MaluEssa voz tão conhecida por mim, a voz da pessoa que precisei suportar por tanto tempo, enquanto trabalhava no salão e, não somente isso, ainda tinha que distribuir sorrisos, como se me agradasse estar perto dela.Pelo conteúdo da caixa, eu jamais poderia imaginar que teria sido ela, jamais mesmo. Mas vindo de alguém tão baixa, vejo que fui idiota o suficiente para não cogitar essa possibilidade. Contudo, já havia se passado tanto tempo, desde aquela noite e tanta coisa aconteceu, que eu até consegui deixar esse assunto para lá.Paro de mexer em meu celular e a encaro. Devido aos meses que se passaram, seus cabelos, agora não mais tingidos de vermelho, estão crescendo pouco a pouco. Ela nem é feia, mas já fez tantos procedimentos estéticos, que ficou esquisita e os cabelos, como estão agora, não ajudam em nada.— O que você quer, Agatha? Será que você não se toca? Sua vida deve ser realmente muito desinteressante, ao ponto de ficar me rodeando como um cão sarnento. — sim, estou se
PardalAs coisas estão ficando cada vez mais sinistras no meu morro, eu tô grilado desde aquela vez, meses atrás, quando deixaram aquela cabeça de presente pra a mandada. Não faço ideia de quem tenha feito aquela porra, mas não posso ficar dando vacilo, não. Ainda mais agora com o moleque que nós adotou. Porra, lembrar daquele dia é mó bizarro, pra ser bem sincero mesmo, quando eu vi aquele garoto do jeito que estava, todo fodido, senti uma parada bem louca em meu peito, negócio de fazer meu coração acelerar e o caralho. Eu não fazia ideia da razão pela qual ele tinha ficado assim, mas lembrei do moleque indefeso que eu fui um dia. Da barra que passei com aquele filho da puta, de quando não tínhamos ninguém por nós. Era só eu e minha coroa pra tudo nessa vida, mesmo quando o cuzão ainda morava com a gente.Foi a partir dali que eu me tornei quem sou hoje e decidi fazer tudo o que pudesse para proteger minha coroa de tudo e todos. Conheci o Coringa nessa mesma época e ele me apresento
MaluOs dias foram passando na mesma e sem muita emoção, eu estava ficando cada vez mais desconfiada do Samuel, mas tentava a todo momento não pensar nisso. Porque, já estava se tornando torturante cogitar a ideia de estar sendo traída. Já não tinha certeza se era melhor saber a verdade ou que as coisas permanecessem assim, porque diz o ditado que o que os olhos não veem, o coração não sente.O fim de semana chegou e o Rael já havia ido dormir bem contente na noite anterior, por saber que teria um tempo a mais comigo. Ele estava tão agitado, que deu bastante trabalho para conseguir fazê-lo dormir. Tenho estado extremamente cansada ultimamente, e às vezes sentido uma dor de cabeça filha da mãe. Não sei, talvez seja a carga mental que eu tenho tido que carregar. Tantas responsabilidades: cuidar de casa, de filho, estudar e trabalhar. De fato, isso deve estar me deixando assim e eu não percebi.Como hoje é sábado e, consequentemente, minha folga no hospital, combinei com a Ys de levar o
MaluFico ainda um tempo parada, porque não consigo acreditar no que acabei de ouvir. Ele realmente disse o que acho que ele disse? Não, não pode ser, devo estar enlouquecendo. E se realmente isso for verdade, que tipo de amor é esse mesquinho? Que não dá a mínima para o outro? Dispenso! Não, não vou cair em suas garras, em sua conversinha fiada, para tentar me ludibriar e me manter presa a ele. Já chega, Maria Luiza! Chega!Sem dizer nenhuma palavra, me afasto dele e saio às pressas do quarto, retornando aonde deixei minha amiga e meu filho.— Vamos. — digo, passando como um furacão pela porta a fora.— Ei! O que foi, criatura? Viu um fantasma, foi? — Yasmin pergunta, segurando em meu braço com uma mão e meu filho com a outra.— O que foi que eu tô exausta, cansada e só tá faltando isso aqui ó — mostro a ela meus dedos indicador e polegar — Pra eu sumir do mapa e ninguém nunca mais me ver.Solto a respiração que nem percebi ter prendido.— Tá fumando, fia? Bebeu? Cheirou? Tu não é n
Malu— Malu? Amiga? — a voz da Yasmin me faz voltar à realidade, pois, eu estava petrificada, até segundos atrás.Pisco algumas vezes.— Aconteceu alguma coisa? — ela pergunta.— Não sei, mas acho que estou prestes a descobrir. — meu coração está errando as batidas, de tão nervosa que fiquei com as imagens que recebi.— Como assim? Tu tá me deixando preocupada, mona.— Olha isso, Ys. Olha essas fotos e essa mensagem. — viro a tela para ela, lhe mostrando.Número desconhecido: Chegou a hora de você descobrir que o Pardal está te enganando…Só veio isso escrito, nada mais. E as fotos são bastante reveladoras, uma mulher com as mãos no rosto dele, ele segurando os cabelos dela, os dois bem pertinho. Ai que ódio!— E se isso for mentira, Malu? E se alguém estiver fazendo uma brincadeira de mal gosto com você? Pode ser a Agatha, tentando te separar do Pardal. — divide seu olhar entre mim e o visor do celular.— Não tô te entendendo, Yasmin — a encaro séria — Quer que eu continue sendo feit
PardalOs problemas ultimamente têm se acumulado aos montes, e depois que a Lia chegou em meu morro só fodeu ainda mais com tudo. Depois daquela vez em que quase fodemos lá na boca, eu juro que tô tentando me manter distante dessa porra, mas como fazer isso, se precisamos trabalhar juntos? A ordem pra ela ficar aqui veio dos manda-chuva e eu não poderia contrariar eles.Pra completar ainda mais esse caralho, os cu azul estão ameaçando invadir o CDD, venho tentando um acordo com esses pau no cu há semanas, mas tudo isso envolve dinheiro. Tem que molhar a mão deles e, no momento, não temos grana suficiente pra isso. Aí teríamos que fazer uns corre no asfalto e até isso tá russo.Só sei que junta essa porra toda e minha mente fica fervendo.Eu tava na boca, fui logo cedo porque o carregamento tava pra chegar — apesar de que eles demoraram um pouco — e, mesmo sabendo que os menor fazem tudo certinho, desde a conferência dos bagulho, até os pagamentos, gosto de estar presente pra me certif
MaluNão sei quanto tempo passou desde que voltei para casa, só sei que durante todo esse tempo fiquei sentada no chão do quarto, pensando no que fazer. Pensei no Rael, lembrei de todas as agressões que sofri nas mãos da minha mãe, antes de ela morrer. Pensei que, certamente, eu não iria querer que meu filho passe pelo mesmo nas mãos do pai e, de tanto pensar, sinto um enjoo terrível e não consigo evitar. Levanto correndo com a mão na boca e me abaixo diante do sanitário, colocando tudo para fora e olha que quase não me alimentei hoje.Praticamente só saiu água, talvez seja devido ao meu estômago vazio. Respiro fundo, abaixo a tampa do sanitário e sento no chão, apertando o botão da descarga. Passo o dorso da mão na boca, limpando-a e decido levantar.Lavo meu rosto, escovo os dentes para tirar o gosto de vômito e volto para o quarto. Pego o celular para verificar as horas e vejo que se eu realmente pretendo fazer algo, terei que adiantar, porque já está perto de anoitecer e daqui a p
Dona SuzanaMe relacionei com o pai do Samuel muito cedo, acredito que, na época, eu não tinha mais do que quatorze anos, não lembro com exatidão, mas sei que eu era muito nova. Sempre morei no morro, mas assim como diversas garotas da minha idade, eu gostava de viver a vida como se não houvesse amanhã. Esse é um dos maiores males da juventude, porque o amanhã existe e, com ele, vem as consequências, que nem sempre são boas. Conheci o pai dele, que me fez juras de amor, me prometeu mundos e fundos e eu, é claro, caí feito uma patinha na conversa dele. Homem de lábia, sabe exatamente o que dizer para ganhar uma mulher. Não vou dizer que não o amei, pois, amei, sim. E acredito que ele também tenha sentido algo por mim, não sei se foi amor, mas como me tratava bem durante alguns anos, quando ainda namorávamos, deve ter havido algum tipo de sentimento.Com o passar dos anos, engravidei e ele não aceitou muito bem esse fato, aliás, foi nesse momento em que tudo mudou, porque descobri que