4. Equilíbrio

Continuo observando o rosto dela enquanto formula uma resposta.

— Gosto de lutas. Também gosto de viajar, mas, para mim, voltar para casa é sempre a melhor parte. Com a vida que levo, isso é o mais próximo de normalidade que consigo: viagens, negócios, empresas... e a outra parte, que você provavelmente já conhece. — Digo, sem pressa, sabendo que suas reações vão me dizer mais do que suas palavras.

Ela não demonstra surpresa, mas a tensão que emana de seu corpo é palpável. Não é algo que me incomode, já esperava essa reação.

— Imagino que ainda esteja se acostumando com essa realidade. — Comento, de forma objetiva.

— Sim. — Ela responde, simples, sem querer se aprofundar.

— Me chame apenas de Mikhail. — Digo, observando seu olhar se ajustar. Ela assente, sem muita emoção.

— Tudo bem, Mikhail. Soube que tem um filho... Achei que fosse conhecê-lo. — Ela menciona com um tom casual, mas com curiosidade à flor da pele.

— Alek tem quatro anos. — Dou uma pausa antes de continuar. — Ele é inteligente e curioso demais para a idade.

— Tenho certeza de que ele é tão lindo e encantador quanto você. — Ela diz, e logo percebe o que falou, tentando corrigir-se. — Quer dizer... acho que falei demais.

Não me incomodo com o elogio, mas me faz pensar. Ela acha que sou "lindo"? Não que importe, mas se soubesse a verdade sobre o que faço, talvez reconsiderasse.

— Não se preocupe com isso. — Respondo, sem demonstrar o que realmente penso. — Alek tem uma energia que conquista qualquer um.

— Parece que puxou ao pai. — Ela diz, e eu dou um sorriso de canto.

— Talvez. Mas ele será muito melhor do que eu já fui.

Ela me encara por um momento, como se tentasse me entender.

— Você fala como se houvesse algo de errado com você. — Sua voz é baixa, mas a firmeza é notável.

Minha expressão permanece neutra.

— Talvez haja. — Digo, sem rodeios. — Você me vê como um empresário, alguém que controla empresas e negócios. Mas isso é só uma parte. O resto... o resto não é bonito, Sophie.

Ela parece não se abalar com minha sinceridade.

— Todos nós temos nosso lado obscuro, não é? — Ela diz, a voz mais suave, mas com um tom que me faz parar para pensar. Assinto com a cabeça, sem querer prolongar o assunto. — Não estou dizendo que entendo tudo, mas ninguém é inteiramente bom ou ruim. Existe sempre um equilíbrio entre os dois.

Fico em silêncio por um momento. Ela tem razão, mas há muito mais em jogo do que ela pode imaginar.

— Talvez você esteja certa. — Admito, mas sem abrir mais espaço para a conversa.

Caminhamos pelo jardim, e toco suas costas levemente para guiá-la em uma curva do caminho. Sua reação é imediata, um movimento involuntário de retração. Não é surpresa.

Paro.

— Você está bem? — Pergunto, com a voz firme, mas sem pressionar.

— Sim, estou. Foi só um reflexo... nada demais.

Ela tenta disfarçar, mas sei que não é verdade. Não insisto.

— Sophie, o que aconteceu? — Pergunto, de forma mais direta.

— Não é nada, Mikhail. — Ela força um sorriso, mas não me convence.

Se não quer falar, não vou forçar.

— Vamos voltar. Já devem estar nos esperando. — Ela muda de assunto, e sigo atrás dela, sem questionar.

— Se precisar de ajuda, estarei disponível. — Digo de maneira direta, e vejo um pequeno brilho em seus olhos. Não sei o que ela realmente está escondendo, mas percebo que há mais do que aparenta.

Ao entrarmos na mansão, nossas famílias nos recebem com sorrisos, e a atmosfera muda um pouco.

— Estávamos conversando sobre o casamento de vocês. Será uma festa belíssima e grandiosa. — Victoria, mãe de Sophie, fala com entusiasmo, claramente imaginando os detalhes.

Sophie fica tensa, como se ainda estivesse se acostumando com a ideia do casamento arranjado. Mas essa foi minha escolha, e ela sabe disso.

— De fato será, mas teremos tempo para organizar tudo com calma e de acordo com o gosto dos noivos, não é mesmo, meu filho? — Ouço minha mãe dizer.

— Sim, mama, mas o que Sophie decidir estará bom para mim. Afinal, é o dia dela, e deve ser do seu gosto. — Respondo de forma objetiva.

Sophie me olha por um momento, e um leve sorriso aparece em seus lábios.

— Vamos jantar. Depois, podemos conversar no escritório enquanto as mulheres falam sobre as escolhas da noiva. — James Williams, meu futuro sogro, se pronuncia.

Eu e Sophie seguimos os outros até a sala de jantar, e antes de nos juntarmos aos outros, me viro para ela.

— Faça a festa como quiser. Escolha tudo o que tiver vontade. Não se preocupe com nada além das suas preferências.

Ela me encara por um instante, e um sorriso leve surge novamente.

— Obrigada por isso, Mikhail.

Não respondo, apenas a observo enquanto sigo para a mesa de jantar. Não sou de dar explicações, mas neste momento, isso parece suficiente.

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