Jean olhava fixamente para o pequeno casebre de madeira. Estava a poucos metros. Os dois eram apenas pontos minúsculos em meio a um terreno gigantesco de puro verde, arames farpados e área remota. Os pássaros estavam simpáticos naquela manhã, cantarolavam com alegria, trazendo o inconfundível som do campo. Seria fácil se render àqueles encantos, mas tal clima ainda não tinha conquistado o rapaz. A proposta era passar ali boa parte de sua vida e ele permanecia indeciso sobre o que desejava.
Jean estava pensativo, talvez até arrependido. A simplicidade do local não deveria ser sua realidade. Ele deveria ter erguido uma chácara anos e mais anos atrás, tivera uma ótima oportunidade para isso. Seu pai lhe concedera o terreno e dinheiro para investimento, mas sua irresponsabilidade da juventude não permitira que fizesse nada pelo lugar. O dinheiro foi gasto da maneira mais imprudente possível. Em pensar que naquele momento ele poderia ter um enorme casarão, uma fazenda talvez, e não precisaria morar em um lugar tão simplório... Talvez agora pudesse mudar isso, já não era mais tão imprudente como antes. Agora estava casado, por isso sua grande preocupação. Ele lutava para ser responsável e com uma nova forma de pensar, questiova-se quanto tempo levaria para decidir se era aquilo mesmo que desejava.
Morar no interior de Petrópolis era se privar de muitos benefícios metropolitanos, ainda que a área fosse desenvovida, pacata e inspiradora. Porém, o que o levara até ali não fora um desejo incontrolável de se enfurnar no campo. Sozinho e diante a mais um dos seus erros do passado, ele reconhecia que tinha dúvidas. Jean não estava convencido de que suportaria ficar ali por muito tempo. Era tão diferente de sua realidade habitual. O motivo para aquela mudança era sua esposa. Andressa havia insistido tanto. Bastou apenas um sonho e ela implorou para viajarem rumo ao campo, queria retornar ao lugar que marcara a vida do casal. O desejo súbito da morena foi algo inesperado e exigiu uma decisão rápida. E lá estava, indeciso, apegando-se a um sonho de esperança.
Ambos eram crias da cidade e tentariam recuperar a simplicidade da juventude. Mas não foi apenas o pedido da mulher que o fez ceder. Ele mesmo queria se superar. Amor é isso, não? Abdicar de algumas coisas para tornar possível algo de extrema importância ao par. Jean duvidava de sua escolha. No passado, quando ainda rebelde, era ali que se reunia com seus amigos e Andressa. O local era longínquo, ermo, não era o tipo de lugar com o qual ele se sentiria à vontade, ainda que trouxesse boas lembranças.
A cabana à sua frente sofrera pelo efeito tempo. Não era o maior lugar e nem o mais belo. Representava boa parte do que teria que reconstruir. Era como a maioria de suas expectativas. A fachada precisava de uma grande reforma. Ao menos por dentro era confortável. Ainda existia o florido jardim do lado de fora. Ele esbanjava aromas e beleza.
Jean continuou a observar a cabana que tinha uma pintura madeira desgastada, com telhas para consertar e poucos cômodos no interior. Com certeza muito precisaria reformado e ele… Tomou um grande ar e decidiu deixar de ser reclamão. Estava feito. A casa não era grande, era certo de que acabaria em menos de uma semana. O rapaz da cidade não era acostumado a serviços pesados, mas estava bem disposto a dar o seu melhor. Tinha que ser assim.
Depois de decidir sobre a velha cabana. Jean fixou seus olhos sobre o que tinha de mais belo no lugar: aquele jardim no extenso quintal, além de um arborizado bosque que se escondia atrás do terreno. Ele se convenceu. Era tudo o que precisava, era tudo o que ele imaginava para conseguir resgatar a alegria de sua esposa. Um breve e largo sorriso se formou em seus lábios, ele fechou seus olhos e inspirou com vontade o ar puro do campo. Estava tudo bem.
Voltou sua atenção para ela, Andressa, por quem havia largado um estágio promissor como advogado. Se tudo desse errado só demoraria um mês para retomar sua rotina. Ele tinha que se dispor a arriscar um novo destino. De certa forma estava seguro.
A moça permanecia no interior do automóvel, sentada no banco de trás. Com sua cabeça abaixada pôs-se a ajustar o óculos escuro, ele havia decidido deslizar sobre o apoio de seu nariz. O rapaz abriu a porta traseira do carro, segurando delicadamente a mão dela. Com empolgação disse enquanto a auxiliava a sair do veículo.
ᅳ Gostaria que pudesse ver como tudo está ainda mais lindo. O jardim e o bosque. Uh! Estão incríveis!
Com a ajuda de Jean ela desceu. Sua percepção mais apurada a fez intuir que ele sorria. Andressa sentia que estava animado pelo seu tom de voz e o toque mais firme e carinhoso em sua mão. Conseguiu recordar do sorriso de seu amado. Era perfeito! Então pediu:
ᅳ Diga para mim como está cada detalhe, por favor.
ᅳ Claro! Só vou pegar uma coisa. ᅳ Ele soltou a mão que amparava com tanto cuidado. Andressa permaneceu de pé, parada, tranquila. Jean buscou a bengala da esposa dentro do carro. Acabou se deparando com o enorme cão labrador de pelagem negra. Permanecia ali dentro. Jindo, o cão, costumava ser muito ativo e naquele momento deveria estar correndo ao redor da casa, explorando o jardim e tudo o que ia além. Mas estranhamente ele estava arredio, soltava baixos ganidos, algo como um choro e não parava de olhar para aquela cabana e para o bosque adiante.
ᅳ Vamos Jindo! Eu sei que uma mudança é difícil, mas não vai bancar o desmancha prazeres justamente agora. ᅳ Jean disse. Homem e cão se encararam firmemente e por fim o animal deixou o carro. Ainda desconfiado e arredio, farejou todo o solo por onde fez seu caminho. Seguiu caminhando em direção ao bosque, perdendo-se da visão do rapaz.
ᅳ Qual o problema do Jindo? ᅳ Perguntou a jovem, tinha ouvido todas as palavras.
ᅳ Aversão a mudanças, eu acho. ᅳ E ele sorriu uma vez mais.
ᅳ Você ainda não me detalhou o lugar. ᅳ Relembrou a jovem, curiosa para poder imaginar como estaria aquele espaço no presente.
ᅳ Oh sim! Você deve estar ansiosa para saber. ᅳ Jonathan entregou a bengala diretamente na mão da esposa, ela a segurou com firmeza e começou a caminhar.
Jean permitiu que Andressa desse seus passos sozinha, conhecia o desejo de independência dela. A morena não aceitava que a enxergassem como incapaz, não suportava essa ideia. Por isso o rapaz caminhava atrás dela, atento e zeloso.
ᅳ Você está caminhando pelo caminho de pedras que vai te levar diretamente à entrada principal. O caminho está meio sujo e eu acredito que terei que trocar a porta. A madeira velha está muito frágil, não me oferece segurança.
ᅳ Estamos no campo. Acho que nossa segurança contra os indivíduos de má fé será a última coisa com a qual devemos nos preocupar. Mas nossa casa está caindo aos pedaços? ᅳ Assim que terminou de falar, a ponta da bengala prendeu em um vão entre as pedras. Isso fez com que ela perdesse o equilíbrio. Sempre atento, Jean imediatamente a amparou, segurando-a para evitar uma queda. Andressa sorriu sem jeito e comentou:
ᅳ Caminho de pedras traiçoeiras.
Jean não achou graça pelo acontecido. Ainda a segurava firme, agora com um semblante completamente fechado. Preocupou-se. O coração permanecia disparado pelo susto repentino, Andressa percebera, pois assim que ele a segurou, a abraçou. Dessa forma se tornaram nítidas as batidas fortes dos corações de ambos.
ᅳ Calma, Jean! Foi só um tropeço… ᅳ Disse tentando amenizar a preocupação.
ᅳ Não deixa de ser perigoso. Até você se acostumar com o caminho eu te ajudarei a caminhar por aqui. ᅳ O rapaz segurou firme a mão da mulher.
ᅳ Mas… ᅳ Andressa ainda tentou falar algo, sendo interrompida.
ᅳ Shhhh! Nesse caso não tem negociação. ᅳ Disse com uma seriedade gentil, fazendo com que ela percebesse que perderia seu tempo se insistisse. Quando Jean usava aquele tom, estava decidido demais. Andressa aceitou a ajuda e mudou de assunto:
ᅳ Mas até agora só sei que o caminho até à casa está sujo e suas pedras se tornaram traiçoeiras. Ainda contamos com uma porta caindo aos pedaços. O que de bom temos aqui? ᅳ Caminhava com ele segurando sua mão. Poucos passos depois conseguiu tocar a porta com a ponta da bengala. Jean finalmente a soltou.
ᅳ O jardim! Está mais vivo do que nunca. ᅳ Precisou reconhecer. A viu abaixar a cabeça e sorrir. Estava feliz. Por alguma lembrança, pela confirmação naquele momento. Ele continuou. Olhou para todas as variedades de flores, não havia apenas rosas.
ᅳ Aqui temos de tulipas de todas as cores. E rosas também.
ᅳ Me leve até as rosas. Quero sentí-las. ᅳ Andressa pediu, dessa vez agarrando a mão do marido. Ele a guiou até as rosas brancas, favoritas dela. Com delicadeza colocou a mão da mulher sobre uma das pétalas, preocupava-se com os espinhos. Viu mais uma vez o sorriso sincero brotar, Andressa tocou a flor. Naquele instante Jean teve a certeza de que havia tomado a melhor decisão.
ᅳ Tão delicada. ᅳ Andressa aproximou seu rosto para sentir o perfume. ᅳ Delicada e cheirosa. Daria tudo para vê-la mais uma vez…
Ele permaneceu calado, apenas a observá-la. Sempre a achara tão linda, principalmente em meio às flores. Ainda tocando a rosa com delicadeza, Andressa continuou suas palavras:
ᅳ … Daria tudo para ver essas rosas, mas, principalmente, ver seu rosto mais uma vez.
Ouvir tais palavras fez o coração do rapaz pesar. Seu olhos marejaram de lágrimas. Agora não tinha boas lembranças. Ele e ela concordariam quando dizem que o súbito te marca para sempre. Jean passou a se recordar de suas dúvidas e, como se não bastasse, do dia que mudou por completo sua rotina.
A tragédia havia acontecido há três meses atrás. No momento do acidente, Jean não acompanhava Andressa. Desde então ele passou a se questionar se algo seria diferente se estivesse no carro. Jean estagiava em uma importante empresa de advocacia. Naquele dia estudava um caso de corrupção em uma grande empresa, estava focado demais no trabalho. Dedicar-se ao caso trazia muito orgulho ao seu pai, um outro advogado. Concentrado, recebeu o telefonema que mudou seu foco por completo. Do outro lado da linha disseram que Andressa, sua noiva na época, havia sofrido o grave acidente e se encontrava na mesa de cirurgia.
Relembrar-se da angústia que sentiu era como se experimentasse mais uma vez a sensação. No mesmo instante ele largou tudo o que fazia. Correu para o hospital, sentindo o coração sendo torturado sob o peito. Precisou de um táxi para seguir e no caminho, enquanto pedia aí motorista para acelerar, o rapaz ia se recordando de como fora sua manhã perfeita. Havia acordado nos braços dela e dessa forma permaneceu por um longo tempo. Era inverno, estava frio e ele gostava de ouvir sua voz pela manhã. Conversavam sobre os desejos para o futuro. Ela revelava todo seu amor pela cabana que havia no campo, o jardim estava morto na última vez que foram visitá-la. Deveriam cuidar dele. Ela já tinha alguns planos, a moça disse que o mais importante seria a carreira dele. O campo ficaria para um futuro distante, talvez quando os dois fossem velhinhos e pudessem se dedicar à parte mais simples da vida.
A lembrança mais marcante na memória de Jean foi o brilho no olhar de Andressa. Seus olhos negros irradiavam luz ao falar sobre o sonho, ela era uma escritora e amava o silêncio tanto quanto amava as flores. E agora, no presente, não havia mais aquele brilho e por um instante no passado houve a ameaça de um futuro entre dois não acontecer. Era desesperador pensar sobre isso, mas que não permitia Jean se esquecer do passado eram as consequências. Andressa permanecia cega por motivos que ele sequer entendia, porém, havia esperanças de recuperação. Os últimos exames feitos antes de deixarem a cidade iriam dizer se poderiam se apegar a elas. Enquanto isso a morena permanecia encantada por aquela rosa, não estava triste como nos últimos dias. Ele a observava e uma lágrima rolou pelo rosto do rapaz. Sentia- se feliz, claro! Contudo, nada era perfeito. Ele conseguia realizar um dos sonhos de sua amada, mas ao mesmo tempo lamentava por ela não poder apreciar tudo por completo. E ainda tinha seus próprios sentimentos conflitantes. Como seria viver como uma cega para o resto de sua vida? A condição dela já estava mudando por completo todos seus planos pessoais. Jean odiava o incerto. E ele poderia ficar pensando sobre isso por um longo tempo, mas todas suas duras questões e lembranças foram interrompidas por um discreto grito.
Os olhos do rapaz se fixaram sobre a mão banhada em sangue.ᅳ O que aconteceu? ᅳ Indagou preocupado, aproximando-se para uma melhor visão.ᅳ Um espinho. ᅳ Andressa segurava sua mão, sentindo o sangue fluir em uma quantidade considerável. O líquido jorrava pelo pequeno furo aberto, banhando todos os dedos da mão esquerda e sendo derramado sobre a terra. Ao ver tamanha quantidade de sangue, de preocupado Jean passou a desesperado. Imediatamente retirou um lenço do bolso e o envolveu contra a mão ferida, pressionando e deixando que ela segurasse.ᅳ Vamos entrar. Preciso cuidar disso. ᅳ O tom apreensivo se intensificou.ᅳ Não foi nada. Eu só fui descuidada, quero ficar mais algum tempo aqui.Mas não havia chance para acordo.ᅳ Você está ferida! Vamos entrar, cuidar disso e depois nós voltamos. ᅳ Ele apoiou suas mãos sobre os ombros da menor, virando-a para a entrada.Andressa pensou em dizer algo. Sua garganta secou. Uma gélida
Jean andava apressado, quase a correr. Desejava com fervor sair daquele bosque. O som das folhas secas sendo amassadas pelos seus pés o deixava ainda mais nervoso. Era como se mais passos o acompanhassem."Não, não pode ser!" ᅳ Ele repetia e repetia em pensamento. Olhou para Jindo, que também guardava um fio de horror no olhar.ᅳ Por que você foi lá, Jindo? É perigoso. Você poderia se perder. ᅳ Repreendeu o cão, tudo para tentar afastar a lembrança da sua memória. A visão do que havia naquele buraco o tinha perturbado ao ponto de deixar suas pernas bambas."Um braço… O braço! Aquela pulseira… Não! Não pode ser!" ᅳ Ele mais uma vez retomava o assunto, não conseguia afastá-lo.
Demorou para que ela adormecesse novamente. Ele ficou ao seu lado até o momento chegar, sempre paciente e zeloso. Já era noite quando aconteceu. Então Jean decidiu deixar o quarto e ligar para Erick, médico de Andressa e amigo de ambos. O rapaz não conseguiria dormir bem naquela noite. Tudo havia dado tão errado. Ele poderia afirmar que ficou mais aterrorizado pelo desespero da mulher do que pelo corpo encontrado no bosque. Aquela que dormia era sempre sua maior preocupação.A cada atitude estranha dela, ele se perdia entre sentimentos e decisões. Os três últimos meses foram um inferno, ele lutou para ser forte por dois. Além da cegueira, que Erick deu grandes esperanças de que seria temporária, foi constatado que Andressa sofria de amnésia. Ela não era capaz de se lembrar de horas ant
Era começo de madrugada e se podia ouvir no coração do bosque o inconfundível som de terra sendo remexida na base da enxada. O responsável pelo trabalho era Jean, que tratava de tapar o buraco que Jindo fizera mais cedo. O rapaz já estava cansado e suado, apesar da noite não estar quente quanto a manhã. Jean tirou sua camisa e continuou a cuidar daquele buraco, mostrando-se ansioso e desesperado para finalizar o que fazia. Já estava exausto, mas não era só por isso que desejava o fim daquilo tudo.Mais meia hora se passou e ele finalmente se viu livre do trabalho. Analisou o espaço, a área parecia de acordo com todo o resto do solo. Ninguém desconfiaria o que repousava por debaixo daquelas inúmeras camadas de terra. Jean respirou aliviado e enxugou várias gotas de suor que caiam pela sua testa. Ajeitou seus cabelos curtos, também empapados pelo suor. Ele olhou para o lugar pela última vez naquela noite. Estava como ele desejava: livre de qualquer suspeita.
Era quatro da manhã quando Andressa passou a se mexer de maneira inquieta na cama. Indícios de um terrível pesadelo que se iniciava. No estranho sonho ela estava no interior de um bosque fechado e escuro, contudo, apesar desses detalhes, enxergava com clareza o que tinha a sua volta. Sabia que se tratava do bosque ao fundo de sua cabana. E… Ainda que ela pudesse enxergar com perfeição, seus olhos estavam completamente brancos. Tudo estaria normal se fosse apenas isso, porém, pouco tempo depois ela percebeu que estava paralisada no centro do bosque.Nos primeiros minutos ainda mostrava certa calmaria. Tentou mover um pé e olhou para baixo. Vestia uma camisola branca e seus pés estavam descalços. Forçou-se mais uma vez a dar um passo, precisava sair dali. P corpo balançou e a perna não se moveu. O nervosismo começava, a energia do lugar não ajudava, passava a ficar tensa demais, a inconodando quase ao ponto de sufocá-la. Tudo piorou quando um odor insuportável invadiu suas narin
Andressa acordou de súbito. Aflita, dolorida e, como sempre, refém da escuridão. Essa era a pior parte após qualquer pesadelo ou sonho. Nunca a luz aparecia. Ela estava ofegante, com o coração apertado, parecia carregar um peso que comprimia seu peito. Um peso causado pelo medo do não natural e ainda desconhecido. A morena se forçou a respirar fundo várias vezes. Precisava diminuir aquela aflição, recuperar qualquer resquício de tranquilidade. Mas a imagem do pesadelo estava tatuada na sua memória. Vívida, clara. Suas sensações eram intensas, reais, profundamente reais. Mais reais do que quaisquer outras.Andressa, agora sentada sobre a cama, lutando contra seu medo, tentava se convencer de que aquele pesadelo fora apenas mais um, foram tantos para assombrá-la nos últimos meses. Ela mesma se boicotava. Precisava parar. No escuro, decidiu
dO trio de amigos estava reunido na pequena sala, sentados de frente ao lado de uma lareira apagada. Erick tinha em mãos os exames. Jean e Andressa estavam sentados lado a lado em um sofá encardido de dois lugares. Ela segurava forte a mão do marido, temia as notícias, não podia enxergar a expressão confiante do amigo. O médico, sentado em uma poltrona, de frente ao casal, organizava alguns envelopes. Ali estavam todos os resultados dos exames. Após abrir um envelope, ele pôs o papel sobre a mesinha de centro e começou a falar, levantando seus olhos na direção da amiga que mantinha seu semblante apreensivo. A partir dali todas suas esperanças poderiam mudar. Sendo assim, Erick decidiu não torturá-la.ᅳ Veja bem… Creio eu que sua maior apreensão é a incerteza de que se poderá voltar a enxergar algum dia.Os homens naquela sala tinham seus olhos fixos sobre a escritora, que mesmo sem confirmar com palavras, dava a certeza de que aquelas palavras estavam corretas. Eri
Caminhavam pelo bosque, o ar fresco preenchia seus pulmões. Após tanto tempo, Andressa sentia sua respiração profunda trazer prazer e calma. Como sempre, ela recusava ajuda, ainda mais agora que tudo estava prestes a ser como antes. Boa parte das preocupações haviam sido apaziguadas. A morena em breve poderia dar continuidade aos seus sonhos e não iria interferir na vida daqueles que amava.Nos últimos meses foi difícil pensar que atrapalhava a vida de muitos. Eles abriram mão de coisas importantes para ajudá-la. Jean era sua maior "vítima", mas em breve não seria mais assim. Obviamente sentir-se dessa maneira não era correto, tampouco saudável. Andressa se sentia culpada e para ela era difícil aceitar as palavras do psicólogo, era difícil aceitar que acidentes acontecem e que por mais que novas dificuldades surjam, não devemos nos encarar como um fardo na vida das pessoas.Uma conversa mais leve acontecia entre os amigos. A princípio eles falavam sobre coisas que