Sophie Williams Após minha breve conversa com meu cunhado, Mikhail me conduz até o quarto onde ficarei até o casamento. O ambiente é deslumbrante, decorado com requinte e imponência. Mas nada disso é tão impactante quanto a presença do homem ao meu lado.— Espero que fique confortável — ele diz, a voz baixa, fria e controlada. — Você ficará aqui até o dia do casamento. Depois, dormirá no meu quarto.Seu tom não é um convite. É uma sentença. Uma ordem disfarçada de informação.— Tudo bem, então. Obrigada, Mikhail.Ele estreita os olhos, surpreso. Como se um "obrigada" vinda de mim fosse inesperada. Ou talvez esteja apenas me analisando, buscando decifrar algo que nem eu mesma sei se quero revelar.O silêncio entre nós pesa. Por um instante, Mikhail parece prestes a dizer algo, mas se contém. Sua hesitação dura um segundo antes de dar um passo para trás.— O almoço será servido em breve — avisa.E então ele se vai, deixando para trás seu perfume amadeirado e a sensação esmagadora de su
Mikhail Volkov Ouvi toda a conversa entre Sophie e minha mãe e, no instante em que escutei minha própria mãe dizendo que queria Sophie como mãe de Alek, fui tomado pelo ódio. Ninguém nunca, jamais, será capaz de substituir Ekaterina. Ela foi e sempre será a única mulher que merece meu amor. Meu coração.Fecho os olhos por um instante, e as lembranças me atingem como um soco. O jeito que ela sorria para mim. O som da sua risada suave. A forma como seus dedos sempre encontravam os meus, mesmo nos momentos mais sombrios. Eu nunca quis amar ninguém. Nunca quis me apegar. Mas Ekaterina atravessou todas as minhas barreiras e, quando percebi, ela já fazia parte de mim.E então, ela se foi.Deixando um vazio que nada poderia preencher.Balanço a cabeça, afastando as lembranças antes que me engulam por completo. Respiro fundo e me afasto da porta do quarto de Sophie, seguindo para o de Alek.Entro no quarto e encontro meu filho sentado no chão, rodeado de bonecos de super-heróis.— Papai! —
Sophie Williams Ouvia um zumbido irritante nos ouvidos, como se o mundo ao meu redor estivesse se dissolvendo em um vácuo, e meu corpo, frágil, ameaçasse ceder a qualquer momento. Sabia que, se desmoronasse, ninguém viria me socorrer. O que acontece dentro dos portões da mansão Williams é um segredo que deve ser enterrado junto com as esperanças de quem ali vive. — Sophie, você está bem? Parece exausta. — A voz do fotógrafo me puxou bruscamente de volta à realidade. Havia preocupação em seu tom, mas seus olhos, como os de todos ali, estavam apenas curiosos, famintos por um deslize. Eu era um espetáculo. — Estou bem, sim. Apenas me distraí por um momento, me perdoem. — Forcei um sorriso, sentindo o peso da mentira em cada palavra. Todos voltaram aos seus afazeres, e agradeci mentalmente por ninguém notar minha farsa. Enquanto a câmera me capturava, eu me sentia livre — irônico, considerando minha situação. Os flashes traziam uma sensação de poder, algo que parecia faltar no resto da
À distância, as vozes de Victoria e James ecoavam como fantasmas, repetindo o mantra de sempre: que eu era uma vadia ingrata, que eles haviam me dado tudo — uma vida boa, comida e um lar — e que agora eu me recusava a pagá-los. Que ironia cruel: pagar por terem me trazido a um mundo onde sou agredida física e emocionalmente por eles.— Vá para o seu quarto e só saia de lá arrumada para o jantar com seu noivo e a família dele. — A voz de James cortou o ar como uma lâmina.Assenti, sentindo o alívio breve de poder sair daquele inferno, mas, assim que toquei a maçaneta, ouvi sua voz novamente, gelando meu sangue:— Lembre-se, Sophie, não me envergonhe. Seja a filha obediente e a noiva perfeita. Você sabe que as consequências podem ser ainda piores.Um frio percorreu minha espinha. Não tive coragem de responder. Apenas abaixei a cabeça e saí da sala em silêncio, com passos pesados me levando até as escadas. Cada degrau parecia mais um fardo.Ao entrar em meu quarto — ou melhor, na minha p
Mikhail Volkov Londres continua tão fria quanto eu lembrava, mas essa frieza é, de certa forma, encantadora. A capital da Inglaterra mantém seu charme inabalável, com suas ruas impecavelmente ordenadas, a educação refinada de seus habitantes e uma sofisticação impossível de ignorar. Negócios prósperos, bons vinhos, mulheres deslumbrantes... e, nesse caso, uma mulher específica. — Você está ansioso para conhecer sua futura esposa, irmão? — Andrei pergunta, com um tom sarcástico que me faz apertar os dentes, lutando contra a vontade de socá-lo. — Andrei, você está testando a minha paciência. Se continuar com essa conversa, vai se arrepender. — Falo com firmeza, sem sequer olhar para ele enquanto caminho em direção ao carro que já nos aguarda. Antes de o carro começar a andar, meu celular vibra no bolso. Atendo imediatamente, sem nem olhar o nome, porque já sei quem é. — Papai? — A voz doce e inocente de Alek enche meus ouvidos, trazendo uma sensação de paz instantânea. — Olá, meu g
Continuo observando o rosto dela enquanto formula uma resposta. — Gosto de lutas. Também gosto de viajar, mas, para mim, voltar para casa é sempre a melhor parte. Com a vida que levo, isso é o mais próximo de normalidade que consigo: viagens, negócios, empresas... e a outra parte, que você provavelmente já conhece. — Digo, sem pressa, sabendo que suas reações vão me dizer mais do que suas palavras. Ela não demonstra surpresa, mas a tensão que emana de seu corpo é palpável. Não é algo que me incomode, já esperava essa reação. — Imagino que ainda esteja se acostumando com essa realidade. — Comento, de forma objetiva. — Sim. — Ela responde, simples, sem querer se aprofundar. — Me chame apenas de Mikhail. — Digo, observando seu olhar se ajustar. Ela assente, sem muita emoção. — Tudo bem, Mikhail. Soube que tem um filho... Achei que fosse conhecê-lo. — Ela menciona com um tom casual, mas com curiosidade à flor da pele. — Alek tem quatro anos. — Dou uma pausa antes de continuar. — El
Sophie WilliamsAo adentrar a sala de jantar da mansão Williams, fui envolvida pelo brilho e pela opulência que pareciam competir para exibir o poder e o status de nossa família. O teto alto, adornado por lustres de cristal, lançava reflexos suaves sobre a mesa longa. Esta, coberta por uma toalha de linho imaculada, exibia porcelanas finas, talheres de prata reluzentes e arranjos florais estrategicamente posicionados. O aroma das flores misturava-se ao leve perfume de cera polida, criando uma atmosfera que parecia dizer: Aqui, tudo está sob controle.Meu pai, James, ocupava a cabeceira da mesa, como ditava a etiqueta, enquanto Victoria, minha mãe, estava ao seu lado, irradiando a postura impecável e a autoridade que sempre a acompanhavam. Eventos como este eram o palco ideal para ela exibir sua visão de "perfeição familiar".— Sophie, querida, sente-se aqui, ao meu lado. — A voz dela era doce, mas o tom cortante carregava uma ordem implícita.Antes que eu pudesse responder, senti o toq
Mikhail VolkovApós o jantar, nos recolhemos ao escritório para discutir negócios. As conversas giravam entre as empresas e, em momentos mais reservados, sobre assuntos da máfia. No entanto, minha atenção frequentemente escapava para a loira que conversava com minha mãe e Victoria, a mulher que seria minha futura sogra.“Sophie Williams”Havia algo fascinante na postura dela, impecavelmente ereta, na forma como suas palavras eram medidas e suas expressões, cuidadosamente montadas. Mas, ao mesmo tempo, eu enxergava o que ela tentava esconder. Toda vez que James ou Victoria se dirigiam a ela, o sorriso que surgia em seus lábios parecia... artificial. Como se ela estivesse cumprindo um papel exigido por um roteiro. Aquilo não escapava aos meus olhos.Por um breve momento, nossos olhares se encontraram. Decidi ir até ela, curioso sobre a reação que isso provocaria. Sua voz logo preencheu o espaço entre nós, suave, mas com uma nota de hesitação. Notei que ela aceitava bem a ideia do casamen