MaluJá era dez horas da noite quando finalmente a última aula acabou e, apesar de me sentir cada vez mais deslumbrada com tudo o que tenho aprendido, não via a hora de chegar em casa, pois, estava exausta. Acredito que todo mundo se sinta assim às segundas-feiras, uma espécie de preguicite aguda toma conta de nossos corpos e mentes.Quando eu estava passando pela porta de saída do prédio da UFRJ, avistei minha amiga misturada em um grupinho, batendo o maior papo. Me aproximei deles.— Olha quem chegou! — Ricardo, o garoto que conheci no outro dia, comenta, sorridente.— Oi, gente. — respondo meio tímida, porque não conheço todos que estão na roda.— Estávamos falando de você agora, Malu. — a Maju, que pensei que não veria mais, se pronuncia.— Espero que bem, hein. — Sim, o Elias queria se desculpar pelo seu primeiro dia aqui. Não é, Elias? — Maju põe a mão no ombro dele, como quem diz: “vai em frente”.— É… — o garoto fala todo sem graça, passando a mão na nuca e sorrindo envergonh
MaluSe eu pudesse apagar a noite passada da minha mente, eu o faria sem pensar duas vezes. Nunca vi o Pardal daquela forma, ele parecia transtornado e não adianta aquele idiota vir tentar se justificar, porque nada poderia explicar tal atitude repentina.Aquilo fez com que lembranças do meu passado viessem à tona, inclusive, situações de quando a minha mãe estava viva.Fiquei chorando por um bom tempo ainda no sofá, até não ter mais lágrimas e ser vencida pelo cansaço. Horas depois, tive a impressão de ter sido carregada, mas acredito que foi apenas um sonho, porque eu estava em casa sozinha, não tinha como isso acontecer.— E aí? — ao abrir os olhos, pela manhã, me deparo com a figura do Pardal, sentado na cama, me encarando.Fico olhando para ele sem dizer nada e assim permaneço. Ele parece ter voltado ao normal, porque não vejo nenhum resquício do homem de ontem a noite.Sem respondê-lo, pego meu celular para olhar as horas e checar se tem alguma mensagem, mas não tem nada e const
Malu— É… Tá todo mundo olhando, Pardal… — comento sem graça, tentando parar o beijo.— E daí? Tu é minha mulher, pô. A primeira dama do CDD, que se foda todo mundo.Ele permanece segurando minha cintura.— Qual foi, Agatha? Tá olhando o quê? Perdeu alguma coisa aqui? — percebo que ele olhando para trás de mim.— Você aí com essa ridícula… Não entendo como preferiu ela, quando me tinha a hora que quisesse. — a voz enjoada da cabelos de fogo ecoa em meus ouvidos.Me dá até nos nervos.— Tu ainda não entendeu, né? Se conforma, pô. Tô com a Malu agora, vai procurar quem te queira, porque eu mesmo nunca te quis. Era só pente e rala, tu que pagava de fiel, sem ser.— Como tu diz uma coisa dessas, Pardal? — a mulher choraminga e se aproxima de nós — Você amava me comer, amava quando eu fazia um babão. Volta pra mim, vai. Larga essa songamonga aí, que não vai te dar o que só eu posso.Ela me afasta dele, dando um empurrão, só não caio porque o Pardal me segura pelo braço, me sustentando. Mas
MaluDias depois…Semana passada, Yasmin e eu aproveitamos para levar as cestas básicas para a instituição, foi maravilhoso ver o sorriso de satisfação no rosto da Aline e a “festa” que os acolhidos por ela e toda a equipe da casa Apoio Fraternal fizeram. Aquilo encheu o nosso coração de alegria e me mostrou que, podemos não conseguir mudar o mundo, mas o pouco que fazemos, já é muito para algumas pessoas.Os dias foram passando tranquilamente, sem muita novidade e aquele episódio do Pardal não voltou a se repetir. Porém, ainda assim, estou com um olho aberto e outro arregalado, não sou o tipo de mulher que atura esse tipo de situação.Nesse momento, estou discutindo com a Yasmin sobre o meu aniversário, que é hoje, no entanto, já havia deixado claro para ela que não queria festa. Mas minha amiga é do tipo festeira e quando coloca uma coisa na cabeça, só Deus para tirar.— Eu já disse que não quero festa, Ys. — tento convencê-la, enquanto termino de organizar os pratos limpos no escor
Malu— Ah, tu chegou… Bem que eu ouvi um baru… — Samuel está saindo do banheiro, com uma toalha enrolada na cintura e secando os cabelos cacheados com outra, mas para de falar ao me encarar — O que tá rolando? Que bagulho é esse aí?Ele aponta com o queixo para a caixa no chão e eu estou tão assustada, que não consigo respondê-lo.— Qual foi, Malu? O que tem ali? — É… — até tento responder, mas parece que minha voz se recusa a sair.Cansado de ficar me perguntando, ele vai até a caixa e a pega nas mãos. Divide o olhar entre mim e o objeto, com o cenho franzido. — Quem deixou esse caralho aqui? — Eu… Eu não sei, Samuel… — sinto meu corpo todo trêmulo.Quando abri a caixa, havia uma cabeça humana dentro, com os olhos abertos, como se quem o estivesse matado, não tivesse fechado os olhos do defunto, propositalmente.— Foi você quem fez essa brincadeira de mau gosto comigo? — pergunto, sentindo meus olhos lacrimejarem.— Tá doida? Bebeu? Claro que não fui eu. Que razão eu teria pra faz
Malu— O quê? Como assim? — me atrapalho nas palavras, porque não sei como reagir a isso.— A Aline que me ligou, ela já está desesperada e sem saber o que fazer, já procurou em todos os lugares possíveis. — noto certa aflição na voz da Ys.— O que estamos esperando? Precisamos ajudar a encontrá-lo. — passo por ela, indo em direção a entrada da cozinha.— Malu, espera, criatura! — ela grita e, como não lhe dou atenção, põe a mão em meu ombro e me puxa novamente.— Dá pra parar com isso, Yasmin? — grito, irritada e sem a menor paciência.— Me escuta, tu não pode fazer nada, só nos resta esperar por notícias.— Podemos ajudar, nem que seja com apoio emocional. — lhe dou as cotas e saio andando.— Puta que pariu! — ouço-a reclamar, mas não dou importância.— Preciso que alguém me leve até a instituição. — digo em tom de ordenança, assim que me aproximo do meu marido, que estava conversando com alguns dos seus soldados.— Fazer o quê lá uma hora dessas? Tá ligada, não?— O Rael sumiu, Par
MaluSeis meses depois…— Tá na hora de acordar, príncipe. — chamo-o baixinho.Sei que ele já está acordado, mas ama fazer manha.— Ah, então vai ser do jeito difícil, né? Ok. — dito isto e não obtendo resposta, puxo o lençol do seu corpo e faço cócegas.— Aaaah! So… Corro… Mamãe… — ele diz com a voz entrecortada e sem fôlego.— Ah, decidiu parar de fingir, né? — paro e o encaro sorrindo — Por que ama fingir que está dormindo? Sabe que precisa ir à escola, meu amor. Mamãe tem que ir para o hospital e não pode se atrasar.— Não posso faltar um dia só? Eu vou pro seu trabalho e fico quietinho, eu prometo. — seus olhinhos brilham com o pedido que acaba de me fazer.— Rael, a gente já conversou sobre isso. Não posso ficar deixando de fazer meu trabalho para olhar você. O hospital é gigante e cheio de gente, não vou conseguir me dividir em fazer as duas coisas. Ele dá um sorriso forçado, inconformado.— Olha, você vai pra escolinha, vai brincar muito com seus amiguinhos, depois a tia Yasm
MaluEssa voz tão conhecida por mim, a voz da pessoa que precisei suportar por tanto tempo, enquanto trabalhava no salão e, não somente isso, ainda tinha que distribuir sorrisos, como se me agradasse estar perto dela.Pelo conteúdo da caixa, eu jamais poderia imaginar que teria sido ela, jamais mesmo. Mas vindo de alguém tão baixa, vejo que fui idiota o suficiente para não cogitar essa possibilidade. Contudo, já havia se passado tanto tempo, desde aquela noite e tanta coisa aconteceu, que eu até consegui deixar esse assunto para lá.Paro de mexer em meu celular e a encaro. Devido aos meses que se passaram, seus cabelos, agora não mais tingidos de vermelho, estão crescendo pouco a pouco. Ela nem é feia, mas já fez tantos procedimentos estéticos, que ficou esquisita e os cabelos, como estão agora, não ajudam em nada.— O que você quer, Agatha? Será que você não se toca? Sua vida deve ser realmente muito desinteressante, ao ponto de ficar me rodeando como um cão sarnento. — sim, estou se