Sophie Williams
Ao adentrar a sala de jantar da mansão Williams, fui envolvida pelo brilho e pela opulência que pareciam competir para exibir o poder e o status de nossa família. O teto alto, adornado por lustres de cristal, lançava reflexos suaves sobre a mesa longa. Esta, coberta por uma toalha de linho imaculada, exibia porcelanas finas, talheres de prata reluzentes e arranjos florais estrategicamente posicionados. O aroma das flores misturava-se ao leve perfume de cera polida, criando uma atmosfera que parecia dizer: Aqui, tudo está sob controle.
Meu pai, James, ocupava a cabeceira da mesa, como ditava a etiqueta, enquanto Victoria, minha mãe, estava ao seu lado, irradiando a postura impecável e a autoridade que sempre a acompanhavam. Eventos como este eram o palco ideal para ela exibir sua visão de "perfeição familiar".
— Sophie, querida, sente-se aqui, ao meu lado. — A voz dela era doce, mas o tom cortante carregava uma ordem implícita.
Antes que eu pudesse responder, senti o toque firme de Mikhail em meu braço. Seus dedos deslizaram devagar, conduzindo-me até a cadeira ao lado dele. Seu toque não era agressivo, mas a posse silenciosa em seu gesto fez um arrepio percorrer minha pele. Quando nossos olhares se cruzaram, seu rosto mantinha a mesma expressão impenetrável de sempre.
— Espero que não se importe, Victoria, mas eu gostaria que ela ficasse aqui. — Sua voz era firme, mas sem deixar espaço para discussão.
Minha mãe manteve um sorriso contido, mas o brilho em seu olhos denunciava seu desagrado. Ainda assim, não contestou.
O jantar prosseguiu com a formalidade esperada. Logo, Victoria trouxe à tona o assunto que mais lhe interessava: o casamento.
— Sophie, já decidiu como será a cerimônia? — Sua voz era carregada de expectativa.
— Ainda não, mas… — Hesitei por um segundo.
— Acho que um evento grandioso seria o mais adequado. — Ela continuou, sem realmente esperar minha opinião. — Ambos pertencem a famílias de renome, e esse casamento precisa estar à altura disso.
Engoli em seco. Era o esperado. Meu nome estava constantemente estampado em revistas, e Mikhail, além de empresário, carregava um poder silencioso que ninguém ousava ignorar. Não havia espaço para algo modesto.
Irina interveio com sua suavidade habitual:
— O importante é que seja especial para Sophie e Mikhail. Tenho certeza de que podemos encontrar um equilíbrio.
Mikhail, até então silencioso, ergueu os olhos, sua voz grave ecoando com firmeza:
— O que Sophie decidir estará bom para mim.
A afirmação pareceu pairar no ar, e, por um instante, o silêncio se estendeu. Eu apenas assenti, sem ousar encará-lo por muito tempo.
Victoria piscou rapidamente, mas, pela primeira vez, não respondeu.
Quando a sobremesa foi servida, minha mãe se levantou, reassumindo o controle.
— Sophie, vamos para a sala de estar. Irina e eu temos muitas ideias para o noivado.
Fiz menção de segui-la, mas Mikhail inclinou-se levemente em minha direção. Sua proximidade fez minha respiração travar por um segundo.
— Faça tudo do jeito que quiser. — Sua voz era baixa, mas incisiva.
Meus dedos se entrelaçaram sobre o colo. Não havia necessidade de responder. Eu já sabia o que deveria fazer.
Na sala de estar, Victoria organizava as ideias em meio a uma conversa com Irina.
— O noivado será o primeiro grande evento. — Seu tom era meticuloso. — Já tenho contatos de cerimonialistas e organizadores. Será uma recepção inesquecível. Podemos fazer a festa aqui na mansão.
Irina, com a mesma calma, ponderou:
— Concordo que deve ser marcante, mas talvez possamos incluir elementos mais pessoais. Algo que reflita Sophie e Mikhail.
— Podemos marcar uma reunião com os cerimonialistas? — Minha pergunta veio naturalmente.
O sorriso satisfeito de Victoria confirmou que essa era a resposta que ela esperava.
— Claro, querida. Podemos fazer isso esta semana.
Mikhail se aproximou então, sua presença pesada e calculada. Quando falou, sua voz carregava a firmeza habitual:
— Já decidiram algo?
— Minha mãe sugeriu que façamos a festa de noivado aqui na mansão, no próximo fim de semana.
Ele ergueu uma sobrancelha, avaliando-me.
— É isso o que você quer?
— Acho que será uma boa escolha. — Respondi sem hesitar.
— Então será assim.
Victoria lançou um olhar satisfeito. Tudo estava sob controle, exatamente como deveria ser.
— Ótimo, irei marcar uma reunião com os cerimonialistas e, então, escolhemos os detalhes. Ficará tudo perfeito. — A alegria de Victoria ao falar era palpável, mas ninguém além de mim conhecia o veneno que escorria em sua fala. Seria tudo perfeito dentro dos critérios dela. Tudo seria da maneira que ela decidisse.
— Sophie, querida, vi o seu último desfile em Nova York. Você estava simplesmente deslumbrante. — Minha futura sogra comentou, com um sorriso genuíno, que eu retribuí.
— Minha filha estava realmente perfeita. Ela nos dá tanto orgulho. — Victoria comentou, com um brilho no olhar que com certeza convenceu Irina e os demais sobre se orgulharem de mim.
Viver naquela casa era, de fato, um inferno. Não sei quando começou, mas aparentemente teria uma data para acabar. Ou, então, eu apenas mudaria de prisão. Afinal, sempre fui a donzela presa em uma gaiola dourada.
— Acredito que sim. Elena nunca quis ser modelo, mas é apaixonada pelo mundo da moda, por isso é uma fashion designer tão requisitada.
— Ela é incrível. Já conheço o trabalho dela, mas nunca tive o prazer de conhecê-la ou trabalhar diretamente com ela. — Digo, enquanto um sorriso desenha meus lábios. Disfarçadamente, percebo Mikhail voltar ao escritório. — Mas ela poderia ficar responsável pelos vestidos do casamento e do noivado. O que acha, mãe?
Victoria me fita com um olhar de reprovação. Um olhar que diz que vou me arrepender por tomar decisões que não me cabem, mesmo que o maldito casamento seja meu.
— Acho que será incrível, filha.
— Amanhã ligarei para minha filha e direi a ela para vir a Londres. Ela ficará encantada com a ideia... e com você, Sophie.
— Tenho certeza de que vou amar conhecê-la. Elena é renomada, e ter um vestido feito por ela será uma honra. — Me sinto realmente feliz por conhecer a mulher por trás dos vestidos belíssimos que já vi em desfiles internacionalmente conhecidos. Nunca tive o prazer de trabalhar com ela, mas agora seremos cunhadas.
Quão surpreendente é o destino.
Mikhail VolkovApós o jantar, nos recolhemos ao escritório para discutir negócios. As conversas giravam entre as empresas e, em momentos mais reservados, sobre assuntos da máfia. No entanto, minha atenção frequentemente escapava para a loira que conversava com minha mãe e Victoria, a mulher que seria minha futura sogra.“Sophie Williams”Havia algo fascinante na postura dela, impecavelmente ereta, na forma como suas palavras eram medidas e suas expressões, cuidadosamente montadas. Mas, ao mesmo tempo, eu enxergava o que ela tentava esconder. Toda vez que James ou Victoria se dirigiam a ela, o sorriso que surgia em seus lábios parecia... artificial. Como se ela estivesse cumprindo um papel exigido por um roteiro. Aquilo não escapava aos meus olhos.Por um breve momento, nossos olhares se encontraram. Decidi ir até ela, curioso sobre a reação que isso provocaria. Sua voz logo preencheu o espaço entre nós, suave, mas com uma nota de hesitação. Notei que ela aceitava bem a ideia do casamen
Sophie WilliamsDepois que os convidados foram embora, senti meu peito travar, como se o ar se recusasse a entrar. Meu coração falhou uma batida no instante em que me virei para subir as escadas e uma mão forte segurou meu braço, puxando-me sem aviso. Antes mesmo de processar o que estava acontecendo, uma ardência cortante se espalhou pelo meu rosto.— Quem você pensa que é para escolher alguma coisa? As decisões serão minhas, tudo sairá conforme a MINHA vontade! — Victoria vociferou, suas unhas cravando minha pele.O impacto das palavras doía quase tanto quanto o tapa. Engoli em seco, tentando manter a voz firme.— Desculpe, Sra. Victoria, não foi proposital. Apenas imaginei que agir daquela forma fosse agradar a mãe do meu noivo. — A palavra queimou em minha língua. Noivo. O gosto amargo da realidade se instalou em minha boca. Casar com Mikhail Volkov significava entregar meu destino a um homem que escondia sua verdadeira natureza por trás de um terno impecável.Mídia e sociedade o
Logo após terminar de falar tudo o que queria, e me ameaçar a cada duas frases — James me liberou. Saí do seu covil — digo, escritório — e segui para onde ele informou que Irina e minha mãe estavam. No caminho, ensaiei um sorriso animado, mas sem exageros. Não via necessidade de fingir tanto com Irina. A mulher carregava um carisma raro e, depois de anos convivendo com falsidade, aprendi a reconhecer quando alguém estava sendo genuíno. Ao entrar na sala de estar, vi as duas sentadas à mesa, saboreando o café da manhã impecavelmente servido. Irina, elegante como sempre, vestia um azul-claro sofisticado que realçava seus olhos avelã. Já Victoria, com a postura impecável e expressão meticulosamente controlada, parecia satisfeita. Ou satisfeita comigo, cumprindo meu papel. — Bom dia, Irina. Mamãe. — Cumprimentei, removendo o sobretudo e apoiando-o no encosto da cadeira antes de me sentar. — Bom dia, querida. — O leve sotaque russo de Irina me lembrou Mikhail. — Você está deslumbrante
Mikhail Volkov O clima frio da Itália me envolve assim que desço do jatinho. Um carro me espera, e, sem trocar palavras, Andrei e eu seguimos em silêncio. Sabemos que não seremos bem recebidos. Os Giordano tiveram problemas com a Bratva e a destruíram, assim como todo o legado Petrov, restando apenas Aurora Petrov... ou melhor, Giordano. — Sabe, eu realmente espero que não tenhamos problemas. Não dormi bem e gostaria que pudéssemos resolver esse assunto tranquilamente — resmunga Andrei, sentado ao meu lado, enquanto meu segurança coloca o carro em movimento pelas ruas de Milão. — Impossível resolver tudo com cem por cento de tranquilidade. Matteo odeia os russos no geral. A família dele sofreu um inferno por culpa de Nikolai e Maxim — respiro fundo. Sei que a primeira coisa que ele fará será apontar uma arma para minha cabeça... Ele ou seu fiel escudeiro, Lorenzo Ricci, seu consigliere e cunhado. — Não consigo imaginar como aqueles desgraçados tiveram coragem de sequestrar a irmã e
Quinze segundos. Foi o tempo exato que Matteo encarou Lorenzo antes de se levantar abruptamente da cadeira e lançar seu copo contra a parede. O vidro estilhaçou com um estrondo seco, espalhando cacos pelo chão. — Maledetto, miserabile, traditore, figlio di puttana! — Os xingamentos saíram cuspidos como veneno de seus lábios, carregados de um ódio palpável. O nome de Pavel Vasilievsky era o bastante para incendiar algo incontrolável em seu peito. Agora, Matteo tinha um motivo a mais para querer a queda da Bratva, não era apenas uma questão de poder ou vingança, mas de proteger sua família e destruir o desgraçado que ousou traí-los. Ele passou a mão pelos cabelos, tentando conter a fúria que borbulhava em suas veias. Inútil. — Lorenzo, chame meu pai. Agora. — Sua voz era uma ordem afiada como lâmina. O consigliere não hesitou. Saiu da sala às pressas, deixando um rastro de tensão no ar. Matteo continuava de pé, o peito subindo e descendo em um ritmo descompassado. Do meu lado, And
Sophie Williams Os últimos dias foram agitados. Escolhemos tudo que faltava: os últimos detalhes sobre músicas, comidas... e tudo ficou perfeito, digno de um noivado de um Pakhán—como descobri que Mikhail é nomeado. É estranho imaginar que viverei uma realidade diferente, com um mafioso que pode ser igual ou pior que o casal que me colocou no mundo. Elena, minha cunhada, tem me ajudado a organizar os detalhes, mas Victoria sempre tem a última palavra. Até pareço uma criança na frente das outras pessoas, pois preciso perguntar o que ela acha das opções. — Sophie. — Sou tirada dos meus pensamentos quando a porta do quarto se abre. Sei que é hora de sair. Me autorizaram. Respiro fundo e sigo até a porta, sentindo o tecido do vestido deslizar suavemente pelo meu corpo. O azul metálico reflete a luz do lustre, criando um brilho quase hipnotizante. O corte sereia do tecido fino abraça minha silhueta, e a fenda lateral revela a pele em um detalhe equilibrado entre sofisticação e ousadia.
Mikhail Volkov A movimentação ao nosso redor diminui por um instante quando avançamos pelo salão. Os olhos se voltam para Sophie, e os olhares masculinos são impiedosamente óbvios. Alguns tentam ser discretos, avaliando-a com um interesse silencioso, enquanto outros simplesmente se perdem na visão dela. As mulheres, por sua vez, analisam cada detalhe de seu vestido, algumas com admiração, outras tentando encontrar falhas que não existem. Ela está deslumbrante. Uma perfeita princesa da máfia, mesmo sem ter sido criada nos seus costumes. Sua postura exala uma elegância que parece ter nascido com ela, e seus olhos, tão frios, carregam uma sombra de desafio que só uma mulher forte poderia sustentar. Roman ergue a taça, lançando um olhar satisfeito para Sophie, como se estivesse celebrando a vitória de tê-la na família. — É um prazer recebê-la na família, Sophie. — Sua voz soa como uma sentença inevitável, carregada de uma solenidade quase imponente. — Sei que essa transição pode ser d
Sophie Williams Chegou o momento!Estamos no centro do salão, após Irina anunciar que é hora de formalizar o pedido. Ensaiar meu discurso de felicidade foi uma exigência da minha mãe, e passei toda a semana me preparando para isso.Contudo, ao olhar para todas essas pessoas que me observam como se eu fosse uma figura incomum, sinto-me sem palavras. Mikhail acaricia minha mão, e, à primeira vista, isso parece um gesto de carinho. Mas, na realidade, é uma ordem silenciosa para que eu me recomponha e mantenha a compostura que minha posição exige.Fixando meu olhar nas íris avelãs que me observam com desdém, faço um esforço para esboçar um sorriso breve, sinalizando que estou pronta — embora saiba que ele, de fato, não se importe.— Boa noite a todos. Gostaríamos de agradecer imensamente a presença de cada um de vocês neste momento tão significativo para nós. — Mikhail diz, fingindo uma felicidade que, se eu não soubesse da verdade, faria com que eu acreditasse. — Esta noite é especial,