cadeia.Quando fiquei sabendo do dia em que eles tentariam uma fuga, confesso que fiquei bastante apreensiva. Não posso negar que, mesmo sem querer, as palavras do Pardal mexeram muito comigo, eu queria
PardalAssim que nós chegou no morro da Rocinha, após ter sucesso em nossa fuga, fizeram, literalmente, uma festa. Obviamente, que eu não era o anfitrião, porque nada ali me pertencia e eu sabia que só tinha conseguido sair do xilindró tão rápido por causa do Grego, porque era bem provável que, se ele não tivesse sido preso também, certamente, eu apodreceria lá. Afinal, quem em sã consciência se preocuparia com um filho da puta como eu?Beleza, acho que não sou o pior ser humano da face da terra, deve ter piores, mas sendo bem sincero, não sou merda nenhuma, nem mereço nada.O barulho de fogos de artifícios e tiros, era ensurdecedor, porém, dessa vez, não era nada assustador, nem pra botar ninguém pra correr. Era um gesto pra demonstrar que nossa vitória havia sido decretada. Lili cantou e nós tamo livre, caralho!— Bora colar lá em casa — Coringa sugeriu, depois de ele e o Grego cumprimentarem os soldados, que estavam mó felizes pela liberdade do manda-chuva — Geral tá lá.— Até a Ma
PardalAlguns dias depois, chegou a hora de acertar as contas com as pessoas que me traíram. Meu ódio era tanto, que eu pretendia olhar na cara de cada um deles, antes de matar, porque, sim, eu iria matar um por um.Antes de partimos pro CDD, nos despedimos de nossas mina e, no meu caso, do meu moleque, confesso que fiquei surpreso em saber que eu seria pai de uma menina e juro que tentei, mas foi mais forte do que eu. Acabei ficando emocionado e tentei reprimir meus sentimentos, porém, não era possível, naquele momento eu percebi que tava mudando e me tornando um novo homem. Um homem de verdade.— Qual foi, Pardal, vai chorar mermo, é? — os pau no cu ficaram tirando com minha cara, quando entramos nos carros pra ir até meu morro.— Vou te mostrar quem tá chorando, otário. — respondi sério e eles riram.Não demoramos a chegar no morro e já fomos logo metendo o louco, atirando pra tudo que era lado. Como eu tava em contato com uns cabeça de confiança, eles avisaram que ia ter toque de
MaluOs últimos dias foram bem corridos, porque, além das provas que tive na faculdade, com o retorno do Pardal, o Rael só queria estar perto dele o tempo todo, tivemos, inclusive, que deixá-lo passar umas noites com a avó, para deixá-lo com o pai. Será assim enquanto eu não decidir o que fazer. Não posso voltar para minha antiga casa — a que eu morava antes de me juntar ao meu marido — porque tenho certeza de que ele jamais me deixaria em paz. Mas por um lado isso foi muito bom, porque fiquei sabendo que o Pardal ficou muito mal depois de descobrir que foi traído por um dos seus melhores soldados e amigos. Não sei muita coisa a respeito da vida dele, porque, mesmo quando morávamos juntos, meu marido não me falava absolutamente nada sobre o passado dele, não se abria. Então, tendo o Rael por perto, talvez ele conseguisse se distrair.Hoje é sábado e terá um baile no CDD, em comemoração a liberdade do Pardal e, consequentemente, a ele ter retomado o comando do morro. Desde que ficamos