5. Gaiola Dourada

Sophie Williams

Ao adentrar a sala de jantar da mansão Williams, fui envolvida pelo brilho e pela opulência que pareciam competir para exibir o poder e o status de nossa família. O teto alto, adornado por lustres de cristal, lançava reflexos suaves sobre a mesa longa. Esta, coberta por uma toalha de linho imaculada, exibia porcelanas finas, talheres de prata reluzentes e arranjos florais estrategicamente posicionados. O aroma das flores misturava-se ao leve perfume de cera polida, criando uma atmosfera que parecia dizer: Aqui, tudo está sob controle.

Meu pai, James, ocupava a cabeceira da mesa, como ditava a etiqueta, enquanto Victoria, minha mãe, estava ao seu lado, irradiando a postura impecável e a autoridade que sempre a acompanhavam. Eventos como este eram o palco ideal para ela exibir sua visão de "perfeição familiar".

— Sophie, querida, sente-se aqui, ao meu lado. — A voz dela era doce, mas o tom cortante carregava uma ordem implícita.

Antes que eu pudesse responder, senti o toque firme de Mikhail em meu braço. Seus dedos deslizaram devagar, conduzindo-me até a cadeira ao lado dele. Seu toque não era agressivo, mas a posse silenciosa em seu gesto fez um arrepio percorrer minha pele. Quando nossos olhares se cruzaram, seu rosto mantinha a mesma expressão impenetrável de sempre.

— Espero que não se importe, Victoria, mas eu gostaria que ela ficasse aqui. — Sua voz era firme, mas sem deixar espaço para discussão. 

Minha mãe manteve um sorriso contido, mas o brilho em seu olhos denunciava seu desagrado. Ainda assim, não contestou.

O jantar prosseguiu com a formalidade esperada. Logo, Victoria trouxe à tona o assunto que mais lhe interessava: o casamento.

— Sophie, já decidiu como será a cerimônia? — Sua voz era carregada de expectativa.

— Ainda não, mas… — Hesitei por um segundo.

— Acho que um evento grandioso seria o mais adequado. — Ela continuou, sem realmente esperar minha opinião. — Ambos pertencem a famílias de renome, e esse casamento precisa estar à altura disso.

Engoli em seco. Era o esperado. Meu nome estava constantemente estampado em revistas, e Mikhail, além de empresário, carregava um poder silencioso que ninguém ousava ignorar. Não havia espaço para algo modesto.

Irina interveio com sua suavidade habitual:

— O importante é que seja especial para Sophie e Mikhail. Tenho certeza de que podemos encontrar um equilíbrio.

Mikhail, até então silencioso, ergueu os olhos, sua voz grave ecoando com firmeza:

— O que Sophie decidir estará bom para mim.

A afirmação pareceu pairar no ar, e, por um instante, o silêncio se estendeu. Eu apenas assenti, sem ousar encará-lo por muito tempo.

Victoria piscou rapidamente, mas, pela primeira vez, não respondeu.

Quando a sobremesa foi servida, minha mãe se levantou, reassumindo o controle.

— Sophie, vamos para a sala de estar. Irina e eu temos muitas ideias para o noivado.

Fiz menção de segui-la, mas Mikhail inclinou-se levemente em minha direção. Sua proximidade fez minha respiração travar por um segundo.

— Faça tudo do jeito que quiser. — Sua voz era baixa, mas incisiva.

Meus dedos se entrelaçaram sobre o colo. Não havia necessidade de responder. Eu já sabia o que deveria fazer.

Na sala de estar, Victoria organizava as ideias em meio a uma conversa com Irina.

— O noivado será o primeiro grande evento. — Seu tom era meticuloso. — Já tenho contatos de cerimonialistas e organizadores. Será uma recepção inesquecível. Podemos fazer a festa aqui na mansão.

Irina, com a mesma calma, ponderou:

— Concordo que deve ser marcante, mas talvez possamos incluir elementos mais pessoais. Algo que reflita Sophie e Mikhail.

— Podemos marcar uma reunião com os cerimonialistas? — Minha pergunta veio naturalmente.

O sorriso satisfeito de Victoria confirmou que essa era a resposta que ela esperava.

— Claro, querida. Podemos fazer isso esta semana.

Mikhail se aproximou então, sua presença pesada e calculada. Quando falou, sua voz carregava a firmeza habitual:

— Já decidiram algo?

— Minha mãe sugeriu que façamos a festa de noivado aqui na mansão, no próximo fim de semana.

Ele ergueu uma sobrancelha, avaliando-me.

— É isso o que você quer?

— Acho que será uma boa escolha. — Respondi sem hesitar.

— Então será assim.

Victoria lançou um olhar satisfeito. Tudo estava sob controle, exatamente como deveria ser.

— Ótimo, irei marcar uma reunião com os cerimonialistas e, então, escolhemos os detalhes. Ficará tudo perfeito. — A alegria de Victoria ao falar era palpável, mas ninguém além de mim conhecia o veneno que escorria em sua fala. Seria tudo perfeito dentro dos critérios dela. Tudo seria da maneira que ela decidisse.

— Sophie, querida, vi o seu último desfile em Nova York. Você estava simplesmente deslumbrante. — Minha futura sogra comentou, com um sorriso genuíno, que eu retribuí.

— Minha filha estava realmente perfeita. Ela nos dá tanto orgulho. — Victoria comentou, com um brilho no olhar que com certeza convenceu Irina e os demais sobre se orgulharem de mim.

Viver naquela casa era, de fato, um inferno. Não sei quando começou, mas aparentemente teria uma data para acabar. Ou, então, eu apenas mudaria de prisão. Afinal, sempre fui a donzela presa em uma gaiola dourada.

— Acredito que sim. Elena nunca quis ser modelo, mas é apaixonada pelo mundo da moda, por isso é uma fashion designer tão requisitada.

— Ela é incrível. Já conheço o trabalho dela, mas nunca tive o prazer de conhecê-la ou trabalhar diretamente com ela. — Digo, enquanto um sorriso desenha meus lábios. Disfarçadamente, percebo Mikhail voltar ao escritório. — Mas ela poderia ficar responsável pelos vestidos do casamento e do noivado. O que acha, mãe?

Victoria me fita com um olhar de reprovação. Um olhar que diz que vou me arrepender por tomar decisões que não me cabem, mesmo que o maldito casamento seja meu.

— Acho que será incrível, filha.

— Amanhã ligarei para minha filha e direi a ela para vir a Londres. Ela ficará encantada com a ideia... e com você, Sophie.

— Tenho certeza de que vou amar conhecê-la. Elena é renomada, e ter um vestido feito por ela será uma honra. — Me sinto realmente feliz por conhecer a mulher por trás dos vestidos belíssimos que já vi em desfiles internacionalmente conhecidos. Nunca tive o prazer de trabalhar com ela, mas agora seremos cunhadas.

Quão surpreendente é o destino.

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