Sob Seu Domínio
Sob Seu Domínio
Por: Bruna Calil
01

ELLE NARRANDO

O despertador tocou e eu percebi que estava atrasada. Eu não sou do tipo de pessoa que se atrasa, então, me incomodou muito. Tenho trabalhado demais e dormido de menos desde que meus pais faleceram, mas essa semana, com o aniversário de dez anos da morte deles, eu estou me jogando ainda mais no trabalho para esquecer. Sou garçonete e estou fazendo todos os turnos possíveis, levando meu corpo ao limite, porque quando estou em casa... Eu me lembro. E lembrar dói.

Arrumei meu cabelo em frente ao espelho, em um rabo de cavalo. Ajeitei minha roupa de frio em frente ao espelho e escovei os dentes rapidamente. Estava chovendo bastante, e por causa do final do mês, já estou sem grana pra ônibus ou pra pegar um táxi, o que me obriga a correr mais ainda. Por estar atrasada, não tomei café da manhã, não daria tempo de qualquer forma. Arrumei minhas coisas e logo saí de casa, com pressa.

Minha vida não é fácil, mas eu gosto dela. Gosto de trabalhar no restaurante, porque vejo pessoas interessantes o tempo todo. Gosto de criar histórias sobre essas pessoas na minha cabeça, como ontem, que vi uma mulher linda no que parecia ser seu primeiro encontro com um rapaz. Apesar de não achar que o amor sirva para mim, eu acredito nele, para as outras pessoas.

Enquanto caminhava bem rápido para o restaurante onde trabalho, o meu azar decidiu trabalhar contra mim: Um carro preto muito bonito passou em uma poça de água com pressa e formou uma onda tão grande que me molhou inteirinha, dos pés a cabeça. O carro estava ultrapassando um carro mais lento pelo lado errado da pista! Eu paralisei na hora, olhei pra mim mesma e depois olhei para a poça de água quase vazia na rua. Agora, eu estava fedendo água suja e completamente ensopada.

— Filho de uma puta! — Gritei, peguei meu telefone e anotei a placa do carro. — Eu vou te processar! — Gritei, mostrando o dedo do meio para o carro, que parecia nem ligar.

Eu caminhei para o restaurante porque não tinha escolha. Era óbvio que o meu chefe iria ficar nervoso, ao me ver daquele jeito, mas eu sabia que chegar atrasada o deixaria ainda mais nervoso, então fiz uma escolha.

— Bom dia, senhor Hopkins. — Eu entrei no restaurante molhada, e ele me olhou de cima a baixo.

— O que aconteceu com você? Você tá horrível! Vai se arrumar agora! — Eu bufei e fui correndo para os fundos.

— Algum ricaço idiota decidiu me molhar passando em uma poça de água. — Ele girou os olhos e apontou para os fundos do restaurante.

— Se arrume agora, imediatamente, caramba! — Disse, nervoso.

Eu me arrumei rápido, lavei meu cabelo na pia do banheiro de funcionários e o prendi em um coque para não ficar tão horrível.

— Pronto, senhor Hopkins. Já estou devidamente arrumada. — Falei. Mostrei o uniforme que peguei em meu armário, e ele deu um joinha com a mão.

— Chegou um cliente. Está meio cedo, o cozinheiro acabou de chegar, seja simpática e os receba com alegria. — Eu concordei com a cabeça e fui fazer o meu trabalho.

Saí com o cardápio nas mãos. Na mesa, um homem de trinta e poucos anos estava sentado com uma criança de cinco ou seis anos. Não pude deixar de reparar no homem, quando se levantou para ajeitar o menino na cadeira. Ele é alto, bem arrumado, está vestindo uma camisa branca e calça social. Seus sapatos e relógio são originais. Como sei? O senhor Hopkins me ensinou a diferenciar os clientes ricos e pobres. Infelizmente, ele quer que eu trate os clientes ricos de uma forma mais amigável ainda, porque são esses clientes que compram as coisas mais caras do restaurante. Ele é alto e não tem um fio de cabelo fora do lugar. A medida que me aproximo, sinto um perfume maravilhoso e amadeirado.

— Seja bem-vindo ao HOPE, senhor. — Eu sorri para o homem, que se me olhou de forma séria, e esticou a mão para receber o cardápio.

— Escolha o que quiser, Benny. — O homem disse ao garoto, que pegou o cardápio.

— Olha só, esse menino lindo já sabe ler? — Falei, sorrindo para o garoto.

— Sei. E eu vou querer um monte de coisas! — Ele disse, animado. Abriu o cardápio e começou a folheá-lo.

— Vou deixa-los à vontade, e logo venho tirar o pedido de vocês, tudo bem? — Falei, e o homem nem olhou para mim.

Eu fui até o caixa, onde senhor Hopkins estava sentado. Ele colocou a mão no peito, me puxou pelo braço e mostrou uma foto no computador. Era a foto do homem que está sentado à mesa.

— Ele é Henry Abel. — Eu olhei para meu chefe, sem entender muita coisa, e muito menos o motivo dele sussurrar. — Esse cara tem dinheiro pra jogar no lixo. Não estou brincando. — Dei os ombros.

— Por isso parece ser tão esnobe. — Falei.

— É, mas trate ele muito bem. Sabe o escritório de engenharia que tem aquele símbolo de águia? Que está em todos os edifícios caros que estão sendo construídos por aqui. Sabe? — Eu dei os ombros. Ele girou os olhos e procurou o símbolo na internet, e sim, eu o reconheci.

— Ah, agora sei.

— Ele é o dono dessa empresa, o CEO, como dizem. A família Abel construiu Nova Iorque e o resto dos edifícios caros dos EUA. Se é bom, bem feito e chama atenção... Eles que construíram. Tem os melhores engenheiros do mundo trabalhando, e estão construindo um império no mundo inteiro. — Eu ergui as sobrancelhas.

— Ele parece alguém importante. — Comentei, apenas para não demonstrar meu completo desinteresse.

— Ele é. Fiquei sabendo que ele voltou a morar em Nova Iorque, mas não esperava que ele viesse no meu restaurante, apesar da empresa ficar aqui por perto. Ainda mais com seu herdeiro! — Disse, sussurrando.

— Ah, aquele é o filho dele? — Meu chefe concordou com a cabeça.

— É.

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