Mikhail Volkov
Londres continua tão fria quanto eu lembrava, mas essa frieza é, de certa forma, encantadora. A capital da Inglaterra mantém seu charme inabalável, com suas ruas impecavelmente ordenadas, a educação refinada de seus habitantes e uma sofisticação impossível de ignorar. Negócios prósperos, bons vinhos, mulheres deslumbrantes... e, nesse caso, uma mulher específica. — Você está ansioso para conhecer sua futura esposa, irmão? — Andrei pergunta, com um tom sarcástico que me faz apertar os dentes, lutando contra a vontade de socá-lo. — Andrei, você está testando a minha paciência. Se continuar com essa conversa, vai se arrepender. — Falo com firmeza, sem sequer olhar para ele enquanto caminho em direção ao carro que já nos aguarda. Antes de o carro começar a andar, meu celular vibra no bolso. Atendo imediatamente, sem nem olhar o nome, porque já sei quem é. — Papai? — A voz doce e inocente de Alek enche meus ouvidos, trazendo uma sensação de paz instantânea. — Olá, meu garoto. Não deveria estar dormindo? — Pergunto, conferindo o horário e percebendo que já são nove da noite em Moscou. — Tia Elena disse que eu poderia te ligar assim que você chegasse a Londres. — Ouço minha irmã falando ao fundo, e logo Alek começa a rir. — Estou bem, filho. Cheguei em Londres. Agora, é hora de você dormir. Estou indo jantar com seus avós e uns amigos. — A moça bonita vai estar também? — Ele pergunta, curioso, e eu não consigo evitar uma risada suave. — Sim, Alek. A moça bonita se chama Sophie, e ela estará lá também. — Vai casar com ela, papai? — A pergunta não me surpreende. Alek é perspicaz, mais do que a maioria das crianças da sua idade. Mentir para ele seria uma perda de tempo. — Provavelmente sim. Mas, se acontecer, eu te conto, tudo bem? — Respondo, sentindo sua confiança em minha palavra. Ele murmura um “sim” antes de desligar. Andrei me observa em silêncio, esperando uma oportunidade para debochar. — Como se sente sabendo que em alguns minutos estará com sua futura noiva? — Sua pergunta é sarcástica, mas também há preocupação genuína nela. Ser o futuro Pakhán da Tambov Gang exige mais do que poder ou dinheiro. Exige respeito. E isso vem com responsabilidades. Fui solicitado a escolher uma esposa de acordo com as regras do conselho: uma mulher jovem, pura, filha de um dos associados da máfia e com o perfil adequado para se tornar "primeira-dama da máfia". — É apenas um acordo. Ela terá a honra de ser minha esposa. Vai servir ao propósito, e nada mais. — Minha voz sai firme, deixando claro que, para mim, isso não passa de mais uma peça no tabuleiro. Ao chegarmos no hotel, encontro meus pais já me esperando no lobby. Minha mãe, Irina, me observa com um olhar avaliador, sempre atenta a qualquer sinal que indique meu humor. Meu pai, Roman, mantém a postura firme de sempre, sem demonstrar muita emoção. — Você tem alguns minutos antes de sairmos. — Ele informa. — Ótimo. Vou tomar um banho. — Respondo, caminhando para o elevador sem prolongar a conversa. Dentro do quarto, tiro o paletó e afrouxo a gravata antes de seguir para o banheiro. A água quente desliza sobre meus ombros tensos, oferecendo um breve alívio antes do que promete ser uma noite tediosa. Jantares como esse são sempre os mesmos — sorrisos falsos, conversas ensaiadas, interesses velados. Ao sair do banho, visto um terno escuro, ajeito a gola da camisa e confiro a hora no relógio de pulso. Com passos firmes, desço até o lobby, onde meus pais já me aguardam para seguirmos à mansão dos Williams. No carro, o silêncio se instala por alguns instantes até minha mãe quebrá-lo: — James mencionou que Sophie está ansiosa para conhecê-lo. Solto um riso seco, sem desviar o olhar da paisagem londrina pela janela. — Ela pode estar ansiosa pelo que isso representa, não por mim. — Você não a conhece ainda. Talvez se surpreenda. — máma sugere, com um tom quase gentil. Roman, por outro lado, não perde tempo com sutilezas. — Você sabe que isso é necessário, Mikhail. Esse casamento fortalece alianças. Sophie foi criada para esse papel. — Eu entendo a importância disso. — Digo, com a voz fria. — E farei o que for preciso. O assunto morre ali. Meu pai não precisa de mais garantias, e minha mãe parece satisfeita com minha resposta. Quando chegamos à mansão dos Williams, Victoria e James nos recebem, oferecendo bebidas. Aceito um whisky, deixando o líquido descer queimando por minha garganta enquanto observo o ambiente. A conversa gira em torno de negócios, até que o som de saltos ecoa no andar de cima. Quando os passos de Sophie ecoam pela escada, uma fração de segundo é o suficiente para entender por que foi escolhida. Ela é linda, como uma estátua grega trazida à vida. Seus olhos azuis encontram os meus, e por um momento, algo naqueles olhos chama minha atenção. Não de um jeito romântico, mas estratégico. Ela é perfeita para o papel que eu preciso que desempenhe: a esposa do Pakhán. Seus traços são impecáveis, desde o vestido vermelho que contorna suas curvas com precisão até o sorriso que carrega o peso de mil mentiras bem treinadas. Ela sabe como se apresentar. Eu reconheço a fachada. Eu também a uso. Mas, ao mesmo tempo que admiro a beleza fria e controlada de Sophie, uma parte de mim permanece alerta. É claro que não confio nela — ou em ninguém. Beleza é um artifício perigoso, e eu conheço bem o jogo que ela está prestes a jogar. — Me acompanha, senhor Volkov? — Sua voz suave quebra o silêncio, mas há algo em seu tom... algo que esconde o que está por trás daquela máscara. — Será... interessante. — Respondo, mantendo minha compostura enquanto estendo o braço para ela. Enquanto caminhamos para o jardim, estudo cada movimento dela, cada gesto calculado. Essa mulher pode ser minha futura esposa, mas, no final das contas, será apenas isso: um nome ao lado do meu. Ela pode ser bela como um quadro, mas eu sei que beleza não protege ninguém no meu mundo. Sophie é um investimento — e eu sempre sei como fazer meus investimentos darem retorno.Continuo observando o rosto dela enquanto formula uma resposta. — Gosto de lutas. Também gosto de viajar, mas, para mim, voltar para casa é sempre a melhor parte. Com a vida que levo, isso é o mais próximo de normalidade que consigo: viagens, negócios, empresas... e a outra parte, que você provavelmente já conhece. — Digo, sem pressa, sabendo que suas reações vão me dizer mais do que suas palavras. Ela não demonstra surpresa, mas a tensão que emana de seu corpo é palpável. Não é algo que me incomode, já esperava essa reação. — Imagino que ainda esteja se acostumando com essa realidade. — Comento, de forma objetiva. — Sim. — Ela responde, simples, sem querer se aprofundar. — Me chame apenas de Mikhail. — Digo, observando seu olhar se ajustar. Ela assente, sem muita emoção. — Tudo bem, Mikhail. Soube que tem um filho... Achei que fosse conhecê-lo. — Ela menciona com um tom casual, mas com curiosidade à flor da pele. — Alek tem quatro anos. — Dou uma pausa antes de continuar. — El
Sophie WilliamsAo adentrar a sala de jantar da mansão Williams, fui envolvida pelo brilho e pela opulência que pareciam competir para exibir o poder e o status de nossa família. O teto alto, adornado por lustres de cristal, lançava reflexos suaves sobre a mesa longa. Esta, coberta por uma toalha de linho imaculada, exibia porcelanas finas, talheres de prata reluzentes e arranjos florais estrategicamente posicionados. O aroma das flores misturava-se ao leve perfume de cera polida, criando uma atmosfera que parecia dizer: Aqui, tudo está sob controle.Meu pai, James, ocupava a cabeceira da mesa, como ditava a etiqueta, enquanto Victoria, minha mãe, estava ao seu lado, irradiando a postura impecável e a autoridade que sempre a acompanhavam. Eventos como este eram o palco ideal para ela exibir sua visão de "perfeição familiar".— Sophie, querida, sente-se aqui, ao meu lado. — A voz dela era doce, mas o tom cortante carregava uma ordem implícita.Antes que eu pudesse responder, senti o toq
Mikhail VolkovApós o jantar, nos recolhemos ao escritório para discutir negócios. As conversas giravam entre as empresas e, em momentos mais reservados, sobre assuntos da máfia. No entanto, minha atenção frequentemente escapava para a loira que conversava com minha mãe e Victoria, a mulher que seria minha futura sogra.“Sophie Williams”Havia algo fascinante na postura dela, impecavelmente ereta, na forma como suas palavras eram medidas e suas expressões, cuidadosamente montadas. Mas, ao mesmo tempo, eu enxergava o que ela tentava esconder. Toda vez que James ou Victoria se dirigiam a ela, o sorriso que surgia em seus lábios parecia... artificial. Como se ela estivesse cumprindo um papel exigido por um roteiro. Aquilo não escapava aos meus olhos.Por um breve momento, nossos olhares se encontraram. Decidi ir até ela, curioso sobre a reação que isso provocaria. Sua voz logo preencheu o espaço entre nós, suave, mas com uma nota de hesitação. Notei que ela aceitava bem a ideia do casamen
Sophie WilliamsDepois que os convidados foram embora, senti meu peito travar, como se o ar se recusasse a entrar. Meu coração falhou uma batida no instante em que me virei para subir as escadas e uma mão forte segurou meu braço, puxando-me sem aviso. Antes mesmo de processar o que estava acontecendo, uma ardência cortante se espalhou pelo meu rosto.— Quem você pensa que é para escolher alguma coisa? As decisões serão minhas, tudo sairá conforme a MINHA vontade! — Victoria vociferou, suas unhas cravando minha pele.O impacto das palavras doía quase tanto quanto o tapa. Engoli em seco, tentando manter a voz firme.— Desculpe, Sra. Victoria, não foi proposital. Apenas imaginei que agir daquela forma fosse agradar a mãe do meu noivo. — A palavra queimou em minha língua. Noivo. O gosto amargo da realidade se instalou em minha boca. Casar com Mikhail Volkov significava entregar meu destino a um homem que escondia sua verdadeira natureza por trás de um terno impecável.Mídia e sociedade o
Logo após terminar de falar tudo o que queria, e me ameaçar a cada duas frases — James me liberou. Saí do seu covil — digo, escritório — e segui para onde ele informou que Irina e minha mãe estavam. No caminho, ensaiei um sorriso animado, mas sem exageros. Não via necessidade de fingir tanto com Irina. A mulher carregava um carisma raro e, depois de anos convivendo com falsidade, aprendi a reconhecer quando alguém estava sendo genuíno. Ao entrar na sala de estar, vi as duas sentadas à mesa, saboreando o café da manhã impecavelmente servido. Irina, elegante como sempre, vestia um azul-claro sofisticado que realçava seus olhos avelã. Já Victoria, com a postura impecável e expressão meticulosamente controlada, parecia satisfeita. Ou satisfeita comigo, cumprindo meu papel. — Bom dia, Irina. Mamãe. — Cumprimentei, removendo o sobretudo e apoiando-o no encosto da cadeira antes de me sentar. — Bom dia, querida. — O leve sotaque russo de Irina me lembrou Mikhail. — Você está deslumbrante
Mikhail Volkov O clima frio da Itália me envolve assim que desço do jatinho. Um carro me espera, e, sem trocar palavras, Andrei e eu seguimos em silêncio. Sabemos que não seremos bem recebidos. Os Giordano tiveram problemas com a Bratva e a destruíram, assim como todo o legado Petrov, restando apenas Aurora Petrov... ou melhor, Giordano. — Sabe, eu realmente espero que não tenhamos problemas. Não dormi bem e gostaria que pudéssemos resolver esse assunto tranquilamente — resmunga Andrei, sentado ao meu lado, enquanto meu segurança coloca o carro em movimento pelas ruas de Milão. — Impossível resolver tudo com cem por cento de tranquilidade. Matteo odeia os russos no geral. A família dele sofreu um inferno por culpa de Nikolai e Maxim — respiro fundo. Sei que a primeira coisa que ele fará será apontar uma arma para minha cabeça... Ele ou seu fiel escudeiro, Lorenzo Ricci, seu consigliere e cunhado. — Não consigo imaginar como aqueles desgraçados tiveram coragem de sequestrar a irmã e
Quinze segundos. Foi o tempo exato que Matteo encarou Lorenzo antes de se levantar abruptamente da cadeira e lançar seu copo contra a parede. O vidro estilhaçou com um estrondo seco, espalhando cacos pelo chão. — Maledetto, miserabile, traditore, figlio di puttana! — Os xingamentos saíram cuspidos como veneno de seus lábios, carregados de um ódio palpável. O nome de Pavel Vasilievsky era o bastante para incendiar algo incontrolável em seu peito. Agora, Matteo tinha um motivo a mais para querer a queda da Bratva, não era apenas uma questão de poder ou vingança, mas de proteger sua família e destruir o desgraçado que ousou traí-los. Ele passou a mão pelos cabelos, tentando conter a fúria que borbulhava em suas veias. Inútil. — Lorenzo, chame meu pai. Agora. — Sua voz era uma ordem afiada como lâmina. O consigliere não hesitou. Saiu da sala às pressas, deixando um rastro de tensão no ar. Matteo continuava de pé, o peito subindo e descendo em um ritmo descompassado. Do meu lado, And
Sophie Williams Os últimos dias foram agitados. Escolhemos tudo que faltava: os últimos detalhes sobre músicas, comidas... e tudo ficou perfeito, digno de um noivado de um Pakhán—como descobri que Mikhail é nomeado. É estranho imaginar que viverei uma realidade diferente, com um mafioso que pode ser igual ou pior que o casal que me colocou no mundo. Elena, minha cunhada, tem me ajudado a organizar os detalhes, mas Victoria sempre tem a última palavra. Até pareço uma criança na frente das outras pessoas, pois preciso perguntar o que ela acha das opções. — Sophie. — Sou tirada dos meus pensamentos quando a porta do quarto se abre. Sei que é hora de sair. Me autorizaram. Respiro fundo e sigo até a porta, sentindo o tecido do vestido deslizar suavemente pelo meu corpo. O azul metálico reflete a luz do lustre, criando um brilho quase hipnotizante. O corte sereia do tecido fino abraça minha silhueta, e a fenda lateral revela a pele em um detalhe equilibrado entre sofisticação e ousadia.