Mikhail Volkov
Após o jantar, nos recolhemos ao escritório para discutir negócios. As conversas giravam entre as empresas e, em momentos mais reservados, sobre assuntos da máfia. No entanto, minha atenção frequentemente escapava para a loira que conversava com minha mãe e Victoria, a mulher que seria minha futura sogra.
“Sophie Williams”
Havia algo fascinante na postura dela, impecavelmente ereta, na forma como suas palavras eram medidas e suas expressões, cuidadosamente montadas. Mas, ao mesmo tempo, eu enxergava o que ela tentava esconder. Toda vez que James ou Victoria se dirigiam a ela, o sorriso que surgia em seus lábios parecia... artificial. Como se ela estivesse cumprindo um papel exigido por um roteiro. Aquilo não escapava aos meus olhos.
Por um breve momento, nossos olhares se encontraram. Decidi ir até ela, curioso sobre a reação que isso provocaria. Sua voz logo preencheu o espaço entre nós, suave, mas com uma nota de hesitação. Notei que ela aceitava bem a ideia do casamento — ou, pelo menos, fingia aceitar. Isso me agradava. Um fardo a menos. Eu não tinha paciência para lidar com herdeiras mimadas e rebeldes.
Seus olhos me buscavam, à espera de alguma resposta diante da conversa sobre o noivado. Apenas concordei, mantendo minha indiferença habitual. Esses detalhes insignificantes — cerimônia, festa, arranjos — não me interessavam.
— Se está tudo certo, acho que já podemos ir, não é? — Minha voz cortou o ambiente, firme. Meus pais entenderam a deixa e começaram as despedidas. Permaneci imóvel, observando Sophie enquanto ela, com uma cautela quase calculada, se posicionava ao lado dos pais e se despedia formalmente.
— Foi um prazer conhecê-los e recebê-los em nossa casa. — Ela abraçou minha mãe, e percebi que até aquele gesto parecia ensaiado.
Ao deixar a mansão, caminhei para o carro em silêncio. Por cima do ombro, vi Sophie abaixar a cabeça enquanto seus pais lhe diziam algo. Murmúrios abafados. Aquilo me chamou a atenção, mas não o suficiente para despertar empatia.
Essa família é intrigante. Disfuncional de um jeito que me incomoda, mas Sophie será útil. Ela se encaixa perfeitamente no papel de dama da máfia. Quanto a filhos, isso não está em discussão. Não haverá outros. Alek é meu único herdeiro. Isso não muda.
Ao chegar ao hotel, encontrei Andrei estirado na minha cama, seu sorriso cínico estampado no rosto como se estivesse à espera de um show.
— Pensei que tivesse pegado um quarto para você ou me enganei? — Ironizei, fechando a porta atrás de mim enquanto observo ele mexer nos bolsos da calça procurando algo.
— Peguei, é aqui ao lado, mas não podia perder a oportunidade de saber como foi jantar com os Williams. — Ele acendeu um cigarro, soltando a fumaça lenta, como quem saboreava minha possível irritação.
— Exatamente como eu esperava. Controle, poder, aparências. — Minha resposta foi seca.
Ele riu baixo, jogando a fumaça pela janela.
— E Sophie? — perguntou, sem rodeios.
— O que tem ela? — Retruquei, erguendo uma sobrancelha.
— Como foi estar na presença da princesinha dos Williams? — Seu tom provocador trouxe um sorriso involuntário ao meu rosto.
— Ela atende aos requisitos. Bonita, elegante, educada. Jovem. — Respondi, minha voz firme. Não havia espaço para emoção.
— Só isso? Quando vou conhecê-la? — Andrei insistiu, claramente curioso.
Suspirei, voltando os olhos para a vista da cidade através da janela.
— Ela é... diferente. Vai conhecê-la no próximo fim de semana. O noivado será lá.
— Diferente como? — Ele pressionou, o interesse crescendo.
Minha mente voltou aos momentos na mansão.
— Ela não tenta impressionar ninguém. Na verdade, parece querer se esconder de tudo. De olhares, de conversas... — Falei mais para mim mesmo do que para ele.
Andrei ficou em silêncio por um instante, antes de questionar:
— Bem estranho para uma modelo tão conhecida quanto ela. Mas você acha que ela aguenta viver no nosso mundo?
Virei o rosto, cravando meu olhar no dele.
— Ela não tem escolha. Já está nesse mundo, mesmo que não tenha percebido ainda.
Ele sorriu de lado, um brilho de desafio nos olhos.
— Você está jogando um jogo perigoso, irmão.
— Sempre joguei.
Enquanto Andrei se retirava, voltei a olhar pela janela. Mas minha mente estava longe dali. Havia algo em Sophie que mexia comigo. Não era paixão, nem desejo desenfreado. Era algo mais sutil, como uma peça de um quebra-cabeça que eu ainda não sabia onde encaixar.
E isso me incomodava.
Eu não me apaixonaria novamente. Nunca. O amor não tinha mais lugar na minha vida. Ekaterina foi a única mulher que amei, e ela estava morta. Pensar nisso deixava um gosto amargo na boca. Nosso casamento também foi por obrigação, mas nos apaixonamos, tivemos momentos felizes e ela está marcada em mim para sempre, assim como no meu pequeno Alek, que emana a humildade e carinho da mãe.
A dor desse passado era um lembrete constante: sentimentos tornam os homens vulneráveis. E eu não cometeria esse erro novamente. Me apaixonar por Ekaterina, não foi um erro, mas me permiti ser vulnerável, foi.
Passei mais alguns minutos ali apenas observando a vista, minha mente continuava vagando entre o passado e o presente, lembrar da mãe de Alek me deixa irritado pois a culpa ainda me corrói.
Meu celular vibra com a notificação de uma mensagem de meu pai.
“Esteja preparado ir a Itália, não pode permitir que o legado de Nikolai Petrov volte a se reerguer.”
“Amanhã volto para a Rússia, e só retorno a Londres para o noivado, irei resolver os assuntos pendentes com Matteo, tenho certeza que ele também não quer que a Bratva se reerguendo sob o legado do sobrenome Petrov.” — Respondo e desligo o celular o colocando na mesa de cabeceira e me deito, os próximos dias serão difíceis e eu não sei quando terei paz. Nem mesmo sei se algum dia terei.
Sophie WilliamsDepois que os convidados foram embora, senti meu peito travar, como se o ar se recusasse a entrar. Meu coração falhou uma batida no instante em que me virei para subir as escadas e uma mão forte segurou meu braço, puxando-me sem aviso. Antes mesmo de processar o que estava acontecendo, uma ardência cortante se espalhou pelo meu rosto.— Quem você pensa que é para escolher alguma coisa? As decisões serão minhas, tudo sairá conforme a MINHA vontade! — Victoria vociferou, suas unhas cravando minha pele.O impacto das palavras doía quase tanto quanto o tapa. Engoli em seco, tentando manter a voz firme.— Desculpe, Sra. Victoria, não foi proposital. Apenas imaginei que agir daquela forma fosse agradar a mãe do meu noivo. — A palavra queimou em minha língua. Noivo. O gosto amargo da realidade se instalou em minha boca. Casar com Mikhail Volkov significava entregar meu destino a um homem que escondia sua verdadeira natureza por trás de um terno impecável.Mídia e sociedade o
Logo após terminar de falar tudo o que queria, e me ameaçar a cada duas frases — James me liberou. Saí do seu covil — digo, escritório — e segui para onde ele informou que Irina e minha mãe estavam. No caminho, ensaiei um sorriso animado, mas sem exageros. Não via necessidade de fingir tanto com Irina. A mulher carregava um carisma raro e, depois de anos convivendo com falsidade, aprendi a reconhecer quando alguém estava sendo genuíno. Ao entrar na sala de estar, vi as duas sentadas à mesa, saboreando o café da manhã impecavelmente servido. Irina, elegante como sempre, vestia um azul-claro sofisticado que realçava seus olhos avelã. Já Victoria, com a postura impecável e expressão meticulosamente controlada, parecia satisfeita. Ou satisfeita comigo, cumprindo meu papel. — Bom dia, Irina. Mamãe. — Cumprimentei, removendo o sobretudo e apoiando-o no encosto da cadeira antes de me sentar. — Bom dia, querida. — O leve sotaque russo de Irina me lembrou Mikhail. — Você está deslumbrante
Mikhail Volkov O clima frio da Itália me envolve assim que desço do jatinho. Um carro me espera, e, sem trocar palavras, Andrei e eu seguimos em silêncio. Sabemos que não seremos bem recebidos. Os Giordano tiveram problemas com a Bratva e a destruíram, assim como todo o legado Petrov, restando apenas Aurora Petrov... ou melhor, Giordano. — Sabe, eu realmente espero que não tenhamos problemas. Não dormi bem e gostaria que pudéssemos resolver esse assunto tranquilamente — resmunga Andrei, sentado ao meu lado, enquanto meu segurança coloca o carro em movimento pelas ruas de Milão. — Impossível resolver tudo com cem por cento de tranquilidade. Matteo odeia os russos no geral. A família dele sofreu um inferno por culpa de Nikolai e Maxim — respiro fundo. Sei que a primeira coisa que ele fará será apontar uma arma para minha cabeça... Ele ou seu fiel escudeiro, Lorenzo Ricci, seu consigliere e cunhado. — Não consigo imaginar como aqueles desgraçados tiveram coragem de sequestrar a irmã e
Quinze segundos. Foi o tempo exato que Matteo encarou Lorenzo antes de se levantar abruptamente da cadeira e lançar seu copo contra a parede. O vidro estilhaçou com um estrondo seco, espalhando cacos pelo chão. — Maledetto, miserabile, traditore, figlio di puttana! — Os xingamentos saíram cuspidos como veneno de seus lábios, carregados de um ódio palpável. O nome de Pavel Vasilievsky era o bastante para incendiar algo incontrolável em seu peito. Agora, Matteo tinha um motivo a mais para querer a queda da Bratva, não era apenas uma questão de poder ou vingança, mas de proteger sua família e destruir o desgraçado que ousou traí-los. Ele passou a mão pelos cabelos, tentando conter a fúria que borbulhava em suas veias. Inútil. — Lorenzo, chame meu pai. Agora. — Sua voz era uma ordem afiada como lâmina. O consigliere não hesitou. Saiu da sala às pressas, deixando um rastro de tensão no ar. Matteo continuava de pé, o peito subindo e descendo em um ritmo descompassado. Do meu lado, And
Sophie Williams Os últimos dias foram agitados. Escolhemos tudo que faltava: os últimos detalhes sobre músicas, comidas... e tudo ficou perfeito, digno de um noivado de um Pakhán—como descobri que Mikhail é nomeado. É estranho imaginar que viverei uma realidade diferente, com um mafioso que pode ser igual ou pior que o casal que me colocou no mundo. Elena, minha cunhada, tem me ajudado a organizar os detalhes, mas Victoria sempre tem a última palavra. Até pareço uma criança na frente das outras pessoas, pois preciso perguntar o que ela acha das opções. — Sophie. — Sou tirada dos meus pensamentos quando a porta do quarto se abre. Sei que é hora de sair. Me autorizaram. Respiro fundo e sigo até a porta, sentindo o tecido do vestido deslizar suavemente pelo meu corpo. O azul metálico reflete a luz do lustre, criando um brilho quase hipnotizante. O corte sereia do tecido fino abraça minha silhueta, e a fenda lateral revela a pele em um detalhe equilibrado entre sofisticação e ousadia.
Mikhail Volkov A movimentação ao nosso redor diminui por um instante quando avançamos pelo salão. Os olhos se voltam para Sophie, e os olhares masculinos são impiedosamente óbvios. Alguns tentam ser discretos, avaliando-a com um interesse silencioso, enquanto outros simplesmente se perdem na visão dela. As mulheres, por sua vez, analisam cada detalhe de seu vestido, algumas com admiração, outras tentando encontrar falhas que não existem. Ela está deslumbrante. Uma perfeita princesa da máfia, mesmo sem ter sido criada nos seus costumes. Sua postura exala uma elegância que parece ter nascido com ela, e seus olhos, tão frios, carregam uma sombra de desafio que só uma mulher forte poderia sustentar. Roman ergue a taça, lançando um olhar satisfeito para Sophie, como se estivesse celebrando a vitória de tê-la na família. — É um prazer recebê-la na família, Sophie. — Sua voz soa como uma sentença inevitável, carregada de uma solenidade quase imponente. — Sei que essa transição pode ser d
Sophie Williams Chegou o momento!Estamos no centro do salão, após Irina anunciar que é hora de formalizar o pedido. Ensaiar meu discurso de felicidade foi uma exigência da minha mãe, e passei toda a semana me preparando para isso.Contudo, ao olhar para todas essas pessoas que me observam como se eu fosse uma figura incomum, sinto-me sem palavras. Mikhail acaricia minha mão, e, à primeira vista, isso parece um gesto de carinho. Mas, na realidade, é uma ordem silenciosa para que eu me recomponha e mantenha a compostura que minha posição exige.Fixando meu olhar nas íris avelãs que me observam com desdém, faço um esforço para esboçar um sorriso breve, sinalizando que estou pronta — embora saiba que ele, de fato, não se importe.— Boa noite a todos. Gostaríamos de agradecer imensamente a presença de cada um de vocês neste momento tão significativo para nós. — Mikhail diz, fingindo uma felicidade que, se eu não soubesse da verdade, faria com que eu acreditasse. — Esta noite é especial,
Mikhail VolkovA raiva cresce em mim a cada risada e sorriso trocado entre Andrei e Sophie. Eu vejo claramente o que está acontecendo. Eles estão ali, no centro do salão, dançando como se fossem velhos amigos, trocando murmúrios e sorrisos cúmplices. Isso me tira do sério. Não posso deixar passar em branco.Ouço a voz do meu pai, interrompendo meus pensamentos.— Quer que eu pegue um guardanapo? — Ele pergunta com aquele sorriso de quem sabe exatamente o que está acontecendo. — Você está quase babando de raiva só porque seu irmão está dançando com Sophie.Respiro fundo, tentando controlar a raiva que só cresce.— Ele está brincando com a sorte, pai. Minha paciência não é grande coisa, e ele sabe disso. Mas resolveu testar, claro — resmungo, e meu pai me encara, rindo de forma quase zombeteira.É impossível não me sentir um idiota nessa situação. Meu irmão, lá, dançando e rindo com a minha noiva, e meu pai rindo da minha cara. A sensação de isolamento só aumenta, a irritação crescendo.