Malu— Finalmente você acordou. — meus olhos e minha cabeça estão pesados, mas consigo ouvir perfeitamente essa voz.— Onde estou? — pergunto meio grogue e com sede.— Na Rocinha, Malu. — a Maju aparece em minha frente e, olhando ao redor, vejo que estou em um postinho.— Como assim, na Rocinha? — passo a mão no rosto e sento na maca, totalmente confusa.— Demos um jeito de te tirar do morro ontem. — responde, sentando na brechinha ao meu lado.— Mas como? — franzo o cenho.— Tive ajuda do Grego e do Coringa.— Não tô entendendo nada, Maju. Eles dois são da mesma laia do Pardal, como aceitaram me ajudar? — constato o que havia pensado, mas permaneço incrédula de isso ter, de fato, acontecido.— Tu tá errada, Malu. Eles dois não são nada parecidos com o Pardal, que me dá nojo só em tocar no nome desse escroto de merda — ela faz careta, como se realmente estivesse com muita raiva — Apesar de serem bandidos, são completamente diferentes do que pensei e são capazes de qualquer coisa por m
PardalEu tava com o sangue e a mente fervendo com a invasão no morro, mas isso não era o bastante, porque pra ferrar ainda mais com meu psicológico, encontrei minha mulher nos braços de outro e ela ainda me diz que está grávida de mim. Como assim, caralho? Naquele momento, eu só queria que qualquer um me tirasse do sério ou me dissesse um ai que fosse, porque seria o suficiente pra eu descarregar meu ódio no filho da puta. Fui fazer os corre em relação ao sepultamento das pessoas que morreram e garantir, também, que todos os feridos tivessem um bom atendimento no postinho e ficassem bem.Quando acabei tudo, mandei que um dos meus soldados ficasse de guarda lá no barracão, não pela mandada, já que ela, provavelmente, estaria com medo de mim e não tentaria fugir. Pelo menos era o que eu pensava. Mas fiz isso por causa do Perigo, ele é bem treinado, assim como todos os que trabalham pra mim, então não teria dificuldade alguma em meter o pé e ainda levar minha mina.Depois de tudo já or
MaluQuando ouvi o soldado do Coringa dizendo que meu marido havia sido preso, por mais raiva, ódio e tantas outras coisas que eu estivesse sentindo dele, não me impediu de ver o meu mundo desabando naquele momento. Nunca desejei mal ao Pardal, até porque ele é o pai dos meus filhos, o que aconteceria dali em diante?— Como assim, levaram o Pardal? Passa essa fita direito aí. — Coringa pede ao soldado.— Tá passando no jornal, patrão. O assalto que eles foram fazer deu ruim e ele não conseguiu fugir a tempo. Olha isso. — mostra algo no visor do celular.Tento me aproximar deles para olhar e vejo meu marido sendo tirado do camburão de uma viatura. Ele está de cabeça baixa, mesmo estando mascarado, consigo reconhecê-lo. Está sendo levado para dentro da delegacia por um policial e os repórteres ao redor tentando arrancar alguma informação sobre o ocorrido.Pardal entra na delegacia e o perdemos de vista.— Eu preciso vê-lo. Preciso saber se ele tá bem. — sou tomada por uma onda de nervos
PardalQuando me colocaram naquele camburão, não pensei em mim, nem mesmo no que poderia acontecer comigo, ou na dor que estava sentindo na perna, devido à bala que, possivelmente, estava instalada e tava doendo pra caralho, mas, mesmo diante disso, eu só conseguia pensar em três pessoas: minha coroa, minha mandada e minha cria.Chegamos na delegacia e o pau no cu do policial veio com um risinho, como se estivesse cantando vitória, para me tirar dali, literalmente, me puxando e me fazendo arrastar a perna no chão do camburão. Naquele momento, tive certeza de que, caso a bala não tivesse penetrado minha pele, agora isso tinha acontecido.Sabia que o cu azul fez aquilo de propósito, então, mesmo com muita dor, reprimi o gemido, comprimindo meus lábios, não dando a ele o gostinho de me ver sofrendo, porque na merda eu já estava. Ele foi me arrastando e eu tentava desviar minha mente da dor e focar no ódio que eu tava começando a sentir pelos abutres que estavam ao redor da viatura e em t
Malu— Então, Laila, será que dessa vez vamos conseguir descobrir o sexo do meu bebê? — pergunto, logo após sentar na cadeira de frente para ela.Desde que o Pardal foi preso, passaram-se aproximadamente duas semanas, mas ainda assim, precisei insistir muito para que a Maju e o Coringa concordassem que eu retornasse ao meu trabalho no hospital. Como ambos estavam preocupados com o fato de o Grego também ter sido preso, digamos que isso me ajudou bastante na hora de convencê-los.Os dois estavam muito cansados mentalmente, tentando pensar em algo que pudesse contar para uma possível fuga do manda-chuva da facção e, consequentemente, do Pardal que, obviamente, não seria deixado para trás.A Maju vem tentando me convencer do contrário, afirmando que os namorados estão muito irritados com meu marido — se é que ainda posso chamá-lo assim —, então, a possibilidade de ele ser mantido preso, ainda que mínima, existia.Honestamente, eu não sei dizer se isso me amedronta ou consola. Porque, mes
MaluNossos olhares se encontram e meu coração salta outra vez ao notar o quanto ele permanece lindo, mesmo estando um pouco diferente com os cabelos cortados. Pardal me olha com as sobrancelhas arqueadas, como se não acreditasse que realmente está me vendo.— Malu? É tu mermo? — me olha de cima a baixo, mirando minha barriga por alguns segundos e juro que tentei evitar, mas acabo revirando os olhos.— Sim, sou eu. Em carne e osso. Posso sentar? — aponto para a cadeira.— Deve. — noto uma dose de entusiasmo em sua voz.Puxo a cadeira e sento. — Como você está? — resolvo quebrar o silêncio que havia se instalado entre nós, minutos atrás.— Fodido, mas bem. E tu e o nosso moleque? — Sente sua falta, ele não sabe onde você está e me pergunta todo dia quando poderá te ver. Pardal desvia o olhar do meu, mas não consigo decifrar o que se passa em sua mente.— Sinto falta dele também. Aliás, de vocês dois. — Não precisa mentir, Pardal. — Tô mentindo, não, pô. Sei que tu tem todas as raz
PardalOs dias estavam passando e eu ficava cada vez mais ansioso e sem esperança de que nós pudesse sair daquele inferno. Todo santo dia eu perguntava ao Grego se tinha alguma novidade ou se ele sabia se havia alguém por trás da nossa prisão, mas a resposta era sempre a mesma: relaxa o cu, que eu tô cuidando de tudo. Se a intenção desse filho da puta era me acalmar, tava era me deixando mais irritado e puto. Toda noite, antes de dormir, eu fazia um risquinho na parede com um prego fino que encontrei em uma das vezes em que nos liberaram pra tomar sol, jogar uma partidinha de futebol, coisas desse tipo. Esse risquinho significava a quantidade de dias que eu já estava no xilindró, esperando que algum milagre acontecesse para nos tirar dali.Milagre... Essa palavra tem tantos significados e eu já nem sei se acredito que realmente existe mermo.Noite passada, antes de nós ir dormir, os pau no cu dos guardinha avisou que seria dia de visita na manhã seguinte. Honestamente, se eles tinham
MaluPermaneci na Rocinha nas últimas semanas, mesmo a Maju não estando em casa, porque, pelo que entendi, ela teve a ideia louca de se infiltrar na penitenciária. Desde que ela me contou isso, o tempo todo fui contra, na verdade, não só eu, o próprio Grego e o Coringa também, e nada tirava da minha mente o quanto isso era arriscado, porém, aquela garota não estava nem aí, acredito que seria capaz de qualquer coisa pelos namorados.Mas eu tinha absoluta certeza de que, se ela pudesse fazer a cabeça dos meninos para deixar o Pardal preso, ela nem pensaria duas vezes e, honestamente, pelo jeito que vi eles quase espumando quando souberam o que aconteceu comigo e que, por pouco, não fui morta pelo meu marido, não seria nenhuma novidade para mim que eles realmente o deixassem apodrecer na cadeia.Quando fiquei sabendo do dia em que eles tentariam uma fuga, confesso que fiquei bastante apreensiva. Não posso negar que, mesmo sem querer, as palavras do Pardal mexeram muito comigo, eu queria