ELLE NARRANDO
Henry Abel levantou a mão, me chamando para que eu fosse atende-lo. Eu fui até eles, para anotar o pedido.
— Para mim, uma paleta de cordeiro do chef, por favor. E pode sugerir uma entrada que achar agradável. — Ele disse, meio que sem se importar.
— Vinho para acompanhar, senhor? — Questionei.
— Qual sua sugestão? — Questionou.
— Esse prato harmoniza muito bem com nosso vinho Chianti, que vem diretamente da Toscana e é elaborado com uvas Sangiovese. Mas se o senhor não gostar de vinhos italianos, posso sugerir o Bordeaux, também harmoniza bem.
— Pode ser o Chianti.
— E você, meu amor, o que vai querer? — Eu sorri para o garotinho, o observando de forma carinhosa.
— Eu quero esse, esse, esse e esse! — Disse, apontando para os quatro pratos no cardápio.
— Ah, meu amor, você não vai aguentar comer tudo isso. Por que não escolhe apenas um, hm? Eles são pratos bem grandes. — Falei, pacientemente.
— Não, eu quero todos. — O garoto me olhou com seriedade, como se eu fosse obrigada a fazer aquilo. Eu ergui as sobrancelhas.
— Vai ser um desperdício de alimentos, querido. — Olhei para o pai do garoto, buscando algum apoio. Ele nem me dava atenção. Estava mexendo no celular.
— Não! Eu quero os quatro pratos e acabou! — O menino berrou, para minha surpresa. — Me dá os pratos! Papai! — Ele gritou, mais alto.
— Jesus Cristo. — Girei meus olhos. Crianças mimadas me tiram a paciência.
— Me traz os pratos! — A criança gritou. — Eu quero todos!
— Ei, você não vai fazer nada? Teu filho vai jogar um monte de comida fora! — Chamei o pai, que parecia ocupado demais para lidar com o próprio filho.
— Traga os pratos. Eu quem vou pagar a conta, não você. — Arregalei os olhos, chocada.
— É sério?
— Olha, por favor, apenas faça seu serviço em silêncio e atenda o menino. — Henry Abel, o homem mais poderoso de Nova Iorque praticamente me mandou calar a boca.
— Como quiser, só não se esqueça que tem pessoas passando fome nessa cidade, e o senhor vai atender o pedido de uma criança que não faz ideia do que significa desperdício.
Saí nervosa, mas atendi o pedido do homem e seu filho.
— Meu Deus, eles pediram tudo isso? — Senhor Hopkins disse, com os olhos arregalados.
— O garoto é um mimado que não ouve “não” nunca, pelo visto. Melhor atender, porque ele causou uma cena ali. — Avisei e senhor Hopkins ergueu as sobrancelhas.
— Ah, obrigado por avisar. — Disse.
Eu continuei atendendo normalmente, mas não conseguia tirar os olhos da mesa do senhor Henry Abel. Ele não dava atenção para o filho, parecia estar compenetrado no celular, resolvendo algo importante. O garoto parecia triste, e isso me fez pensar em algo: Ele escolheu todas aquelas coisas para chamar atenção do pai, mas não deu certo. Crianças fazem isso. Elas tentam, de todos os jeitos, chamar atenção de seus pais...
Quando os pratos chegaram, eu comecei a trazer para a mesa. Primeiro, um dos pratos da criança, que escolheu os quatro pratos do cardápio infantil. Deixei os pratos em frente ao garoto e depois trouxe o cordeiro de Henry Abel, o colocando em sua frente. Ele agradeceu acenando com a cabeça, e logo eu trouxe seu vinho.
— Papai! Papai, eu quero que ela coma comigo! — O garotinho apontou para mim.
— Meu amor, eu não posso, estou trabalhando. — Falei. Quando eu ia sair, ouvi a voz dele.
— Sente-se ao lado do meu filho. — Disse, em um tom impositivo.
— Eu estou trabalhando, o senhor não ouviu? Tenho outras mesas para atender.
Naquele momento, o garotinho começou a chorar. Eu fechei meus olhos e respirei de forma pesada.
— Eu só vou comer se ela me der na boca! — A criança disse, apontando para mim. Eu mereço!
— Sente-se ao lado do meu filho. — Disse, me olhando nos olhos.
Algo nele me faz querer obedecer... Deus, por que eu pensei algo extremamente promíscuo nesse momento? Se controla, Elle!
— Não. — Respondi, caminhando para longe.
O garoto, chorando, começou a gritar. E eu? Bom, eu fingi ignorar, mas Henry Abel veio andando atrás de mim. Senhor Hopkins veio ao nosso encontro, e eu estava assustada, sem saber o que fazer.
— Está acontecendo alguma coisa, senhor? Posso ajuda-lo? — Senhor Hopkins disse.
— Qual o salário dessa moça? — Ele questionou, apontando para mim.
— Ela ganha quarenta dólares por dia. Por que, senhor? — Senhor Hopkins questionou. Eu observava tudo atônita.
— Quero que ela passe o resto do dia servindo meu filho. Pago dez vezes o salário dela em retribuição.
— Meu trabalho não é servir crianças mimadas. — Eu falei, olhando para ele. Ele me olhou nos olhos mais uma vez, e abriu a carteira, tirando quatrocentos dólares de lá, e entregando diretamente para meu chefe, enquanto me olhava nos olhos.
— Faça o que ele pediu, Elle. Vá comer com a criança. — Meu chefe disse.
— Mas... — Eu tentei falar algo.
— Sem mas! Vai logo, ou te demito! — Retrucou.
Eu e Henry Abel nos olhávamos nos olhos, e era como se faíscas de ódio pulassem de nós dois. Eu odeio esse homem com força, e talvez ele me odeie também, porque eu sou apenas uma garçonete que está o enfrentando sem se importar com o fato dele ser o grande Henry Abel.
Me sentei na mesa com a criança, me sentindo humilhada. O garoto limpou as lágrimas e eu comecei a cortar sua carne, e servi-lo. Ele sorriu de forma doce. No final das contas, fiquei com um pouco de pena do garoto. Ele só quer um pouco de atenção de algum adulto.
— Está gostoso, criatura? — Questionei, meio sem paciência.
— Delicioso! — Respondeu.
Henry comia ao meu lado, vez ou outra me olhando, para se certificar que eu estava fazendo meu trabalho de forma correta, e eu o olhava com ódio. Inacreditável.
Quando o garotinho terminou de comer, Henry pagou a conta e eu os levei até a porta do restaurante. O mais inacreditável veio a seguir: Eu o vi entrando no carro... Que era exatamente o carro que me ensopou no início da manhã! Ah, eu odeio esse homem!
ELLE NARRANDOFiquei com muita raiva do que aconteceu. Eu fui completamente humilhada por esse tal de Henry Abel. Tanto faz quem ele é, se é rico ou pobre, o que me interessa foi o jeito com que ele me tratou que eu odiei! Porém, eu não posso deixar de admitir uma coisa: Ele é um homem muito, muito bonito... E seu ar dominador me deixou meio... Eu não sei dizer, com os joelhos bambos. Homens poderosos sempre me deixaram assim, mas eu apenas ignoro. Não tenho tempo para ficar me derretendo por cada homem poderoso que acho bonito dentro do restaurante onde trabalho. O problema é que, o olhar de Henry Abel no meu não me sai da cabeça. E isso me faz ficar com mais raiva ainda.Quando cheguei em casa, depois desse dia horrível, liguei para minha melhor amiga, Nicole.— Oi, amiga. — Falei, no telefone.— Oi, linda! Como você está? — Questionou.— Irritada. Tive um dia péssimo. — Bufei. — Você não vai acreditar no que me aconteceu hoje.— O que aconteceu?— Hoje de manhã, eu estava atrasada
ELLE NARRANDOQuando Henry fez isso, o homem o atacou com um soco, e eu me soltei de Henry. Antes que o soco pudesse acertar Henry, ele segurou a mão do homem no ar e o empurrou para longe.— Você tem certeza que quer brigar comigo? — Disse, abrindo os botões dos punhos da camisa branca e dobrando as mangas.— Acha que eu tenho medo de um mauricinho idiota? — Respondeu, prontamente.O homem atacou Henry, e ele começou a bater nele de volta. Henry, vestindo uma camisa branca, parecendo apenas um homem de negócios comum só que bonito, alto e forte, deu uma surra em um marmanjo vestindo camisa de time. Foi uma surra colossal. Os outros dois amigos do homem que foi espancado entraram no meio da briga, tentando segurar Henry... Mas ele deu conta dos dois, sozinho, os espancando também. Eu estava me segurando no banco, para não cair, mas vi tudo. Agora, os três marmanjos valentões estavam caídos no chão, se contorcendo de dor.— Será que mais alguém quer levar uma surra aqui, ou eu posso ir
ELLE NARRANDOApaguei de novo. Tudo estava confuso demais, eu não fazia ideia do que estava acontecendo direito. Mas então, quando acordei depois de um longo tempo, eu vi o que estava acontecendo e lembrei de onde estava. Agora, eu já me sentia bem melhor. Me levantei e vi na mesinha de centro minha bolsa, uma garrafa de água e alguns comprimidos para dor de cabeça e enjôo. Eu peguei um para dor de cabeça e tomei, então, vesti as sandálias e saí do quarto. Henry me salvou e eu só conseguia sentir um misto de gratidão e... Outras coisas que pulavam por meu peito e eu não conseguia entender. Sou uma pessoa confusa, e Henry chegou transformando meu peito em um liquidificador aberto, ligado, com passa de panqueca... Só que sem tampa. É, foi isso que ele fez comigo.Fui surpreendida pelo filho de Henry, que veio correndo em minha direção.— Ei! É você! É a moça legal do restaurante! — Ele agarrou minhas pernas. — Você vai ser minha nova mamãe? Diz que sim! O papai nunca traz nenhuma mulher
ELLE NARRANDOAcordei cedo, hoje o dia seria ótimo, pressupus. Não tenho nada me incomodando e tenho tempo para chegar ao meu trabalho de forma tranquila. Me arrumei, passei um pouco de rímel e batom, fiz uma trança embutida em meu cabelo e olhei para mim mesma. Sou uma mulher bonita de cabelos castanhos e olhos castanhos, pele clara, tenho baixa estatura e um corpo normal. Não sou o padrão de beleza, mas todos sempre disseram que tenho uma beleza diferente das outras. Essa beleza já me colocou em mais enrascadas do que posso contar. O valentão no bar não foi o primeiro.Ouvi batidas na porta e fui correndo atender. Quem poderia ser essa hora?— Oi, amiga. — Nicole estava na porta, quando eu atendi. Eu a olhei com ódio.— Amiga? Você tem coragem de me chamar de amiga depois de me deixar sozinha naquela droga de bar? Você me deixou nas mãos de um filho da puta, sabia? Ele me embebedou e podia ter me estuprado, se não fosse... — Eu mesma me interrompi.— Me perdoa! Eu sei que errei, mas
ELLE NARRANDODevido ao meu estado, quando ouvi passos, me virei com muito medo. Gabriel estava se aproximando de mim.— Que bom que está sozinha. Quero conversar com você. — Ele disse, se aproximando de mim. Me segurou pela cintura e eu o empurrei para longe.— Não me toca. — Falei, o empurrando.— Eu quero você. E vejo a forma como me olha, sei que você me quer também! — Ele afirmou.— Não! Eu não quero você, pelo amor de Deus! — Falei, dando um passo para trás.— Ah, você não quer? Então vamos fazer o seguinte: Ou você fica comigo, ou eu faço você ser demitida. O que acha? — Ele sorriu de forma maliciosa, e eu corri para dentro do restaurante, rezando para que houvesse algum cliente para eu atender.Sim, havia um cliente. E quem ele era? Era Henry. Ele entrou no restaurante com seus óculos escuros, perfeitamente arrumado, de mãos dadas com seu filho. Eu engoli seco e fui atende-los, enquanto se sentavam em uma mesa.— Olá, posso deixar o cardápio com vocês? — Perguntei, com o coraç
ELLE NARRANDOApesar de ter recebido aquela mensagem ridícula de Henry Abel, eu decidi ignorar. Às vezes eu sinto que ele está me vigiando, e eu não sei qual é o motivo. Será que ele é algum maluco? Será que ele gosta de mim? Eu não sei, só sei que essa sensação de ser vigiada me incomoda... Por mais que ele seja lindo e seu rosto fique atormentando meus pensamentos. Finalmente me deitei na cama, e então, um filme sobre várias coisas começou a passar na minha cabeça, mas percebi que meu principal pensamento girava em torno de Henry Abel. Como eu posso achar alguém tão insuportável e tão gostoso ao mesmo tempo? Isso é, no mínimo, bastante injusto. Depois de um tempo, fui vencida pelo meu próprio cansaço.— Henry? O que você está fazendo aqui? — Eu arregalei os olhos, o vendo entrar na minha casa sem bater.Ele abriu o primeiro botão da camisa social, depois o segundo, e todos os seguintes, sem tirar os olhos dos meus. Eu desviei o olhar para seu peitoral, e assim que ele estava perto o
ELLE NARRANDOQuando estava anoitecendo, recebi uma ligação no meu celular do meu chefe.— Alô? — Atendi, prontamente.— Oi, linda. — Era Gabriel. Aquilo me deixou com raiva.— Por que está usando o telefone do seu pai? — Questionei.— Tivemos um contratempo, meu pai está ocupado e pediu que eu te ligasse. Não se preocupe, serei breve...— Tá, fala. — Respondi, a contra gosto.— Elle, uma funcionária do turno da noite se demitiu. Será que você poderia substituir por essa semana? É importante.Eu juro que parei e pensei por um momento. Fiquei com medo de assumir e não dar conta, afinal, trabalho oito horas por dia, e isso aumentaria ainda mais minha carga horária. Mas... Eu preciso do dinheiro.— Alguns dias, apenas? — Perguntei.— Sim, apenas até encontrarmos uma nova funcionária. Você é excelente e os clientes te adoram... Eu desconfio do motivo, mas melhor ficar em silêncio. — Gabriel disse e eu girei os olhos.— Seu pai vai me pagar o adicional noturno? — Questionei.— Vai, vai sim
ELLE NARRANDODormir fica particularmente difícil quando você sofre duas coisas horríveis em tão pouco tempo. Eu fiquei virando de um lado para o outro, extremamente incomodada, sem saber o que fazer. Tenho certeza que me sentiria muito mais segura se Henry estivesse aqui no meu apartamento. Ele é um idiota, mas por algum motivo, eu me sinto segura perto dele. Talvez se eu bater em seu apartamento...Eu suspirei ao pensar nessa ideia, e senti meu corpo tremer. Tudo bem, talvez eu precise de ajuda e ele é a pessoa mais próxima. Engoli meu orgulho e fui até o apartamento ao lado, batendo na porta.— Sim? — Ele abriu, olhando para meu rosto.Primeiro, ele olhou em meus olhos. Depois, olhou para meu corpo, coberto por um pijama curto.— Eu não consigo dormir depois do que aconteceu. Tem milhares de coisas passando pela minha cabeça, Henry... — Suspirei.— Estou embalando objetos. Quer me ajudar? — Eu concordei com a cabeça.Entrei naquele apartamento, que estava quase completamente embala