ELLE NARRANDO
Fiquei com muita raiva do que aconteceu. Eu fui completamente humilhada por esse tal de Henry Abel. Tanto faz quem ele é, se é rico ou pobre, o que me interessa foi o jeito com que ele me tratou que eu odiei! Porém, eu não posso deixar de admitir uma coisa: Ele é um homem muito, muito bonito... E seu ar dominador me deixou meio... Eu não sei dizer, com os joelhos bambos. Homens poderosos sempre me deixaram assim, mas eu apenas ignoro. Não tenho tempo para ficar me derretendo por cada homem poderoso que acho bonito dentro do restaurante onde trabalho. O problema é que, o olhar de Henry Abel no meu não me sai da cabeça. E isso me faz ficar com mais raiva ainda.
Quando cheguei em casa, depois desse dia horrível, liguei para minha melhor amiga, Nicole.
— Oi, amiga. — Falei, no telefone.
— Oi, linda! Como você está? — Questionou.
— Irritada. Tive um dia péssimo. — Bufei. — Você não vai acreditar no que me aconteceu hoje.
— O que aconteceu?
— Hoje de manhã, eu estava atrasada e um carro preto passou em uma poça de água, me molhou por completo. — Falei. — Sério, meu cabelo ficou ensopado com a água da chuva. Meu pobre guarda-chuvinha minúsculo não resistiu.
— Poxa, amiga... E aí? — Ela questionou.
— Aí, eu anotei a placa do carro. Anotei no celular, mas aquela m*****a placa ficou rodando na minha cabeça. Eu até pensei em denunciar, você sabe que isso causa multa, não sabe? — Questionei.
— Molhar pedestres, né? Vi na televisão que dá multa. — Afirmou.
— É, exatamente. Mas aí, o que aconteceu foi: Eu fui para o meu trabalho, tive que passar o dia com um coque horroroso e obviamente, fui servir os clientes. Por sorte consegui me arrumar com um uniforme reserva e tive que lavar o cabelo na pia, mas deu certo. Enfim... Esse homem, Abel não sei das quantas, e o filho de cinco ou seis anos chegou.
— Abel? Tá brincando que você atendeu um Abel.
— Ah, lá vem mais uma paga-pau da família de ricos. — Girei meus olhos ao falar.
— Não, espera, você não tá falando do Henry Abel, tá? Você atendeu o Henry Abel com o filho dele? — Questionou.
— Acho que era esse o nome. Mas não tô me lembrando direito. — Falei. Me esforcei para tentar lembrar, mas estava difícil.
— Elle! O Henry Abel é uma perdição! Você lembra se o nome da criança era Benny? — Questionou.
— Sim, era Benny. Esse lembro bem. Tive que ficar dando comida na boca dessa criatura, acredita? Foi muito ridículo.
— Amiga do céu! Esse cara é um gato. Como você pode achar uma coisa dessa ruim? — Questionou. — Henry Abel é o herdeiro mais desejado de toda Nova Iorque. Ele tem um império nas mãos!
— Ah, é? — Questionei, desinteressada. — Pois eu quero que ele pegue esse império e enfie no rabo. Ele e o filho são uns chatos. — Falei, depois, repensei o que eu disse. — Não, o menininho não é chato. Ele parece precisar de uma atenção que o pai não dá, sabe? O cara passou o tempo todo no celular. Achei ridículo.
— Entendi. Mas... De qualquer forma, você o conheceu. Se fosse eu, teria tirado uma foto. — Dei risada ao ouvir.
— Meu chefe me mata se eu tentar tirar foto com cliente. E não, eu não tiraria foto com esse chato. Desculpa reclamar tanto... Estou chateada, sabe? O dia foi terrível. E aquele idiota não sai da minha cabeça. Aquela cara de cretino mandão... Ai, que ódio! — Reclamei. Ela riu.
— Sabe o que a gente devia fazer? Aproveitar que amanhã é sua folga e ir ao bar. Assim, você esquece o “chato”. Só não se esqueça que a linha entre amor e ódio é tênue demais, hein? — Ela gargalhou e eu fiquei em silêncio.
Amor? Por aquele cretino? Jamais.
— Quer saber? Acho uma excelente ideia. Vamos, eu preciso esquecer esse dia horrível.
— Nos vemos as dez, no bar de sempre. — Ela disse e desligamos.
Cheguei ao bar e vi Nicole sentada. Ela já estava me esperando, e estava tão linda quanto eu.
— Oi, amiga! — Chamei.
— Oi, linda! — Nicole me abraçou. — Deus do céu, você tá um arraso.
— Obrigada.
Nos sentamos juntas e começamos a conversar. Então, enquanto conversávamos, ela começou a olhar para um rapaz do outro lado do bar, que estava olhando para ela também. e aí, ela foi e me deixou sozinha.
Ouvi um barulho de bagunça e me virei para observar. Um grupo de vândalos entrou no bar, vestidos com camisa de time. Grandes valentões do futebol, também apelidados de “hooligans” por aqui. Isso me deixou um pouco apreensiva, então, eu me levantei e decidi ir embora... Porém, meu olhar cruzou com o olhar de um deles sem querer, e ele veio em minha direção.
— Olha o que eu achei por aqui. — Ele gritou. Fiquei com medo, muito medo mesmo. — Você é uma gracinha! Por que não bebemos juntos?
— Ahn... Na verdade, eu estou indo embora.
— Não, não está. — Ele disse. Eu arregalei meus olhos. — Você vai beber comigo! — Disse.
Eu não sabia o que fazer, principalmente quando ele tomou uma garrafa de vodka da mão de um amigo, e levantou.
— Ahn... Eu não bebo isso aí. — Falei.
— Abre a boca, bonequinha! — Ele disse, e eu não abri. — Abre, eu estou mandando! — Disse, apertando o meu braço.
Eu acabei cedendo. Pensei que tomar um gole de vodka era melhor do que apanhar de um valentão. Depois que bebi o grande gole que ele despejou na minha boca, eu comecei a procurar Nicole, mas ela havia sumido junto com o cara gato que ela arrumou. Que droga, eu estou sozinha!
Eu tentei me desvencilhar do grupo dos hooligans várias e várias vezes, mas não consegui. De tempos em tempos, o homem que me segurava pelo braço, me obrigava a tomar mais um gole de vodka. E em um determinado momento, apesar de sóbria, eu já não conseguia mais ficar em pé.
— Pelo amor de Deus... Chega... — Eu falei, quando ele me mostrou a garrafa de vodka. Eu me segurei em um banco, pra não cair.
— Esse é o último, e eu te levo pra casa. Pra minha casa, é óbvio. — Ele riu com os amigos. — Vou ter uma noite ótima!
— Vai mesmo! Olha, como ela é gostosa! Olha essas coxas! Já veio para o bar na intenção de transar com alguém, hein? — Um deles disse. Eram três ao meu redor, como eu iria me defender?
Tive medo de ser estuprada, e eu sabia que seria. Então, eu comecei a procurar por alguém que fosse no bar... E eu vi aquele homem: Henry Abel. Ele estava ali, e estava vindo em minha direção. Seria uma visão do paraíso?
— Henry... — Eu falei, tentando chama-lo.
— Elle. — Ele disse, se aproximando, com a voz séria. — Vou te levar pra casa. — Ele falou, me segurando pelo braço.
Quando ele percebeu que eu não conseguia mais ficar em pé, passou o braço ao redor da minha cintura e me segurou.
— Epa, epa, epa... Você chegou agora no bar, e está querendo levar minha garota embora? — O homem que estava me embebedando disse.
Henry olhou para o lado com um sorrisinho irônico.
— Sua? — Disse, erguendo as sobrancelhas.
— Eu não sou dele, eu não sou dele. — Falei, desesperada.
O homem tentou agarrar meu punho, mas Henry não deixou. Ele me ajudou a encostar em um dos bancos que estava próximo, e foi conversar com o homem.
— Solte a garota, ela é minha. — O homem disse. Eu me agarrei em Henry, com medo.
— Não. Vamos embora, Elle. — Henry disse, e fez menção de se virar para ir embora.
ELLE NARRANDOQuando Henry fez isso, o homem o atacou com um soco, e eu me soltei de Henry. Antes que o soco pudesse acertar Henry, ele segurou a mão do homem no ar e o empurrou para longe.— Você tem certeza que quer brigar comigo? — Disse, abrindo os botões dos punhos da camisa branca e dobrando as mangas.— Acha que eu tenho medo de um mauricinho idiota? — Respondeu, prontamente.O homem atacou Henry, e ele começou a bater nele de volta. Henry, vestindo uma camisa branca, parecendo apenas um homem de negócios comum só que bonito, alto e forte, deu uma surra em um marmanjo vestindo camisa de time. Foi uma surra colossal. Os outros dois amigos do homem que foi espancado entraram no meio da briga, tentando segurar Henry... Mas ele deu conta dos dois, sozinho, os espancando também. Eu estava me segurando no banco, para não cair, mas vi tudo. Agora, os três marmanjos valentões estavam caídos no chão, se contorcendo de dor.— Será que mais alguém quer levar uma surra aqui, ou eu posso ir
ELLE NARRANDOApaguei de novo. Tudo estava confuso demais, eu não fazia ideia do que estava acontecendo direito. Mas então, quando acordei depois de um longo tempo, eu vi o que estava acontecendo e lembrei de onde estava. Agora, eu já me sentia bem melhor. Me levantei e vi na mesinha de centro minha bolsa, uma garrafa de água e alguns comprimidos para dor de cabeça e enjôo. Eu peguei um para dor de cabeça e tomei, então, vesti as sandálias e saí do quarto. Henry me salvou e eu só conseguia sentir um misto de gratidão e... Outras coisas que pulavam por meu peito e eu não conseguia entender. Sou uma pessoa confusa, e Henry chegou transformando meu peito em um liquidificador aberto, ligado, com passa de panqueca... Só que sem tampa. É, foi isso que ele fez comigo.Fui surpreendida pelo filho de Henry, que veio correndo em minha direção.— Ei! É você! É a moça legal do restaurante! — Ele agarrou minhas pernas. — Você vai ser minha nova mamãe? Diz que sim! O papai nunca traz nenhuma mulher
ELLE NARRANDOAcordei cedo, hoje o dia seria ótimo, pressupus. Não tenho nada me incomodando e tenho tempo para chegar ao meu trabalho de forma tranquila. Me arrumei, passei um pouco de rímel e batom, fiz uma trança embutida em meu cabelo e olhei para mim mesma. Sou uma mulher bonita de cabelos castanhos e olhos castanhos, pele clara, tenho baixa estatura e um corpo normal. Não sou o padrão de beleza, mas todos sempre disseram que tenho uma beleza diferente das outras. Essa beleza já me colocou em mais enrascadas do que posso contar. O valentão no bar não foi o primeiro.Ouvi batidas na porta e fui correndo atender. Quem poderia ser essa hora?— Oi, amiga. — Nicole estava na porta, quando eu atendi. Eu a olhei com ódio.— Amiga? Você tem coragem de me chamar de amiga depois de me deixar sozinha naquela droga de bar? Você me deixou nas mãos de um filho da puta, sabia? Ele me embebedou e podia ter me estuprado, se não fosse... — Eu mesma me interrompi.— Me perdoa! Eu sei que errei, mas
ELLE NARRANDODevido ao meu estado, quando ouvi passos, me virei com muito medo. Gabriel estava se aproximando de mim.— Que bom que está sozinha. Quero conversar com você. — Ele disse, se aproximando de mim. Me segurou pela cintura e eu o empurrei para longe.— Não me toca. — Falei, o empurrando.— Eu quero você. E vejo a forma como me olha, sei que você me quer também! — Ele afirmou.— Não! Eu não quero você, pelo amor de Deus! — Falei, dando um passo para trás.— Ah, você não quer? Então vamos fazer o seguinte: Ou você fica comigo, ou eu faço você ser demitida. O que acha? — Ele sorriu de forma maliciosa, e eu corri para dentro do restaurante, rezando para que houvesse algum cliente para eu atender.Sim, havia um cliente. E quem ele era? Era Henry. Ele entrou no restaurante com seus óculos escuros, perfeitamente arrumado, de mãos dadas com seu filho. Eu engoli seco e fui atende-los, enquanto se sentavam em uma mesa.— Olá, posso deixar o cardápio com vocês? — Perguntei, com o coraç
ELLE NARRANDOApesar de ter recebido aquela mensagem ridícula de Henry Abel, eu decidi ignorar. Às vezes eu sinto que ele está me vigiando, e eu não sei qual é o motivo. Será que ele é algum maluco? Será que ele gosta de mim? Eu não sei, só sei que essa sensação de ser vigiada me incomoda... Por mais que ele seja lindo e seu rosto fique atormentando meus pensamentos. Finalmente me deitei na cama, e então, um filme sobre várias coisas começou a passar na minha cabeça, mas percebi que meu principal pensamento girava em torno de Henry Abel. Como eu posso achar alguém tão insuportável e tão gostoso ao mesmo tempo? Isso é, no mínimo, bastante injusto. Depois de um tempo, fui vencida pelo meu próprio cansaço.— Henry? O que você está fazendo aqui? — Eu arregalei os olhos, o vendo entrar na minha casa sem bater.Ele abriu o primeiro botão da camisa social, depois o segundo, e todos os seguintes, sem tirar os olhos dos meus. Eu desviei o olhar para seu peitoral, e assim que ele estava perto o
ELLE NARRANDOQuando estava anoitecendo, recebi uma ligação no meu celular do meu chefe.— Alô? — Atendi, prontamente.— Oi, linda. — Era Gabriel. Aquilo me deixou com raiva.— Por que está usando o telefone do seu pai? — Questionei.— Tivemos um contratempo, meu pai está ocupado e pediu que eu te ligasse. Não se preocupe, serei breve...— Tá, fala. — Respondi, a contra gosto.— Elle, uma funcionária do turno da noite se demitiu. Será que você poderia substituir por essa semana? É importante.Eu juro que parei e pensei por um momento. Fiquei com medo de assumir e não dar conta, afinal, trabalho oito horas por dia, e isso aumentaria ainda mais minha carga horária. Mas... Eu preciso do dinheiro.— Alguns dias, apenas? — Perguntei.— Sim, apenas até encontrarmos uma nova funcionária. Você é excelente e os clientes te adoram... Eu desconfio do motivo, mas melhor ficar em silêncio. — Gabriel disse e eu girei os olhos.— Seu pai vai me pagar o adicional noturno? — Questionei.— Vai, vai sim
ELLE NARRANDODormir fica particularmente difícil quando você sofre duas coisas horríveis em tão pouco tempo. Eu fiquei virando de um lado para o outro, extremamente incomodada, sem saber o que fazer. Tenho certeza que me sentiria muito mais segura se Henry estivesse aqui no meu apartamento. Ele é um idiota, mas por algum motivo, eu me sinto segura perto dele. Talvez se eu bater em seu apartamento...Eu suspirei ao pensar nessa ideia, e senti meu corpo tremer. Tudo bem, talvez eu precise de ajuda e ele é a pessoa mais próxima. Engoli meu orgulho e fui até o apartamento ao lado, batendo na porta.— Sim? — Ele abriu, olhando para meu rosto.Primeiro, ele olhou em meus olhos. Depois, olhou para meu corpo, coberto por um pijama curto.— Eu não consigo dormir depois do que aconteceu. Tem milhares de coisas passando pela minha cabeça, Henry... — Suspirei.— Estou embalando objetos. Quer me ajudar? — Eu concordei com a cabeça.Entrei naquele apartamento, que estava quase completamente embala
Dois dias se passaram, e eu recebi um e-mail de uma agência de emprego, que estavam procurando uma babá. Eu enviei meu currículo, e depois de alguns minutos, me voltaram dizendo que eu havia sido aprovada. Eu vibrei de felicidade! Meu telefone tocou, e eu atendi. A moça começou a me explicar um pouco sobre qual era o meu trabalho, e depois, ao final, disse o salário.— Você aceita? — Questionou.— Sim! Com certeza! — Falei, alegre.— Você poderia por favor vir assinar o contrato de trabalho aqui na agência de emprego amanhã de manhã? — Ela questionou.— É claro! Estarei aí. — Falei.— Ótimo, venha trocada, porque você começa ao meio dia, tudo bem? — Falou.— Sim, é claro!Senti um alívio imenso. Eu iria conseguir o emprego, e iria conseguir pagar minha dívida!Na manhã seguinte, coloquei uma calça de moletom cinza bastante confortável, um tênis branco e uma regata branca. Coloquei brincos pequenos, arrumei o cabelo e coloquei tudo que eu precisava em uma bolsa lateral. Estava pronta p