Um pouco mais de uma semana havia se passado. A preocupação dos amigos já quase não existia, todos se sentiam livres do espírito vingativo. Boas notícias também surgiam, como a recuperação rápida de Jean, que só mantinha o pulso esquerdo imobilizado e naquele dia receberia alta; a saída de Caíque da UTI para um quarto normal havia acontecido, o psicólogo, além de tudo, mostrava uma boa aceitação de sua nova realidade, estava vivo. Andressa se mostrava como a mais tranquila. Com o corpo de Tiffany cremado, ela mais do que ninguém acreditava que a perseguição havia chegado ao fim, a parte principal de seu plano havia se completado. Ela, enxergando e livre de um fantasma, poderia agora retomar sua vida comum, seu sogro estava trabalhando para livrar a todos de serem envolvidos na investigação. O assassinato de Tiffany seguiria como um
Mal o sol havia surgido no horizonte e Andressa já estava de pé, pronta para ir para o julgamento. Arrumada, ela olhava para o marido que ainda dormia. Deveria acordá-lo para que ele se preparasse para ir à firma, mas também gostava de admirar sua serenidade. Agora ela tinha certeza de que após o julgamento e a condenação eles seriam felizes, sem mais fantasmas para atormentá-los.Olhou para seu relógio, faltava pouco para às nove da manhã e precisaria acordá-lo para ele cumprir com seu compromisso. Aproximou-se da cama e carinhosamente deu-lhe um beijo:— Acorde, belo adormecido. Você não pode se atrasar. — Sussurrou em seu ouvido.Com lentidão ele abriu seus olhos, sorriu ao ver o rosto de Andressa. Ainda estava meio sonolento quando se sentou na cama e recebeu um rápido selinho da mulher, que avisou.&mdash
Jean suspirou aliviado ao perceber que estava prestes a se livrar do engarrafamento, já era permitido acelerar um pouco mais. Como ele odiava aquele horário! Estava ansioso para encontrar com Andressa. Há muito tempo que eles não visitavam um restaurante.Pôde pisar um pouco mais no acelerador, agora estava certo de que em dez minutos estaria chegando em casa. Livrou-se daquele nó no trânsito. Enquanto dirigia imaginou o quanto sua vida havia mudado nos últimos meses. Não pôde negar, sentiu-se estranho! A vida é tão imprevisível, tudo o que podemos controlar são nossas decisões e às vezes nem isso. Em um passado não muito distante ele ainda não dava o devido valor à Andressa, mesmo estando com ela há anos.Deveria ter aproveitado melhor esses anos, mas tamb&eac
Jean permanecia derrubado no chão quando foi surpreendido por uma idosa que parou ao seu lado de repente. Ela carregava uma bengala, guiava-se por ela e foi com o objeto que bateu nas pernas do rapaz, atraindo assim sua atenção. Ele a olhou. A senhora voltou seus olhos para baixo, era cega. Tinha suas íris num branco leitoso e começou a falar.— Não acabou, ela quer você, só você... Você pre... — Nem teve a chance de terminar suas palavras, um dos policiais a tirou de lá.— A senhora não pode passar por aqui, local de um acidente... — O policial a guiava para o lado oposto ao rapaz.— Mas, mas... Não... O que... — A idosa se mostrava desnorteada e Jean se mostrou curioso sobre ela, a olhava estranhamente.— Jean, você está aí?? — O rapaz ouviu aquela voz longe vindo de seu celular e voltou a falar no aparelho.— Estou.— O que aconteceu com a Andressa? — O médico precisava ter certeza do que estava acontecendo.<
Caíque dedicava suas primeiras horas da manhã e últimas horas da noite às pesquisas sobre os mistérios que envolviam a floresta maldita.Muito havia acontecido nos últimos seis meses, desde a morte trágica de Andressa, a jovem que ele agora reconhecia como atormentadores…Jorge Antônio, o pai de Tiffany, indo parar em um manicômio não levantou muitas suspeitas, para muitos a morte da filha tinha enlouquecido o homem, mas Caique dava atenção às suas palavras que saiam em blogs sensacionalistas. Ele estava sendo as
Ela se enxergava. Tinha seus olhos leitosos e mortos, mas algo estava diferente. Pela primeira vez tal detalhe não a limitava. Sua pele parda era acariciada pelos raios da primavera. Os pés caminhavam descalços, a brisa calma fazia seu vestido dançar ao ritmo dos ventos.A morena enxergava seu sorriso e seu fascínio. Rendia-se àquelas lembranças. Viajar para o campo era sinônimo de renovação. E lá estava ele, em meio às rosas de infinitas cores. O rapaz vestia uma camiseta escura e sem mangas. Na parte de baixo um moletom cor de jeans lavado e relavado inúmeras vezes. Os cabelos estavam mais longos. Jean permanecia rebelde como um adolescente, calçando um all star surrado, com seus cabelos escuros presos em um rabo de cavalo mal feito. Os olhos negros se mostravam indecisos. Qual rosa escolher?Em meio aos perfumes, um aroma reconhecido prevaleceu. Andressa se pôs ao lado do namorado. A mesma que os observava sentiu seu coração aquecer. Retornar a um tempo era literalmen
Jean olhava fixamente para o pequeno casebre de madeira. Estava a poucos metros. Os dois eram apenas pontos minúsculos em meio a um terreno gigantesco de puro verde, arames farpados e área remota. Os pássaros estavam simpáticos naquela manhã, cantarolavam com alegria, trazendo o inconfundível som do campo. Seria fácil se render àqueles encantos, mas tal clima ainda não tinha conquistado o rapaz. A proposta era passar ali boa parte de sua vida e ele permanecia indeciso sobre o que desejava.Jean estava pensativo, talvez até arrependido. A simplicidade do local não deveria ser sua realidade. Ele deveria ter erguido uma chácara anos e mais anos atrás, tivera uma ótima oportunidade para isso. Seu pai lhe concedera o terreno e dinheiro para investimento, mas sua irresponsabilidade da juventude não permitira
Os olhos do rapaz se fixaram sobre a mão banhada em sangue.ᅳ O que aconteceu? ᅳ Indagou preocupado, aproximando-se para uma melhor visão.ᅳ Um espinho. ᅳ Andressa segurava sua mão, sentindo o sangue fluir em uma quantidade considerável. O líquido jorrava pelo pequeno furo aberto, banhando todos os dedos da mão esquerda e sendo derramado sobre a terra. Ao ver tamanha quantidade de sangue, de preocupado Jean passou a desesperado. Imediatamente retirou um lenço do bolso e o envolveu contra a mão ferida, pressionando e deixando que ela segurasse.ᅳ Vamos entrar. Preciso cuidar disso. ᅳ O tom apreensivo se intensificou.ᅳ Não foi nada. Eu só fui descuidada, quero ficar mais algum tempo aqui.Mas não havia chance para acordo.ᅳ Você está ferida! Vamos entrar, cuidar disso e depois nós voltamos. ᅳ Ele apoiou suas mãos sobre os ombros da menor, virando-a para a entrada.Andressa pensou em dizer algo. Sua garganta secou. Uma gélida
Jean andava apressado, quase a correr. Desejava com fervor sair daquele bosque. O som das folhas secas sendo amassadas pelos seus pés o deixava ainda mais nervoso. Era como se mais passos o acompanhassem."Não, não pode ser!" ᅳ Ele repetia e repetia em pensamento. Olhou para Jindo, que também guardava um fio de horror no olhar.ᅳ Por que você foi lá, Jindo? É perigoso. Você poderia se perder. ᅳ Repreendeu o cão, tudo para tentar afastar a lembrança da sua memória. A visão do que havia naquele buraco o tinha perturbado ao ponto de deixar suas pernas bambas."Um braço… O braço! Aquela pulseira… Não! Não pode ser!" ᅳ Ele mais uma vez retomava o assunto, não conseguia afastá-lo.