MaluDias depois…Semana passada, Yasmin e eu aproveitamos para levar as cestas básicas para a instituição, foi maravilhoso ver o sorriso de satisfação no rosto da Aline e a “festa” que os acolhidos por ela e toda a equipe da casa Apoio Fraternal fizeram. Aquilo encheu o nosso coração de alegria e me mostrou que, podemos não conseguir mudar o mundo, mas o pouco que fazemos, já é muito para algumas pessoas.Os dias foram passando tranquilamente, sem muita novidade e aquele episódio do Pardal não voltou a se repetir. Porém, ainda assim, estou com um olho aberto e outro arregalado, não sou o tipo de mulher que atura esse tipo de situação.Nesse momento, estou discutindo com a Yasmin sobre o meu aniversário, que é hoje, no entanto, já havia deixado claro para ela que não queria festa. Mas minha amiga é do tipo festeira e quando coloca uma coisa na cabeça, só Deus para tirar.— Eu já disse que não quero festa, Ys. — tento convencê-la, enquanto termino de organizar os pratos limpos no escor
Malu— Ah, tu chegou… Bem que eu ouvi um baru… — Samuel está saindo do banheiro, com uma toalha enrolada na cintura e secando os cabelos cacheados com outra, mas para de falar ao me encarar — O que tá rolando? Que bagulho é esse aí?Ele aponta com o queixo para a caixa no chão e eu estou tão assustada, que não consigo respondê-lo.— Qual foi, Malu? O que tem ali? — É… — até tento responder, mas parece que minha voz se recusa a sair.Cansado de ficar me perguntando, ele vai até a caixa e a pega nas mãos. Divide o olhar entre mim e o objeto, com o cenho franzido. — Quem deixou esse caralho aqui? — Eu… Eu não sei, Samuel… — sinto meu corpo todo trêmulo.Quando abri a caixa, havia uma cabeça humana dentro, com os olhos abertos, como se quem o estivesse matado, não tivesse fechado os olhos do defunto, propositalmente.— Foi você quem fez essa brincadeira de mau gosto comigo? — pergunto, sentindo meus olhos lacrimejarem.— Tá doida? Bebeu? Claro que não fui eu. Que razão eu teria pra faz
Malu— O quê? Como assim? — me atrapalho nas palavras, porque não sei como reagir a isso.— A Aline que me ligou, ela já está desesperada e sem saber o que fazer, já procurou em todos os lugares possíveis. — noto certa aflição na voz da Ys.— O que estamos esperando? Precisamos ajudar a encontrá-lo. — passo por ela, indo em direção a entrada da cozinha.— Malu, espera, criatura! — ela grita e, como não lhe dou atenção, põe a mão em meu ombro e me puxa novamente.— Dá pra parar com isso, Yasmin? — grito, irritada e sem a menor paciência.— Me escuta, tu não pode fazer nada, só nos resta esperar por notícias.— Podemos ajudar, nem que seja com apoio emocional. — lhe dou as cotas e saio andando.— Puta que pariu! — ouço-a reclamar, mas não dou importância.— Preciso que alguém me leve até a instituição. — digo em tom de ordenança, assim que me aproximo do meu marido, que estava conversando com alguns dos seus soldados.— Fazer o quê lá uma hora dessas? Tá ligada, não?— O Rael sumiu, Par
MaluSeis meses depois…— Tá na hora de acordar, príncipe. — chamo-o baixinho.Sei que ele já está acordado, mas ama fazer manha.— Ah, então vai ser do jeito difícil, né? Ok. — dito isto e não obtendo resposta, puxo o lençol do seu corpo e faço cócegas.— Aaaah! So… Corro… Mamãe… — ele diz com a voz entrecortada e sem fôlego.— Ah, decidiu parar de fingir, né? — paro e o encaro sorrindo — Por que ama fingir que está dormindo? Sabe que precisa ir à escola, meu amor. Mamãe tem que ir para o hospital e não pode se atrasar.— Não posso faltar um dia só? Eu vou pro seu trabalho e fico quietinho, eu prometo. — seus olhinhos brilham com o pedido que acaba de me fazer.— Rael, a gente já conversou sobre isso. Não posso ficar deixando de fazer meu trabalho para olhar você. O hospital é gigante e cheio de gente, não vou conseguir me dividir em fazer as duas coisas. Ele dá um sorriso forçado, inconformado.— Olha, você vai pra escolinha, vai brincar muito com seus amiguinhos, depois a tia Yasm
MaluEssa voz tão conhecida por mim, a voz da pessoa que precisei suportar por tanto tempo, enquanto trabalhava no salão e, não somente isso, ainda tinha que distribuir sorrisos, como se me agradasse estar perto dela.Pelo conteúdo da caixa, eu jamais poderia imaginar que teria sido ela, jamais mesmo. Mas vindo de alguém tão baixa, vejo que fui idiota o suficiente para não cogitar essa possibilidade. Contudo, já havia se passado tanto tempo, desde aquela noite e tanta coisa aconteceu, que eu até consegui deixar esse assunto para lá.Paro de mexer em meu celular e a encaro. Devido aos meses que se passaram, seus cabelos, agora não mais tingidos de vermelho, estão crescendo pouco a pouco. Ela nem é feia, mas já fez tantos procedimentos estéticos, que ficou esquisita e os cabelos, como estão agora, não ajudam em nada.— O que você quer, Agatha? Será que você não se toca? Sua vida deve ser realmente muito desinteressante, ao ponto de ficar me rodeando como um cão sarnento. — sim, estou se
PardalAs coisas estão ficando cada vez mais sinistras no meu morro, eu tô grilado desde aquela vez, meses atrás, quando deixaram aquela cabeça de presente pra a mandada. Não faço ideia de quem tenha feito aquela porra, mas não posso ficar dando vacilo, não. Ainda mais agora com o moleque que nós adotou. Porra, lembrar daquele dia é mó bizarro, pra ser bem sincero mesmo, quando eu vi aquele garoto do jeito que estava, todo fodido, senti uma parada bem louca em meu peito, negócio de fazer meu coração acelerar e o caralho. Eu não fazia ideia da razão pela qual ele tinha ficado assim, mas lembrei do moleque indefeso que eu fui um dia. Da barra que passei com aquele filho da puta, de quando não tínhamos ninguém por nós. Era só eu e minha coroa pra tudo nessa vida, mesmo quando o cuzão ainda morava com a gente.Foi a partir dali que eu me tornei quem sou hoje e decidi fazer tudo o que pudesse para proteger minha coroa de tudo e todos. Conheci o Coringa nessa mesma época e ele me apresento
MaluOs dias foram passando na mesma e sem muita emoção, eu estava ficando cada vez mais desconfiada do Samuel, mas tentava a todo momento não pensar nisso. Porque, já estava se tornando torturante cogitar a ideia de estar sendo traída. Já não tinha certeza se era melhor saber a verdade ou que as coisas permanecessem assim, porque diz o ditado que o que os olhos não veem, o coração não sente.O fim de semana chegou e o Rael já havia ido dormir bem contente na noite anterior, por saber que teria um tempo a mais comigo. Ele estava tão agitado, que deu bastante trabalho para conseguir fazê-lo dormir. Tenho estado extremamente cansada ultimamente, e às vezes sentido uma dor de cabeça filha da mãe. Não sei, talvez seja a carga mental que eu tenho tido que carregar. Tantas responsabilidades: cuidar de casa, de filho, estudar e trabalhar. De fato, isso deve estar me deixando assim e eu não percebi.Como hoje é sábado e, consequentemente, minha folga no hospital, combinei com a Ys de levar o
MaluFico ainda um tempo parada, porque não consigo acreditar no que acabei de ouvir. Ele realmente disse o que acho que ele disse? Não, não pode ser, devo estar enlouquecendo. E se realmente isso for verdade, que tipo de amor é esse mesquinho? Que não dá a mínima para o outro? Dispenso! Não, não vou cair em suas garras, em sua conversinha fiada, para tentar me ludibriar e me manter presa a ele. Já chega, Maria Luiza! Chega!Sem dizer nenhuma palavra, me afasto dele e saio às pressas do quarto, retornando aonde deixei minha amiga e meu filho.— Vamos. — digo, passando como um furacão pela porta a fora.— Ei! O que foi, criatura? Viu um fantasma, foi? — Yasmin pergunta, segurando em meu braço com uma mão e meu filho com a outra.— O que foi que eu tô exausta, cansada e só tá faltando isso aqui ó — mostro a ela meus dedos indicador e polegar — Pra eu sumir do mapa e ninguém nunca mais me ver.Solto a respiração que nem percebi ter prendido.— Tá fumando, fia? Bebeu? Cheirou? Tu não é n