6. Postura Fascinante

Mikhail Volkov

Após o jantar, nos recolhemos ao escritório para discutir negócios. As conversas giravam entre as empresas e, em momentos mais reservados, sobre assuntos da máfia. No entanto, minha atenção frequentemente escapava para a loira que conversava com minha mãe e Victoria, a mulher que seria minha futura sogra.

“Sophie Williams”

Havia algo fascinante na postura dela, impecavelmente ereta, na forma como suas palavras eram medidas e suas expressões, cuidadosamente montadas. Mas, ao mesmo tempo, eu enxergava o que ela tentava esconder. Toda vez que James ou Victoria se dirigiam a ela, o sorriso que surgia em seus lábios parecia... artificial. Como se ela estivesse cumprindo um papel exigido por um roteiro. Aquilo não escapava aos meus olhos.

Por um breve momento, nossos olhares se encontraram. Decidi ir até ela, curioso sobre a reação que isso provocaria. Sua voz logo preencheu o espaço entre nós, suave, mas com uma nota de hesitação. Notei que ela aceitava bem a ideia do casamento — ou, pelo menos, fingia aceitar. Isso me agradava. Um fardo a menos. Eu não tinha paciência para lidar com herdeiras mimadas e rebeldes.

Seus olhos me buscavam, à espera de alguma resposta diante da conversa sobre o noivado. Apenas concordei, mantendo minha indiferença habitual. Esses detalhes insignificantes — cerimônia, festa, arranjos — não me interessavam.

— Se está tudo certo, acho que já podemos ir, não é? — Minha voz cortou o ambiente, firme. Meus pais entenderam a deixa e começaram as despedidas. Permaneci imóvel, observando Sophie enquanto ela, com uma cautela quase calculada, se posicionava ao lado dos pais e se despedia formalmente.

— Foi um prazer conhecê-los e recebê-los em nossa casa. — Ela abraçou minha mãe, e percebi que até aquele gesto parecia ensaiado.

Ao deixar a mansão, caminhei para o carro em silêncio. Por cima do ombro, vi Sophie abaixar a cabeça enquanto seus pais lhe diziam algo. Murmúrios abafados. Aquilo me chamou a atenção, mas não o suficiente para despertar empatia.

Essa família é intrigante. Disfuncional de um jeito que me incomoda, mas Sophie será útil. Ela se encaixa perfeitamente no papel de dama da máfia. Quanto a filhos, isso não está em discussão. Não haverá outros. Alek é meu único herdeiro. Isso não muda.

Ao chegar ao hotel, encontrei Andrei estirado na minha cama, seu sorriso cínico estampado no rosto como se estivesse à espera de um show.

— Pensei que tivesse pegado um quarto para você ou me enganei? — Ironizei, fechando a porta atrás de mim enquanto observo ele mexer nos bolsos da calça procurando algo.

— Peguei, é aqui ao lado, mas não podia perder a oportunidade de saber como foi jantar com os Williams. — Ele acendeu um cigarro, soltando a fumaça lenta, como quem saboreava minha possível irritação.

— Exatamente como eu esperava. Controle, poder, aparências. — Minha resposta foi seca.

Ele riu baixo, jogando a fumaça pela janela.

— E Sophie? — perguntou, sem rodeios.

— O que tem ela? — Retruquei, erguendo uma sobrancelha.

— Como foi estar na presença da princesinha dos Williams? — Seu tom provocador trouxe um sorriso involuntário ao meu rosto.

— Ela atende aos requisitos. Bonita, elegante, educada. Jovem. — Respondi, minha voz firme. Não havia espaço para emoção.

— Só isso? Quando vou conhecê-la? — Andrei insistiu, claramente curioso.

Suspirei, voltando os olhos para a vista da cidade através da janela.

— Ela é... diferente. Vai conhecê-la no próximo fim de semana. O noivado será lá.

— Diferente como? — Ele pressionou, o interesse crescendo.

Minha mente voltou aos momentos na mansão.

— Ela não tenta impressionar ninguém. Na verdade, parece querer se esconder de tudo. De olhares, de conversas... — Falei mais para mim mesmo do que para ele.

Andrei ficou em silêncio por um instante, antes de questionar:

— Bem estranho para uma modelo tão conhecida quanto ela. Mas você acha que ela aguenta viver no nosso mundo?

Virei o rosto, cravando meu olhar no dele.

— Ela não tem escolha. Já está nesse mundo, mesmo que não tenha percebido ainda.

Ele sorriu de lado, um brilho de desafio nos olhos.

— Você está jogando um jogo perigoso, irmão.

— Sempre joguei.

Enquanto Andrei se retirava, voltei a olhar pela janela. Mas minha mente estava longe dali. Havia algo em Sophie que mexia comigo. Não era paixão, nem desejo desenfreado. Era algo mais sutil, como uma peça de um quebra-cabeça que eu ainda não sabia onde encaixar.

E isso me incomodava.

Eu não me apaixonaria novamente. Nunca. O amor não tinha mais lugar na minha vida. Ekaterina foi a única mulher que amei, e ela estava morta. Pensar nisso deixava um gosto amargo na boca. Nosso casamento também foi por obrigação, mas nos apaixonamos, tivemos momentos felizes e ela está marcada em mim para sempre, assim como no meu pequeno Alek, que emana a humildade e carinho da mãe.

A dor desse passado era um lembrete constante: sentimentos tornam os homens vulneráveis. E eu não cometeria esse erro novamente. Me apaixonar por Ekaterina, não foi um erro, mas me permiti ser vulnerável, foi.

Passei mais alguns minutos ali apenas observando a vista, minha mente continuava vagando entre o passado e o presente, lembrar da mãe de Alek me deixa irritado pois a culpa ainda me corrói. 

Meu celular vibra com a notificação de uma mensagem de meu pai.

“Esteja preparado ir a Itália, não pode permitir que o legado de Nikolai Petrov volte a se reerguer.” 

“Amanhã volto para a Rússia, e só retorno a Londres para o noivado, irei resolver os assuntos pendentes com Matteo, tenho certeza que ele também não quer que a Bratva se reerguendo sob o legado do sobrenome Petrov.” — Respondo e desligo o celular o colocando na mesa de cabeceira e me deito, os próximos dias serão difíceis e eu não sei quando terei paz.  Nem mesmo sei se algum dia terei.

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