MaluTodas aquelas palavras que ouvi da mãe do Pardal, ficaram dando voltas e mais voltas em minha cabeça, fazendo um verdadeiro redemoinho, durante todo o dia. Enquanto eu seguia para o salão, na garupa do Perigo, tive uma vontade imensa de ir até ele, o abraçar e dizer o quanto ele é amado e querido. Mas não o fiz, porque, provavelmente, ele não estava ciente que eu sabia sobre seu passado, ao menos uma parte dele.Eu teria que explicar que sua mãe esteve em nossa casa e não sabia como ele encararia isso, então, apenas tentei evitar pensar no assunto — algo bastante complicado. Não via a hora de chegar a noite e eu poder desabafar com a Yasmin.— Tá tudo bem, patroa? — Perigo me tirou do meu transe.— O que disse? — perguntei, piscando os olhos duas vezes.— Tá tudo bem? Parece que tá viajando na maionese aí, tá caladona. — ele olhou rapidamente para mim por cima do ombro.— Impressão sua, só estou cansada. — menti, porque não queria expor a situação.Não faço ideia se algum deles c
PardalEu não sei dizer o que deu em mim quando resolvi aceitar o pedido da Malu, devo estar virando viado, só pode. A parada é a seguinte: fiquei vidrado naquela mulher quando a vi dançando no quintal da minha goma com as amigas. Sim, todas as amigas dela são lindas, mó gostosas, inclusive, já bati o olho várias vezes na patroa dela, e daí que ela é mais velha que eu? Panela velha é que faz comida boa, tá ligado? Mas conheço o passado dela, por isso sempre me mantive afastado. Não tenho tempo pra mina cheia de não me toque. O que eu sei, é que minha goma tava cheia de mina gostosa, e eu só sabia olhar e admirar a mandada. Feiticeira da porra. E nem era olhar de desejo, pô. Sim, eu sou paradão na dela, já percebi isso e não é um bagulho do qual eu possa fugir, mas sei lá, naquele momento foi sinistro. Eu tava sentado, batendo um teti a teti com os menor e, falando bem a verdade, não prestei atenção em quase nada do que eles estavam falando, porque não conseguia desviar meus olhos da
MaluJá era dez horas da noite quando finalmente a última aula acabou e, apesar de me sentir cada vez mais deslumbrada com tudo o que tenho aprendido, não via a hora de chegar em casa, pois, estava exausta. Acredito que todo mundo se sinta assim às segundas-feiras, uma espécie de preguicite aguda toma conta de nossos corpos e mentes.Quando eu estava passando pela porta de saída do prédio da UFRJ, avistei minha amiga misturada em um grupinho, batendo o maior papo. Me aproximei deles.— Olha quem chegou! — Ricardo, o garoto que conheci no outro dia, comenta, sorridente.— Oi, gente. — respondo meio tímida, porque não conheço todos que estão na roda.— Estávamos falando de você agora, Malu. — a Maju, que pensei que não veria mais, se pronuncia.— Espero que bem, hein. — Sim, o Elias queria se desculpar pelo seu primeiro dia aqui. Não é, Elias? — Maju põe a mão no ombro dele, como quem diz: “vai em frente”.— É… — o garoto fala todo sem graça, passando a mão na nuca e sorrindo envergonh
MaluSe eu pudesse apagar a noite passada da minha mente, eu o faria sem pensar duas vezes. Nunca vi o Pardal daquela forma, ele parecia transtornado e não adianta aquele idiota vir tentar se justificar, porque nada poderia explicar tal atitude repentina.Aquilo fez com que lembranças do meu passado viessem à tona, inclusive, situações de quando a minha mãe estava viva.Fiquei chorando por um bom tempo ainda no sofá, até não ter mais lágrimas e ser vencida pelo cansaço. Horas depois, tive a impressão de ter sido carregada, mas acredito que foi apenas um sonho, porque eu estava em casa sozinha, não tinha como isso acontecer.— E aí? — ao abrir os olhos, pela manhã, me deparo com a figura do Pardal, sentado na cama, me encarando.Fico olhando para ele sem dizer nada e assim permaneço. Ele parece ter voltado ao normal, porque não vejo nenhum resquício do homem de ontem a noite.Sem respondê-lo, pego meu celular para olhar as horas e checar se tem alguma mensagem, mas não tem nada e const
Malu— É… Tá todo mundo olhando, Pardal… — comento sem graça, tentando parar o beijo.— E daí? Tu é minha mulher, pô. A primeira dama do CDD, que se foda todo mundo.Ele permanece segurando minha cintura.— Qual foi, Agatha? Tá olhando o quê? Perdeu alguma coisa aqui? — percebo que ele olhando para trás de mim.— Você aí com essa ridícula… Não entendo como preferiu ela, quando me tinha a hora que quisesse. — a voz enjoada da cabelos de fogo ecoa em meus ouvidos.Me dá até nos nervos.— Tu ainda não entendeu, né? Se conforma, pô. Tô com a Malu agora, vai procurar quem te queira, porque eu mesmo nunca te quis. Era só pente e rala, tu que pagava de fiel, sem ser.— Como tu diz uma coisa dessas, Pardal? — a mulher choraminga e se aproxima de nós — Você amava me comer, amava quando eu fazia um babão. Volta pra mim, vai. Larga essa songamonga aí, que não vai te dar o que só eu posso.Ela me afasta dele, dando um empurrão, só não caio porque o Pardal me segura pelo braço, me sustentando. Mas
MaluDias depois…Semana passada, Yasmin e eu aproveitamos para levar as cestas básicas para a instituição, foi maravilhoso ver o sorriso de satisfação no rosto da Aline e a “festa” que os acolhidos por ela e toda a equipe da casa Apoio Fraternal fizeram. Aquilo encheu o nosso coração de alegria e me mostrou que, podemos não conseguir mudar o mundo, mas o pouco que fazemos, já é muito para algumas pessoas.Os dias foram passando tranquilamente, sem muita novidade e aquele episódio do Pardal não voltou a se repetir. Porém, ainda assim, estou com um olho aberto e outro arregalado, não sou o tipo de mulher que atura esse tipo de situação.Nesse momento, estou discutindo com a Yasmin sobre o meu aniversário, que é hoje, no entanto, já havia deixado claro para ela que não queria festa. Mas minha amiga é do tipo festeira e quando coloca uma coisa na cabeça, só Deus para tirar.— Eu já disse que não quero festa, Ys. — tento convencê-la, enquanto termino de organizar os pratos limpos no escor
Malu— Ah, tu chegou… Bem que eu ouvi um baru… — Samuel está saindo do banheiro, com uma toalha enrolada na cintura e secando os cabelos cacheados com outra, mas para de falar ao me encarar — O que tá rolando? Que bagulho é esse aí?Ele aponta com o queixo para a caixa no chão e eu estou tão assustada, que não consigo respondê-lo.— Qual foi, Malu? O que tem ali? — É… — até tento responder, mas parece que minha voz se recusa a sair.Cansado de ficar me perguntando, ele vai até a caixa e a pega nas mãos. Divide o olhar entre mim e o objeto, com o cenho franzido. — Quem deixou esse caralho aqui? — Eu… Eu não sei, Samuel… — sinto meu corpo todo trêmulo.Quando abri a caixa, havia uma cabeça humana dentro, com os olhos abertos, como se quem o estivesse matado, não tivesse fechado os olhos do defunto, propositalmente.— Foi você quem fez essa brincadeira de mau gosto comigo? — pergunto, sentindo meus olhos lacrimejarem.— Tá doida? Bebeu? Claro que não fui eu. Que razão eu teria pra faz
Malu— O quê? Como assim? — me atrapalho nas palavras, porque não sei como reagir a isso.— A Aline que me ligou, ela já está desesperada e sem saber o que fazer, já procurou em todos os lugares possíveis. — noto certa aflição na voz da Ys.— O que estamos esperando? Precisamos ajudar a encontrá-lo. — passo por ela, indo em direção a entrada da cozinha.— Malu, espera, criatura! — ela grita e, como não lhe dou atenção, põe a mão em meu ombro e me puxa novamente.— Dá pra parar com isso, Yasmin? — grito, irritada e sem a menor paciência.— Me escuta, tu não pode fazer nada, só nos resta esperar por notícias.— Podemos ajudar, nem que seja com apoio emocional. — lhe dou as cotas e saio andando.— Puta que pariu! — ouço-a reclamar, mas não dou importância.— Preciso que alguém me leve até a instituição. — digo em tom de ordenança, assim que me aproximo do meu marido, que estava conversando com alguns dos seus soldados.— Fazer o quê lá uma hora dessas? Tá ligada, não?— O Rael sumiu, Par