MaluFico ainda um tempo parada, porque não consigo acreditar no que acabei de ouvir. Ele realmente disse o que acho que ele disse? Não, não pode ser, devo estar enlouquecendo. E se realmente isso for verdade, que tipo de amor é esse mesquinho? Que não dá a mínima para o outro? Dispenso! Não, não vou cair em suas garras, em sua conversinha fiada, para tentar me ludibriar e me manter presa a ele. Já chega, Maria Luiza! Chega!Sem dizer nenhuma palavra, me afasto dele e saio às pressas do quarto, retornando aonde deixei minha amiga e meu filho.— Vamos. — digo, passando como um furacão pela porta a fora.— Ei! O que foi, criatura? Viu um fantasma, foi? — Yasmin pergunta, segurando em meu braço com uma mão e meu filho com a outra.— O que foi que eu tô exausta, cansada e só tá faltando isso aqui ó — mostro a ela meus dedos indicador e polegar — Pra eu sumir do mapa e ninguém nunca mais me ver.Solto a respiração que nem percebi ter prendido.— Tá fumando, fia? Bebeu? Cheirou? Tu não é n
Malu— Malu? Amiga? — a voz da Yasmin me faz voltar à realidade, pois, eu estava petrificada, até segundos atrás.Pisco algumas vezes.— Aconteceu alguma coisa? — ela pergunta.— Não sei, mas acho que estou prestes a descobrir. — meu coração está errando as batidas, de tão nervosa que fiquei com as imagens que recebi.— Como assim? Tu tá me deixando preocupada, mona.— Olha isso, Ys. Olha essas fotos e essa mensagem. — viro a tela para ela, lhe mostrando.Número desconhecido: Chegou a hora de você descobrir que o Pardal está te enganando…Só veio isso escrito, nada mais. E as fotos são bastante reveladoras, uma mulher com as mãos no rosto dele, ele segurando os cabelos dela, os dois bem pertinho. Ai que ódio!— E se isso for mentira, Malu? E se alguém estiver fazendo uma brincadeira de mal gosto com você? Pode ser a Agatha, tentando te separar do Pardal. — divide seu olhar entre mim e o visor do celular.— Não tô te entendendo, Yasmin — a encaro séria — Quer que eu continue sendo feit
PardalOs problemas ultimamente têm se acumulado aos montes, e depois que a Lia chegou em meu morro só fodeu ainda mais com tudo. Depois daquela vez em que quase fodemos lá na boca, eu juro que tô tentando me manter distante dessa porra, mas como fazer isso, se precisamos trabalhar juntos? A ordem pra ela ficar aqui veio dos manda-chuva e eu não poderia contrariar eles.Pra completar ainda mais esse caralho, os cu azul estão ameaçando invadir o CDD, venho tentando um acordo com esses pau no cu há semanas, mas tudo isso envolve dinheiro. Tem que molhar a mão deles e, no momento, não temos grana suficiente pra isso. Aí teríamos que fazer uns corre no asfalto e até isso tá russo.Só sei que junta essa porra toda e minha mente fica fervendo.Eu tava na boca, fui logo cedo porque o carregamento tava pra chegar — apesar de que eles demoraram um pouco — e, mesmo sabendo que os menor fazem tudo certinho, desde a conferência dos bagulho, até os pagamentos, gosto de estar presente pra me certif
MaluNão sei quanto tempo passou desde que voltei para casa, só sei que durante todo esse tempo fiquei sentada no chão do quarto, pensando no que fazer. Pensei no Rael, lembrei de todas as agressões que sofri nas mãos da minha mãe, antes de ela morrer. Pensei que, certamente, eu não iria querer que meu filho passe pelo mesmo nas mãos do pai e, de tanto pensar, sinto um enjoo terrível e não consigo evitar. Levanto correndo com a mão na boca e me abaixo diante do sanitário, colocando tudo para fora e olha que quase não me alimentei hoje.Praticamente só saiu água, talvez seja devido ao meu estômago vazio. Respiro fundo, abaixo a tampa do sanitário e sento no chão, apertando o botão da descarga. Passo o dorso da mão na boca, limpando-a e decido levantar.Lavo meu rosto, escovo os dentes para tirar o gosto de vômito e volto para o quarto. Pego o celular para verificar as horas e vejo que se eu realmente pretendo fazer algo, terei que adiantar, porque já está perto de anoitecer e daqui a p
Dona SuzanaMe relacionei com o pai do Samuel muito cedo, acredito que, na época, eu não tinha mais do que quatorze anos, não lembro com exatidão, mas sei que eu era muito nova. Sempre morei no morro, mas assim como diversas garotas da minha idade, eu gostava de viver a vida como se não houvesse amanhã. Esse é um dos maiores males da juventude, porque o amanhã existe e, com ele, vem as consequências, que nem sempre são boas. Conheci o pai dele, que me fez juras de amor, me prometeu mundos e fundos e eu, é claro, caí feito uma patinha na conversa dele. Homem de lábia, sabe exatamente o que dizer para ganhar uma mulher. Não vou dizer que não o amei, pois, amei, sim. E acredito que ele também tenha sentido algo por mim, não sei se foi amor, mas como me tratava bem durante alguns anos, quando ainda namorávamos, deve ter havido algum tipo de sentimento.Com o passar dos anos, engravidei e ele não aceitou muito bem esse fato, aliás, foi nesse momento em que tudo mudou, porque descobri que
MaluEu estava com o coração dilacerado, em minha mente havia um turbilhão de pensamentos e sentimentos. Eu não sabia exatamente o que pensar e, para falar a verdade, a pessoa em quem eu mais pensava era em meu filho. O que deveria estar passando na cabecinha ingênua do Rael? Ele me viu sendo agredida pelo pai, isso é algo que nenhuma criança deveria ver. Quando chegamos na casa da minha sogra, eu ainda estava com a mente longe, não sabia nem mesmo o que pensar e comecei a agir no automático.— É melhor vocês tomarem um banho e descansar, querida. O dia hoje foi cheio. — ela diz, sem querer prolongar o assunto.Agradeço mentalmente por isso, porque não quero que falemos sobre isso na frente do Rael e, principalmente, do Vitor, que não sabe o que está acontecendo.— Vou esquentar a sopa pra vocês tomarem, antes de dormir. Levei um pouco pra lá, mas você sabe... — deixa a frase no ar, comprimindo os lábios, formando uma linha reta.— Tudo bem. — me restrinjo a dizer somente isso.Dona
MaluDias depois...Permaneci os últimos dias, depois do ocorrido com o Pardal, na casa da minha sogra. Não, nunca foi minha vontade fazer isso, eu queria mesmo era voltar para minha casa — lugar esse de onde eu nunca deveria ter saído — porém, eu sabia, ou melhor, tinha certeza de que meu marido — se é que ainda posso chamá-lo assim — não me deixaria em paz, tentando me fazer voltar a casa dele. Sim, a casa dele, porque já não sinto mais que é nossa. Tudo mudou a partir do momento em que aquele ogro resolveu meter a mão em minha cara.Mas, ainda assim, ele não facilitou as coisas para mim. No dia seguinte, era domingo, eu estava de folga e não queria vê-lo nem pintado de ouro, contudo, cara de pau do jeito que ele é, teve a audácia de aparecer na casa da mãe dele, quando eu estava de saída, indo levar o Vitor para a instituição. Fiquei puta da vida! Pardal tentou me persuadir, prometendo mundos e fundos, mas eu não conseguia acreditar em uma só palavra do que ele dizia. Não depois d
MaluNaquele momento, eu queria muito parar de sorrir feito uma idiota. Ainda fiquei um tempo encostada na porta, recobrando a consciência de que eu não podia me deixar ser afetada dessa forma pelo Pardal.— Acho que alguém viu o passarinho verde... — minha sogra me fez sair dos meus devaneios, quando saiu da cozinha, secando as mãos em um pano de pratos.— Não é nada disso que está pensando. — me recompus e respondi.— Urrum. Sei... Conheço essa carinha, Malu, não precisa mentir pra mim. A propósito, quem estava aí? — me analisou e meneou a cabeça em direção a porta.— Anh... Seu filho. — falei sem graça, evitando encará-la.— E, porque está com essa cara? Acha que vou te dar esporro por causa disso? — Não, é que... Sei lá, não sei explicar, mas me sinto tão errada. O Pardal sabe que mexe comigo, ele não é bobo, faz essas coisas de propósito. — soltei um longo suspiro e murchei os ombros.— Vem cá, senta aqui. — chamou e deu dois tapinhas no assento do sofá, após sentar.Por sorte,